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Línguas indo-europeias: diferenças entre revisões

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[[Gaston Coeurdoux]] e outros estudiosos fizeram observações semelhantes. Coeurdoux chegou a fazer uma comparação minuciosa das [[Conjugação|conjugações]] do sânscrito, grego e latim, no fim da década de 1760, sugerindo uma possível relação entre eles. A hipótese ressurgiu em [[1786]], quando ''[[sir]]'' [[William Jones (filólogo)|William Jones]] deu sua primeira palestra a respeito das semelhanças entre quatro das línguas mais antigas conhecidas na sua época: o latim, o grego, o sânscrito e o persa. Foi [[Thomas Young (cientista)|Thomas Young]] quem usou pela primeira vez o termo ''indo-europeu'', em [[1813]],<ref>''London Quarterly Review X/2 1813.; cf. Szemerényi 1999:12, nota 6</ref> que se tornou o termo científico padrão (exceto na [[Alemanha]]<ref>em alemão o termo usado é ''indogermanisch'' ("indo-germânico"), que indica a extensão ocidental-oriental do idioma. Este termo foi registrado pela primeira vez em [[Língua francesa|francês]] como ''indo-germanique'', em [[1810]], por [[Conrad Malte-Brun]], um [[geógrafo]] [[França|francês]] de origem [[Dinamarca|dinamarquesa]].</ref>) através da obra de [[Franz Bopp]], cuja comparação sistemática destas e de outras línguas antigas deu suporte à teoria. A ''Gramática Comparativa'' de Bopp, que surgiu entre 1833 e 1852, é considerada como o ponto de partida para os [[estudos indo-europeus]] como uma disciplina acadêmica.
[[Gaston Coeurdoux]] e outros estudiosos fizeram observações semelhantes. Coeurdoux chegou a fazer uma comparação minuciosa das [[Conjugação|conjugações]] do sânscrito, grego e latim, no fim da década de 1760, sugerindo uma possível relação entre eles. A hipótese ressurgiu em [[1786]], quando ''[[sir]]'' [[William Jones (filólogo)|William Jones]] deu sua primeira palestra a respeito das semelhanças entre quatro das línguas mais antigas conhecidas na sua época: o latim, o grego, o sânscrito e o persa. Foi [[Thomas Young (cientista)|Thomas Young]] quem usou pela primeira vez o termo ''indo-europeu'', em [[1813]],<ref>''London Quarterly Review X/2 1813.; cf. Szemerényi 1999:12, nota 6</ref> que se tornou o termo científico padrão (exceto na [[Alemanha]]<ref>em alemão o termo usado é ''indogermanisch'' ("indo-germânico"), que indica a extensão ocidental-oriental do idioma. Este termo foi registrado pela primeira vez em [[Língua francesa|francês]] como ''indo-germanique'', em [[1810]], por [[Conrad Malte-Brun]], um [[geógrafo]] [[França|francês]] de origem [[Dinamarca|dinamarquesa]].</ref>) através da obra de [[Franz Bopp]], cuja comparação sistemática destas e de outras línguas antigas deu suporte à teoria. A ''Gramática Comparativa'' de Bopp, que surgiu entre 1833 e 1852, é considerada como o ponto de partida para os [[estudos indo-europeus]] como uma disciplina acadêmica.

==Classificação==
[[Ficheiro:IndoEuropeanTree.svg|thumb|Família linguística indo-europeia.]]

