Saltar para o conteúdo

Karl Marx: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Foram revertidas as edições de 201.55.31.104 para a última revisão de HVL, de 19h29min de 2 de junho de 2014 (UTC)
kkkk
Linha 1: Linha 1:
{{Ver desambig|| Marx (desambiguação)| redir="Marx"}}
{{Info/Biografia
|largura = 25em
|bgcolour = silver
|imagem = Marx color2.jpg
|imagem_tamanho = 200px
|nome = Karl Marx
|nome_completo = Karl Heinrich Marx
|nascimento_data = {{dni|5|5|1818|si}}
|nascimento_local= [[Tréveris]], [[Renânia-Palatinado]]<br />[[Alemanha]]
|nacionalidade = [[Alemães|Alemão]]
|ocupação = [[escritor]], [[economista]], [[sociólogo]], [[historiador]] e [[filósofo]]
|magnum_opus = ''[[O Capital]]''
|morte_data = {{nowrap|{{morte|14|3|1883|5|5|1818}}}}
|morte_local = [[Londres]], [[Inglaterra]]<br />[[Reino Unido]]
|escola = [[Marxismo]] (cofundador, junto com [[Friedrich Engels|Engels]])
|interesses = [[Filosofia]], [[Sociologia]], [[economia]], [[história]], [[política]], [[teoria social]]
|influências = {{nowrap|[[Epicuro]]}}, {{nowrap|[[Spinoza]]}}, {{nowrap|[[Kant]]}}, {{nowrap|[[Hegel]]}}, {{nowrap|[[Ludwig Feuerbach|Feuerbach]]}}, {{nowrap|[[Jean-Jacques Rousseau|Rousseau]]}}, {{nowrap|[[Giambattista Vico|Vico]]}}, {{nowrap|[[Robert Owen]]}}, {{nowrap|[[Conde de Saint-Simon|Saint-Simon]]}}, {{nowrap|[[Charles Fourier]]}}, {{nowrap|[[Dante]]}}, {{nowrap|[[Goethe]]}}, {{nowrap|[[Ésquilo]]}}, {{nowrap|[[Balzac]]}}, {{nowrap|[[Adam Smith]]}}, {{nowrap|[[David Ricardo]]}}, {{nowrap|[[Max Stirner]]}}, {{nowrap|[[Proudhon]]}}, {{nowrap|[[Charles Darwin]]}}, {{nowrap|[[Bruno Bauer]]}}, {{nowrap|[[Thomas Malthus]]}}
|influenciados = {{nowrap|[[Marxistas]]}}, {{nowrap|[[Mikhail Bakunin]]}}, {{nowrap|[[Karl Kautsky]]}}, {{nowrap|[[Antonio Labriola]]}}, {{nowrap|[[Benedetto Croce]]}}, {{nowrap|[[Rosa Luxemburgo]]}}, {{nowrap|[[Leon Trotsky]]}}, {{nowrap|[[Vladimir Lênin]]}}, {{nowrap|[[Georg Lukács]]}}, {{nowrap|[[Henri Lefebvre]]}}, {{nowrap|[[Antonio Gramsci]]}}, {{nowrap|[[Lucien Goldman]]}}, {{nowrap|[[Max Weber]]}}, {{nowrap|[[Ernst Bloch]]}}, {{nowrap|[[Theodor W. Adorno]]}}, {{nowrap|[[Herbert Marcuse]]}}, {{nowrap|[[Walter Benjamin]]}}, {{nowrap|[[Erich Fromm]]}}, {{nowrap|[[Louis Althusser]]}}, {{nowrap|[[Guy Debord]]}}, {{nowrap|[[Galvano Della Volpe]]}}, {{nowrap|[[Lucio Colletti]]}}, {{nowrap|[[Domenico Losurdo]]}}, {{nowrap|[[Slavoj Zizek]]}}, {{nowrap|[[Jon Elster]]}}, {{nowrap|[[Claude Lévi-Strauss]]}}, {{nowrap|[[Bertolt Brecht|Bertold Brecht]]}}, {{nowrap|[[Jean-Paul Sartre]]}}, {{nowrap|[[Maurice Merleau-Ponty]]}}, {{nowrap|[[Fredric Jameson]]}}, {{nowrap|[[Terry Eagleton]]}}, {{nowrap|[[Eric John Hobsbawm]]}}, {{nowrap|[[E. P. Thompson]]}}, {{nowrap|[[Marshall Berman]]}}, {{nowrap|[[Peter Dews]]}}, {{nowrap|[[Fernand Braudel]]}}, {{nowrap|[[Wilhelm Reich]]}}
|ideias_notáveis = [[Socialismo científico|transição gradual para o comunismo]],[[ditadura do proletariado]],[[materialismo histórico]], [[materialismo dialético]], socialismo científico, [[modo de produção]], [[mais-valia]], [[luta de classes]], [[Ideologia|teoria marxista da ideologia]], [[Alienação|teoria marxista da alienação]], [[Fetichismo da mercadoria]]
|assinatura = [[Imagem:Karl Marx (signature).gif|150px|center]]
}}
'''Karl Heinrich Marx''' ([[Tréveris]], [[5 de maio]] de [[1818]] — [[Londres]], [[14 de março]] de [[1883]]) foi um [[intelectual]] e [[revolução|revolucionário]] [[Alemanha|alemão]], fundador da [[comunismo|doutrina comunista]] moderna, que atuou como [[economia|economista]], [[filosofia|filósofo]], [[história|historiador]], [[política|teórico político]] e [[jornalismo|jornalista]].

