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Quilombo do Ambrósio

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Quilombo do Ambrósio
Tipo quilombo
Geografia
Coordenadas 19° 30' 55.332" S 46° 18' 49.212" O
Mapa
Localização Ibiá - Brasil
Patrimônio bem tombado pelo IPHAN


O Quilombo do Ambrósio foi a capital do Campo Grande, uma confederação composta por 27 quilombos localizados nas regiões Centro, Centro-Sul, Centro-Oeste, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro. Liderada pelo Rei Ambrósio, essa confederação resistiu, entre 1726 e 1760, a diversas investidas das tropas luso-coloniais.[1]

Durante muitos anos, acreditava-se que a confederação se limitava ao quilombo localizado na divisa entre Ibiá e Campos Altos. Em 1995, no seu livro Quilombo do Campo Grande – A História de Minas Roubada do Povo, o pesquisador Tarcísio José Martins demonstrou que oQuilombo do Ambrósio, fundado em 1726 e atacado em 1746, quando teria sido morto o Rei Ambrósio,[2] estava situado em Cristais, e foi o maior e mais duradouro quilombo de Minas Gerais. O quilombo de Ibiá supostamente foi o segundo Quilombo do Ambrósio, atacado somente em 1759. Em realidade, Rei Ambrósio foi dado como morto em 1759, mas sua morte ocorreu no Quilombo da Pernaíba, localizado no atual território de Patrocínio.

O Mapa do Campo Grande, feito pelo Capitão França

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O pesquisador Tarcísio José Martins, por indicação de Hélio Gravatá, do Arquivo Público Mineiro, localizou e fotografou os originais do Mapa de Todo Campo Grande, Tanto da Parte da Conquista, que Parte com a Campanha do Rio Verde, e São Paulo, como de Piuhi, Cabeceiras do Rio São Francisco e Goiáses, pertencente à Coleção da Família Almeida Prado, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Desde então, Martins dedica-se ao estudo do mapa, processo iniciado há mais de trinta anos.

O pesquisador constatou que historiadores anteriores haviam analisado o mapa invertido, com o norte para baixo, o que não havia sido notado até então. Ele concluiu que o mapa foi elaborado a partir de diversos outros, representando os roteiros dos ataques aos quilombos do Campo Grande entre 1743 e 1760, coordenados pelo português Antônio Francisco França, responsável pelos comboios de mulas que abasteciam as tropas nas batalhas de 1758 e 1759, incluindo o ataque final ao Quilombo do Cascalho, em 1760.

A versão inicial do mapa foi criada a pedido de Gomes Freire de Andrada em 1760, enquanto a versão final, solicitada por Luiz Diogo Lobo da Silva, foi entregue em 1763. O mapa detalha os quilombos em cada rota de batalha, com informações sobre o número de casas em cada quilombo no momento de sua destruição. Além disso, indica a presença de dois núcleos denominados Ambrósio: um identificado como “Primeira Povoação do Ambrósio – Despovoado” e o outro como “Quilombo do Ambrósio – Despovoado”.

A Primeira Povoação do Ambrósio – Atacada em 1746

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O pesquisador Tarcísio José Martins concluiu – comparando o Mapa do Campo Grande com sucessivas cartas topográficas da região e outros documentos - que a Primeira Povoação do Ambrósio foi atacada mas não destruída em 1746 a mando de Gomes Freire de Andrade pelo capitão Antonio João de Oliveira, e que ela ficava a norte do atual território do município de Cristais-MG. Isto, porque:[3]

a) Tendo precisado nos mapas e no Google Earth a localização do Sítio dos Curtumes, onde se acantonaram as tropas do capitão Oliveira, o primeiro indício para se excluir o Ambrósio de Ibiá está na carta de 8 de agosto de 1746, ao rei, onde Gomes Freire se refere a que “se fazia preciso que a tropa marchasse mais de cinqüenta léguas até fim de setembro”, visto que só de ida, a distância do Sítio dos Curtumes àquele Sítio Histórico de Ibiá-MG, ultrapassaria mais de setenta e cinco léguas.

b) O nome Campo Grande, dado à Confederação de Quilombos, foi-se deslocando de leste para oeste na medida em que também se deslocavam os quilombos, restando provado documentalmente que “Campo Grande”, em 1746, abrangia apenas a região que vai do rio do Peixe ao Piumhi, não ultrapassando o São Francisco, não chegando, pois, aos Goiases, onde ficava o Ambrósio de Ibiá.

c) Há claras evidências de que Gomes Freire proibiu, na correspondência oficial, qualquer referência aos ataques de 1746. Na sua ausência, seu irmão José Antonio cometeu em suas cartas, duas inconfidências: 1ª) – Em 1757 escreveu “ser preciso dar-se em o Quilombo Grande, junto ao do Ambrósio, que da outra vez foi destruído”. 2ª) Em 1758, “escreveu à Câmara de São João Del Rei comunicando o pedido de 20 canoas feito por Diogo Bueno que estava organizando uma expedição ao Campo Grande”. O uso de canoas seria inviável para atacar o Ambrósio de Ibiá. Diogo Bueno, realmente, nunca atacou o Ambrósio de Ibiá.

d) Em fins de 1758 ou começo de 1759, Diogo Bueno, segundo a Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha (1793), recebeu ordens para atacar as “Relíquias do Quilombo do Ambrósio, que ia principiando a engrossar e a fazer-se temido”. Essas relíquias ficariam, segundo denuncia a antiqüíssima toponímia, em território da atual Aguanil-MG, sudeste de Cristais-MG. Esse ataque foi adiado e não correu em 1758-1759. Mas, em 1760, Diogo Bueno usou essas mesmas 20 canoas para ir, pelo rio Grande, de Lavras até a Serra das Esperanças, também chamada de Serra da Boa Esperança região dos atuais municípios de Aguanil-MG, Cristais-MG e Guapé-MG, onde ficava realmente a Primeira Povoação do Ambrósio.