Os diversos subgrupos da família linguística indo-europeia incluem dez subdivisões principais (listados por ordem histórica de sua primeira evidência escrita):

#[[Línguas anatólias|Línguas anatólicas]]: primeiro ramo atestado. Termos isolados em fontes escritas em [[Língua assíria|assírio antigo]] do [[século XIX a.C.]], [[textos hititas]] do [[século XVI a.C.]]; extintas na [[Antiguidade Tardia]].
#[[Línguas helênicas]]: registros fragmentários no [[grego micênico]] do fim do [[século XV a.C.]] até o início do seguinte; as tradições [[Homero|homéricas]] ([[grego homérico]]) datam do [[século VIII a.C.]] (ver [[língua protogrega]], [[história da língua grega]]).
#[[Línguas indo-iranianas]]: descendentes de um ancestral comum, o [[Língua proto-indo-iraniana|proto-indo-iraniano]] (que data do fim do [[terceiro milênio a.C.]]).
#* [[Línguas indo-arianas]], evidenciadas a partir do fim do século XV a.C. em textos dos [[mitanni]] que mostram [[Superestrato indo-ariano nos mitanni|traços do indo-ariano]]. [[Epigrafia|Epigraficamente]] a partir do [[século III a.C.]], na forma do [[prácrito]] ([[Editos de Asoka]]). Presume-se que o ''[[Rigveda]]'' tenha preservado registros intactos da [[Patha|tradição oral]] (''Patha'') que datam de meados do [[segundo milênio a.C.]], na forma do [[sânscrito védico]].
#* [[Línguas iranianas]], atentadas desde aproximadamente [[1000 a.C.]] na forma do [[Língua avestânica|avestânico]]. Epigraficamente, desde [[520 a.C.]], na forma do [[Língua persa antiga|persa antigo]] ([[inscrição de Behistun]]).
#* [[Línguas dárdicas]]
#* [[Línguas nuristânicas]]
#[[Línguas itálicas]]: incluindo o [[latim]] e seus descendentes ([[línguas românicas]] ou latinas), atestadas desde o [[século VII a.C.]].
#[[Línguas celtas]], descendentes do [[Língua protocelta|protocelta]]. [[Inscrição|Inscrições]] [[Língua gaulesa|gaulesas]] chegam a remontar ao [[século VI a.C.]]; a tradição de [[manuscrito]]s do [[Língua irlandesa antiga|irlandês antigo]] data do [[século VIII|século VIII d.C.]].
#[[Línguas germânicas]] (do [[Língua protogermânica|protogermânico]]: seus testemunhos mais antigos são inscrições [[Runa|rúnicas]] de por volta do [[século II|século II d.C.]], e os primeiros textos, feitos no [[Língua gótica|gótico]], do [[século IV]]. A tradição de manuscritos do [[Língua inglesa antiga|inglês antigo]] data do século VIII.
#[[Língua armênia]]: escritos no [[alfabeto armênio]] existem desde o início do [[século V]].
#[[Línguas tocarianas]]: existem em dois dialetos, evidenciados desde o século VI ao IX; foram marginalizados pelo [[Império Uigur]], onde se falava o [[turcomano antigo]], e provavelmente se extinguiram no século X.
#[[Línguas balto-eslavas]]: tidas pela maior parte dos indo-europeístas<ref>Como Schleicher 1861, Szemerényi 1957, Collinge 1985 e Beekes 1995</ref> como formando uma unidade filogenética - enquanto uma minoria ainda credita estas semelhanças a um contato linguístico prolongado.
#* [[Línguas eslavas]] (do [[Língua proto-eslava|proto-eslavo]]), evidenciado desde o [[século IX]], primeiros textos no [[antigo eslavônico eclesiástico]].
#* [[Línguas bálticas]], atestadas desde o [[século XIV]]; para idiomas cujas primeiras evidências são tão tardias, conservam características arcaicas atípicas, atribuídas ao proto-indo-europeu (PIE).
#[[Língua albanesa|albanês]], evidenciado a partir do século XV; o proto-albanês provavelmente surgiu de antecessores "[[Línguas paleobalcânicas|paleobalcânicos]]".<ref>Leake, William Martin. ''Of the Albanian Language'', Londres, 1814.</ref><ref>{{citar web|url=http://linguistlist.org/forms/langs/LLDescription.cfm?code=txh|título =The Thracian language|publicado =The Linguist List| acessodata = 27-1-2008| citação = An ancient language of Southern Balkans, belonging to the Satem group of Indo-European. This language is the most likely ancestor of modern Albanian (which is also a Satem language), though the evidence is scanty. 1st Millennium BC - 500 AD. ("Antiga língua dos Bálcãs meridionais, pertencente ao grupo ''satem'' do indo-europeu. Esta língua é o provável antepassado do albanês moderno (que também é uma língua ''satem''), embora a evidência para isto seja mínima. Primeiro milênio a.C. - 500 d.C."). }}</ref>

