Rapport (conceito)

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"Rapport" é uma palavra de origem francesa (rapporter), que significa “trazer de volta” ou “criar uma relação”. Em psicologia, representa um estilo de relacionamento próximo e harmonioso no qual indivíduos ou grupos estão em sintonia uns com os outros, entendem os sentimentos e ideias uns dos outros, e comunicam-se de maneira cordial.

Em seu significado, a palavra sugere que aquilo que uma pessoa encaminha para a outra lhe será enviado de volta por esse indivíduo. Por exemplo, as pessoas envolvidas podem perceber que compartilham valores, crenças e conhecimentos similares, ou comportamentos em relação a política, música ou esportes.[1] Isso poderia levá-los a se engajar em comportamentos recíprocos com influência mútua ou melhor coordenação nas suas interações verbais e não-verbais.[2]

Há um conjunto de técnicas que se supõem serem apropriadas na construção de rapport, tais como: linguagem corporal, (por exemplo, a postura, a mímica, etc.);[2] a prática de sinais de que se tenta manter uma conexão (contato visual);[3]combinação de intervalos de tempo, vocabulário e respiração rítmica [carece de fontes?]. Em um diálogo, alguns comportamentos verbais associados com um aumento de rapport costumam ser positividade, compartilhamento de informações pessoais e desenvolvimento gradual de intimidade, e pela referência aos interesses e experiências compartilhadas.[3]

O rapport tem se mostrado benéfico em psicoterapia e medicina,[4] negociação,[5] e educação,[6] entre outros. Em cada um desses casos, o rapport entre membros de uma dupla (ex. um professor e um aluno, um doutor e um paciente) permite aos participantes coordenar melhor suas ações e estabelecer um relacionamento de trabalho com benefícios mútuos, o que tem sido geralmente chamado de “aliança de trabalho”.[4]

A construção de rapport[editar | editar código-fonte]

Para alcançar os benefícios de rapport interpessoal em áreas como educação, medicina ou mesmo vendas, há vários métodos, dentre os quais se incluem a coordenação, a sinalização de atenção ao outro, a construção de coesão e o gerenciamento da percepção do outro quanto a si mesmo ("face" management).[3]

Métodos[editar | editar código-fonte]

Coordenação[editar | editar código-fonte]

Coordenação, também chamada "mirroring" ou espelhamento, imitação,[2] significa entrar em sintonia com outra pessoa, ou coordenar os comportamentos verbais ou não verbais com os dessa pessoa.[7]

  • "Mirroring" emocional – Ênfase no estado emocional de uma pessoa, mostrando-se estar do "seu lado". Pode ser empregada nessa situação a habilidade de mostrar-se um bom ouvinte, por exemplo, prestando-se atenção em palavras-chave e problemas que surgem quando se está conversando com essa pessoa. Dessa forma, é possível questionar o interlocutor para melhorar a compreensão dessas questões, e também para mostrar a seu próprio interesse em relação a eles (Arnold, E and Boggs, josh. 2007).
  • "Mirroring" de postura – modulação do tom de linguagem corporal de uma pessoa de modo a não imitar as maneiras do outro diretamente, porque isso poderia mostrar-se como zombaria, mas por meio da imitação da mensagem geral de sua postura e energia.
  • "Mirroring" de tom e frequência temporal – combinação de tom, tempo, inflexão, e volume da voz de uma pessoa.

Atenção mútua[editar | editar código-fonte]

Outra forma de construir o rapport é demonstrando atenção para com o outro.[2] Essa atitude pode assumir a forma não verbal, como, por exemplo, simplesmente olhar para a outra pessoa,[3] balançar a cabeça afirmativamente em momentos apropriados, ou por meio da proximidade física, como visto no trabalho de professores na sala de aula.[6] Essa atenção pode também ser demonstrada por meio da reciprocidade de comportamentos não verbais como sorrir ou balançar a cabela, similarmente à coordenação[2] ou no compartilhamento recíproco de detalhes pessoais que sinalizam o atendimento e atenção às necessidades dos envolvidos.[3]

Semelhança[editar | editar código-fonte]

Semelhança é a técnica de deliberativamente encontrar algo em comum com a pessoa ou o cliente na intenção de construir uma relação de camaradagem e confiança. Isso é feito por meio de referenciais como interesses, aversões e experiências compartilhadas.[8] Pelo compartilhamento de detalhes pessoais ou auto-revelação de preferências ou informações pessoais, interlocutores podem construir semelhança, e então incrementar o "rapport".[3]

Face management[editar | editar código-fonte]

Outra forma de se aumentar o "rapport" é por meio do que é comumente chamado de "manejamento positivo da face" (positive face management),[9] que também pode ser simplesmente denominado positividade. De acordo com alguns psicólogos,[9] as pessoas têm a necessidade de serem vistas de uma forma positiva em relação a esta perspectiva, conhecida como a "face" do indivíduo. Pelo gerenciamento das "faces" uns dos outros, promovendo-se estímulos e apoio quando necessário, ou reduzindo os impactos negativos das condições que afetam o parceiro, as pessoas são capazes de construir "rappport" umas com as outras.[9]

Benefícios[editar | editar código-fonte]

Uma série de benefícios foram relatados em relação ao "rapport", os quais sempre envolvem interações cordiais, colaboração incrementada e melhoria de resultados interpessoais,[4][5][6] embora as especificidades diferem quanto à área.