e) Depois da guerra de 1759, após o ataque final ao Quilombo do Cascalho (1760), Diogo Bueno, seu primo Bartolomeu Bueno do Prado e demais capitães da tropa, se reuniram no local identificado no Mapa do Campo Grande como “Boa Vista – adonde fez a situação o capitão França”. Diogo Bueno era guarda-mor de Carrancas-MG. Seu escrivão escreveu na ata de sua guardamoria de 2 de outubro de 1760 que “saindo de Santa Anna das Lavras do Funil em vinte e sete de Agosto próximo passado, fazendo caminhos e pontes e abrindo picadas a foice, machados e enxadas em todo o sertão que se achava inabitável, sem caminho algum até abaixo das serras, e beiradas do rio Sapucaí, aonde chegamos no dia 5 de setembro; e nesta paragem chamada Boa Vista, defronte do quilombo já destruído chamado Quilombo Queimado (...)”. Constata-se que o texto da “orelha” do Mapa do Campo Grande teve como fonte esta e outras atas da Guardamoria de Carrancas, todas do final de 1760. O pesquisador Tarcísio concluiu, analisando o Mapa do Campo Grande, que a referência “Quilombo Queimado” só pode ser conotada com a Primeira Povoação do Ambrósio indicada no Mapa do Campo Grande, ao norte do Quilombo da Boa Vista, na margem direita do rio Grande.

f) Realmente, a própria carta que a Câmara de Tamanduá teria escrito à Rainha em 1793, apesar de sua notória tendenciosa finalidade de dar suporte ao futuro esbulho do Triângulo Goiano, se traiu e, ao registrar a destruição do Cascalho (que chamou de Canalho), documentando, sobre a expedição de Diogo e seu primo Bartolomeu em 1760, o seguinte:“(...) os quais indo em sete de agosto de mil setecentos e sessenta, abrindo estradas e fazendo pontes e picadas até abaixo da Serra, vertentes do rio Sapucaí, defronte do destruído Quilombo do Ambrósio, (...)”. Gomes Freire morrera em 1763. Destruíra muitos dos documentos dos ataques ao Ambrósio em 1746, mas, como se vê, em 1793, a Carta da Câmara de Tamanduá registrou a localização da Primeira Povoação do Ambrósio e suas relíquias. Assim, a Carta da Câmara de Tamanduá, interpretada à luz do Mapa do Campo Grande, das Atas da Guardamoria de Carrancas e demais documentos citados, desvendou o mistério: O Quilombo do Ambrósio atacado em 1746, se chamava Primeira Povoação do Ambrósio, e se localizava em Cristais-MG, assim como, suas “relíquias”, que seriam atacadas em final de 1758, mas que não o foram e que, de fato, despovoada, só foram apossadas na expedição da família Bueno em 1760.

g) Provas documentais ignoradas pela historiografia. José Gomide Borges, historiador de Candeias-MG, presenteou seu colega Tarcísio José Martins com os seguintes registros que dão notícias claras e expressas do Quilombo do Ambrósio de Cristais-MG. Livro de registro de terras da Igreja, da Capela de Nossa Senhora da Ajuda dos Cristais, Livro TP-39 do Arquivo Público Mineiro, destacando-se os registros de 1856, consignados às fls. 118v; 165; 167; 191; 193v-194; 197; 197v-198; 198; 206; 212; 212v; 223v; e 241. Por exemplo: Registro de Óbito: “Jerônima Fernandes de Carvalho diz em seu testamento ‘ser natural de Itaubira do Campo, casada com José Cordeiro Coutinho, não tendo filhos’. Lavrado na Fazenda do Quilombo do Ambrósio, Aplicação Nossa Senhora das Candeias, ano de 1795. Jerônima faleceu em ‘sua fazenda chamada do Ambrósio’, aos 5 de abril de 1799 – Cúria Diocesana de Divinópolis, Livro 128 de Óbitos. Nota: Antes da criação da Capela de Nossa Senhora da Ajuda dos Cristais, todo o território compreendido entre os rios Grande, Lambari e Jacaré pertencia à Capela de Nossa Senhora das Candeias”. Todo quilombo tem o seu paiol: o ribeirão do Quilombo tem vários afluentes, destacando-se como seu principal, rumo às suas nascentes, já em Candeias-MG, o córrego Valadão, cujas nascentes ficam num lugar chamado “Mo. Meia Laranja”. Sobre o nome “Valadão”, Leopoldo Corrêa registrou que “Encontramos nos livros paroquiais de Tamanduá (Itapecerica), na Cúria Metropolitana de Belo Horizonte, o testamento de Francisco Valadão. O referido documento é de 1814 feito na Fazenda do Quilombo do Ambrósio da Aplicação de Senhora da Ajuda dos Cristais, termo da Vila de S. Bento de Tamanduá”.

