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Romeu e Julieta: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:20070205000653!Romeo and juliet brown.jpg|thumb|right|200px|Pintura a óleo de 1870 por [[Ford Madox Brown]] retratando a famosa cena do terraço de ''Romeu e Julieta''.]]
'''''Romeu e Julieta''''' (no original em [[Língua inglesa|inglês]] '''''Romeo and Juliet''''') é uma [[Tragédia shakespeariana|tragédia]] escrita entre [[1591]] e [[1595]], nos primórdios da carreira literária de [[William Shakespeare]], sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra. A peça ficou entre as mais populares na [[Teatro isabelino|época de Shakespeare]] e, ao lado de ''[[Hamlet]]'', é uma das suas obras mais levadas aos palcos do mundo inteiro. Hoje, o relacionamento dos dois jovens é considerado como o [[arquétipo]] do amor juvenil.

''Romeu e Julieta'' pertence a uma tradição de romances trágicos que remonta à [[antiguidade]]. Seu enredo é baseado em um conto da [[Itália]], traduzido em versos como ''[[A Trágica História de Romeu e Julieta]]'' por [[Arthur Brooke]] em [[1562]], e retomado em prosa como ''[[Palácio do Prazer]]'' por [[William Painter]] em [[1582]]. Shakespeare baseou-se em ambos, mas reforçou a ação de personagens secundários, especialmente Mercúcio e Páris, a fim de expandir o enredo. O texto foi publicado pela primeira vez em um quarto{{Ref_label|A|a|none}} de 1597 mas essa versão foi considerada como de péssima qualidade, o que estimulou muitas outras edições posteriores que trouxeram consonância com o texto original shakespeariano.

A estrutura dramática usada por Shakespeare—especialmente os efeitos de gêneros como a comutação entre [[comédia]] e [[tragédia]] para aumentar a tensão; o foco em personagens mais secundários e a utilização de sub-enredos para embelezar a história—tem sido elogiada como um sinal precoce de sua habilidade dramática e maturidade artística. Além disso, a peça atribui distintas [[:Categoria:Formas poéticas|formas poéticas]] aos personagens para mostrar que eles evoluem; Romeu, por exemplo, fica mais versado nos [[soneto]]s a medida que a trama segue.

Em mais de cinco séculos de realização, ''Romeu e Julieta'' tem sido adaptada nos infinitos campos e áreas do [[teatro]], [[cinema]], [[música]] e [[literatura]]. Enquanto [[William Davenant]] tentava revigorá-la durante a Restauração Inglesa, e [[David Garrick]] modificava cenas e removia materiais considerados indecentes no século XVIII, [[Charlotte Cushman]], no [[século XIX]], apresentava ao público uma versão que preservava o texto de Shakespeare. A peça tornou-se memorável nos [[Teatro do Brasil|palcos brasileiros]] com a interpretação de [[Paulo Porto]] e [[Sônia Oiticica]] nos papéis principais, e serviu de influência para o [[Visconde de Taunay]] em seu ''[[Inocência (livro)|Inocência]]'', também baseado em ''[[Amor de Perdição]]'', de [[Camilo Castelo Branco]], considerado o "Romeu e Julieta lusitano". Além de se mostrar influente no [[Ultrarromantismo em Portugal|ultrarromantismo português]] e no [[Naturalismo no Brasil|naturalismo brasileiro]], ''Romeu e Julieta'' mantém-se famosa nas produções cinematográficas atuais, notavelmente na [[Romeo and Juliet (1968)|versão de 1968]] de [[Franco Zeffirelli|Zeffirelli]], indicado como [[Oscar de melhor filme|melhor filme]], e no mais recente ''[[Romeo + Juliet|Romeu + Julieta]]'', de [[Baz Luhrmann|Luhrmann]], que traz seu enredo para a atualidade.

