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Joseph Meister

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Joseph Meister
Joseph Meister
Meister, ainda criança, em 1885
Nascimento 21 de fevereiro de 1876
Steige (Alsácia)
Morte 16 de junho de 1940 (64 anos)
Paris
Nacionalidade França francesa
Ocupação Concierge

Joseph Meister (Steige, Alsácia, 21 de fevereiro de 1876Paris, 16 de junho de 1940) foi o primeiro ser humano imunizado contra a raiva, por Louis Pasteur, e a sobreviver à infecção da doença, em julho de 1885.[1]

Mais tarde tornou-se funcionário do Instituto Pasteur de Paris, do qual foi seu concierge. Suicidou-se após a invasão alemã na Segunda Guerra Mundial.[2]

Pasteur extrai o vírus num cão raivoso (por Mucha).

Ante os casos de raiva no país, em 1852 o governo francês ofereceu uma recompensa a quem indicasse um tratamento eficaz contra a raiva.[3]

Em 1880 Pasteur voltou sua atenção para o problema. Auxiliado por cientistas como Émile Roux, Charles Chamberland e Louis Thuillier, em 1881 conseguem isolar o vírus. Efetuam a passagem do agente entre coelhos e, dessecando sua medula espinal e submetendo-os à ação de potassa, conseguem um vírus mais "estável" (com virulência e incubação constantes), e que podia então ser reproduzido em laboratório, de modo a se produzir uma vacina.[4]

No ano de 1884 descrevem para a Academia de Ciências de Paris que, após sucessivas passagens, a virulência diminuía. Passam a usar experimentalmente em animais a vacina que produziram.[4]

A 25 de março de 1885 Pasteur escreve a Jules Vercel dizendo que ainda não se atrevera a experimentar a vacina em humanos, aventando mesmo a possibilidade de se contaminar e realizar o experimento em si mesmo.[5]

Meister criança (1885)

No dia 4 de julho de 1885 Joseph, filho do padeiro Joseph Meister Anthony, como de costume vai à cervejaria Witz na vizinha vila de Maisonsgoutte,[nota 1] distante alguns quilômetros, a fim de comprar fermento.[6]

O garoto, que contava então nove anos de idade, ao chegar na aldeia foi atacado pelo cão raivoso de Theodore Vonne, um taberneiro, que também fora ferido levemente pelo animal; Joseph, contudo, sofreu mais cruelmente - tendo ao todo catorze mordidas em sua perna e braço direito.[1][6]

Segundo seu próprio relato:

"Passando pela povoação de Maisonsgoutte para ir à cervejaria, de repente vi um cão de caça grande, que eu conhecia bem, por entre duas casas, abaixando a cabeça e se atirando sobre mim.
Eu estava segurando na mão uma taça de estanho, e os cães raivosos não gostam de nada que brilha.
Ele mordeu minha mão primeiro e, vindo sobre mim, me derrubou e mordeu-me gravemente as pernas, fazendo catorze ferimentos.
Felizmente um serralheiro de Steige assistiu a cena de longe. Ele veio correndo com uma barra de ferro e bateu no cão.
Enquanto isso o proprietário chegou. Pegou o animal pelo pescoço e o trancou num celeiro, mas também foi ferido no dedo.
"[2][nota 2]

Enquanto a filha do taberneiro lhe consertava as calças, alguns moradores lavaram-lhe os ferimentos. Meister foi depois, contudo, deixado sozinho para retornar para casa e, ferido, tinha que parar a cada dez metros, numa demorada jornada que preocupou seus pais: a mãe, Marie Angelique, chegou a pensar que o garoto cabulara a aula, já que depois de trazer o fermento deveria ir à escola. Mandam, então, alguém atrás do menino.[2]

Vendo o estado dele, se apavoram e sua mãe o leva até o consultório do Dr. Weber, o médico da vila.[2] Este procede à desinfecção das feridas com ácido carbólico mas, ante a gravidade e número das lesões, avisa que não há expectativas se fosse o caso de raiva.[6]