h) O capitão Oliveira além de ter recebido a sesmaria do Camapuã no local onde acantonou e treinou as tropas de 1746, ganhou outra sesmaria em 20 de março de 1747, no local chamado “Lagoa, para cá da serra da Boa Esperança”, exatamente no lugar indicado como Primeira Povoação do Ambrósio no mapa do capitão França, hoje, cidade Cristais-MG. Tendo falecido o capitão Oliveira em 1759, Bartolomeu Bueno do Prado obteve outra carta de sesmaria sobre a mesma terra em 18 de dezembro de 1760. Constantino Barbosa da Cunha, que esteve com Bartolomeu Bueno do Prado na destruição do Quilombo do Cascalho nesse mesmo ano, passando, ambos a morar no Jacuí, passou a ocupar, em 1763, estas mesmas terras que teria adquirido de Bartolomeu, obteve carta de sesmaria datada de 19 de abril de 1765, a qual foi demarcada pelo juiz das sesmarias, cuja sentença final do Processo de Medição e Demarcação homologou a posse datando-a de “Sítio do Quilombo do Ambrósio, 02 de julho de 1766”[4]. Fonte documentada: mesmo autor, matéria “Primeiro Quilombo do Ambrósio”, no site MGQUILOMBO.

i – A Tradição quase Destruída: José Gomide Borges, o historiador de Candeias, depois de ler Quilombo do Campo Grande, edição de 1995, fez questão de prestar o seguinte depoimento ao pesquisador Tarcísio José Martins: “Lembro-me da Fazenda do Quilombo com suas 40 janelas; belo casarão com seus varandões e mais quantidades de cômodos. Um dos pretos que ali trabalhava, isto no ano de 1934, por coincidência chamava-se Ambrósio e contava a meu pai que seu avô falava muito de uma guerra que houve ali e que o governo mandou matar muito negro. O avô desse Ambrósio teria ouvido essa história através de seus antepassados. Referindo-se à 1ª edição do livro Quilombo do Campo Grande, o depoente concluiu: “Confirmada assim a história contada pelo preto Ambrósio a meu pai”. Ora, sendo, o núcleo de Cristais, a Primeira Povoação do Ambrósio, a guerra de que fala sua tradição não poderia ser a segunda, de 1758-1759 (comprovadamente ocorrida na região do Triângulo, então, Goiano), e sim a primeira, de 1746. O depoimento do confrade Gomide, no entanto, serve também para deixar patente as dificuldades e resistências encontradas e superadas pelo pesquisador Tarcísio José: “As coisas mudaram. Ao iniciar minhas pesquisas e deparar com escritos sobre os quilombos, admirei só tocarem no de Ibiá quanto ao do Ambrósio”. No caso, só não matou a tradição ouvida porque se trata de um pesquisador, Gomide Borges, que não apenas duvidou da falsa historiografia, como passou a colecionar documentos que a desmentiam, como os que forneceu ao colega, dizendo-lhe que, “reverente, agradece a Tarcísio José Martins ao apontar a verdade dos fatos. Interessante o slogan Veritas Quae Sera Tamen”.

j) Conclusão sobre a Localização da Primeira Povoação do Ambrósio: “Mapa do Departamento de Geografia de Minas Gerais, fl. nº 55 N1-O3, do ano de 1951, mostra que, antes de desaguar no rio Grande, o rio Santana se junta ao rio Formiga e, com este, forma um único rio que, com o nome de rio Lambari, deságua no Grande. O córrego do Quilombo (o segundo dos dois primeiros ribeirotes) deságua na margem direita do rio Grande, entre os locais chamados Água Limpa e Fernandes. As nascentes do córrego do Quilombo ficam num local chamado Meia Laranja. Saindo de suas nascentes, o córrego do Quilombo tem, na sua margem direita, um local chamado Morro Redondo e, depois, o Morro do Quilombo. (Isto coincide em 100% com o Mapa do Campo Grande de 1763). No Morro Meia Laranja nascem dois córregos com o nome de ribeirão do Paiol, os quais deságuam no rio Santana, tendo ao centro, na outra margem, o já mencionado ribeirão do Quilombo do sul de Formiga (Minas Gerais). A atual Fazenda do Quilombo, em Cristais, entre as fazendas Medeiros e Valadão, tem ao sul a foz do ribeirão dos Cavalos, cujas nascentes norte, entre os ribeirões do Segredo e do Pântano, tem um local chamado Morro da Vigia. Outro ribeirão tributário, perto da foz do ribeirão dos Cavalos, chama-se também “do Segredo”, nascente em uma fazenda do mesmo nome. Toda essa toponímia marca o complexo da chamada Primeira Povoação do Ambrósio com os seus segredos desde 1763, revelados na primeira edição deste livro em 1995”, escreveu Tarcísio José Martins.

k) Conclusão sobre a Localização das “relíquias” próximas da Primeira Povoação do Ambrósio: Concluiu, ao final, o mesmo pesquisador Tarcísio José que, “ficando, a Primeira Povoação do Ambrósio, ao norte do atual território do município de Cristais-MG, o tal Quilombo Grande de que falou a correspondência de José Antônio Freire de Andrade, “junto ao do Ambrósio, que da outra vez foi destruído”, poderia ser aquele situado a sudeste de Cristais, em território do atual município de Aguanil-MG, cujo nome primitivo era Água Limpa. Aguanil-MG fica ao lado direito da serra da Forquilha, tendo a nordeste as nascentes do rio da Água Limpa, hoje, ribeirão Aguanil que, recebendo um potente afluente esquerdo, deságua no rio Grande, num local identificado (1970) como Loteamento Iate Clube. Esse afluente esquerdo se chama córrego do Quilombo, cujas nascentes ficam entre a serra da Forquilha e a sede municipal de Aguanil-MG. Ao sul das nascentes do córrego do Quilombo, fica a serra da Saudade e, a sudoeste, beira do rio Grande, fica a serra da Gurita, local, onde poderia ter sido o posto de observação dos quilombos que vigiava o rio Grande”.

l) Tudo o que está acima registrado foi extraído, com autorização do autor Tarcísio José Martins para Wikipédia, da segunda edição de seu livro Quilombo do Campo Grande, agora com o subtítulo “A História de Minas que se devolve ao povo”, Santa Clara Editora e Produção de Livros, Contagem-MG, agosto de 2008, já em sua 4ª edição em 2024.