Além dos dez ramos 'clássicos' listados acima, diversos idiomas já extintos e menos conhecidos pertencentes ao grupo existiram:

*[[Línguas ilírias]] — possivelmente relacionados ao messápio ou ao venético; um parentesco com o albanês também foi sugerido.
*[[Língua venética]] ou vêneta — aparentada às línguas itálicas.
*[[Língua libúrnia]] — aparentemente agrupada com o venético.
*[[Língua messápia]] — ainda não foi decifrada de maneira conclusiva.
*[[Língua frígia]] — língua da antiga [[Frígia]], provavelmente aparentada ao grego, trácio ou armênio.
*[[Língua peônia]] — língua extinta, falada ao norte da [[Macedônia]].
*[[Língua trácia]] — possivelmente incluía o dácio.
*[[Língua dácia]] — próxima do trácio ou do proto-albanês, ou de ambos.
*[[Língua macedônia antiga]] — parentescos propostos com o grego, ilírio, trácio ou frígio.
*[[Língua lígure]] — apesar de teorias que a vinculam ao ramo céltico, pode nem mesmo ser indo-europeia.
*[[Língua lusitana]] — possivelmente relacionada (ou até mesmo um subgrupo) do céltico, lígure ou itálico.


=={{Ver também}}==
=={{Ver também}}==

Revisão das 14h26min de 20 de agosto de 2009

Mapa da Europa por família de línguas, contendo as línguas indo-europeias.

O indo-europeu é uma família (ou filo) composta por diversas centenas de línguas e dialetos,[1] que inclui as principais línguas da Europa, Irã e do norte da Índia, além dos idiomas predominantes historicamente na Anatólia e na Ásia Central. Atestado desde a Era do Bronze, na forma do grego micênico e das línguas anatólias, a família tem considerável significância no campo da linguística histórica, na medida em que possui a mais longa história registrada depois da família afro-asiática.

As línguas do grupo indo-europeu são faladas por aproximadamente três bilhões de falantes nativos, o maior número entre as famílias linguísticas reconhecidas. A família sino-tibetana tem o segundo maior número de falantes, enquanto diversas propostas controversas fundiram o indo-europeu com outras das principais famílias linguísticas.

História da linguística indo-europeia

Sugestões de semelhanças entre os idiomas indianos e europeus começaram a ser feitos por visitantes europeus à Índia no século XVI. Em 1583 o padre Thomas Stephens, um missionário jesuíta inglês em Goa, notou as semelhanças entre os idiomas indianos, mais especificamente o concani, e o grego e o latim. Estas observações foram incluídas numa carta sua para seu irmão, que só foi publicada no século XX.[2]

O primeiro relato a mencionar o sânscrito veio de Filippo Sassetti (nascido em 1540), um mercador florentino que viajou ao subcontinente indiano e esteve entre os primeiros observadores europeus a estudar a antiga língua indiana. Escrevendo em 1585, notou diversas semelhanças entre palavras do sânscrito e do italiano (como por exemplo devaḥ / dio, "Deus", sarpaḥ / serpe, "serpente", sapta / sette, "sete", aṣṭa / otto, "oito", nava / nove, "nove").[2] Nem as observações de Stephens, nem as de Sassetti, no entanto, levaram a maiores estudos acadêmicos.[2]

Em 1647 o linguista e acadêmico holandês Marcus Zuerius van Boxhorn notou a semelhança entre as línguas indo-europeias, e sugeriu a existência de um idioma primitivo comum, que ele chamou de "cita". Van Boxhorn incluiu em sua hipótese o holandês, o grego, o latim, o persa e o alemão, adicionando posteriormente as línguas eslavas, celtas e bálticas. Suas teorias, no entanto, não se tornaram difundidas e tampouco estimularam novos estudos.