A este tempo, o proprietário do cão, vendo seu estado agressivo, o conduz até Sélestat - distante cerca de 25 km, para que um veterinário o examine mas, no caminho, como o animal tentava atacar as pessoas, ele foi abatido por gendarmes; Vonne continua a viagem e o cão é autopsiado, sendo encontrados em seu estômago restos de palha, feno e madeira - constatando-se assim que estava realmente raivoso.[2]

Vonne então, no caminho de volta, para num café onde relata o ocorrido; ali alguns presentes contam ter lido nos jornais sobre os experimentos de um químico, o Sr. Pasteur, inoculando a vacina experimental em cães com sucesso; ele, então, retorna à vila e, procurando os pais do garoto, lhes relata o que soubera.[2]

No dia seguinte o Sr. Vonne e a esposa do padeiro, conduzidos por um seu parente, partem a Paris, enquanto o pai permanece na vila, cuidando dos negócios. Na capital francesa tiveram grande dificuldade para encontrar o endereço de Pasteur; sobre isso Meister relatou:

"O Sr. Pasteur tinha, naquela época, muitos inimigos, especialmente no mundo da medicina, e tínhamos muita dificuldade para encontrá-lo.
Nos hospitais onde o procuramos queriam que ficasse por lá, dizendo que ali eu teria cuidados iguais aos do Sr. Pasteur e que, além disso, ele não estava em Paris.
Minha mãe, irritada, respondia que ela havia chegado muito longe para encontrá-lo e queria saber onde ele se achava.
Uma vez que não lhe atendiam, sem dar-lhe o endereço dele, ela começou a chorar. Vendo a sua insistência, fomos enviados para o Hotel Dieu, onde nos encontramos com o seu diretor que finalmente nos deu o endereço: ele trabalhava na Escola Normal, na rua d'Ulm...
"[2][nota 3]

No dia 6 de julho, enfim, levam Meister a Pasteur.

Pasteur assiste à inoculação da vacina em Joseph Meister.

Pasteur recebeu a visita inesperada; ele registrou: "A morte da criança parecia inevitável. Decidi, não sem profunda angústia e ansiedade, como se pode imaginar, aplicar em Joseph Meister o método que eu havia experimentado com sucesso consistente nos cães".[7]

Meister também falou sobre esse momento: "O Sr. Pasteur ficou muito emocionado quando nos viu chegar, mas se mostrou relutante em iniciar o tratamento, afirmando que não podia se responsabilizar por mim, já que fizera seus experimentos apenas em animais, mas nunca em seres humanos. Minha mãe então pediu-lhe para que fizesse uma experiência, dizendo que eu já estava condenado, era melhor tentar o único tratamento que havia."[2][nota 4]

Pasteur queria, antes de iniciar o tratamento - e também porque, não sendo médico, este deveria ser feito por um profissional habilitado - consultar a dois colegas, os doutores Vulpian e Grancher que estão de acordo com a situação de morte certa do menino, bem como na realização do tratamento, que tem início naquela mesma noite, pelo médico Grancher; até o dia seguinte, conseguiram alojar os visitantes na própria École Normale, na sala de esgrima.[2]

O tratamento durou até o dia 16, com doses crescentes da vacina sendo aplicada, num total de 21 sessões; exausto, Pasteur foi descansar em sua residência no Jura, recebendo de Gracher relatórios diários sobre o estado de saúde do garoto, a quem se afeiçoara. A 27 de julho Meister e sua mãe são liberados e retornam para a vila natal.[2]

O sucesso daquele experimento pioneiro marcou a primeira vitória contra a raiva em seres humanos na história.[7]

Depois da vacina

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Aos 14 anos Meister foi contratado por Pasteur para cuidar de suas cobaias. Mais tarde Meister veio a assumir a padaria do pai mas, falindo, resolve pedir emprego a Pasteur, no seu Instituto, iniciando como auxiliar de laboratório; em 1918 tornou-se seu concierge.[2]

Em 1940, dez dias depois da entrada em Paris do exército nazista, Meister pôs fim à própria vida, supostamente para não ver o país ocupado pelos invasores, ou que esta ocupação profanaria o túmulo de Pasteur; na família, contudo, outra versão é narrada, de que teria se sentido culpado por não ter conseguido proteger os seus.[2]