== Personagens ==
''Romeu e Julieta'' retrata a interação entre três proeminentes famílias em Verona:<ref>Gibbons (1980: 80); Levenson (2000: 139-140); Spencer (1967: 51-52). Essa seção lista somente as personagens principais e as secundárias. Contudo, a peça possui outros personagens: cidadãos de [[Viena]], músicos, oficial, mascarados, pajens. Páris é uma personagem de papel muito pequeno, como o primo velho de Capuleto. Rosalina, embora uma personagem importante, não aparece em cena e, por isso, não é listada na relação de personagens.</ref>

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; Casa dos Capuletos
* ''Capuleto'' é o patriarca da casa dos Capuletos.
* ''Senhora Capuleto'' é a matriarca da casa dos Capuletos.
* ''Julieta'' é a filha única dos Capuletos, já que seus irmãos morreram, e a protagonista feminina da peça.
* ''Teobaldo'' é primo de Julieta, e sobrinho da senhora Capuleto.
* ''A Ama'' é a confidente e ama de Julieta.
* ''Pedro'' e ''Gregório'' são os criados dos Capuletos.

; Governo
* ''Príncipe Escalo'' é o Príncipe de [[Verona]]
* ''Páris'' é um jovem nobre, parente do príncipe, e pretendente de Julieta.
* ''Mercúcio'' é parente do príncipe e amigo de Romeu.
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; Casa dos Montecchios
* ''Montecchio'' é o patriarca da casa dos Montecchios.
* ''Senhora Montecchio'' é a matriarca da casa dos Montecchios.
* ''Romeu'' é o filho único dos Montecchios, e o protagonista masculino da peça.
* ''Benvólio'' é sobrinho de Montecchio e primo de Romeu.
* ''Abraão'' e ''Baltasar'' são os criados dos Montecchios.

; Outros
* ''O Coro'', que lê o [[prólogo]].
* ''Frei Lourenço'' é confidente de Romeu e [[franciscano]].
* ''Frei João'' é quem iria entregar a carta de Frei Lourenço para Romeu.
* ''Um Boticário'', que vende a [[poção]] fatal para Romeu.
* ''Rosalina'' é uma personagem invisível, pretendente de Romeu antes dele conhecer Julieta.
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== Sinopse ==
{{Revelações sobre o enredo}}
{{pcita|Duas famílias, iguais em dignidade …|Coro<ref>''Romeu e Julieta'', I.0.1.</ref>}}[[Ficheiro:Francesco Hayez 053.jpg|thumb|left|''O Último Beijo de Romeu em Julieta'' por [[Francesco Hayez]]. Óleo sobre tela, 1823.]]

A peça abre numa rua com o desentendimento entre os Montecchios e os Capuletos. O Príncipe de [[Verona]] intervém e declara que irá punir com morte as pessoas que colaborarem para mais uma briga de ambas as famílias. Mais tarde, Páris conversa com Capuleto sobre o casamento de sua filha com ele, mas Capuleto está confuso quanto o pedido porque Julieta tem somente treze anos. Capuleto pede para Páris aguardar dois anos e o convida a uma planejada festa de [[balé]] que será realizada na casa. A Senhora Capuleto e a Ama de Julieta tentam persuadir a moça a aceitar o cortejo de Páris. Após a briga, Benvólio encontra-se com seu primo Romeu, filho dos Montecchios, e conversa sobre a depressão do moço. Benvólio acaba descobrindo que ela é o resultado de um amor não-correspondido por uma garota chamada Rosalina, uma das sobrinhas do Capuleto. Persuadido por Benvólio e Mercúcio, Romeu atende o convite da festa que acontecerá na casa dos Capuletos em esperança de encontrar-se com Rosalina. Contudo, Romeu apaixona-se perdidamente por Julieta. Após a festa, na famosa "cena da varanda", Romeu pula o muro do pátio dos Capuletos e ouve as declarações de amor de Julieta, apesar de seu ódio pelos Montecchios. Romeu e Julieta decidem se casar.