O Segundo Quilombo do Ambrósio – Atacado em 1759

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Ao contrário das abundantes provas documentais da existência do Primeiro Quilombo do Ambrósio, atacado em 1746 em território da atual Cristais-MG, nenhum documento primário atestou que o Quilombo Grande, o da atual Ibiá-MG, atacado somente em 1759, se chamasse mesmo Quilombo do Ambrósio. Apenas a documentação cartográfica (mapas), fontes secundárias, trouxeram esta informação: 1) mapa-roteiro e um croqui que Inácio Correia Pamplona anexou ao polêmico relatório que fez ao governador conde de Valadares sobre sua suposta entrada do ano de 1769; 2) Mapa do Campo Grande, mandado fazer pelo capitão Antônio Francisco França, encarregado do trem bélico da Guerra de 1759 e companheiro de Bartolomeu Bueno do Prado e Diogo Bueno da Fonseca na Guerra de 1760, feita ao Quilombo do Cascalho; 3) Livro de Registro de Terras de Araxá, Notação TP-1-011, 1855-1857 – APM, também localizados pelo mesmo pesquisador.

Concluiu, o pesquisador Tarcísio José Martins que o sítio quilombola indicado por Inácio Correia Pamplona em 1769, trazido também pelo livro de Álvaro da Silveira em 1924, na verdade se localiza entre Ibiá-MG e Campos Altos-MG, mas indicaria apenas onde ficava o Paiol ou Quipaca (trincheiras) do Segundo Quilombo do Ambrósio. Já o Segundo Quilombo do Ambrósio propriamente dito, abrangia uma região muito maior indo do norte e nordeste desse local, até o vértice das nascentes do Córrego do Quilombo, como indicam o mapa do capitão França, de 1763, e os mapas dos Municípios de Ibiá-MG e São Gotardo-MG, assinados pelo chefe do Serviço Geográfico do Estado de Minas Gerais, Engenheiro Benedito Quintino dos Santos [5] e os respectivos prefeitos destas cidades no ano de 1939[6], tudo confirmado no próprio Livro de Registro de Terras de Araxá já referido.

O Ministério da Cultura do Governo Fernando Henrique, induzido por vaidosos historiadores da UFMG[7] e do IPHAN, se equivocou grosseiramente ao tombar o sítio indicado por Inácio Correia Pamplona em 1769. O então Ministro da Cultura foi alertado pelo pesquisador Tarcísio José Martins (com um trabalho de mais de 200 páginas enviado ao IPHAN)[8], mas a arrogância e o preconceito contra a pesquisa produzida fora da universidade, não o deixaram enxergar os seguintes equívocos de seus doutos assessores:

1ª) Fez o tombamento alegando basear-se na documentação de 1746, como se as batalhas comandadas pelo capitão Oliveira contra a Primeira Povoação do Ambrósio tivessem ocorrido em Ibiá-MG, quando, como se viu, ocorreram na região de Formiga e Cristais-MG. Suas fontes dessa falsa informação foram a “Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha – 1793”, documento 100% ideologicamente falso e “Quilombolas: Lenda Mineira Inédita”, um mero conto, ambos publicados pela Revista do Arquivo Público Mineiro como se história fosse em 1897 e 1904. Vide artigo “QUILOMBOLAS LENDA MINEIRA INÉDITA, um conto de Carmo Gama” no site MGQUILOMBO.

2ª) Registrou no tombamento apenas a região do município de Ibiá-MG, quando, na verdade, o sítio indicado abrange também o município de Campos Altos-MG.

3ª) Apontou apenas o pequeno território onde ficava o Paiol ou Quipaca do Segundo Quilombo do Ambrósio, quando o todo do Sítio Histórico atacado por Bartolomeu Bueno do Prado em 1759 abrange, segundo o pesquisador Tarcísio José Martins, um território muito maior. Cruzando documentos e mapas antigos da região, o pesquisador delimitou o Sítio do Ambrósio de Ibiá-MG e Campos Altos-MG, destacando na segunda edição de seu livro de agosto/2008:

1) Alto do Quilombo, onde ficam a capela de Santa Rosa de Lima e a atual Escola Municipal Quilombo do Ambrósio. Ao sul, margem oposta da MG-235, ficava um morro de espia alternativo, já que aquele “que servia de gorita” para o Quilombo fica a sudeste.

2) Sudoeste do ponto acima, fazenda Samambaia, nascentes do córrego de mesmo nome, onde se localizaria o Quilombo Samambaia, supostamente atacado a mando de Pamplona que, depois, na seqüência acima, o teria visitado. Seu escrivão desenhou um croqui deste quilombo.

3) Ao sul do Alto do Quilombo, a fazenda do Quilombo I, margem direita do ribeirão do Quilombo, esta em Ibiá;

4) Fazenda do Quilombo II, dentro da forquilha, à margem direita do córrego do Quilombo do Ambrósio, onde ficava o segundo Quilombo do Ambrósio apontado no Mapa do Capitão França, desenhado em 1763.

