Lísis de Tarento

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Lísis de Tarento
Data de nascimento: V século a.C.
Local: Tarento
Morte IV século a.C.
Local: Tarento
Principais interesses: Filósofo; Pedagogia
Trabalhos notáveis «Carta a Pitágoras» ; «Versos Dourados de Pitágoras»; «De istitutione» ; «De Civilitate» ; «De Natura»
Influências: Pitágoras

Lísis de Tarento (??? - c. 390 a.C.) foi um filósofo grego, da escola pitagórica e foi preceptor do estadista tebano Epaminondas.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Lísis proveio da colónia grega de Tarento na Apúlia, no Sul de Itália.[3] A comunidade pitagórica de que fazia parte e que, à época, se distribuira pelas várias colónias gregas estabelecidas ao longo da orla costeira do Sul italiano, gozava de uma reputação problemática, por causa da sua intensiva interventividade e amiguismo politico, o que não raro suscitava represálias, politicamente motivadas, dentro da pólis.[4][2]

Incêndio da casa de Mílon de Crotona[editar | editar código-fonte]

A casa de Mílon de Crotona era um núcleo pitagórico importante, na época, onde se reuniam os sectários do pitagorismo do sul italiano, para discutir as acções políticas a tomar, concertadamente, nas suas respectivas pólis. [5]

Cílon de Crotona era, por nascença, fama e riqueza, um dos cidadãos principais de Crotona (actual Calábria). Porém, era também conhecido por ter mau génio e por ser violento.[6] Quando Cílon, a fim de consolidar o sua posição política na pólis de Crotone, se apresentou na casa de Mílon, a fim de ingressar no pitagorismo e, assim poder gozar das ligações políticas privilegiadas, teve um dissabor.[7] Pitágoras, ciente do mau carácter de Cílon, negou-lhe o acesso.[8]

Cílon, então juntou-se aos rivais políticos dos pitagóricos e engendrou um plano de vingança.[7] Segundo relatos dos filósofos Aristóxenes e Jâmblico, os rivais políticos dos pitagóricos, caudilhados por Cílon, terão atearam fogo aos núcleos pitagóricos de Crotona e do Metaponto.[7][2] Nestes ataques incendiários, que se estima que terão ocorrido por torno do século V a.C, plausivelmente entre 440 e 415 a.C, pereceu grande parte dos pitagóricos do sul italiano, sendo certo que Lísis e Arquipos de Tarento, ainda jovens, conseguiram escapar com vida. [9][6]

Na subsequência desta chacina, os pitagóricos, enquanto força política, ficaram seriamente debilitados, tendo optado por deixar de intervir na vida política, desalentados e decepcionados com a inércia da população geral em agir sobre os autores do crime, que acabou por ficar impune.[6]

Com efeito, de acordo com o relato de Jâmblico, o ataque teve consequências tão drásticas, que resultou na apropriação das terras, cargos políticos e magistraturas, outrora detidas pelos pitagóricos defuntos, por parte dos seus rivais políticos, bem como na declaração de um perdão geral de todas as dívidas das quais os pitagóricos fossem credores.[4]

Fuga e estabelecimento em Tebas[editar | editar código-fonte]

Lísis e Arquipos, tendo escapado à morte certa, dirigiram-se para a cidade grega de Tebas, onde ficaram sob a tutela de Filolau de Crotona.[9]

Uma vez em Tebas, Lísis turno-se perceptor, tendo instruído inúmeros jovens helénicos notáveis, dos quais se destacou Epaminondas[10], que se veio a tornar num proeminente estadista e general tebano, responsável por incipiar a hegemonia tebana e por libertar Tebas do jugo espartano.[11]

Fim de vida e legado[editar | editar código-fonte]

De acordo com um registo que Plutarco fez da tradição oral, da sua época, Lísis terá passado a sua velhice aos cuidados de Polímnis, pai de Epaminondas, gozando de um tratamento familiar, como se de um segundo pai se tratasse, perante todos os filhos de Polímnis.[12]

Quando faleceu, houve vários companheiros, seus conterrâneos de Crotone, que o tinham em elevada estima, que foram a Tebas de propósito para lhe vir buscar o corpo, a fim de o sepultarem na terra-natal.[13]

Obras[editar | editar código-fonte]

O conhecimento que detemos a respeito dos escritos de Lísis, chega-nos, em certa medida, por intermédio de Diógenes Laércio, em sede da sua obra a respeito da vida de Pitágoras [14]. Contam-se, então, como obras da autoria de Lísis[15]:

  • «Carta a Pitágoras» - Diógenes conta-nos tratar-se de escritos, não adiantando muito mais[16]. Há historiadores que especulam que se poderá tratar de uma carta dirigida a Pitágoras.[17]
  • «Os Versos dourados de Pitágoras» - Segundo o autor e tradutor francês Fabre d'Olivet, o verdadeiro autor desta obra, será antes Lísis[18]. E.D. Kowalski, historiador mais contemporâneo, por seu turno, espéculou, na sua análise dos «Versos dourados», que os mesmo se poderão tratar antes de uma obra colaborativa de vários autores, dentre os quais se conta Lísis. [19]