O pensamento de Marx influencia várias áreas, especialmente [[Filosofia]], [[Geografia]], [[História]], [[Direito]], [[Sociologia]], [[Literatura]], [[Pedagogia]], [[Ciência Política]], [[Antropologia]], [[Economia]] e [[Teologia]], mas também [[Biologia]]<ref>LOPES, Adriano Jorge T. '''Contribuições marxistas acerca da evolução biológica dos primatas como condição para o surgimento do ser social – primeiras aproximações'''. V Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo - Marxismo, educação e emancipação humana. Florianópolis. 2011. Disponível em [http://www.5ebem.ufsc.br/trabalhos/eixo_03/e03l_t004.pdf http://www.5ebem.ufsc.br/trabalhos/eixo_03/e03l_t004.pdf]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref>, [[Psicologia]]<ref>PAES, Paulo Duarte. '''Vigotski e os fundamentos de uma psicologia marxista'''. Cadernos Cemarx, n. 3, 2006. UNICAMP. Disponível em [http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cemarx/article/view/1368/943 http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cemarx/article/view/1368/943]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref>, [[Comunicação]]<ref>MELO, José M. '''Marxismo e comunicação: contribuições para revitalizar o pensamento crítico brasileiro'''. Comunicação e Educação, v. 16, n. 2, 2011. Universidade de São Paulo. Disponível em [http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/44882/48512 http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/44882/48512]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref>, [[Administração]] <ref>BURNHAM, James. '''The managerial revolution'''. Bloomington: Indiana University Press, 1960.</ref>, [[Física]]<ref name="LERNER">LERNER, Eric. '''Cem anos após Engels, onde está o enfoque histórico nas ciências?'''. A Verdade, e. 15, 1995.</ref>, [[Cosmologia]]<ref name="LERNER" />, [[Arquitetura]]<ref>Dickens, P G. '''Marxism and architectural theory: a critique of recent work'''. Environment and Planning, B 6(1) 105 – 116, 1979. Disponível em [http://envplan.com/abstract.cgi?id=b060105 http://envplan.com/abstract.cgi?id=b060105]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref> e [[Ecologia]]<ref>BARENHO, Cíntia P & MACHADO, Carlos RS. '''Contribuições do Marxismo e da Etnoecologia para o estudo das relações socioambientais'''. 5º Colóquio Internacional Marx Engels. Campinas. 2007. Disponível em [http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt2/sessao3/Cintia_Barenho.pdf http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt2/sessao3/Cintia_Barenho.pdf]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref><ref>ANDRIOLI, Antônio Inácio. '''A atualidade de Marx para o debate ambiental'''. 5º Colóquio Internacional Marx Engels. Campinas. 2007. Disponível em [http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt2/sessao3/Antonio_Andrioli.pdf http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt2/sessao3/Antonio_Andrioli.pdf]. Acesso em 12 de novembro de 2013.</ref>.

As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política - conhecidas coletivamente como marxismo - afirmam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes: um conflito entre a classe burguesa que controla a produção e um proletariado que fornece a mão de obra para a produção. Ele chamou o capitalismo de "a ditadura da burguesia", acreditando que seja executada pelas classes ricas para seu próprio benefício, Marx previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua auto-destruição e substituição por um novo sistema: o socialismo. Ele argumentou que uma sociedade socialista seria governada pela classe trabalhadora a qual ele chamou de "ditadura do proletariado", o "estado dos trabalhadores" ou "democracia dos trabalhadores".<ref>Karl Marx:[http://www.marxist.org/archive/marx/works/1875/gotha/index.htm "Critique of Gotha Program"] (Marx and Engels selected Works, volume three, pp. 13 - 30;){{en}}</ref><ref>Em [http://www.marxist.org/archive/marx/works/1852/letters/52_03_05.htm Letter from Karl Marx to Joseph Weydemeyer] (MECW Volume 39, p. 58) {{en}}</ref> Marx acreditava que o socialismo viria a dar origem a uma apátrida, uma sociedade sem classes chamada de comunismo. Junto com a crença na inevitabilidade do socialismo e do comunismo, Marx lutou ativamente para a implementação do primeiro, argumentando que os teóricos sociais e pessoas economicamente carentes devem realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o capitalismo e trazer a mudança sócio-econômica.<ref name ="Calhoun2002-23-24">{{citar livro|autor=Craig J. Calhoun| título="Classic sociological theory"| editora=Wiley-Blackwell| ISBN=978-0-631-21349-2| pagina=23-24}}</ref>

Em uma pesquisa realizada pela [[BBC Radio 4|Radio 4]], da [[BBC]], em [[2005]], foi eleito o maior filósofo de todos os tempos.<ref>{{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/radio4/history/inourtime/inourtime_20050714.shtml|titulo=Karl Marx - Winner of the greatest philosopher vote|ultimo=BBC Radio 4 |data=2005 |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref><ref name="The 100: A Ranking of the Most Influential Persons in History">{{cite book | last = Hart| first = Michael H.| author-link = Michael H. Hart| year = 2000| title = [[As 100 Maiores Personalidades da História|The 100: A Ranking of the Most Influential Persons in History]]| publication-place = New York| publisher = Citadel|ref=harv| isbn = 0-89104-175-3}} {{en}}</ref> Além disso, Marx é normalmente citado, juntamente com [[Émile Durkheim]] e [[Max Weber]], como um dos três principais arquitetos da sociologia moderna.<ref name="plato.stanford.edu">{{cite web |url=http://plato.stanford.edu/entries/weber/|title=Max Weber – Stanford Encyclopaedia of Philosophy}} {{en}}</ref> Ainda em outro campo, a obra de Marx sobre economia lançou as bases para a compreensão atual do trabalho e de sua relação com o capital, muito influenciando o pensamento econômico subsequente.<ref>[[Roberto Mangabeira Unger]]. ''Free Trade Reimagined: The World Division of Labor and the Method of Economics''. Princeton: Princeton University Press, 2007. {{en}}</ref><ref>John Hicks, "Capital Controversies: Ancient and Modern." ''The American Economic Review'' 64.2 (Maio, 1974) p. 307: "The greatest economists, Smith or Marx or Keynes, have changed the course of history..."</ref><ref>[[Joseph Schumpeter]] Ten Great Economists: From Marx to Keynes. Volume 26 of Unwin University books. Edition 4, Taylor & Francis Group, 1952 ISBN 0415110785, 9780415110785</ref><ref name="Karl Marx to John Maynard Keynes">{{Cite news |url=http://www.dailymail.co.uk/home/moslive/article-2014647/Karl-Marx-John-Maynard-Keynes-Ten-greatest-economists-Vince-Cable.html|title=Karl Marx to John Maynard Keynes: Ten of the greatest economists by Vince Cable|work=Daily Mail |date=16 July 2007| accessdate=7/dez/2012}}</ref>

== Biografia ==
{{Anexo|[[Anexo:Cronologia da vida de Karl Marx|Cronologia da vida de Karl Marx]]}}

=== Juventude ===

Marx foi o segundo de nove filhos<ref>{{Citar livro|autor=Frank E. Manuel|título=A Requiem for Karl Marx|idioma=Inglês|editora=Harvard University Press|ano=1997|isbn = 9780674763272}}</ref>, de uma família de origem [[judaica]] de [[classe média]] da cidade de [[Tréveris]], na época no [[Prússia|Reino da Prússia]]. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era [[judia]] [[Neerlandeses|holandesa]] e seu pai, [[Herschel Marx]] (1777–1838), um advogado e conselheiro de [[Justiça]]. Herschel descende de uma família de [[rabinos]], mas se converteu ao [[cristianismo]] [[luterano]] em função das restrições impostas à presença de membros de [[etnia]] judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos.<ref name=boitempo>BOITEMPO, Editorial. Cronologia resumida de Karl Marx e Friedrich Engels contida em edição de ''A Ideologia Alemã''. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007</ref> Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837).