Notas e referências

Notas

  1. Após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, a vila teve o nome alterado para Meissengott.[6]
  2. Livre tradução para: "En traversant le village de Maisonsgoutte pour me rendre à la brasserie, je vis soudain un gros chien de chasse, que je connaissais bien, sortir d’entre deux maisons en baissant la tête, et se jeter sur moi.
    Je tenais à la main une gamelle en fer blanc, or les chiens enragés n’aiment pas ce qui brille.
    Il me mordit à la main d’abord et, s’acharnant sur moi, me terrassa et me mordit cruellement aux jambes, me faisant quatorze blessures.
    Par bonheur, un serrurier de Steige assistait de loin à la scène. Il accourut avec une barre de fer et assomma le chien.
    Pendant ce temps son propriétaire arriva. Il le prit par le cou et l’enferma dans une grange, mais il se fit aussi pincer au doigt.
    " (em domínio público)[2]
  3. Livre tradução para: “Monsieur Pasteur avait, à cette époque, beaucoup d’ennemis, surtout dans le monde médical, et nous eûmes beaucoup de mal à le trouver.
    Dans les hôpitaux où nous nous adressions, on voulait me garder, disant que je serais aussi bien soigné là que chez Monsieur Pasteur, et que, d’ailleurs, Mr Pasteur n’était pas à Paris.
    Ma mère, outrée, répondait qu’elle était venue de loin pour le trouver et qu’elle irait le chercher là où il était.
    Comme on ne lui donnait cependant pas l’adresse, elle se mit à pleurer.
    En voyant son insistance, on nous envoya à l’Hôtel-Dieu, où nous avions déjà été, en nous donnant un mot pour le directeur.
    Enfin on nous donna son adresse.
    Il travaillait à l’École Normale de la rue d’Ulm…” (em domínio público).
  4. Livre tradução para: "Monsieur Pasteur fut très ému en nous voyant arriver, mais il hésitait à commencer le traitement disant qu’il ne pouvait répondre de moi, qu’il avait fait ses expériences sur les animaux, mais jamais sur l’homme.
    Ma mère le supplia alors de tenter une expérience, disant que puisque j’étais condamné, mieux valait essayer le seul traitement qui existait
    ".(em domínio público).

Referências

  1. a b Massad, Jos A. (6 de julho de 1985). «Zum hundertsten Jahrestag der ersten Tollwutimpfung - Louis Pasteurs Pioniertat» (PDF) (em alemão). Tagesblatt Nr. 154. Consultado em 31 de março de 2012. Arquivado do original (pdf) em 15 de janeiro de 2012 
  2. a b c d e f g h i j k l m "Mijo" (21 de janeiro de 2008). «Il était une fois» (em francês). Consultado em 31 de março de 2012 
  3. Vallery-Radot, Rene. «The Hydrophobia Problem». In: BiblioBazaar, LLC. The Life of Pasteur. 2008. [S.l.: s.n.] pp. 408–409. ISBN 0559376928. Consultado em 5 de setembro de 2010 
  4. a b Kotait, Ivanete; Maria Luiza Carrieri e Neide Yumie Takaoka (2009). «Raiva - aspectos gerais e clínica» (PDF). Manual 08. Instituto Pasteur, São Paulo. Consultado em 4 de setembro de 2010 [ligação inativa] (OBS: A reprodução deste material é livre, desde que citada a fonte)
  5. Relato citado por Vallery-Radot, Rene. «The Hydrophobia Problem». In: BiblioBazaar, LLC. The Life of Pasteur. 2008. [S.l.: s.n.] ISBN 0559376928. Consultado em 5 de setembro de 2010 , pág. 409-410
  6. a b c d R. Rosset. «Joseph Meister» (em francês). livro «Pasteur et la rage». Arquivado do original em 29 de janeiro de 2012 
  7. a b MMWR (5 de julho de 1985). «Historical Perspectives A Centennial Celebration: Pasteur and the Modern Era of Immunization» (html) (em inglês). Consultado em 6 de setembro de 2010