Gaston Coeurdoux e outros estudiosos fizeram observações semelhantes. Coeurdoux chegou a fazer uma comparação minuciosa das conjugações do sânscrito, grego e latim, no fim da década de 1760, sugerindo uma possível relação entre eles. A hipótese ressurgiu em 1786, quando sir William Jones deu sua primeira palestra a respeito das semelhanças entre quatro das línguas mais antigas conhecidas na sua época: o latim, o grego, o sânscrito e o persa. Foi Thomas Young quem usou pela primeira vez o termo indo-europeu, em 1813,[3] que se tornou o termo científico padrão (exceto na Alemanha[4]) através da obra de Franz Bopp, cuja comparação sistemática destas e de outras línguas antigas deu suporte à teoria. A Gramática Comparativa de Bopp, que surgiu entre 1833 e 1852, é considerada como o ponto de partida para os estudos indo-europeus como uma disciplina acadêmica.

Ver também

Referências

  1. É composto por 449 línguas e dialetos, de acordo com a estimativa de 2005 do Ethnologue, dos quais cerca da metade (219) pertence ao ramo indo-ariano.
  2. a b c Auroux, Sylvain (2000). History of the Language Sciences. Berlin, New York: Walter de Gruyter. 1156 páginas. ISBN 3110167352 
  3. London Quarterly Review X/2 1813.; cf. Szemerényi 1999:12, nota 6
  4. em alemão o termo usado é indogermanisch ("indo-germânico"), que indica a extensão ocidental-oriental do idioma. Este termo foi registrado pela primeira vez em francês como indo-germanique, em 1810, por Conrad Malte-Brun, um geógrafo francês de origem dinamarquesa.

  • Auroux, Sylvain, History of the Language Sciences, Walter de Gruyter, Berlim, 2000 ISBN 3-11-016735-2.
  • Kortlandt, Frederik, 1990, The Spread of the Indo-Europeans, Journal of Indo-European Studies, 18.1-2: 131-140
  • Lubotsky, A., The Old Phrygian Areyastis-inscription, Kadmos 27, 9-26, 1988
  • Kortlandt, Frederik , The Thraco-Armenian consonant shift, Linguistique Balkanique 31, 71-74, 1988
  • Lane, George S., Adams, Douglas Q., The Tocharian problem, Encyclopaedia Britannica, vol. 22, Helen Hemingway Benton Publisher, Chicago, (15ª ed.) 1981
  • Renfrew, C., "The Anatolian origins of Proto-Indo-European and the autochthony of the Hittites". In R. Drews ed., Greater Anatolia and the Indo-Hittite language family, Institute for the Study of Man, Washington, DC, 2001
  • Houwink ten Cate, H.J., Melchert, H. Craig e van den Hout, Theo P.J. "Indo-European languages, The parent language, Laryngeal theory", Encyclopaedia Britannica, vol.22, Helen Hemingway Benton Publisher, Chicago, (15th ed.) 1981
  • Holm, Hans J., The Distribution of Data in Word Lists and its Impact on the Subgrouping of Languages, in Christine Preisach, Hans Burkhardt, Lars Schmidt-Thieme, Reinhold Decker (eds.), Data Analysis, Machine Learning, and Applications, Relatório da 31ª Conferência Anual da Sociedade Alemã de Classificação (GfKl), Universidade de Freiburgo, 7-9 de março de 2007, Springer-Verlag, Heidelberg-Berlim, 2008
  • Szemerényi, Oswald; David Jones, Irene Jones (1999). Introduction to Indo-European Linguistics. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780198238706 

Ligações externas

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