5) Fazenda do Quilombo III, margem esquerda do córrego do Quilombo do Ambrósio, em Campos Altos (?);

6) sítio indicado por Álvaro da Silveira, ou seja, o mesmo (Paiol) indicado no mapa-roteiro desenhado pelo escrivão de Inácio Correia Pamplona em 1769, margem esquerda das nascentes do córrego do Quilombo do Ambrósio, vertentes do córrego do Chumbado;

7) Morro da Espia da cartografia atual, sul da fazenda do Quilombo III sudeste do Sítio indicado por Pamplona em 1769, divergindo do Croqui do mesmo Pamplona que apontou seu morro da Espia a nordeste do "quilombo".

8) foz do córrego das Guaritas no Misericórdia, divisa de Ibiá e Campos Altos, cujas nascentes vêm da Fazenda das Guaritas, entre os municípios de Rio Paranaíba e São Gotardo;

9) a oeste de Tobati, local chamado Fazenda de Santo Antônio do Quilombo, margem direita de um outro córrego do Quilombo, que deságua no córrego do Ourives, depois córrego Fundo que deságua no Quebra-Anzol ao sul de Ibiá. Este seria, na verdade, o São Gonçalo II.

Todos os locais acima indicados, segundo o mapa “das divisas” feito por José Joaquim da Rocha em 1780, estavam situados dentro dos limites da Capitania de Goiás. Tudo isto se confirmou, também, pelo livro de Registro de Terras de Araxá, já referido.

Quanto ao “Quilombo do Ambrósio - Despovoado” do mapa do capitão França, as posses civil e eclesiástica antes do ataque de 1759 e em 1760 não se referiram a esse quilombo. Já a petição do neto de Bartolomeu Bueno do Prado, bem como, suas testemunhas – algumas presenciais dos ataques de 1759 e 1760 – fizeram referência a “Campo Grande” e “Campogrande”, possivelmente relativa ao “Quilombo do Ambrósio” do mapa do capitão França. Almeida Barbosa, sem mencionar a fonte, se refere a “Quilombo Grande”, não referido pelas testemunhas do neto de Bartolomeu Bueno do Prado que se referiram isto sim, a “Quilombo Queimado” como nas atas da Guardamoria de Carrancas. Nesta época (1758 a 1763), como se viu, todas as correspondências evitaram referir-se ao nome “Ambrósio”.

O mapa do capitão França aponta que esse quilombo era “despovoado”, o que se confirma também na correspondência de Bartolomeu Bueno, informando que encontrou o quilombo sem ninguém, mas com os paióis cheios e roças plantadas. Quanto ao despovoamento desse quilombo, chamado pelo governador José Antônio de Quilombo Grande, este fato se confirma também nas seguintes informações:

a) na carta que, de Vila Rica, escreveu o governador ao capitão Bartolomeu Bueno do Prado em 10 de setembro de 1759: “pois se é certo o que diz o negro que agora remete o capitão Antônio Francisco França, muitos passos temos dado baldados, seu quilombo tem ficado para trás, ao pé do Grande que Vossa Mercê achou despovoado”.

b) Na carta que, de São João Del Rei, escreveu, o mesmo governador, ao capitão-mor Antônio Ramos dos Reis em 23 de outubro de 1759: “Pelas partes do Paroupeba tem saído para o Quilombo Grande um grande número de negros que dos ditos quilombos saíram antes de se dar neles como a Vossa Mercê fez ciente o capitão Antônio Francisco França e, como um dos guias que se prendeu se acha na cadeia desta vila com os mais que com ele se apanharam declara que para esta vila e cidade de Mariana foram outros na diligência de conduzir outros, digo, de conduzir para os ditos quilombos maior número de negros, Vossa Mercê mandará, sem interpelação de tempo, continuar rondas pelos capitães do mato e pessoas acostumadas dele, para ver se podem apanhar estes negros que andam apanhando outros e me dará parte do que for sucedendo neste particular e caso se prenda algum (não) serão soltos com pretexto de algum sem se me dar parte”.

Como foi documentado por Waldemar de Almeida Barbosa, Bartolomeu Bueno do Prado, em 1759, encontrou o Quilombo do Ambrósio despovoado, mas com os paióis cheios. Deixou guardas no local e acabou prendendo negros que vieram buscar mantimentos. Depois mandou incendiar tudo. Assim, pela lógica cronológica, estes teriam sido os restos encontrados por Pamplona em 1769[9] (e não em 1765 como se propaga), concluiu o pesquisador Tarcísio[10]. Porém, nem isto se comprova, pois, se o mapa-roteiro de Pamplona apontou em 1769 o local da vala em forma de ferradura coincidente com a nossa geografia atual, o croqui que juntou como se fosse do Quilombo do Ambrósio, além de indicar erradamente o morro da Espia a nordeste, é negado pela sua forma retangular e pela documentação que comprova não ter havido batalha contra o Ambrósio de Ibiá-MG em 1759, bem como, que só na batalha de Formiga-MG e Cristais-MG de 1746 é que houve confronto com trincheiras fortificadas, fato que Pamplona passou a vida toda tentando adulterar e transferir para dentro do Triângulo Goiano.

Tudo o que está acima registrado foi extraído, com autorização do autor Tarcísio José Martins para Wikipédia, da segunda edição de seu livro Quilombo do Campo Grande, agora com o subtítulo “A História de Minas que se devolve ao povo”, Santa Clara Editora e Produção de Livros, Contagem-MG, agosto de 2008, já em sua 4ª edição em 2024.

