Jodô

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Jodô (em japonês: 杖道;lit. caminho do jō), é uma arte marcial japonesa que utiliza um tipo de bastão chamado . A arte é originária do jōjutsu (em japonês: 杖術) e similar ao bōjutsu, tendo como foco principal a defesa contra a espada japonesa.

Histórico[editar | editar código-fonte]

O jō foi criado por Muso Gonnosuke, um artista marcial que estudou o e todas as técnicas de armas da escola Katori Ryu e de outras escolas de seu tempo. Enfrentou muitos combates com samurais e peritos de diversas armas. Conta a lenda que é nesse período que se dá seu combate com Miyamoto Musashi, que o venceria, mas poupando sua vida.

Muso Gonnosuke, desolado, se retira para as montanhas e passa a levar uma vida de grande disciplina e desenvolve uma arma curta, de pequeno diâmetro feita de duro carvalho branco e a chama de Jo. Em seu retiro espiritual, passa a treinar com esse bastão curto.

Após alguns anos, Muso retorna a sua cidade e torna a enfrentar Musashi, e desta vez o derrota (conforme a lenda). Como este fizera anteriormente, não mata. A dívida estava paga.

Originalmente, a escola Shindo Muso Ryu de Jojutsu, fundada por Muso Gonnosuke, possuía 5 séries de técnicas básicas, que se expandiu e deu origem a muitos estilos e variantes, sempre em função da arte da espada (Kenjutsu).

Muso Gonnosuke tornou-se o professor do clã Kuroda e o Jojutsu foi umas das mais secretas artes do período. A permissão para ensinar fora do Han (território feudal) não foi dada até 1872 após a Restauração Meiji ter acontecido. Mais tarde, o Jojustsu se tornou popular e foi endossado por algumas das figuras políticas mais expressivas nesta época.

Em 1940, Takaji Shimizu Sensei mudou o nome de jojutsu para jodô e desenvolveu os 12 kihon (exercício básicos) e, atualmente, o jodô é parte do currículo da polícia metropolitana japonesa.

Jodô[editar | editar código-fonte]

A prática[editar | editar código-fonte]

Devido ao seu curto comprimento, o Jo permitia o combate mais próximo do oponente, coisa que o Bo não tornava possível. Sua facilidade de manejo mais perto do adversário passou a ser evidente.

Um motivo que impulsionou a difusão do Jo é que com ele se podia combater, golpeando zonas não vitais para vencer o oponente sem que este sofresse danos mortais. Esta foi uma uma das principais razões pela qual sua prática não foi proibidas pelas tropas de ocupação depois que o Japão perdeu a Segunda Guerra Mundial, enquanto praticamente todas as outras artes marciais e estilos de Kobudô foram proibidos.

Atualmente o jodô é praticado de duas formas:

  • koryū - O estudo do estilo Shindo Muso Ryu e seus estilos associados (que incorporam outras armas) ou de outras tradições que possuem o Jô em seu currículo (por exemplo Suio Ryu).
  • Seitei Jodô, que é regulamentado pela International Kendo Federation (FIK) e também por grupos ligados à Shihan (mestres) do Shindo Muso Ryu, como por exemplo a Nihon Jodo Kai (Associação Japonesa de Jodo), presidida por Kaminoda Tsunemori. Seitei Jodô inicia com 12 kata, mas posteriormente o praticante deve continuar seu desenvolvimento com o estudo dos koryū.

As duas práticas se complementam, pois a grande maioria dos shihan hoje responsáveis pelo ensino de koryu participaram da criação do Seitei Jodô, e promovem sua prática dentro de seus grupos e associações.

Equipamento[editar | editar código-fonte]

O Jo mede de 128 cm de comprimento e cerca de 2,5 cm de diâmetro. Em um combate entre bastão e espada, esta se encontra em certa desvantagem, pois as técnicas do bastão Jo foram criadas para superar às técnicas de espada. Devido às suas características físicas, permite uma gama de movimentos bem variada, compreendendo bordoadas, estocadas e arremetidas.

O Jo, nas medidas de bastão curto, é uma criação totalmente japonesa. Não guarda nenhuma relação com o bastão longo oriundo da China.