Outras obras que, hoje em dia, são atribuídas a Lísis, mas que, historicamente, se julgou tratar-se de obras da autoria de Pitágoras são as epístolas: «De istitutione» ; «De Civilitate» ; «De Natura». [13][15]

Carta Apócrifa[editar | editar código-fonte]

Durante muito tempo atribuiu-se a autoria da «Carta a Hiparco» a Lísis, tendo sido uma obra que conheceu grande popularidade durante o Renascimento.[15]

A «Carta a Hiparco» trata-se de uma missiva dirigida a Hiparco, filósofo pitagórico do século IV a.C, sendo certo que nela Lísis também discorre a respeito de Pitágoras.[16][3]

« Muita gente me conta que filosofas em público, apesar de Pitágoras no-lo haver proibido expressamente. Pitágoras, que legou as suas obras à filha, Damo, proibiu-a de as partilhar com quem quer que fosse de fora. Ela-mesma podê-las-ia ter vendido por bom preço, mas recusou-se, por obediência à vontade do pai, preferindo viver na penúria ao resplendor do ouro. (Diógenes Laércio Pitágoras)

Actualmente, crê-se que esta obra será uma pseudepigrafia.[15] A primeira edição terá sido publicada por Aldus Manutius em Veneza, já em 1499. O cardeal Bessarion terá traduzido a suposta carta no século XV. No século XVI, houve novas traduções do latim, elaboradas por Philipp Melanchthon e Copérnico. Copérnico ter-se-á deixado levar pelo trecho supra citado, tornando-se relutante em publicar as suas descobertas.[20][21]

Referências

  1. Goulet, Richard (1989). Dictionnaire des philosophes antiques (em francês). [S.l.]: Editions du Centre national de la recherche scientifique 
  2. a b c Kurt von Fritz: Pythagorean Politics in Southern Italy, New York 1940, S. 4, 13, 28f., 78–80; Walter Burkert: Weisheit und Wissenschaft. Studien zu Pythagoras, Philolaos und Platon, Nürnberg 1962, S. 181 und Anm. 47.
  3. a b «Wikiwix's cache». archive.wikiwix.com. Consultado em 17 de janeiro de 2021 
  4. a b Robinson, Eric W. (1997). The First Democracies: Early Popular Government Outside Athens (em inglês). [S.l.]: Franz Steiner Verlag 
  5. Goulet, Richard (2012). Dictionnaire des philosophes antiques. Paris: CNRS editions. 1071 páginas 
  6. a b c Musti, Domenico (1990). Quaderni Urbinati di Cultura Classica, vol. 36, n.º 3 - Le rivolte antipitagoriche e la concezione pitagorica del tempo. [S.l.]: Fabrizio Serra Editore. pp. 35–65. doi:10.2307/20547064 
  7. a b c Robinson, Eric W. (1997). The First Democracies: Early Popular Government Outside Athens (em inglês). [S.l.]: Franz Steiner Verlag 
  8. «Pitagora in persona». utenti.quipo.it. Consultado em 17 de janeiro de 2021 
  9. a b Kurt von Fritz: Pythagoreer, Pythagoreismus. In: Pauly-Wissowa RE 24, Stuttgart 1963, Sp. 209–268, hier: 212, 214–216
  10. Lêvêque, Pierre; Vidal-Naquet, Pierre (1960). Historia: Zeitschrift Für Alte Geschichte, vol. 9, no. 3 - “Epaminondas Pythagoricien Ou Le Probleme Tactique De La Droite Et De La Gauche.”. [S.l.]: Franz Steiner Verlag. pp. pp. 294–308 
  11. Vidal-Naquet:, Pierre (1989). Der Schwarze Jäger - Denkformen und Gesellschaftsformen der griechischen Antike. Frankfurt Main: Campus. 368 páginas. ISBN 9783593339658 
  12. Plutarch: De genio Socratis 583a−d.
  13. a b «Lysis Of Tarentum | Greek philosopher». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 17 de janeiro de 2021 
  14. Diogene Laerzio, VIII 7.
  15. a b c d Thesleff, Holger (1965). The Pythagorean texts of the Hellenistic Period. [S.l.]: Åbo. 266 páginas. OCLC 819419956 
  16. a b Diogene Laerzio, VIII 42.
  17. Cornelia J. de Vogel: Pythagoras and Early Pythagoreanism, Assen 1966, S. 157 f.
  18. Fabre d'Olivet, Antoine (1767-1825) Auteur du texte (1813). Les vers dorés de Pythagore , expliqués et traduits pour la première fois en vers eumolpiques français, précédés d'un Discours sur l'essence et la forme de la poésie, chez les principaux peuples de la terre... par Fabre-D'Olivet (em francês). [S.l.: s.n.] 
  19. Kowalski., E. D. (2020). Julius Evola: Les Vers dorés de Pythagore - Commentaire Préface, traduction française. Milan: Archè Milan. 170 páginas. ISBN 978-88-7252-390-2 
  20. Charles H. Kahn: Pythagoras and the Pythagoreans. A Brief History, Indianapolis 2001, S. 159 f.
  21. Städele, Alfons (1980). Die Briefe des Pythagoras und der Pythagoreer. Hain: Meisenheim am Glan. p. 145. 376 páginas. ISBN 3445021287 
Ícone de esboço Este artigo sobre uma pessoa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.