Mutara III Rudahigwa

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Mutara III Rudahigwa
Mwami
Mutara III Rudahigwa
Rei de Ruanda
Reinado 16 de novembro de 1931 – 25 de julho de 1959
Consorte Rosalie Gicanda
Antecessor(a) Yuhi V Musinga
Sucessor(a) Kigeli V de Ruanda
 
Nascimento Março de 1911
  Kamembe, Ruanda-Urundi
Morte 25 de julho de 1959
  Bujumbura, Ruanda
Casa Abanyiginya[1]
Pai Yuhi V
Mãe Radegonde Nyiramavugo Kankazi
Religião Catolicismo

Mutara III Rudahigwa (março de 1911 - 25 de julho de 1959) foi rei (mwami) de Ruanda entre 1931 e 1959. Ele foi o primeiro rei ruandês a ser batizado e o catolicismo romano foi adotado em Ruanda durante seu reinado.

Seus nomes cristãos eram Charles Léon Pierre e por vezes foi referido como Charles Mutara III Rudahigwa.

Juventude e educação[editar | editar código-fonte]

Rudahigwa nasceu em março de 1911,[2] na capital real de Ruanda, Nyanza; filho do rei Yuhi VI de Ruanda[3] e da rainha Kankazi (mais tarde, Rainha-Mãe Radegonde Nyiramavugo III Kankazi), uma das esposas. [4][5] Ele era membro do clã tutsi Abanyiginya. [6]

Em 1919, iniciou sua educação na Escola Colonial para os Filhos dos Chefes em Nyanza, posteriormente tornando-se secretário de seu pai em 1924. [3] Em janeiro de 1929, foi nomeado chefe e administrou uma província. [7][8]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Rudahigwa tornou-se rei em 16 de novembro de 1931, quando a administração colonial belga depôs seu pai, Yuhi V Musinga, quatro dias antes. [9] Assumiu o nome real Mutara, tornando-se Mutara III Rudahigwa. [10] Por vezes era chamado de Charles Mutara III Rudahigwa. [11]

Ele foi o primeiro rei ruandês a se converter ao catolicismo, convertendo-se em 1943 e tomando o nome cristão de Charles Léon Pierre.[3] Seu pai se recusou a converter-se ao cristianismo e a Igreja Católica Ruandesa posteriormente o consideraria como anti-cristão e como um impedimento à sua missão civilizadora. [12] Rudahigwa tinha sido instruído secretamente no cristianismo por Léon Classe, o líder da Igreja Católica Ruandesa, desde 1929, e foi preparado pelos belgas para substituir seu pai. [7] Em 1946, ele dedicou o país a Cristo, efetivamente tornando o cristianismo uma religião de Estado. [10][13] Sua conversão promoveu uma onda de batismos no protetorado. [3][14]

Seu reinado coincidiu com o pior período de fome registrado em Ruanda entre 1941 e 1945, que incluiu a fome de Ruzagayura (1944-1945), período durante o qual 200.000 da população do país de cerca de dois milhões pereceram. [10]

Ascensão das tensões étnicas[editar | editar código-fonte]

Durante o reinado de Rudahigwa houve uma estratificação acentuada da identidade étnica dentro de Ruanda-Urundi, o mandato administrado pelos belgas do qual Ruanda formava a parte norte. Em 1935, a administração belga emitiu cartões de identidade formalizando as categorias étnicas, tutsi, hutu e twa. [15] Após a Segunda Guerra Mundial, um movimento de emancipação hutu começou a crescer em Ruanda-Urundi, impulsionado pelo crescente ressentimento das reformas sociais do período entreguerras e também pela crescente simpatia pelos hutus dentro da Igreja Católica. [16] Embora em 1954 Rudhahigwa abolisse o sistema ubuhake de servidão por contrato que explorava os hutus,[17] isso teria pouco efeito prático real. [18][19]

A monarquia e os tutsis proeminentes sentiram a crescente influência dos hutus e começaram a promover a independência imediata em seus próprios termos,[20] culminando com a demanda de Rudahigwa pela independência da Bélgica em 1956.[17] Em 1957, um grupo de intelectuais hutus escreveu o "Manifesto de Bahutu". Este manifesto político denunciava a "exploração" dos hutus pela etnia tutsi e exigia a libertação dos hutus primeiro dos tutsis e, depois, do domínio belga.[21] Os partidos políticos hutus rapidamente se formaram depois disso, com o futuro presidente Gregoire Kayibanda formando o Movimento Social Hutu (logo renomeado MDR-PARMEHUTU) e Joseph Gitera criando Associação para a Promoção Social das Massas (APROSOMA). [22]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 24 de julho de 1959, Rudahigwa chegou a Usumbura (atual Bujumbura), Urundi, para um encontro com as autoridades coloniais belgas organizadas pelo padre André Perraudin. [23] No dia seguinte, ele visitou seu médico belga no hospital colonial, onde morreu. [24] As autoridades belgas apresentaram explicações conflitantes para a morte. Uma delas foi que ele se queixou de uma dor de cabeça severa e foi tratado por seu médico, mas entrou em colapso quando saiu do hospital, o que seria determinado mais tarde, por três médicos, por ser uma hemorragia cerebral. Outra explicação dos belgas foi que ele morreu de uma reação a uma dose de penicilina. Uma autópsia não foi realizada devido às objeções da Rainha-Mãe Kankazi. [25]

Os rumores de que ele havia sido deliberadamente morto pelas autoridades belgas foram abundantes e as tensões aumentaram: os ruandeses comuns se reuniram ao longo de estradas e apedrejaram carros europeus. [25][26] Os rumores de que ele estava com saúde debilitada, sofrendo dos efeitos do consumo excessivo de álcool,[25][27] bem como os efeitos da sífilis não tratada, são reivindicações não verificadas por qualquer evidência. [27] Um assistente twa do rei afirmou que ele gozava de ótima saúde na época,[28] o que é apoiado por seu envolvimento ativo em atividades esportivas, incluindo jogos vigorosos de tênis.