Jodô Koryu[editar | editar código-fonte]

O Jô se incorporou em diversas tradições. A prática varia enormemente entre os estilos, tanto na ênfase nesta arma quanto no modo de empunhá-la.

Shindo Muso Ryu[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Shindo Muso Ryu

O principal estilo de Jojutsu, e o único especializado inteiramente nesta arma. O Shindo Muso Ryu é o estilo que modelou o Seitei Jodô.

É amplamente praticado em todo o mundo. No Brasil possui mais de 700 adeptos, principalmente através da Confederação Brasileira de Kobudô (mestre responsável Jorge Kishikawa), que por sua vez é associada à Nihon Jodokai de Kaminoda Tsunemori e da Associação Aizen (mestre Responsável Ichitami Shikanai) que é associado à SeiRyuKai de Nishioka Tsuneo.

Suio Ryu[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Suio ryu

O Suio Ryu Iai Kenpo 水鷗流 居合 剣法 foi fundado por Mima Yoichizaemon Kagenobu (1577-1665). É uma tradição ampla, que possui um extenso repertório.

As técnicas de Jojutsu destacam-se pela eficiência e simplicidade, abrangendo golpes como projeções, imobilização e golpes com os punhos.

O 15° Soke é o mestre Katsuse Yoshimitsu. Atualmente o estilo continua sendo praticado no Japão, Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos e Europa.

Na América do Sul o estilo é representado por Jorge Kishikawa, discípulo do Soke Katsuse Yoshimitsu.[1]

Outros estilos[editar | editar código-fonte]

Dentre outras tradições, destacam-se

Seitei Jodô[editar | editar código-fonte]

Embora o jodô utilize um bastão, suas técnicas, formas, e principalmente sua história está intimamente ligada á Katana.

O jodô também é reconhecido e faz parte da ZNKR, que sistematizou um conjunto de katas e uma hierarquia de graduação para seus praticantes.

O Seitei Jodô da ZNKR (Zen Nippon Kendo Renmei) foi criado por Takaji Shimizu Sensei. O conjunto de 12 katas foi apresentado em 1968 para a cúpula da ZNKR e demosntrado pelo próprio Shimizu Sensei e por Nakajima Sensei. Após a aprovação por parte da ZNKR, o Seitei Jodô foi apresentado ao público em 1969 por Shimizu Sensei e Otofuji Sensei. Este conjunto de 12 katas foi selecionado a partir do currículo do Shindo Muso Ryu e adaptado para praticantes de Kendo, Iaido e Aikido.

Os alunos do Seitei Jodô aprendem o currículo na seguinte ordem:

  • 12 movimentos (Kihon), tandoku dosa (prática individual).
  • 12 movimentos (Kihon), sotai dosa (prática em dupla) – portando o Jo.
  • 12 movimentos (Kihon), sotai dosa (prática em dupla) – portando o Tachi.
  • 12 katas do Seitei Jo – portando o Jô.
  • 12 katas do Seitei Jo – portando o Tachi.

Jo – Bastão de 128 cm x 2,4 cm Tachi – Espada de madeira de 1m (bokuto).

Kihon[editar | editar código-fonte]

KIHON:

Kuritsuke
  • 1 - Honte Uchi
  • 2 - Gyakute Uchi
  • 3 - Hikiotoshi Uchi
  • 4 - Kaeshizuki
  • 5 - Gyakutezuki
  • 6 - Makiotoshi
  • 7 - Kuritsuke
  • 8 - Kurihanashi
  • 9 - Tai Atari
  • 10 - Tsukihazushi Uchi
  • 11 - Dobarai Uchi
  • 12 - Taihazushi Uchi (migi/hidari)

Kata[editar | editar código-fonte]

SEITEI JODÔ NO KATA:

  • 1 - Tsukizue
  • 2 - Suigetsu
  • 3 - Hissage
  • 4 - Shamen
  • 5 - Sakan
  • 6 - Monomi
  • 7 - Kasumi
  • 8 - Tachiotoshi
  • 9 - Raiuchi
  • 10 - Seigan
  • 11 - Midaredome
  • 12 - Ranai

Existem várias diferenças entre o Seitei Jodô e o Shindo Muso Ryu Jo.