O mesmo autor localizou o documento nº 82129 de 16.12.1759 no site do Centro de Memória Digital da UnB e comprovou a sua total conotação com os fatos acima, concluindo que o Rei do Quilombo do Ambrósio, localizado a oeste do atual município de Ibiá, foi contado entre os mortos ao final da batalha de 1759 contra os quilombos dos atuais Alto Paranaíba, Triângulo e Sudoeste de Minas. O pesquisador concluiu que o Rei e seu séquito teriam sucumbido na batalha do Quilombo da Pernaíba, localizado nas nascentes do rio dos Dourados, afluente esquerdo do Pernaíba, a noroeste do local supracitado, entre os municípios de Monte Carmelo, Patrocínio, Guimarânea, Cruzeiro da Fortaleza e Serra do Salitre, municípios do Triângulo Mineiro que, até 1816, pertencia à Capitania, hoje, Estado de Goiás.

O mesmo documento revelou que cinquenta líderes quilombolas foram enviados como prisioneiros galés para o Rio de Janeiro e foram empregados por Gomes Freire de Andrade em trabalhos de desmonte e reconstrução da Fortaleza de São Francisco Xavier da Ilha de Villegagnon. O pesquisador comunicou a descoberta a várias autoridades, incluindo o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais - IHGMG e a publicou em 17 de março de 2009 através da matéria intitulada "Rei do Quilombo do Ambrósio morreu em 1759", no site mgquilombo, que autorizou essa atualização em Wikipédia.

A Violência no Caminho de Goiás e o Quilombo do Ambrósio

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O grande perigo da "Picada de Goiás", eram os quilombos e, quanto à violência praticada pelos quilombos e quilombolas, Luiz Gonzaga da Fonseca, no seu livro "História de Oliveira", na página 37, descreve o caos provocado no Caminho de Goiás, a Picada de Goiás, pelos quilombolas do Quilombo do Ambrósio, o principal quilombo de Minas Gerais:

"Não há dúvida que esta invasão negra fora provocada por aquele escandaloso transitar pela picada, e que pegou a dar na vista demais. Goiás era uma Canaã. Voltavam ricos os que tinham ido pobres. Iam e viam mares de aventureiros. Passavam boiadas e tropas. Seguiam comboios de escravos. Cargueiros intérminos, carregados de mercadorias, bugigangas, miçangas, tapeçarias e sal. Diante disso, negros foragidos de senzalas e de comboios em marcha, unidos a prófugos da justiça e mesmo a remanescentes dos extintos cataguás, foram se homiziando em certos pontos da estrada ("Caminho de Goiás" ou "Picada de Goiás"). Essas quadrilhas perigosas, sucursais dos quilombolas do rio das mortes, assaltavam transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueirões e perambeiras, depois de pilhar o que conduziam. Roubavam tudo. Boiadas. Tropas. Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindos da Corte (Rio de Janeiro). E até os próprios comboios de escravos, matando os comboieiros e libertando os negros atrelados. E com isto, era mais uma súcia de bandidos a engrossar a quadrilha. Em terras oliveirenses açoitava-se grande parte dessa nação de “caiambolas" organizados nas matas do Rio Grande e Rio das Mortes, de que já falamos. E do combate a essa praga é que vai surgir a colonização do território (de Oliveira (Minas Gerais) e região). Entre os mais perigosos bandos do Campo Grande, figuravam o quilombo do negro Ambrósio e o negro Canalho.[11]" A palavra “Canalho” atribuída ao Quilombo do Cascalho, indica que o historiador Luiz Gonzaga da Fonseca, no seu livro "História de Oliveira" teve como fonte a “Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha – 1793”, documento 100% ideologicamente falso. Vide livro “Roubando a História, Matando a Tradição” de Tarcísio José Martins,

Contraponha-se, primeiramente, que “Caminho de Goiás”, ou seja, a Picada de Goiás, foi oficialmente reaberto em 1736-1737. O Quilombo do Campo Grande, atravessado pela Picada de Goiás, deve ser dividido em duas partes: 1ª) até 1746, quando os limites da Comarca de São João Del Rei chegavam oficialmente apenas até a Capela da Laje, hoje, Resende Costa-MG. Daí para frente, como confirmou o próprio Inácio Correia Pamplona [12], tudo era “Campo Grande e Picadas de Goiases”, nome que os novos entrantes foram levando até o Piuhi, hoje, Piumhi-MG. 2ª) Daí para frente, após 1750-1759, é que a expressão Campo Grande, sempre atravessado pela Picada de Goiás, foi estendida para dar nome geral também à margem esquerda do São Francisco, adentrando o Triângulo Goiano, hoje, Mineiro.

Quanto à violência atribuída aos quilombolas, o assunto também deve ter como marco divisor o ano de 1750. O imposto da Capitação, implantado em 1735, provocou o esvaziamento das vilas e arraiais oficiais, com a fuga dos brancos pobres e pretos forros com seus respectivos escravos para os sertões do Campo Grande, frustrando os planos arrecadadores de Portugal[13].

Gomes Freire de Andrade articulou e obteve a legislação de 1741, simplificando o conceito de quilombo (qualquer povoação poderia ser chamada de quilombo), criminalizando o simples fato de se estar em um quilombo, passando a pagar duas tomadias por quilombola preso nesses quilombos e ampliando a competência dos capitães do mato para que pudessem também cobrar a Capitação e confiscar bens e escravos pelos atrasos no pagamento. Fez isto para confundir os devedores do imposto da Capitação com os quilombolas comuns[14]. A partir daí, esse governador procurou demonizar a presença quilombola nessa região, cuja violência apregoada só é noticiada em suas correspondências e nas de seus subordinados, quase inexistindo em outras fontes da época.

