Pornografia inspiracional

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Inspiration porns are type of stories or pictures where disability is used to make non-disabled people feel good about oneself and inspiring non-disabled people. The narratives in this diagram said in quotation marks, are inspiration porn
Pornografias inspiracionais são histórias ou fotos em que a deficiência é usada para fazer as pessoas sem deficiência se sentirem bem consigo mesmas
Stella Young pointed out the idea also known as "I am not your inspiration"
Stella Young destacou a ideia também conhecida como "eu não sou sua inspiração."

A pornografia inspiracional é o retrato de pessoas com deficiência como inspiradoras por conta de sua deficiência.[1] A pornografia inspiracional inclui imagens, vídeos e memes de pessoas com deficiência usadas para motivar pessoas fisicamente aptas, sugerindo que se uma pessoa com deficiência pode realizar algo, então certamente uma pessoa sem deficiência pode.

O termo foi cunhado em 2012 pela ativista dos direitos dos deficientes Stella Young em um editorial no webzine da Australian Broadcasting Corporation Ramp Up[2] (não mais publicada) e explorado em seu TEDx Talk.[3] Sobre suas decisão de denominar o conceito "pornografia inspiracional" (em ingles, Inspiration Porn), Young declarou: "Eu uso o termo pornografia deliberadamente por causa da objetificação de um grupo de pessoas em benefício de outro grupo de pessoas".[4] Ela rejeitou a ideia de que as atividades comuns das pessoas com deficiência deveriam ser consideradas extraordinárias apenas por causa da deficiência.[1]

Exemplos de pornografia inspiracional geralmente envolvem uma foto de uma criança com deficiência participando de uma atividade comum, com legendas como "sua desculpa não vale" ou "antes de desistir, tente".[1]

Opinião[editar | editar código-fonte]

Desde a sua concepção, a pornografia inspiracional tornou-se um tema de interesse para ativistas, pesquisadores e acadêmicos. No centro da discussão está como isso coloca as pessoas com deficiência na categoria de "outros", colocando a deficiência como um fardo (em vez de se concentrar nos obstáculos sociais), e que reduzir as pessoas com deficiência a inspirações as desumaniza,[5][6] e os torna exemplos excepcionalistas.[7] A própria pornografia inspiracional reforça os estereótipos que a sociedade dá aos indivíduos com deficiência: de que eles são incapazes e menos competentes do que quem não têm deficiência. Depois de assistir a um anúncio de 2016 intitulado We're the Superhumans das paralimpíadas de verão no Rio de Janeiro, que mostrava uma variedade de pessoas com deficiência realizando tarefas com uma mensagem de "Sim, eu posso", um grupo de espectadores com deficiência sentiu que a propaganda explorava as pessoas com deficiência para o prazer e conforto dos não deficientes.[8]

Em 2014, a atriz com deficiência Amelia Cavallo citou imagens de pornografia inspiracional como sendo "a visualização de pessoas com deficiência superando o que parecem ser corpos quebrados e abaixo do padrão, maquiagens sensoriais e cognitivas" para fazer "o público não deficiente se sentir bem com seus corpos intactos”.[9] Formas de pornografia inspiracional ostracizam os indivíduos e reduzem sua identidade a ser apenas sua deficiência. O foco em uma única narrativa, de que as pessoas com deficiência são sempre inspiradoras, contribui para a falta de compreensão precisa das identidades da deficiência e para uma expectativa generalizada e irreal de heroísmo para as pessoas com deficiência viverem.[10]

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

O programa de TV de 2016 Speechless explorou o conceito em um episódio em que explica a pornografia inspiracional como "retrato de pessoas com deficiência como santos unidimensionais que só existem para aquecer os corações e abrir as mentes das pessoas fisicamente aptas".[11]

O programa de televisão Loudermilk, Temporada 3, Episódio 7 "Wind Beneath My Wings" explora a questão como um personagem regular "Roger", interpretado por Mat Fraser, que tem focomelia induzida pela talidomida, luta para receber um prêmio que ele parece receber por simplesmente existindo (e talvez por tocar bateria) com sua deficiência.