Com a ajuda de Frei Lourenço - esperançoso da reconciliação das famílias através da união dos dois jovens - eles conseguem se casar secretamente no dia seguinte. Teobaldo, primo de Julieta, sentindo-se ofendido pelo fato de Romeu ter fugido da festa, desafia o moço para um duelo. Romeu, que agora considera Teobaldo seu companheiro, recusa lutar com ele. Mercúcio sente-se incentivado a aceitar o duelo em nome de Romeu por conta de sua "calma submissão, vil e insultuosa".<ref>''Romeu e Julieta'', III.i.72</ref> Durante o duelo, Mercúcio é fatalmente ferido e Romeu, irritado com a morte do amigo, prossegue o confronto e mata Teobaldo. O Príncipe decide exilar Romeu de Verona por conta do assassinato salientando que, se ele retornar, terá sua última hora.<ref>''Romeu e Julieta'', III.i.168</ref> Capuleto, interpretando erroneamente a dor de Julieta, concorda em casá-la imediatamente com o Conde Páris e ameaça {{NT|disown|deserdá-la}} quando ela recusa-se a se tornar a "alegre noiva" de Páris. Quando ela pede, em seguida, o adiantamento do casamento, a mãe lhe rejeita. Quando escurece, Romeu, secretamente, passa toda a noite no quarto de Julieta, onde eles consumam seu casamento.
[[Ficheiro:Frederick Leighton - The Reconciliation of the Montagues and Capulets over the Dead Bodies of Romeo and Juliet.jpg|thumb|200px|''A Reconciliação dos Montecchios e Capuletos Diante da Morte de Romeu e Julieta'', por Frederic Leighton, 1855.]]
No dia seguinte, Julieta visita Frei Lourenço pedindo-lhe ajuda para escapar do casamento, e o Frei lhe oferece um pequeno frasco, aconselhando: "… bebe seu conteúdo, que pelas veias, logo, há de correr-te humor frio, de efeito entorpecedor, sem que a bater o pulso continue em seu curso normal, parando logo…"<ref>''Romeu e Julieta'', IV.i.</ref> O frasco, se ingerido, faz com que a pessoa durma e fique num estado semelhante a morte, em coma por "duas horas e quarenta".<ref>''Romeu e Julieta'', IV.i.105.</ref> Com a morte aparente, os familiares pensarão que a moça está morta e, assim, ela não se casará indesejadamente. Por fim, Lourenço promete que enviará um mensageiro para informar Romeu — ainda em exílio — do plano que irá uni-los e, assim, fazer com que ele retorne para Verona no mesmo momento em que a jovem despertar. Na noite antes do casamento, Julieta toma o remédio e, quando descobrem que ela está "morta", colocam seu corpo na cripta da família.

A mensagem, contudo, termina sendo extraviada e Romeu pensa que Julieta realmente está morta quando o criado Baltasar lhe conta o ocorrido. Amargamente, o protagonista compra um [[Veneno|veneno fatal]] de um [[boticário]] que encontra no meio do caminho e dirige-se para a cripta dos Capuletos. Por lá, ele defronta-se com a figura de Páris. Acreditando que Romeu fosse um vândalo, Páris confronta-se contra o desconhecido e, na batalha, o segundo dos dois assassina o outro. Ainda acreditando que sua amada está morta, ele bebe a poção. Julieta acaba acordando e, descobrindo a morte de Romeu, se suicida com o punhal dele, vendo que a poção do moço não possuía mais nenhuma gota. As duas famílias e o Príncipe se encontram na [[tumba]] e descobrem os três mortos. Frei Lourenço reconta a história do amor impossível dos jovens para as duas famílias que agora se reconciliam pela morte dos seus filhos. A peça termina com a elegia do Príncipe para os amantes: "Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu."<ref>''Romeu e Julieta'', V.iii.308–9.</ref>
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== Fontes textuais ==
[[Ficheiro:Caxton Ovid, 1480.jpg|thumb|upright|Publicação da tradução de [[William Caxton]] sobre o conto de Píramo e Tisbe de [[Ovídio]], 1480.|left]]
''Romeu e Julieta'' pertence a uma tradição de romances trágicos que remontam a antiguidade. Um desses romances é o da história de Píramo e Tisbe, da ''[[Metamorfoses]]'' de [[Ovídio]], cujo enredo contém paralelos com a história de Shakespeare: os pais dos dois amantes detestam-se mutuamente, e Píramo acaba acreditando que Tisbe está morta.<ref>Halio (1998: 93).</ref> Tradutores contemporâneos deste [[poema narrativo]] muitas vezes referem-se ao enredo de Píramo e Tisbe como "o Romeu e Julieta da antiguidade".<ref>[[Ovídio|Ov]]. ''[[Metamorfoses|Met]]''. Trad. Paulo Farmhouse Alberto. Livros Cotovia, 2007, p.26</ref> Os ''Contos Efésios'' de [[Xenofonte|Xenofonte de Efésios]], escrito em meados do século III, também possui muitos elementos semelhantes ao da peça, incluindo a separação drástica dos protagonistas, e o frasco cuja bebida induz a um estado de morte aparente.<ref>Gibbons (1980: 33).</ref>