No domínio médico, o "rapport" médico-paciente é frequentemente chamado "aliança de trabalho", e é uma medida de qualidade colaborativa entre o médico (ou terapeuta) e paciente,muitas vezes utilizada como indicativo de resultados terapêuticos e aderência dos pacientes às prescrições.[4]

Em educação, o rapport professor-aluno é um indicativo da participação dos alunos no curso, retenção de aprendizagem, probabilidade de aderir novamente a um curso naquele domínio de conhecimento e tem sido por vezes utilizado para predizer os resultados de um curso.[6] Alguns argumentam que o rapport professor-aluno é um elemento essencial do que faria um professor ser eficaz, ou a habilidade de gerenciar relacionamentos interpessoais e constuir uma atmosfera positiva e pró-social, de confiança e ansiedade reduzida.[10] O "rapport" estudante-estudante, por outro lado, enquanto largamente fora do controle dos professores, é também indicador de reduzida ansiedade em um curso, sentimentos de uma cultura de classe apoiadora, e melhorias na participação nas discussões escolares.[6]

Em negociação, o rapport é benéfico para o alcance de resultados mútuos,[5] já que os parceiros são mais propensos a confiar um no outro, cooperar e gerar produtos positivos. Entretanto, há quem acredite que o rapport interpessoal pode levar a um comportamento antiético, particularmente em situações de impasse.[11]

Estudos[editar | editar código-fonte]

Para o melhor estudo de como o "rapport" pode levar aos benefícios acima, pesquisadores geralmente adotam uma das três principais abordagens: pesquisas de auto-relato,[6] observação de terceiras partes,[2] e algumas formas de detecção automática, utilizando-se de visão computacional ou aprendizado de máquina.[3]

Pesquisas de auto-relato geralmente consistem de um conjunto de questões apresentadas ao final da interação, estimulando os participantes a refletir sobre o relacionamento com a outra pessoa e a avaliar vários aspectos dessa relação, tipicamente em escala de Lickert.[5][6] Embora seja essa a abordagem mais comum, ela apresenta como desvantagem a falta de confiabilidade quanto os dados de auto-referência, de que pode ser exemplo o problema de separar a reflexão dos participantes em relação a interações simples e quanto ao relacionamento com a outra pessoa de uma maneira mais abrangente.[10]

Para enfrentar esses problemas, têm-se utilizado terceiras partes como observadores para atribuir uma nota ao rapport de um segmento particular da interação, também chamado "slice".[2][3] Outro recente trabalho utiliza visão computacional, aprendizagem de máquina e inteligência artificial para detectar eletronicamente o nível de rapport entre os membros de uma dupla.[3]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Neil H. Katz; Marcia Koppelman Sweedler; John W. Lawyer (6 de dezembro de 2010). Communication & Conflict Resolution Skills. (PDF). [S.l.]: Kendall Hunt Publishing Company. ISBN 978-0-7575-7875-5 
  2. a b c d e f g Tickle-Degnen, Linda; Rosenthal, Robert (1990). «The Nature of Rapport and Its Nonverbal Correlates» (PDF). Psychological Inquiry. 1 (4): 285–293. doi:10.1207/s15327965pli0104_1 
  3. a b c d e f g h i Zhao, Ran; Papangelis, Alexandros; Cassell, Justine (2014). «Towards a Dyadic Computational Model of Rapport Management for Human-Virtual Agent Interaction» (PDF). In: Bickmore, T.; Marsella, S.; Sidner, C. Intelligent Virtual Agents. Col: Lecture Notes in Computer Science. 8637. [S.l.]: Springer. pp. 514–527. ISBN 978-3-319-09767-1. doi:10.1007/978-3-319-09767-1_62 
  4. a b c d Falkenström, F; Hatcher, R; Skjulsvik, T; Larsson, M; Holmqvist, R (2014). «Development and Validation of a 6-item Working Alliance Psychotherapy» (PDF). Psychological Assessment. 27 (1): 169–83. PMID 25346997. doi:10.1037/pas0000038 
  5. a b c d Drolet, Aimee; Morris, Michael (2000). «Rapport in Conflict Resolution: Accounting for How Face-to-Face Contact Fosters Mutual Cooperation in Mixed-Motive Conflict» (PDF). Journal of Experimental Social Psychology. 36: 25–30. CiteSeerX 10.1.1.321.8823Acessível livremente. doi:10.1006/jesp.1999.1395 
  6. a b c d e f g Frisby, Brandi; Martin, Matthew (2010). «Instructor–Student and Student–Student Rapport in the Classroom». Communication Education. 59 (2). 146 páginas. doi:10.1080/03634520903564362 
  7. Graham, Colly. «Building Rapport». Consultado em 22 de setembro de 2010 
  8. DeGroot, Bob. «Establish trust and rapport». Consultado em 22 de setembro de 2010 
  9. a b c Spencer-Oatey, Helen (2005). «(Im)Politeness, Face and Perceptions of Rapport: Unpackaging their Bases and Interrelationships». Politeness Research. 1 (1): 95–119. doi:10.1515/jplr.2005.1.1.95 
  10. a b Rogers, Daniel (2015). «Further Validation of the Learning Alliance Inventory: The Roles of Working Alliance, Rapport, and Immediacy in Student Learning». Teaching of Psychology. 42 (1): 19–25. doi:10.1177/0098628314562673 
  11. Jap, Sandy; Robertson, Diana; Hamilton, Ryan (2011). «The Dark Side of Rapport: Agent Misbehavior Face-to-Face and Online». Management Science. 57 (9): 1610–1622. SSRN 1789782Acessível livremente. doi:10.1287/mnsc.1110.1359 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]