Enquanto a correspondência oficial demonizava a violência quilombola, as reclamações das câmaras das vilas (eleitas pelos homens bons) comunicavam sem cessar as violências do imposto da Capitação que, cobrado de seis em seis meses a força de armas pelos capitães do mato, estava esvaziando as vilas e levando a Capitania à última pobreza[15].

As batalhas mais conhecidas de ataques a supostos quilombolas foram as dos anos de 1741, 1742, 1743 e 1746, sendo que nesta última, comandada pelo capitão Antônio João de Oliveira, teria ocorrido o embate contra a Primeira Povoação do (Quilombo) Ambrósio, o de Cristais-MG, sobre a qual há vários indícios de que as tropas de Gomes Freire de Andrade não saíram vitoriosas e que, ao contrário, podem ter sido derrotadas. Mais de 3.500 escravos capitados em 1746, sumiram definitivamente das listas a partir da capitação de 1747[16] .

Em 1748, a Coroa Portuguesa mandou extinguir a Capitania de São Paulo, a qual passou ser um simples “distrito” da Capitania do Rio de Janeiro. Gomes Freire de Andrade, imediatamente, mandou anexar às Minas Gerais o atual Sudoeste de Minas que, até então, pertencia à extinta Capitania de São Paulo. Assim, esse governador passou a demonizar, como se quilombolas fossem, também os habitantes das povoações pobres dessa região recém esbulhada.

Em 1750, morreu o rei Dom João V. Seu sucessor, Dom José I, fez seu primeiro-ministro o futuro Marquês de Pombal, cujo primeiro ato foi abolir o sistema tributário da Capitação, alegando, em outras palavras, que ou se acabava com a Capitação, ou a Coroa corria o risco de perder não só a Capitania de Minas Gerais, mas a própria Colônia[17]. A partir daí, várias outras leis foram modificadas e/ou criadas, favorecendo um pouco mais os brancos pobres e os pretos forros inadimplentes da Capitação que, assim, foram aos poucos voltando para as vilas oficiais. Depois da Guerra de 1746, mas principalmente depois da extinção da Capitação, a população quilombola do Campo Grande voltaria a ser majoritariamente de escravos fugidos e vai se deslocando para a margem esquerda do rio São Francisco em direção ao Triângulo Goiano que, por falha de Gomes Freire de Andrade, deixara de ser anexado às Minas Gerais em 1748.

Em 1759, Gomes Freire, através de seu irmão José Antônio Freire de Andrade, mandou fazer outra guerra contra o novo Campo Grande que, então, já abrangia as atuais regiões do Alto São Francisco, Alto Paranaíba, Triângulo e Sudoeste Mineiros. Desta vez, o capitão-comandante contratado foi Bartolomeu Bueno do Prado. Nestas batalhas, aí sim, as tropas do governo teriam saído vitoriosas destruindo todas as povoações do Campo Grande de então.

Muitos anos depois, Inácio Correia Pamplona foi contratado por Gomes Freire e pelos seus sucessores para criar fatos político-administrativos que permitissem, juridicamente, o abocanhamento do então Triângulo Goiano. Pamplona, durante cerca de quarenta anos, gerou um monte de falsas informações, demonizando ainda mais os quilombolas – sem nunca ter se defrontado pessoalmente com qualquer deles – e deformando os fatos de 1741 a 1758, alterando ora suas datas, ora suas verdades fáticas, mas sempre transferindo-os absurdamente para dentro do então Triângulo Goiano.

Pamplona morreu em 1810. O Triângulo Goiano foi anexado à então Província de Minas Gerais em 1815-1816. A partir de 1897 até 1910, a Revista do Arquivo Público Mineiro – APM publicou sucessivas matérias, contendo mais falsas informações, em fontes de segunda, das câmaras de Tamanduá (Itapecerica-MG) e de São João Del Rei, conseguindo, assim, manter em erro a gerações e gerações de historiadores acerca da localização do Quilombo do Ambrósio e da verdade sobre suas lutas, onde se estigmatizou ainda mais a violência atribuída aos quilombolas, isto, com a evidente intenção de esconder o genocídio gerado pela Capitação e, ao mesmo tempo, tentar justificar o esbulho possessório praticado contra a Capitania de Goiás.

Em relatório de 1769 ao Conde de Valadares, falando de um anterior ataque que o tenente José da Serra Caldeira fizera a um negro que encontrou e prendeu no extinto Quilombo de São Gonçalo, foi informado que os quilombolas daquele quilombo se “ocupavam em fazer farinha para os mais, as quais o mesmo comandante confiscou junto com vários trastes e panos de algodão feitos ricamente pelos mesmos negros”, razão porque resolveu registrar o fato que lhe fora relatado por José Serra e juntar o croqui do quilombo, “para admiração do muito que eles trabalham para si”[18].

Finalmente, como conciliar o informe oficial de uma cruel violência quilombola, com o fato concreto também sempre constatado e relatado pelos próprios atacantes oficiais desses quilombos de que os encontraram, invariavelmente, com grandes paióis cheios de mantimentos, com hortas e roças plantadas para o futuro, as quais sempre gastaram dias e dias para queimar e destruir? Onde esses quilombolas arrumariam tanto tempo para ficarem roubando e matando pelas estradas?

Aliás, o próprio Pamplona deixou escrito no seu relatório de 1769 ao Conde de Valadares, que o Quilombo do Ambrósio era “não afamado nestas minas como prejudicial aos moradores delas, (...)”[19]. As Cartas Chilenas, em 1788, se referiram ao “afamado quilombo em que viveu o Pai Ambrósio”, sem qualquer conotação com violências.