A versão mais recente conhecida do conto de ''Romeu e Julieta'' é a história de Mariotto e Gianozza por [[Masuccio Salernitano]], no conto 33 de seu ''Il Novellino'', publicado em 1476.<ref name="Hosley">Hosley (1965: 168).</ref> Salernitano ambienta sua história em [[Siena]] e implanta algumas locações de sua própria vida nos eventos da história.<ref name="Hosley"/> A sua versão inclui elementos como o casamento secreto, o conluio do Frade, a briga que decorre do assassinato de um cidadão, o exílio de Mariotto, o casamento forçado de Gianozza, o frasco, e a mensagem crucial no final.<ref name="Hosley"/> Nesta versão, Mariotto é capturado e decapitado, enquanto Gianozza morre de tristeza.<ref>Gibbons (1980: 33–34).</ref><ref>Levenson (2000: 4).</ref>

[[Luigi da Porto]] adaptou essa história como ''Giulietta e Romeo'' e a incluiu em sua ''Historia novellamente ritrovata di due Nobili Amanti'' publicada em 1530, juntando o conto de Píramo e Tisbe com o ''[[Decamerão]]'' de [[Giovanni Boccaccio]].<ref name="Moore38_44">Moore (1937: 38–44).</ref> Da Porto contribuiu muito para a concepção moderna, pois além de elaborar o nome dos amantes e de suas famílias rivais como Montecchi e Capuleti, colocou a localização da peça em [[Verona]].<ref name="Hosley">Hosley (1965: 168).</ref> Ele também criou personagens que hoje correspondem ao Mercúcio, ao Tebaldo e ao Páris de Shakespeare. Da Porto apresenta o seu conto como historicamente verdadeiro e alega que ele se passou na época de [[Bartolomeo II della Scala]] (um século antes de Salernitano).<ref name="Hosley"/> Os Montecchios e os Capuletos eram facções políticas do século XIII, mas a única ligação dissidente que ocorreu entre eles é a mencionada no ''[[Divina Comédia#Purgatório|Purgatório]]'' de [[Dante]].<ref>Moore (1930: 264–277)</ref> Na versão de da Porto, Romeu toma o veneno e Giulietta se fere com o punhal do amado.<ref>Gibbons (1980: 34–35).</ref>
[[Ficheiro:Arthur Brooke Tragicall His.jpg|thumb|upright|Frontíspicio do poema ''Romeu e Julieta'' de [[Arthur Brooke]].]]
Em 1554, [[Matteo Bandello]] publicou o segundo volume de seu ''Novelle'' incluindo a sua própria versão de ''Giulietta e Romeo''.<ref name="Moore38_44"/> Bandello enfatiza a inicial tristeza de Romeu no início da peça e a contenda entre as famílias, além de introduzir na obra Benvólio e a Ama.<ref name="Moore38_44"/> O enredo produzido por Bandello foi traduzido para a [[língua francesa]] por Pierre Boaistuau em 1559 no primeiro volume de sua ''Histories Tragiques''.<ref name="Gibbons80_36">Gibbons (1980: 35–36).</ref> Boaistuau adicionou moralidade e sentimento, e também um tanto de linguagem retórica nos diálogos das personagens da obra.<ref name="Gibbons80_36"/>

Como havia uma tendência entre os poetas e dramaturgos em publicar trabalhos baseados nas famosas ''novelles'' italianas — os contos da Itália figuravam entre os mais populares do teatro da época - Shakespeare tomou vantagem dessa popularidade nas seguintes obras (todas derivadas de ''novelles'' italianas): ''[[O Mercador de Veneza]]'', ''[[Muito Barulho Por Nada]]'', ''[[Tudo Bem Quando Termina Bem]]'', ''[[Medida por Medida]]'', e ''Romeu e Julieta''.<ref>Gibbons (1980: 32, 36–37).</ref><ref name="Keeble_80_18">Keeble (1980: 18).</ref> O bardo inglês pode ter sido muito bem familiarizado com a coleção de contos de 1567 elaborada por [[William Painter]], intitulado ''Palácio do Prazer'', que inclui uma versão em prosa da história de ''Romeu e Julieta'' nomeada ''"The goodly History of the true and constant love of Rhomeo and Julietta"''.<ref name="Keeble_80_18"/> Antes dessas produções, contudo, em 1562 era publicado o poema narrativo ''[[A Trágica História de Romeu e Julieta]]'' de [[Arthur Brooke]] que, embora tivesse elementos intencionalmente ajustados para refletir alguns trechos do enredo de ''Tróilo e Créssida'' de [[Chaucer]], é considerado uma tradução fiel da versão de Boaistuau.<ref name="Gibbons_80_37">Gibbons (1980: 37).</ref>