Em [[1830]], Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em [[Tréveris]], ano em que eclodiram [[revolução|revoluções]] em diversos países [[Europa|europeus]]. Ingressou mais tarde na [[Universidade de Bonn]] para estudar [[Direito]], transferindo-se no ano seguinte para a [[Universidade de Berlim]], onde o filósofo alemão [[Georg Wilhelm Friedrich Hegel]], cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor.<ref name="boitempo" /> Em [[Berlim]], Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por [[Bruno Bauer]]. Ali perdeu interesse pelo [[Direito]] e se voltou para a [[Filosofia]], tendo participado ativamente do movimento dos [[Jovens Hegelianos]]. Seu pai faleceu neste mesmo ano.<ref name="boitempo" /> Em [[1841]], obteve o título de doutor em [[Filosofia]] com uma tese sobre as "''Diferenças da filosofia da natureza em [[Demócrito]] e [[Epicuro de Samos|Epicuro]]''".<ref name="boitempo" /> Impedido de seguir uma carreira acadêmica,<ref>Neste ano [[Bruno Bauer]] foi expulso da cátedra de [[Teologia]] da [[Universidade de Bonn]] acusado de [[ateu|ateísmo]]; isso representou, para Marx, um impedimento virtual a uma possível carreira acadêmica devido ao fato de ser conhecido como "seguidor" de Bauer. Cf. BOITEMPO, Editorial. Cronologia resumida de Karl Marx e Friedrich Engels contida em edição de ''A Ideologia Alemã''. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007</ref> tornou-se, em [[1842]], redator-chefe da [[Gazeta Renana]] (''Rheinische Zeitung''), um jornal da província de [[Colônia (Alemanha)|Colônia]];<ref>{{citar web|url=http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v6n1_arlei.htm|titulo= Karl Marx e a Gazeta Renana|autor=ESPÍNDOLA, Arlei de |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref> conheceu [[Friedrich Engels]] neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal.<ref name="boitempo" />

=== Envolvimento político ===
[[Imagem:Karl-Marx-Monument in Chemnitz.jpg|thumb|180px|Monumento a Marx em [[Chemnitz]], [[Alemanha]].]]
Em [[1843]], a [[Gazeta Renana]] foi fechada após publicar uma série de ataques ao [[Prússia|governo prussiano]]. Tendo perdido o seu emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para [[Paris]]. Lá assumiu a direção da publicação [[Anais Franco-Alemães]] e foi apresentado a diversas sociedades secretas de [[socialismo|socialistas]]. Antes ainda da sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia [[19 de junho]] de 1843, com [[Jenny von Westphalen]],<ref name="boitempo" /> a filha de um [[barão]] da [[Prússia]] com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários.<ref name=bio_engels>ENGELS, F. (1892) [http://trotsky.org/archive/marx/works/1892/11/marx.htm Biography of Marx]. Primeira publicação em ''Handwörterbuch der Staatswissenschaften''. Página visitada em 29 de julho de 2012.</ref> (Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união.<ref name=requiem>MALTSEV, Yuri N.(editor) (1993) [http://www.mises.org/books/requiem.pdf ''Requiem for Marx''], Ludwig von Mises Institute, p.91-96 ISBN 0-945466-13-7.</ref>)

[[Imagem:Karl Marx Frau.jpg|thumb|upright|esquerda|Esposa de Marx, Jenny von Westphalen.]]

Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: [[Jenny Longuet|Jenny Caroline]] (1844-1883), [[Laura Marx|Jenny Laura]] (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy ("Guido"; 1849-1850), Jenny Eveline Frances ("Franziska"; 1851-52), [[Eleanor Marx|Jenny Julia Eleanor]] (1855-1898) e mais um que morreu antes de ser nomeado (Julho, 1857). Ao que consta, Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições materiais a que a família estava submetida.<ref>ASSUNÇÃO, Vânia Noeli Ferreira de. {{citar web|url=http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/16/artigo66044-1.asp|titulo=Karl Marx, Teoria e Práxis de um Gênio das Ciências Sociais |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref> Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, [[Helena Demuth]]. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres <ref name="Konder">KONDER, Leandro. ''O Futuro da Filosofia da Práxis''. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1992</ref>

[[Imagem:Marx1869.jpg|thumb|220px|Marx com sua mulher, em foto de 1869.]]
No tratamento pessoal — [[Leandro Konder]] ressalta — Marx foi produto de seu tempo: "''Antes de poder contestar a sociedade capitalista Marx pertencia a ela, estava espiritualmente mais enraizado no solo da sua cultura do que admitiria''", e que diante dos padrões da [[Inglaterra vitoriana]] mostrou: "''traços típicos das limitações de seu tempo''". Como moças aristocráticas, suas filhas tinham aulas de [[piano]], [[Canção|canto]] e [[desenho]], mesmo que não tivessem desenvoltura para tais atividades artísticas.<ref name="Konder" />

Também em [[1843]], Marx conheceu a [[Liga dos Comunistas#Liga dos Justos|Liga dos Justos]] (que mais tarde tornar-se-ia [[Liga dos Comunistas]]).<ref name="boitempo" /> Em 1844, [[Friedrich Engels]] visitou Marx em [[Paris]] por alguns dias. A amizade e o trabalho conjunto entre ambos, que se iniciou nesse período, só seria interrompido com a morte de Marx.<ref name="bio_engels" /> Na mesma época, Marx também se encontrou com [[Proudhon]], com quem teve discussões polêmicas e muitas divergências. E conheceu rapidamente [[Bakunin]], então refugiado do [[Regime czarista|czarismo russo]] e militante [[socialismo|socialista]]. No seu período em Paris, Marx intensificou os seus estudos sobre [[economia política]], os [[socialismo utópico|socialistas utópicos]] franceses e a [[história da França]], produzindo reflexões que resultaram nos ''Manuscritos de Paris'', mais conhecidos como [[Ökonomisch-philosophische Manuskripte|Manuscritos Econômico-Filosóficos]]. De acordo com [[Friedrich Engels|Engels]], foi nesse período que Marx aderiu às ideias socialistas.<ref name="bio_engels" />

De [[Paris]], Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada ''[[Vorwärts!]]'', que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da [[França]] em [[1845]] a pedido do [[prússia|governo prussiano]]. Migrou então para [[Bruxelas]], para onde [[Friedrich Engels|Engels]] também viajou.<ref name="bio_engels" /> Entre outros escritos, a dupla redigiu na [[Bélgica]] o [[Manifesto comunista]]. Em [[1848]], Marx foi expulso de [[Bruxelas]] pelo governo belga. Junto com [[Friedrich Engels|Engels]], mudou-se para [[Colônia (Alemanha)|Colônia]], onde fundam o jornal [[Nova Gazeta Renana]].<ref name="boitempo" /> Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de [[Colônia (Alemanha)|Colônia]] em [[1849]]. Até [[1848]], Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai.<ref name="requiem" /> Entretanto, em [[1849]] Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a [[Paris]], mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por [[Ferdinand Lassalle]] na [[Alemanha]], Marx e família conseguem migrar para [[Londres]], onde fixaram residência definitiva.<ref name="boitempo" />

=== Morte ===
[[Imagem:KarlMarx Tomb.JPG|thumb|upright|esquerda|Tumba de Karl Marx no [[Cemitério de Highgate]], Londres.]]

