Regra dos 5 de lipinski

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A regra dos 5 de Lipinski é uma regra prática usada para avaliar se as características físico-químicas de um determinado composto químico com atividade farmacológica tornam viável a sua administração por via oral. A regra foi formulada em 1997 por Christopher Lipinski, a partir de observações empíricas das características dos fármacos que haviam chegado pelo menos até ensaios clínicos de segunda fase até então[1].

Essa regra seria importante, então, para evitar que a otimização da atividade farmacológica de uma molécula inicial não levasse à piora de sua atividade farmacocinética, de forma a inviabilizar o seu uso por via oral[2].

Componentes da regra[editar | editar código-fonte]

Omeprazol é um medicamento comum que atende à regra dos 5 de Lipinski.

Segundo Lipinski, uma molécula com atividade farmacológica após administração por via oral não deve violar mais do que um dos seguintes critérios[1]:

Note que todos os números envolvidos na regra são múltiplos de 5, o que dá origem ao nome da regra.

Criticismo[editar | editar código-fonte]

Apesar da popularidade dessa regra no campo do desenvolvimento de pequenas moléculas com atividade farmacológica, especialmente nos primeiros anos após a sua publicação, a validade delas tem sido cada vez mais questionada. Desde 1997, uma proporção crescente dos medicamentos aprovados em testes clínicos desobedece a um ou mais dos critérios de Lipinski, principalmente por ultrapassarem o peso molecular máximo estabelecido. Mesmo antes da criação dessas regras, alguns fármacos de via oral comuns e bem caracterizados já as violavam, como por exemplo os antibióticos macrolídeos[3][4][5][6].

Críticas às regras de Lipinski incluem:

  • A implícita simplificação excessiva dos complexos processos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção, não abrindo espaço para considerações específicas de cada fármaco como as suas outras características químicas, incluindo solubilidade, carga, e flexibilidade conformacional;
  • O desenvolvimento de técnicas computacionais que permitem otimizar pequenas moléculas para um alvo específico com maior nuance do que era possível na década de 1990;
  • A rigidez das regras dificulta o desenvolvimento de fármacos que atendem algumas necessidades terapêuticas específicas. Um exemplo disso são fármacos contra doenças do sistema nervoso central, que precisam atravessar a barreira hematoencefálica, que favorece moléculas mais lipofílicas que podem violar as regras.

Segundo o próprio Lipinski, em um artigo publicado em 2022, um fator que tem levado ao declínio dessas regras é ao fato de que elas foram criadas em uma época em que a maior parte dos fármacos haviam sido descobertos por abordagens fenotípicas, isso é, com base nos efeitos observáveis dessas drogas em organismos. Ele contrasta isso com a abordagem mais comum atualmente, de descoberta de fármacos baseada em alvo, onde novos fármacos são desenvolvidos desde o início considerando um mecanismo de ação específico, a triagem de fragmentos in silico e testes in vitro[7].

Dessa forma, por mais que continue sendo importante considerar características de lipofilicidade e peso molecular durante o desenvolvimento de uma pequena molécula, é necessário evitar descartar moléculas potencialmente promissoras por conta de limites rígidos que não levam em conta as nuances de cada alvo terapêutico antes que estas tenham sido testadas adequadamente.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Lipinski, Christopher A.; Lombardo, Franco; Dominy, Beryl W.; Feeney, Paul J. (15 de janeiro de 1997). «Experimental and computational approaches to estimate solubility and permeability in drug discovery and development settings». Advanced Drug Delivery Reviews. In Vitro Models for Selection of Development Candidates (em inglês) (1): 3–25. ISSN 0169-409X. doi:10.1016/S0169-409X(96)00423-1. Consultado em 8 de julho de 2023 
  2. Oprea, Tudor I.; Davis, Andrew M.; Teague, Simon J.; Leeson, Paul D. (20 de julho de 2001). «Is There a Difference between Leads and Drugs? A Historical Perspective». Journal of Chemical Information and Computer Sciences (5): 1308–1315. ISSN 0095-2338. doi:10.1021/ci010366a. Consultado em 8 de julho de 2023 
  3. de Oliveira, Ewerton Cristhian Lima; Santana, Kauê; Josino, Luiz; Lima e Lima, Anderson Henrique; de Souza de Sales Júnior, Claudomiro (7 de abril de 2021). «Predicting cell-penetrating peptides using machine learning algorithms and navigating in their chemical space». Scientific Reports (em inglês) (1). 7628 páginas. ISSN 2045-2322. PMC PMC8027643Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 33828175. doi:10.1038/s41598-021-87134-w. Consultado em 8 de julho de 2023 
  4. Doak, Bradley Croy; Over, Bjӧrn; Giordanetto, Fabrizio; Kihlberg, Jan (18 de setembro de 2014). «Oral Druggable Space beyond the Rule of 5: Insights from Drugs and Clinical Candidates». Chemistry & Biology (em inglês) (9): 1115–1142. ISSN 1074-5521. doi:10.1016/j.chembiol.2014.08.013. Consultado em 8 de julho de 2023 
  5. Doak, Bradley C.; Kihlberg, Jan (8 de dezembro de 2016). «Drug discovery beyond the rule of 5 - Opportunities and challenges». Expert Opinion on Drug Discovery (2): 115–119. ISSN 1746-0441. doi:10.1080/17460441.2017.1264385. Consultado em 8 de julho de 2023 
  6. Lowe2021-01-27T14:30:00+00:00, Derek. «Ruling out the rule of five». Chemistry World (em inglês). Consultado em 8 de julho de 2023 
  7. Lipinski, Christopher A.; Reaume, Andrew G. (2022). «Phenotypic screening of low molecular weight compounds is rich ground for repurposed, on-target drugs». Frontiers in Pharmacology. ISSN 1663-9812. PMC PMC9393533Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 36003497. doi:10.3389/fphar.2022.917968. Consultado em 8 de julho de 2023