Acredita-se que ''Romeu e Julieta'' seja uma dramatização desta tradução de Brooke, e que Shakespeare segue o texto fielmente, acrescentando-lhe, contudo, maiores destaques para a maioria dos personagens secundários, especialmente a Ama e Mercúcio.<ref>Roberts (1902: 41–44).</ref><ref>Levenson (2000: 8–14).</ref> ''Dido, rainha de Cartago'' e ''Herói e Líder'' — ambos os poemas escritos na época de Shakespeare pelo seu contemporâneo [[Christopher Marlowe]] — talvez tenham sido influências diretas para o texto de ''Romeu e Julieta'', mesmo que o final de ambos tenha a atmosfera na qual as trágicas histórias de amor pudessem prosperar, ao contrário do final trágico da peça.<ref name="Gibbons_80_37"/>

== Data e texto ==
<!--O texto do presente verbete utiliza as normas padrões de língua portuguesa culturalmente falada e escrita em território brasileiro. No entanto, ainda não está empregado nele o Acordo Ortográfico de 1990.-->
[[Ficheiro:Romeo and Juliet Q2 Title Page-2.jpg|thumb|upright|Capa do Segundo Quarto de ''Romeu e Julieta'' publicado em 1599.|left]]
Os estudiosos não sabem exatamente quando Shakespeare escreveu ''Romeu e Julieta''. No entanto, podemos adquirir determinadas pistas: a Ama de Julieta refere-se a um [[terremoto]] que tinha ocorrido 11 anos antes.<ref>''Romeu e Julieta'': I.iii.23.</ref> Considerando que surgiu um terremoto na Inglaterra em 1580, é possível determinar que a peça se passa em 1591 ou que esse é o ano em que Shakespeare escreveu a obra, embora muitos outros terremotos, tanto na Inglaterra quanto em Verona tenham ocorrido antes ou depois, fazendo com que diferentes datas sejam propostas.<ref name="Arden_Date">Gibbons (1980: 26–27).</ref> Considerando também que os estudiosos apontam semelhanças do estilo artístico usado em ''Romeu e Julieta'' a ''[[Sonhos de Uma Noite de Verão]]'' e outras peças convencionalmente datadas em 1594-95, a tradição diz que ''Romeu e Julieta'' foi composta entre 1591 e 1595.<ref>Gibbons (1980: 29–31). Assim como ''Sonhos de Uma Noite de Verão'', Gibbons aponta paralelos com ''[[Trabalhos de Amores Perdidos]]'' e ''[[Ricardo III (peça)|Ricardo III]]''.</ref> Existe a hipótese de que a peça era ainda um projeto recentemente iniciado no ano de 1591, concluído por Shakespeare em 1595.<ref>Gibbons (1980: 29).</ref>