Encontrando-se deprimido por conta da morte de sua esposa, ocorrida em Dezembro de [[1881]], Marx desenvolveu, em consequência dos problemas de saúde que suportou ao longo de toda a vida, [[bronquite]] e [[pleurisia]], que causaram o seu falecimento em [[1883]]. Foi enterrado na condição de [[apátrida]],<ref name="apátrida">MALTSEV, Y. (1993), p. 451.</ref> no [[Cemitério de Highgate]], em [[Londres]].<ref name="boitempo" />

Muitos dos amigos mais próximos de Marx prestaram homenagem ao seu funeral, incluindo [[Wilhelm Liebknecht]] e [[Friedrich Engels]].
O último declamou as seguintes palavras:<ref>{{citar web|url=http://www.marxists.org/archive/marx/works/1883/death/dersoz1.htm|titulo=Karl Marx's funeral|ultimo=Marxist Internet Archive |data=2008 |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref>

[[Imagem:Marx old.jpg|thumb|200px|Marx por volta de um ano antes de sua morte, em 1882.]]
{{cquote|
:''Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. (…) Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal.''}}

Em [[1954]], o [[Partido Comunista Britânico]] construiu uma lápide com o busto de Marx sobre sua tumba, até então de decoração muito simples.<ref>WHEEN, Francis. ''Karl Marx: A Life''. New York: Norton, 2002. Introduction.</ref> Na lápide encontram-se inscritos o parágrafo final do [[Manifesto Comunista]] ("Proletários de todos os países, uni-vos!") e um trecho extraído das [[Teses sobre Feuerbach]]: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo."<ref>Veja fotografia da tumba.</ref><ref>Em inglês, "Workers of the world, unite! e "The philosophers have only interpreted the world in various ways - the point however is to change it".</ref>

== Pensamento ==
{{Marxismo}}

Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado na [[Rússia]], onde, em [[1872]], foi publicada a primeira tradução do Tomo I d'[[O Capital]]. Na [[Alemanha]], a teoria de Marx foi ignorada durante bastante tempo, até que em [[1879]] um alemão estudioso da [[Economia Política]], [[Adolph Wagner]], comentou o trabalho de Marx ao longo de uma obra intitulada ''Allgemeine oder theoretische Volkswirthschaftslehre''. A partir de então, os escritos de Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.<ref name="BOTTOMORE, Tom 1980">BOTTOMORE, Tom. ''Marxismo e Sociologia''. In: Nisbet, Robert; Bottomore, Tom. História da análise sociológica Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980, capítulo quatro.</ref>

Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente influência intelectual e política sobre os movimentos operários (ao final do [[século XIX]], o principal ''[[wikt:locus|locus]]'' de debate da teoria era o [[Partido Social-Democrata da Alemanha|Partido Social-Democrata alemão]]) e, em menor proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às [[ciências humanas]] – notadamente na [[Universidade de Viena]] e na [[Universidade de Roma]], primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados para o estudo de Marx.<ref name="BOTTOMORE, Tom 1980"/>

Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de [[Kant]], [[Friedrich Nietzsche|Nietzsche]] e [[Hegel]] um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de um [[Aristóteles]], de quem era um admirador. Marx criticou ferozmente o sistema filosófico [[Idealismo|idealista]] de Hegel. Enquanto que, para Hegel, ''da realidade se faz filosofia'', para Marx a filosofia precisa incidir sobre a [[realidade]]. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizada como [[práxis]]: união entre teoria e prática.

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das [[capitalismo|sociedades capitalistas]]. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.<ref name=ianni>IANNI, Octavio. ''Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx''. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 9-10.</ref>

O marxismo constitui-se como a [[Materialismo histórico|concepção materialista da História]], longe de qualquer tipo de [[determinismo]], mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a [[dialética]]. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como [[forças produtivas]], [[Capital (economia)|capital]], entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.<ref>{{citar web|url=http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2012/trabalhos/6520_Chagas_Eduardo.pdf|titulo=O Método dialético de Marx: investigação e exposição crítica do objeto|ultimo=CHAGAS, Eduardo F. |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref>

Karl Marx compreende o [[Trabalho (economia)|trabalho]] como atividade fundante da humanidade. E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas [[relações de produção]] e suas [[Relação social|relações sociais]] fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a [[Alienação|alienação do trabalho]] como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.<ref>{{citar web|url=http://www2.fc.unesp.br/revista_educacao/arquivos/Marxismo_ciencia_e_educacao.pdf|titulo=Marx, ciência e educação: a práxis transformadora como mediação para a produção do conhecimento|ultimo=SILVA, Célia Regina da; SILVA, Luis Fernando da; MARTINS, Sueli Terezinha F |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref>

=== Influências ===
Algumas das principais leituras e estudos feitos por Marx são:<ref name="IANNI, Octavio 1982, p. 10">IANNI, Octavio. ''Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx''. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 10.</ref>
* A [[filosofia alemã]] de [[Kant]], [[Hegel]] e dos neo-hegelianos (como [[Ludwig Feuerbach|Feuerbach]] e outros);
* O [[socialismo utópico]] (representado por [[Conde de Saint-Simon|Saint-Simon]], [[Robert Owen]], [[Louis Blanc]] e [[Proudhon]]);
* E a [[economia política clássica]] britânica (representada por [[Adam Smith]], [[David Ricardo]] e outros).

Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que as questionou e desenvolveu novos temas, de modo a produzir uma profunda reorientação no debate intelectual [[europa|europeu]].<ref name="IANNI, Octavio 1982, p. 10"/>

==== Influência da Filosofia Idealista ====
[[Hegel]] foi professor da [[Universidade de Jena]], a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em [[Berlim]], Marx teve contato prolongado com as ideias dos [[Jovens Hegelianos]] (também referidos como [[Hegelianos de esquerda]]). Os dois principais aspectos do sistema de Hegel que influenciaram Marx foram sua [[filosofia da história]] e sua concepção [[dialética]].<ref name="bottomore" />

[[Imagem:Marx4.jpg|thumb|220px]]
Para [[Hegel]], nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (''vir-a-ser''); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o ''Espírito do Mundo'' (ou ''Superalma''; ou ''Consciência Absoluta''), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de [[Deus]]. A historicidade é concebida enquanto [[história]] do progresso da ''consciência da liberdade''. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ''ideias de liberdade'' e as ''ideias de coerção'' ligadas a condição natural ("selvagem") do homem. O homem se liberta progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.<ref name="bottomore" /><ref>ABBAGNANO, Nicola. ''Dicionário de Filosofia''. São Paulo: Martins, 2001.</ref>