  • Por exemplo, no Seitei Jodô, o uchidachi sempre assume jodan no kamae como parte do movimento de corte. Entretanto, no Shindo Muso Ryu, o uchidachi realiza o corte partindo diretamente do hasso no kamae, sem passar por jodan.
  • No Seitei Jodô, o uchidachi mantem seu corpo para frente em "0" grau. Porém, no Shindo Muso Ryu, o uchidachi se mantem em posição Hanmi (45 graus).
  • Quanto ao shidachi (jo), os 12 katas do Seitei Jodô são ensinados basicamente da mesma maneira. O trabalho de pés varia, mas as técnicas com o bastão são as mesmas, a exceção do kata Seigan que finaliza de forma diferente, e dos katas Suigetsu e Shamen, que não fazem parte do currículo formal do Shindo Muso Ryu.
  • O Seitei Jodô utiliza somente a espada longa (odachi). Porém, no koryu, o kata Hissage é feito com a espada curta (kodachi).
  • No Seitei Jodô, o uchidachi sempre mantem as duas mãos em contato com a espada durante os katas. A mão esquerda perde contato com a espada somente nos seguintes katas: Seigan, Midare Dome e Ranai.

Graduações[editar | editar código-fonte]

As graduações são dadas pela Federação Internacional de Kendo e os requisitos para cada nível estão listados abaixo:

  • 1º Dan (Shodan): 12 movimentos e 5 primeiros katas (somente o Jo)
  • 2º Dan (Nidan): 12 movimentos e 7 primeiros katas (somente o Jo)
  • 3º Dan (Sandan): 12 movimentos e 7 primeiros katas (Jo e Tachi)
  • 4º Dan (Yondan): 12 movimentos e todos os 12 katas (Jo e Tachi)
  • 5º Dan (Godan): 12 movimentos e todos os 12 katas (Jo e Tachi), mais 2 ou 3 páginas de monografia.
  • 6º Dan (Rokudan) - 8º Dan (Hachidan): A critério dos examinadores.

A graduação do Seitei Jodô também inclui os títulos de Renshi, Kyoshi e Hanshi.

Keijojutsu[editar | editar código-fonte]

A prática de Jo da Policia Japonesa, que advém do Shindo Muso Ryu. Foi criado por Shimizu Takagi e amplamente ensinada por Tsunemori Kaminoda nas décadas seguintes.

Jodô no Brasil[editar | editar código-fonte]

No Brasil o jodô é praticado amplamente dentro da Confederação Brasileira de Kobudo (CBKob), que é ligada à Nihon Jodokai. São praticados tanto o jodô quanto o jojutsu (koryu).

No Brasil a Confederação Brasileira de Kendo (CBK) é a representante da FIK. Sob sua tutela há um pequeno o número de praticantes, especialmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

O jodô começou a ser praticado no Brasil à relativamente pouco tempo, a partir do começo da década de 1990, introduzido pelos mestres Jorge e Mika Kishikawa.

A prática do jodô no Brasil foi impulsionada a partir de 2002, com a primeira visita ao Brasil de Kaminoda Tsunemori e comitiva de outros quatro mestres, incluindo seu sucessor, Osato Kouhei, promovida pela Confederação Brasileira de Kobudô e pelo Instituto Cultural Niten. Mestre Kaminoda é presidente da Nihon Jodokai e um dos principais sucessores de Shimizu Takaji. Nesta ocasião a comitiva esteve por 20 dias, realizando treinamentos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 2005, mestre Kaminoda fez uma segunda visita, mais uma vez organizada pela CBKob. Nesta ocasião ficou por 30 dias, em uma série de treinamentos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Campinas.

Também é digno de nota o grupo de Ichitami Shikanai, mestre de Aikidô, que é aluno direto de Tsuneo Nishioka, outro importante discípulo de Shimizu Takaji. Mestre Nishioka esteve no Brasil em 2006, promovendo gashuku na cidade de Belo Horizonte.

Artes marciais que praticam jodô[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. 水鴎流本部 碧雲舘道場 (Site oficial do Suio Ryu - Dojos) [Tradução Livre: Brasil: Representante Jorge Kishikawa 35 Lugares de treino, 800 alunos] (em japonês). Consultado em 19 de março de 2017. ◎南米代表 代表 ジョージ岸川 稽古場所 サンパウロ、リオ、(他現在全35ヶ所)門下生 800名 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]