No filme Wonder, de 2017, o personagem principal Auggie, uma criança com deficiência, é transferido para a escola pública. O filme é centrado no ato de Auggie "como uma campanha anti-bullying de uma pessoa só - ensinando seus colegas, familiares e espectadores sobre aceitação"[12] ao longo de sua experiência educacional. Os temas do filme, combinados com o fato do ator infantil não ser deficiente, levaram muitos a argumentar que filmes como Wonder moldam a deficiência como sendo valiosos apenas quando atendem às necessidades e condições emocionais de outras comunidades.[9]

Embora o termo tenha sido cunhado recentemente, a pornografia inspiracional na cultura popular remonta a séculos. Segundo a autora Nicole Markotić, A Christmas Carol (1843) de Charles Dickens usa o personagem Tiny Tim para ilustrar como "a deficiência - por si só - transforma aqueles que são comuns em pessoas nobres e dignas".[13]

Hilary Hughes, da Entertainment Weekly, criticou o álbum para o filme Music de 2021, escrevendo que o tema lírico da "linguagem motivacional" voa "perigosamente perto da pornografia inspiracional".[14]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c Ellis, Katie; Kent, Mike (10 de novembro de 2016). «Confirming normalcy. 'Inspiration porn' and the construction of the disabled subject?». Disability and Social Media: Global Perspectives (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis. ISBN 978-1-317-15028-2 
  2. Young, Stella (3 de julho de 2012). «We're not here for your inspiration - The Drum (Australian Broadcasting Corporation)». Abc.net.au. Consultado em 29 de março de 2016 
  3. Young, Stella, I'm not your inspiration, thank you very much (em inglês), consultado em 22 de outubro de 2020 
  4. Markotić, Nicole (26 de maio de 2016). Disability in Film and Literature (em inglês). [S.l.]: McFarland. ISBN 978-0-7864-9649-5 
  5. Rakowitz, Rebecca. «Inspiration porn: A look at the objectification of the disabled community | The Crimson White». The Crimson White. University of Alabama. Consultado em 5 de março de 2018. Arquivado do original em 5 de março de 2018 
  6. Mitchell, Kate (17 de julho de 2017). «On Inspiration Porn». Huffington Post. Consultado em 5 de março de 2018 
  7. Henningham, Nikki (2014). «8. 'Part of the human condition': Women in the Australian disability rights movement». In: Damousi; Rubenstein; Tomsic. Diversity in Leadership: Australian women, past and present. [S.l.]: ANU Press. pp. 149–166. ISBN 9781925021707. JSTOR j.ctt13wwvj5.11 
  8. Cameron, Leah (2018). «Inspiring or Perpetuating Stereotypes?: The Complicated Case of Disability as Inspiration». Carleton University 
  9. a b «View of "Come and see Our Art of Being Real": Disabling Inspirational Porn and Rearticulating Affective Productivities | Theatre Research in Canada / Recherches théâtrales au Canada». journals.lib.unb.ca. Consultado em 14 de dezembro de 2020 
  10. Shelton, Summer. «Not an Inspiration Just for Existing: How Advertising Uses Physical Disabilities as Inspiration: A Categorization and Model». University of Florida 
  11. «'Speechless' Just Schooled Everyone On Disability 'Inspiration Porn'». The Huffington Post. 16 de janeiro de 2017. Consultado em 18 de abril de 2017 
  12. Lane, Dorothy (2019). «Presuming Competence: an Examination of Ableism in Film and Television». Florida State University Libraries 
  13. Markotić, Nicole (26 de maio de 2016). Disability in Film and Literature (em inglês). [S.l.]: McFarland. ISBN 978-0-7864-9649-5 
  14. Hughes, Hilary (11 de fevereiro de 2021). «Sia's 'Music' soundtrack can't escape the film's broader controversy». Entertainment Weekly. Consultado em 12 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 12 de fevereiro de 2021 

 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

Acadêmico[editar | editar código-fonte]

Mídia tradicional[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]