Marx considerou-se um [[hegelianos de esquerda|hegeliano de esquerda]] durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de [[Hegel]] após tomar contato com as concepções de [[Ludwig Feuerbach|Feuerbach]]. Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o ''Espírito do Mundo'' enquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora, assim, a ''dialética materialista'' (conceito não desenvolvido por Marx, que também costuma ser referida por ''[[materialismo dialético]]'').<ref name="bottomore" /><ref>KOSIK, Karel. ''Dialética do concreto''. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, primeira parte.</ref>

{{cquote|
::''A mistificação por que passa a dialética nas mãos de Hegel não o impede de ser o primeiro a apresentar suas formas gerais de movimento, de maneira ampla e consciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça para baixo. É necessária pô-la de cabeça para cima, a fim de descobrir a substância racional dentro do invólucro místico.''<ref>MARX, Karl. ''El Capital'', 3 tomos. México: Fondo de Cultura Econômica, 1946, tomo I, p. 18. ''Apud'' IANNI, Octavio. ''Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx''. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 11.</ref>}}

A respeito da influência de [[Hegel]] sobre Marx, escreveu [[Lenin]] que

{{cquote|
::''(…) é completamente impossível entender [[O Capital]] de Marx, e, em especial, seu primeiro capítulo, sem haver estudado e compreendido a fundo toda a lógica de [[Hegel]].''<ref>LENIN, V. I. ''Obras escolhidas'', 1972, volume 38, p. 180.</ref>}}

[[Ludwig Feuerbach]] foi um [[filosofia materialista|filósofo materialista]] que atraiu muita atenção de intelectuais de sua época. Publicou, em [[1841]], uma obra ([[A Essência do Cristianismo|''Das Wesen des Christentums'' – ''A essência do cristianismo'']]) que teve influência importante sobre Marx, [[Friedrich Engels|Engels]] e os [[Jovens Hegelianos]]. Nela, Feuerbach criticou duramente [[Hegel]], e afirmou que a [[religião]] consiste numa projeção dos desejos humanos e numa forma de [[alienação]]. É de Feuerbach a concepção de que em Hegel a lógica [[dialética]] está "de cabeça para baixo", porque apresenta o homem como um atributo do pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. Sem dúvida, o contato de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante para a formulação de sua crítica radical da religião e das "concepções invertidas" de Hegel.<ref name=bottomore>BOTTOMORE, Tom (editor). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001</ref>

==== Influência do socialismo utópico ====
Por [[socialismo utópico]] costumava-se designar, à época de Marx, um conjunto de [[doutrina]]s diversas (e até antagônicas entre si) que tinham em comum, entretanto, duas características básicas: todas entendiam que a base determinante do comportamento humano residia na esfera [[moral]]/[[ideologia|ideológica]] e que o desenvolvimento das [[Mundo ocidental|civilizações ocidentais]] estava a permitir uma nova era onde iria imperar a harmonia social. Marx criticou sagazmente as ideias dos socialistas utópicos (principalmente dos franceses, com os quais mais polemizou), acusando-os de muito [[romantismo]] ingênuo e pouca (ou nenhuma) dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura social, pois os socialistas utópicos muito diziam sobre como deveria ser a sociedade harmônica ideal, mas nada indicavam sobre como seria possível alcançá-la plenamente. Por outro lado, pode-se dizer que, de certa forma, Marx adotou – explícita ou implicitamente – algumas noções contidas nas ideias de alguns dos socialistas utópicos (como, por exemplo, a noção de que o aumento da capacidade de produção decorrente da [[revolução industrial]] permite condições materiais mais confortáveis à vida humana, ou ainda a noção de que as crenças ideológicas do sujeito<ref>Importante, contudo, destacar uma diferença primordial: para os socialistas utópicos em geral, todo o comportamento humano é absolutamente determinado pela moral/ideologia; já para Marx, essa afirmação é parcialmente verdadeira, pois a moral/ideologia encontra-se ela também submetida a uma outra condição anterior que lhe determina – a dimensão material da reprodução da existência.</ref> lhe determinam o comportamento).<ref name="bottomore" />

==== Influência da economia política clássica ====
[[Imagem:Marx1867.jpg|thumb|230px|Marx em 1867.]]
Marx empreendeu um minucioso estudo de grande parte da teoria econômica [[Mundo ocidental|ocidental]], desde escritos da [[Grécia antiga]] até obras que lhe eram contemporâneas. As contribuições que julgou mais fecundas foram as elaboradas por dois [[Economia política|economistas políticos]] britânicos, [[Adam Smith]] e [[David Ricardo]] (tendo predileção especial por Ricardo, a quem referia como "o maior dos economistas clássicos"). Na obra deste último, Marx encontrou conceitos – então bastante utilizados no debate britânico – que, após fecunda revisão e re-elaboração, adotou em definitivo (tais como os de [[Valor (economia)|valor]], [[divisão social do trabalho]], [[acumulação primitiva]] e [[mais-valia]], por exemplo). A avaliação do grau de influência da obra de Ricardo sobre Marx é bastante desigual. Estudiosos pertencentes à tradição neo-ricardiana tendem a considerar que existem poucas diferenças cruciais entre o pensamento econômico de um e outro; já estudiosos ligados à [[marxismo|tradição marxista]] tendem a delimitar diferenças fundamentais entre eles.<ref name="bottomore" /><ref>IANNI, Octavio. ''Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx''. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 12-13.</ref>

=== Metodologia ===
Marx nunca escreveu um livro dedicado especificamente à metodologia das ciências sociais para expor, mas deixou, dispersas por numerosas obras escritas, um conjunto de reflexões metodológicas, nas quais desenvolve o seu próprio método por meio da crítica ao idealismo especulativo hegeliano e à economia política clássica.

Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada, que buscava explicar especulativamente a história mundial como auto-desenvolvimento da Ideia absoluta.

Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizavam o [[modo de produção]] capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como uma ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de indivíduo, [[homo economicus]]. Por isso, os economistas clássicos recorriam a "robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre caçadores e pescadores primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas. Marx atribuía essa mistificação ao [[fetichismo da mercadoria]], e não a uma intenção consciente.

Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto<ref>{{citar web|url=http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm|titulo=Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política|ultimo=Marxist Internet Archive |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref>

=== Crítica da religião ===
{{Artigo principal|[[Ateísmo Marxista-leninista]]}}
Para Marx a crítica da [[religião]] é o pressuposto de toda crítica social, pois crê que as concepções religiosas tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos.<ref name="bottomore" /> Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença que profere em um escrito intitulado ''[[Crítica da filosofia do direito de Hegel]]'': “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.”<ref name="LESBAUPIN, Ivo 2003">LESBAUPIN, Ivo. ''Marxismo e religião''. In: Teixeira, F. (org.). Sociologia da religião. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.</ref> Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa. Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de [[Ludwig Feuerbach]], para quem a religião não expressa a vontade de nenhum [[Deus]] ou outro [[metafísica|ser metafísico]]: é criada pela fabulação dos homens.<ref name="LESBAUPIN, Ivo 2003"/>

=== Revolução ===
Apesar de alguns leitores de Marx adjetivarem-no de “[[teoria|teórico]] da [[revolução]]”, inexiste em suas obras qualquer [[conceito|definição conceitual]] explícita e específica do termo revolução.<ref name="MAGALHÃES, Fernando 2009">MAGALHÃES, Fernando. ''10 lições sobre Marx''. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.</ref> O que Marx oferece são descrições e projeções [[história|históricas]] inspiradas nos estudos que fez acerca das revoluções [[revolução francesa|francesa]], [[guerra civil inglesa|inglesa]] e [[Revolução Americana de 1776|norte-americana]].<ref name="bottomore" /> Um exemplo de prognóstico [[história|histórico]] desse tipo encontra-se em ''[[Contribuição para a Crítica da Economia Política|Contribuição para a crítica da Economia Política]]'':

{{cquote|
::''Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social.''<ref>MARX, Karl. {{Link|pt|2=http://marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm|3=''Contribuição para a crítica da economia política'' |4=''Zur Kritik der Politischen Oekonomie''. Prefácio. Página visitada em 29 de julho de 2012}}</ref>}}

Em geral, Marx considerava que toda [[revolução]] é necessariamente violenta, ainda que isso dependa, em maior ou menor grau, da constrição ou abertura do [[Estado]]. A necessidade de violência se justifica porque o Estado tenderia sempre a empregar a coerção para salvaguardar a manutenção da ordem sobre a qual repousa seu [[poder político]], logo, a insurreição não tem outra possibilidade de se realizar senão atuando também violentamente. Diferente do apregoado pelos pensadores [[contratualismo|contratualistas]], para Marx o poder político do Estado não emana de algum consenso geral, é antes o poder particular de uma classe particular que se afirma em detrimento das demais.<ref name="MAGALHÃES, Fernando 2009"/>

Importante notar que Marx não entende revolução enquanto algo como reconstruir a [[sociedade]] a partir de um zero absoluto. Na ''[[Crítica ao Programa de Gotha]]'', por exemplo, indica claramente que a instauração de um novo regime só é possível mediada pelas instituições do regime anterior. O novo é sempre gestado tendo o velho por ponto de partida.<ref name="MAGALHÃES, Fernando 2009"/> A [[revolução proletária]], que instauraria um novo regime sem classes, só obteria sucesso pleno após a conclusão de um período de transição que Marx denominou [[socialismo]].<ref name="bottomore" />

=== Crítica ao Anarquismo ===
[[Imagem:Marx7.jpg|thumb|240px]]
Criticou o [[anarquismo]] por sua visão tida como ingênua do fim do Estado onde se objetiva acabar com o Estado "por decreto", ao invés de acabar com as condições sociais que fazem do Estado uma necessidade e realidade. Na obra [[Miséria da Filosofia]] elabora suas críticas ao pensamento do anarquista [[Proudhon]]. Ainda, criticou o [[blanquismo]] com sua visão elitista de partido, por ter uma tendência autoritária e superada. Posicionou-se a favor do [[liberalismo]], não como solução para o proletariado, mas como premissa para maturação das forças produtivas (produtividade do trabalho) das condições positivas e negativas da emancipação proletária, como a da homogeneização da condição proletária internacional gerado pela "[[globalização]]" do capital. Sua visão política era profundamente marcada pelas condições que o [[desenvolvimento econômico]] ofereceria para a [[Emancipação (filosofia)|emancipação]] [[Proletariado|proletária]], tanto em sentido negativo ([[desemprego]]), como em sentido positivo (em que o próprio capital centralizaria a economia, exemplo: [[multinacionais]]).<ref>ALVES, Giovanni. '' Marx e a Globalização Como Lógica do Capital''.</ref>

=== A ''práxis'' ===
{{artigo principal|[[práxis]]}}
Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre de um "drama histórico" (termo que Marx usa em [[O 18 Brumário de Luís Bonaparte]]) e não de um "[[determinismo|determinismo histórico]]" que cairia num materialismo mecânico ([[positivismo]]), oposto ao [[materialismo dialético]] de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia também ser definido como uma "dialética realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as ideias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois sendo a [[história]] uma produção humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em que tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da história que criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E assim, Marx finaliza as [[Teses sobre Feuerbach]], não se trata de interpretar diferentemente o mundo, mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.<ref>MARX, Karl. {{Link|pt|2=http://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm|3=''Teses sobre Feuerbach'' |4=''Thesen über Feuerbach''. Página visitada em 29 de julho de 2012}}</ref>

=== A ''mais-valia'' ===
{{artigo principal|[[Mais-valia]]}}

O conceito de ''Mais-valia'' foi empregado por Karl Marx para explicar a obtenção dos [[lucro]]s no sistema capitalista. Para Marx o trabalho gera a riqueza, portanto, a mais-valia seria o [[Valor (economia)|valor]] extra da mercadoria, a diferença entre o que o empregado produz e o que ele recebe. Os operários em determinada produção produzem [[bens]] (ex: 100 carros num mês), se dividirmos o valor dos carros pelo trabalho realizado dos operários teremos o [[Teoria do valor-trabalho|valor do trabalho]] de cada operário. Entretanto os carros são vendidos por um preço maior, esta diferença é o lucro do proprietário da fábrica, a esta diferença Marx chama de valor excedente ou maior, ou '''mais-valia'''.<ref>SINGER, Paul. ''Marx – Economia in: Coleção Grandes Cientistas Sociais''; Vol 31.</ref>