Rudoligwa foi sucedido por Jean-Baptiste Ndahindurwa, como Kigeli V. [17]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Mutara casou-se com Nyiramakomali em 15 de outubro de 1933 e se divorciaram em 1941. Casou-se com Rosalie Gicanda, uma cristã, em um casamento na igreja em 13 de janeiro de 1942. [29]

Após a morte de Rudahigwa, Rosalie Gicanda permaneceu no Ruanda. Ela seria assassinada em 1994 durante o genocídio de Ruanda sob as ordens de Idelphonse Nizeyimana. Mais tarde, este seria detido, condenado por um tribunal de crimes de guerra da ONU e sentenciado a prisão perpétua.[30]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Rwanda: Clan of the dynasty Abanyiginya». Immigration and Refugee Board of Canada. 31 de outubro de 2002 
  2. Laurent Gakuba (1991). Rwanda, 1931-1959 (em francês). [S.l.]: La Pensee universelle. p. 96 
  3. a b c d Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 199 
  4. Alexis Kagame (1988). Alexis Kagame: l'homme et son oeuvre : actes du Colloque international, Kigali, 26 novembre-2 décembre 1987 (em francês). [S.l.]: Ministère de l'enseignement supérieur et de la recherche scientifique. p. 67 
  5. Leon Delmas (1950). Généalogies de la noblesse (les Batutsi) du Ruanda (em francês). [S.l.]: Vicariat Apostolique du Ruanda Kabgayi. pp. 25, 91 
  6. «Rwanda: Clan of the dynasty Abanyiginya». Immigration and Refugee Board of Canada. 31 de outubro de 2002 
  7. a b J. J. Carney (2011). From Democratization to Ethnic Revolution: Catholic Politics in Rwanda, 1950-1962 (Ph.D). Catholic University of America. pp. 62–63 
  8. J. J. Carney (2014). Rwanda Before the Genocide. [S.l.]: Oxford University Press. p. 36 
  9. Frank K. Rusagara (2009). Resilience of a Nation: A History of the Military in Rwanda. [S.l.]: Fountain Publishers. p. 99 
  10. a b c Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. xxviii 
  11. Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 7 
  12. Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 25 
  13. Carol Rittner; John K. Roth; Wendy Whitworth, eds. (2004). Genocide in Rwanda: Complicity of the Churches?. [S.l.]: Paragon House. p. 231 
  14. Michael Rectenwald; Rochelle Almeida; George Levine, eds. (2015). Global Secularisms in a Post-Secular Age. [S.l.]: Walter de Gruyter. p. 207 
  15. Helena Cobban (2007). Amnesty After Atrocity?. [S.l.]: Routledge. p. 33 
  16. Gérard Prunier (1995). The Rwanda Crisis: History of a Genocide. [S.l.]: C. Hurst & Co. pp. 42–44 
  17. a b c Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. xxix 
  18. Gérard Prunier (1995). The Rwanda Crisis: History of a Genocide. [S.l.]: C. Hurst & Co. p. 46 
  19. Tharcisse Gatwa (2005). The Churches and Ethnic Ideology in the Rwandan Crises, 1900-1994. [S.l.]: Regnum Books International. p. 50 
  20. Gérard Prunier (1995). The Rwanda Crisis: History of a Genocide. [S.l.]: C. Hurst & Co. p. 43 
  21. Aimable Twagilimana (2007). Historical Dictionary of Rwanda. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 82 
  22. Gérard Prunier (1995). The Rwanda Crisis: History of a Genocide. [S.l.]: C. Hurst & Co. p. 47 
  23. Helen Codere 1973:293
  24. Tharcisse Gatwa (2005). The Churches and Ethnic Ideology in the Rwandan Crises, 1900-1994. [S.l.]: Regnum Books International. p. 55 
  25. a b c Rosamond Halsey Carr (2000). Land of a Thousand Hills. [S.l.]: Plume. p. 115 
  26. Ian Linden; Jane Linden (1977). Church and Revolution in Rwanda. [S.l.]: Manchester University Press. p. 262 
  27. a b Filip Reyntjens (1985). Pouvoir et droit au Rwanda (em francês). [S.l.]: Musée royal de l'Afrique centrale. p. 239. Consultado em 1 de outubro de 2017. Arquivado do original em 18 de abril de 2016 
  28. Codere 1973: 293
  29. Laurent Gakuba (1991). Rwanda, 1931-1959 (em francês). [S.l.]: La Pensee universelle. p. 96 
  30. «Rwanda genocide: Nizeyimana convicted of killing Queen Gicanda». BBC News. 19 de Junho de 2012 


  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Mutara III Rudahigwa».
Títulos e sucessão

Títulos de nobreza
Precedido por
Yuhi V Musinga
Rei do Ruanda
1931–1959
Sucedido por
Kigeli V Ndahindurwa