O ''Romeu e Julieta'' de Shakespeare foi publicado em duas edições de quarto antes da publicação do [[First Folio]] em 1623. As duas versões são referidas como Q1 e Q2, respectivamente. A primeira edição impressa, Q1, aparece no início de 1597, realizada por John Danter. Como seu texto contém muitas diferenças se comparada às últimas edições, ela é conhecida como um 'mau quarto'.<ref name="Spencer">Spencer (1967: 284). Spencer e outros estudiosos utilizam a expressão 'bad quarto'.</ref> O editor T.J.B. Spencer explicou, no século XX, que a versão "tem um texto detestável, provavelmente uma reconstrução da peça a partir de memórias imperfeitas de um ou mais ator(es)", sugerindo que ela foi pirateada para publicação.<ref name="Spencer"/> Uma possível explicação para essas deficiências da Q1 é que a peça (como muitas outras de seu tempo) pode ter sido editada antes da atuação da companhia de teatro.<ref name="Halio_History">Halio (1998: 1–2).</ref> Em qualquer caso, seu aparecimento no início de 1597 torna o ano de 1596 como a data mais tardia para a composição da obra.<ref name="Arden_Date"/>
[[Ficheiro:FirstFolioRomeo.jpg|thumb|upright|Facsimile da primeira página de ''Romeu e Julieta'', no [[First Folio]] publicado em 1623.]]
A segunda edição, Q2, é chamada de ''A Excelentíssima e Lamentável Tragédia de Romeu e Julieta'' e representa um texto superior ao da versão anterior (Q1).<ref name="Halio_History"/> Impressa em 1599 por Thomas Creede e publicada por Cuthbert Burby, ela possui cerca de 800 linhas a mais do que a Q1.<ref name="Halio_History"/> A sua capa descreve-a como "recém-corrigida, aumentada e alterada". Com base nessa informação, acredita-se que a Q2 foi baseada no projeto pré-encenação de Shakespeare (conhecido como seu "foul papers"), uma vez que existem curiosidades textuais como as diversas rubricas para personagens e "falsos inícios" para discursos que foram presumivelmente arrancados pelo autor mas erroneamente preservados pelo editor.<ref name="Halio_History"/> Seu texto é mais completo e fiável, e por isso foi reimpresso em 1609 (Q3), 1622 (Q4) e 1637 (Q5).<ref name="Spencer" /> Com efeito, todos os últimos quartos e fólios de ''Romeu e Julieta'' são baseados em Q2, como todas as edições modernas e seus editores acreditam que qualquer defeito que haja em edições anteriores ao Q2 (boas ou más) foram causadas pelos seus respectivos impressores e/ou pelas gráficas e editoras da época, e não por William Shakespeare.<ref name="Halio_History"/>

O texto do Primeiro Fólio, de 1623, é baseado primariamente em Q3, com esclarecimentos e correções feitos a partir de um livro teatral ou a partir do Q1.<ref name="Spencer" /><ref>Gibbons (1980: 21).</ref> Outras edições da peça em Fólio foram impressas em 1632 (F2), 1664 (F3), e em 1685 (F4).<ref name="Gibbons_80_ix">Gibbons (1980: ix).</ref> As versões modernas - contando com os vários fólios e quartos - apareceram pela primeira vez na edição de 1709 do dramaturgo [[Nicholas Rowe]], seguido pela versão de [[Alexander Pope]] em 1723. Essa última versão merece especial destaque, porque Pope iniciou uma tradição editiva da peça ao adicionar algumas etapas de posições de palco e cena, já que Q2 carecia dessas direções, presentes, contudo, em Q1.<ref name="Gibbons_80_ix"/> A tradição continuou a ser usada no período do [[Romantismo]].<ref name="Halio_98_89">Halio (1998: 8–9).</ref> As edições com maior número de notas apareceram pela primeira vez na [[Era vitoriana]] e continuam a ser produzidas nos dias de hoje, onde existem uma ampla variedade de notas ao longo do texto, destacando e explicando as origens e a cultura por detrás da peça.<ref name="Halio_98_89"/>

== Temática ==
Os críticos têm encontrado uma certa dificuldade em atribuir um tema específico ou mais bem apresentado na peça de ''Romeu e Julieta''.<ref name="Bowling 208">Bowling (1949: 208–220).</ref> As propostas que surgiram como temas principais são: a descoberta que as personagens fazem sobre os seres humanos, compreendendo que eles não são nem totalmente bons nem totalmente maus e que, em vez disso, são um pouco dos dois;<ref name="Bowling 208"/> o despertar da fantasia onírica e a entrada para a realidade;<ref name="Bowling 208"/> o perigo que existe na ação precipitada sem qualquer tipo de racionalização,<ref name="Bowling 208"/> e o poder que existe num destino trágico.<ref name="Bowling 208"/> Embora esse conjunto de temática forme um enredo complexo para os críticos definirem uma temática principal, a peça está repleta de vários elementos temáticos que se entrelaçam. Os que são mais frequentemente debatidos pelos estudiosos são tratados a seguir:<ref>Halio (1998: 65).</ref>