=== ''O Capital'' ===
{{artigo principal|[[O Capital]]}}
[[Imagem:Kapital titel bd1.png|thumb|Capa da primeira edição ([[1867]]) de ''[[O Capital|Das Kapital]]'']]
A grande obra de Marx é ''O Capital'', na qual trata de fazer uma extensa análise da sociedade capitalista. É predominantemente um livro de [[Economia Política]], mas não só. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a economia, até a [[sociedade]], [[cultura]], [[política]] e [[filosofia]]. É uma obra analítica, sintética, crítica, descritiva, [[ciência|científica]], filosófica, etc. Uma obra de difícil leitura, ainda que suas categorias não tenha a [[ambiguidade]] especulativa própria da obra de Hegel, no entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um pouco fácil. Dentro da estrutura do pensamento de Marx, só uma obra como ''O Capital'' é o principal conhecimento, tanto para a humanidade em geral, quanto para o proletariado em particular, já que através de uma análise radical da realidade que está submetido, só assim poderá se desviar da ideologia dominante ("a ideologia dominante" é sempre da "classe dominante"), como poderá obter uma base concreta para sua luta política. Sobre o caráter da abordagem econômica das formações societárias humanas, afirmou Alphonse De Waelhens: "O marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade do mundo econômico reificado as relações inter-humanas que o edificaram e se dissumularam por trás de sua obra."<ref>WALHENS, A de. ''L'idée phénoménologique d'intentionalité'', in ''Hussuerl et la pensée moderne''. Haia: 1959, pp. 127-128. ''Apud'' KOSIK, K. ''Dialética do Concreto''. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 17.</ref> Cabe lembrar que ''O Capital'' é uma obra incompleta, tendo sido publicado apenas o primeiro volume com Marx vivo. Os demais volumes foram organizados por Engels e publicados posteriormente.<ref>{{citar web|url=http://grabois.org.br/portal/cdm/revista.int.php?id_sessao=50&id_publicacao=137&id_indice=729|titulo=Engels e a economia política|ultimo=SECCO, Lincoln |acessodata=29 de julho de 2012}}</ref>

=== Outras obras ===
Na obra [[A Ideologia Alemã]], Marx apresenta cuidadosamente os pressupostos de seu novo pensamento. No [[Manifesto Comunista]] apresenta sua tese política básica. Na [[Sobre a Questão Judaica|Questão Judaica]] apresenta sua crítica religiosa, que diz que não se deve apresentar questões humanas como teológicas, mas as teológicas como questões humanas. E que afirmar ou negar a existência de Deus, são ambas [[teologia]]. O ponto de vista deve ser sempre o de ver as religiões como reflexões humanas fantasiosas de si mesmo, mas que representa a condição humana real a que está submetido. Na [[Crítica ao Programa de Gotha]], Marx faz a mais extensa e sistemática apresentação do que seria uma sociedade socialista, ainda que sempre tente desviar desse tipo de "futurologia", por não ser rigorosamente científica. Em [[A Guerra Civil na França]], Marx supera todas as suas [[Jacobinismo|tendências jacobinas]] de antes e defende claramente que só com o fim do Estado o proletariado oferece a si mesmo as condições de manter o próprio poder recém conquistado, e o fim do Estado é literalmente o "povo em armas", ou seja, o fim do "monopólio da violência" que o Estado representa. Em [[O 18 Brumário de Luís Bonaparte]], já está uma profunda análise sobre o [[Terror (Revolução Francesa)|terror]] da "[[burocracia]]"; a questão do campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel dos partidos políticos na vida social e uma caracterização profunda da essência do bonapartismo são outros aspectos marcantes desta obra.

=== Colaboração de Engels ===
[[Friedrich Engels|Engels]] exerceu significativa influência sobre as reflexões intelectuais de Marx, principalmente no início da associação entre ambos, período em que Engels dirigiu a atenção de Marx para a [[Economia Política]] e a [[história]] [[economia|econômica]] da [[Europa]]. Após a morte deste, Engels tornou-se não só o organizador dos muitos manuscritos incompletos e/ou inéditos legados, mas também o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx. Engels igualmente se ocupou, desde bem antes do falecimento de seu amigo, de redigir exposições em termos populares das ideias de Marx visando facilitar sua difusão.<ref name="BOTTOMORE, Tom 1980"/>

== Críticas ==
{{Ver artigos principais|[[Anticomunismo]], [[Críticas ao marxismo]], [[Memorial das Vítimas do Comunismo]], [[O Livro Negro do Comunismo]]}}
A crítica ao pensamento de Marx iniciou-se desde a publicação de suas primeiras obras e prossegue - principalmente entre seus seguidores e intelectuais preocupados em conhecer, desenvolver e discutir a atualidade de suas ideias.

Em ''[[A Miséria do Historicismo|A Miséria do historicismo]]'' ([[1936]]), [[Karl Popper]] discorda de Marx quanto à história ser regida por leis que, se compreendidas, podem servir para se antecipar o futuro. Segundo Popper, a história não pode obedecer a leis e a ideia de "lei histórica" é uma contradição em si mesma. Já em ''[[A sociedade aberta e seus inimigos]]'' ([[1945]]), Popper afirma que o [[historicismo]] conduz necessariamente a uma sociedade "tribal" e "fechada", com total desprezo pelas liberdades individuais.

Todavia há dúvidas se Marx teria realmente baseado sua teoria em um "historicismo", nos termos colocados por Popper. Argumenta-se que Marx, seguindo uma tradição inaugurada por [[Maquiavel]] e [[Hobbes]], busca nos interesses e necessidades concretas dos indivíduos, ao longo da História, a causa fundamental das ações humanas - em oposição às ideias políticas e morais abstratas. Ele não parece supor que esta busca de realização de interesses tenha consequências predeterminadas. Tal interpretação, provavelmente influenciada pelo [[evolucionismo]] [[Darwinismo|darwinista]], na [[exegese]] póstuma do pensamento marxiano, é creditada ao "papa" da [[Social-Democracia]] alemã, [[Karl Kautsky]], no final do [[século XIX]]. A interpretação kautskista seria contestada, de várias formas, por [[Eduard Bernstein|Bernstein]], [[Rosa Luxemburgo]], [[Lenin]], [[Leon Trótski|Trotsky]], [[Gramsci]], entre outros.

[[Imagem:MarxEngels 3a.jpg|thumb|190px|Monumento a Marx e Engels, em Berlim.]]
Popper considera Marx como "não-científico" também porque sua teoria não é passível de contestação. Uma teoria científica tem que ser falseável - caso contrário, é incluída no campo das [[crença]]s ou [[ideologia]]s. Resta saber, é claro, se afirmações sobre fatos históricos, necessariamente únicos, podem ser, nos termos de Popper, falsificáveis. (A crítica de Popper não tem esse sentido, ela faz referência ao fato de Marx afirmar que as críticas ao [[Comunismo]] são feitas por [[Burguesia|burgueses]] com interesses contrários, ou seja, qualquer crítica ao Comunismo tem uma explicação: é feita por um burguês. Dessa forma a teoria não é falseável, ninguém pode dizer que é falsa porque quem diz o faz por interesse burguês).

[[Ludwig von Mises]], em [[Ação Humana|''Ação Humana – um tratado de Economia'']] ([[1949]]), demonstrou a impossibilidade de se organizar uma economia nos moldes socialistas, pela ausência do sistema de preços, que funciona como sinalizador aos empreendedores acerca das necessidades dos [[consumidores]]. Mises também refinou argumentos formulados por [[Eugen von Böhm-Bawerk]] na obra ''Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction''.