Portanto, as informações bibliográficas antigas, assim como suas citações e cópias, sobre as exageradas maldade e violência atribuídas aos quilombolas mineiros do século XVIII padecem, em geral, do preconceito, da unilateralidade e falsidade de suas fontes, geralmente apenas as oficiais, como tem comprovado o pesquisador Tarcísio José Martins, em seus livros e sites de informações históricas sobre a Confederação Quilombola do Campo Grande[20].

Conclusão sobre o Mistério dos Quilombos do Ambrósio

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Há muito mais provas documentais sobre a localização da Primeira Povoação do Ambrósio e suas “relíquias” em Cristais-MG e Aguanil-MG do que sobre o Segundo Quilombo do Ambrósio de Ibiá-MG e Campos Altos[21]. O poder constituído de então quis fazer sumir as lembranças da verdadeira localização da Primeira Povoação do Ambrósio, atacada em 1746, deslocando-a indevidamente para dentro do atual Triângulo Mineiro e alegando falsamente que o próprio Ambrósio teria sido morto nessa batalha, o que é falso. Gomes Freire de Andrade, 1.º Conde de Bobadela não incluiu este ataque ao Ambrósio na lista de seus feitos. Seus bajuladores (Cláudio Manoel da Costa e Basílio da Gama) também não lhe creditaram este "feito". No entanto, as Cartas Chilenas [22] falam do "afamado Quilombo em que viveu o Pai Ambrósio". Os feitos da guerra de 1759-1760 foram atribuídos somente a José Antonio, irmão de Gomes Freire, seu substituto no governo das Minas. Na verdade, José Antonio foi sempre comandado pelo irmão. Nunca governou com vontade própria. Sobre o Ambrósio de Ibiá, o escrivão de Pamplona registrou que aquele Quilombo era "não afamado nestas minas como prejudicial aos moradores delas". A palavra "NÃO" foi confirmada pelo pesquisador. A Carta da Câmara de Tamanduá, ideologicamente falsa, escrita à Rainha em 1793, deu um suporte maior a toda esta confusão, então, com o fim claro de manter o projeto antigo de Gomes Freire e de Alexandre de Gusmão e esbulhar também o Triângulo Goiano, hoje, Mineiro. A falsa historiografia, a exemplo do conto “Quilombolas – Lenda Mineira Inédita” publicado pela Revista do APM em 1904, como se fosse história, também contribuiu muito para matar a própria tradição que havia desta verdade que permanecia na memória do povo.

Notas e referências

  1. Martins, Tarcisio José (2018). Quilombo do Campo Grande: história de Minas que se devolve ao povo 3a edição ed. São Paulo, SP: Tejota Editor : MG Quilombo Editora Ltda 
  2. O futuro do pretérito "teria" sempre indicou que só a Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha, de 1793, fonte secundária, deu notícia da morte de Ambrósio em 1746. A localização do documento nº 82129 de 16.12.1759 no "site" do Centro de Memória Digital da UnB, citado no item "O Segundo Quilombo do Ambrósio" desta página, é fonte primária e dá notícia da morte do Rei do Quilombo do Ambrósio somente em 1759.
  3. «PRIMEIRA POVOAÇÃO DO AMBRÓSIO – Sítio Histórico – MG Quilombo». www.mgquilombo.com.br. Consultado em 13 de novembro de 2024 
  4. Documento do Processo de Demarcação de Sesmaria no Quilombo do Ambrósio de Cristais-MG, in MGQUILOMBO
  5. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais - IHGMG, no período de 1943 a 1949
  6. Documentos Cartográficos do Arquivo Público Mineiro
  7. A Arqueologia de Carlos Magno Guimarães, procurar em "Find" por "1746", sem aspas.
  8. Quilombo do Ambrósio - Onde ficava?
  9. Croqui ou Planta atribuída por Inácio Correia Pamplona ao Quilombo do Ambrósio de Ibiá-MG,em 1769
  10. Quipaca ou Paiol do Ambrósio em Ibiá-MG, indicado por Pamplona como Quilombo do Ambrósio em 1769
  11. História de Oliveira,Edição Centenário, 1961, p. 37 - sem citar qualquer fonte. A evidência é a de que sua fonte tenha sido a fantasiosa Carta da Câmara de Tamanduá à Rainha, 1793, publicada pela Revista do APM, ano II, 1897. Vide ainda Quilombo do Campo Grande - História de Minas que se Devolve ao Povo, p. 355-363.
  12. APM SC 229, fls. 5v a 7v. de 19.02.1781
  13. Relatório do desembargador Tomé Gomes Moreira, 1749, sobre a capitação, in Códice Costa Matoso, p. 482, 492 e 493-495
  14. APM SC 69, fls. 52v a 53 de 24 de maio de 1746
  15. Comentários do desembargador Tomé Gomes Moreira, 1749, sobre a capitação, in Códice Costa Matoso, p. 499
  16. Relato do desembargador frei Sebastião Pereira de Castro em 12 de dezembro de 1747, Códice Costa Matoso, v. 1, p. 455
  17. Quilombo do Campo Grande – História de Minas que se Devolve ao Povo, pp. 569-585
  18. Revista ABN, 1988, p. 101-102.
  19. Anais da Biblioteca Nacional, v. 108, 1988, p. 101. Palavra NÃO, confirmada por Tarso Tavares, historiador da FBN
  20. Quilombo do Campo Grande – a História de Minas que se Devolve ao Povo
  21. DOIS Quilombos do Ambrósio. Um em Cristais-MG outro em Ibiá-MG
  22. As Cartas Chilenas.

Ligações externas

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