[[Raymond Aron]], em ''[[O ópio dos intelectuais]]'' de ([[1955]]) criticou de forma agressiva os intelectuais seguidores de Marx e condenou a teoria da revolução e o [[determinismo]] histórico.

[[Eric Voegelin]] talvez seja um dos críticos mais severos de Karl Marx. No seu livro ''Reflexões Autobiográficas'' relata que, induzido pela onda de interesse sobre a [[Revolução Russa de 1917]], estudou ''O Capital'' de Marx e foi marxista entre agosto e dezembro de [[1919]]. Porém, durante seu curso universitário, ao estudar disciplinas de teoria econômica e história da teoria econômica aprendera o que estava errado em Marx.

Voegelin afirma que Marx comete uma grave distorção ao escrever sobre Hegel. Como prova de sua afirmação cita os editores dos ''Frühschiften'' (Escritos de Juventude) de Karl Marx (Kröner, 1953), especialmente Siegfried Landshut, que dizem o seguinte sobre o estudo feito por Marx da [[Princípios da Filosofia do Direito|''Filosofia do Direito'']] de Hegel: <blockquote>''"Ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, se nos é dado falar desta maneira, Marx transforma todos os conceitos que Hegel concebeu como predicados da ideia em anunciados sobre fatos"''.</blockquote>

Para Voegelin, ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, Marx pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra seres humanos afetando indignação moral e, por isso, Voegelin considera Karl Marx um mistificador deliberado. Afirma que o [[charlatanismo]] de Marx reside também na terminante recusa de dialogar com o argumento [[Etiologia|etiológico]] de [[Aristóteles]]. Argumenta que, embora tenha recebido uma excelente formação filosófica, Marx sabia que o problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um "homem socialista", Marx precisava repelir a todo custo o argumento etiológico.

Segundo Voegelin, Marx e Engels enunciam um disparate ao iniciarem o ''[[Manifesto Comunista]]'' com a afirmação categórica de que toda a história social até o presente foi a história da [[luta de classes]]. Eles sabiam, desde o colégio, que outras lutas existiram na história, como as [[Guerras Médicas]], as conquistas de [[Alexandre, o Grande|Alexandre]], a [[Guerra do Peloponeso]], as [[Guerras Púnicas]] e a expansão do [[Império Romano]], as quais decididamente nada tiveram de luta de classes.

Voegelin diz que Marx levanta questões que são impossíveis de serem resolvidas pelo "homem socialista". Também alega que Marx conduz a uma realidade alternativa, a qual não tem necessariamente nenhum vínculo com a realidade objetiva do sujeito. Segundo Voegelin, quando a realidade entra em conflito com Marx, ele descarta a realidade.

Finalmente, uma questão de ordem prática, iniciada décadas atrás, foi suscitada pelo [[stalinismo]], notadamente os [[expurgo]]s, os ''[[gulag]]s'' e o [[genocídio]] na antiga [[União Soviética]], que tiveram grande repercussão sobre o pensamento marxista europeu e os partidos comunistas ocidentais. Discutia-se até que ponto Marx poderia ser responsabilizado pelas diferentes "leituras" de sua obra (e respectivos efeitos colaterais) ou se tais práticas seriam resultantes de uma visão deturpada das ideias marxianas. Com o final da [[guerra fria]], o debate tornou-se menos polarizado. Todavia a discussão acerca do futuro do [[capitalismo]] - ou da [[Humanidade]] - prossegue.

== Obras ==
{{Anexo|[[Anexo:Lista de obras de Karl Marx|Lista de obras de Karl Marx]]}}

{{referências|Notas e referências|col=2}}

== Ligações externas ==
{{Commons|Karl Marx}}
* {{Link|pt|2=http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/economistas/karl_marx.html|3=Artigo sobre Karl Marx}}
* {{Link|pt|2=http://www.karlmarx.com.br/|3=Vida e obra de Karl Marx}}
* {{Link|pt|2=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-63512006000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|3=Marx e a Filosofia: elementos para a discussão ainda necessária|4=artigo publicado na revista Nova Economia}}
* {{Link|pt|2=http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n1/v23n1a11.pdf|3=O conceito de Alienação no jovem Marx|4=artigo sobre o conceito de "alienação" em Marx, publicado na revista Tempo Social}}
* {{Link|pt|2=http://www.directoriodeartigos.com/a-ideologia-de-marx/|3=A Ideologia de Karl Marx}}
* {{Link|de|2=http://www.zeno.org/Philosophie/M/Marx,+Karl|3=Obras de Karl Marx|4=Zeno.org}}
* [http://www.marxists.org/portugues/marx/1850/03/mensagem-liga.htm Liga dos Comunistas]
* [http://trotsky.org/archive/marx/bio/family/demuth/obitry.htm Artigo de F. Engels em homenagem a socialista Helena Demuth (publicado no dia 22/11/1890 na The People's Press)]

'''Textos integrais:'''
* {{Link|en,pt|2=http://www.marxists.org/portugues/marx/index.htm|3=Marxists Internet Archive}}
* {{Link|en|2=http://www.hartford-hwp.com/archives/26/020.html|3=Entrevista com Karl Marx, líder da Internacional, de 18 Julho de 1871. Nova York.}}
* {{Link|en|2=http://librivox.org/newcatalog/search.php?title=&author=Karl+Marx&action=Search|3=Narração em áudio do Manifesto e das Teses de Feuerbach, em inglês e alemão. Projeto de gravação de todas as obras do autor}}
* {{Link|de|2=http://www.zeno.org/Philosophie/M/Marx,%20Karl|3=Escritos de Karl Marx}}
* {{Link|en|2=http://libcom.org/tags/karl-marx|3=Biblioteca Comunista Libertária - Arquivo Karl Marx}}
* {{Link|en|2=http://trotsky.org/archive/marx/works/1881/mathematical-manuscripts/index.htm|3=Marx's Mathematical Manuscripts|4= - Livro de Cálculo Diferencial e Integral (matemática) que Marx escreveu em 1881}}

{{Marx-Engels}}

{{Portal3|Biografias|Literatura|Alemanha|Comunismo|História|Filosofia}}

{{DEFAULTSORT:Marx, Karl}}
{{DEFAULTSORT:Marx, Karl}}
[[Categoria:Karl Marx| Karl Marx]]
[[Categoria:Karl Marx| Karl Marx]]
Linha 235: Linha 17:
[[Categoria:Nascidos em 1818]]
[[Categoria:Nascidos em 1818]]
[[Categoria:Naturais de Tréveris]]
[[Categoria:Naturais de Tréveris]]

{{Link GA|ar}}
{{Link GA|cs}}
{{Link GA|de}}
{{Link GA|en}}
{{Link GA|no}}
{{Link FA|it}}
{{Link FA|la}}
{{Link FA|ce}}

Revisão das 18h58min de 3 de junho de 2014