=== Amor ===
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
'''Romeu:'''<br />Se minha mão profana o relicário, em remissão aceito a penitência: meu lábio, ''peregrino'' solitário, demonstrará, com sobra, reverência.<br />'''Julieta:'''<br />Ofendeis vossa mão, bom ''peregrino'', que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos ''santos'' pega o paladino. Esse é o beijo mais ''santo'' e conveniente.
|-
| style="text-align: right;" |''Romeu e Julieta'', Ato I, Cena V<ref>''Romeu e Julieta'', I.v.92–99.</ref>
|}
''Romeu e Julieta'' é por vezes considerada uma obra sem temas, com a ressalva de que trata do amor entre dois jovens apaixonados.<ref name="Bowling 208"/> Estes dois jovens tornaram-se com o tempo a emblemática dos jovens amantes que são condenados pelo seu amor. Uma vez que o tema se apresenta de forma muito clara na peça, há uma grande exploração da linguagem e do contexto histórico por trás desse romance.<ref name="Honegger">Honegger (2006: 73–88).</ref> Em seu primeiro encontro, Romeu e Julieta utilizam uma forma de comunicação recomendada por muitos autores críticos da época de Shakespeare: a [[metáfora]]. Usando metáforas de [[santo]]s e [[pecado]]s, Romeu teve a oportunidade de testar os sentimentos que Julieta nutria por ele de uma forma não-ameaçadora.<ref name="Honegger"/> Esse método estilístico era recomendado pelo [[diplomata]] e [[cortesão]] italiano [[Baldassare Castiglione]] (cujas obras haviam sido traduzidas para o inglês da época).<ref name="Honegger"/> Castiglione lembra que, se um homem utiliza uma metáfora como um convite, a mulher pode fingir que ela não entendeu o que ele disse, e então ele poderia recuar sem perder a honra.<ref name="Groves_07_689">Groves (2007: 68–69).</ref> Julieta, no entanto, participa da metáfora de seu amado e colabora para seu desenvolvimento, expandindo-a. Metáforas religiosas como "santuário", "peregrino" e "santo" se encontravam na moda poética da época e eram consecutivamente mais suscetíveis de serem compreendidas como algo romântico, ao invés de bobagens ou blasfêmias, como o conceito de santidade ficou associada tempos depois através do [[Catolicismo]].<ref name="Groves_07_689"/> Mais tarde, Shakespeare remove as [[Alusão|alusões]] mais audazes que ele encontrou na [[A Trágica História de Romeu e Julieta|história de Romeu e Julieta]] de [[Arthur Brooke|Brooke]], como uma acerca da [[ressurreição de Cristo]].<ref name="Groves_07_61">Groves (2007: 61)</ref>
[[Ficheiro:DickseeRomeoandJuliet.jpg|upright|thumb|Frank Dicksee retrata a cena do terraço no quadro ''Romeu e Julieta'', 1884|left]]
Na famosa cena do terraço, Shakespeare coloca Romeu ouvindo por acaso o solilóquio de Julieta, embora na versão de Brooke a declaração da moça é feita sem ninguém escutar. Ao aproximar Romeu na cena para escutar sua amante, Shakespeare quebra com a sequência tradicional da corte: normalmente, as mulheres eram obrigadas a serem tímidas e modestas para se certificarem que seus pretendentes eram sinceros para com elas.<ref name="Groves_07_61"/> A quebra (intencional) dessa regra serve apenas para adiantar um pouco o enredo teatral, contudo.<ref name="Groves_07_61"/> Os amantes são capazes de pular a parte das declarações de amor e passar a falar de sua relação—como quando decidem se casar depois de se conhecerem em apenas uma única noite.<ref name="Honegger" /> Se nos focarmos na cena final do suicídio, podemos perceber uma contradição na mensagem: na religião católica, os suicidas eram condenados para viverem e amargarem no [[inferno]]; porém, existia também o conceito de que, se morressem através da "[[Amor cortês|Religião do Amor]]", ao lado de seu amor, estariam unidos com ele no paraíso.<ref name="Siegel_61_92">Siegel (1961: 371–392).</ref> Portanto, o amor entre Romeu e Julieta parece expressar a "Religião do Amor", em vez de expressar a visão católica.<ref name="Siegel_61_92"/> Outro ponto interessante de ressaltar é que, embora o amor de ambos seja passional, ele só se consumou no casamento, o que os impede de perder a simpatia do público.<ref name="Siegel_61_92"/>

Indiscutivelmente, Shakespeare relaciona sexo e amor com a morte. Por exemplo: ao longo da história, tanto Romeu como Julieta, assim como as outras personagens, a [[Morte (personificação)|personificam como um acontecimento sombrio]], frequentemente equiparando-a com o [[Erotismo]]: ao descobrir a morte (falsa) de Julieta, por exemplo, Capuleto diz que sua filha foi "desflorada",<ref>''Romeu e Julieta'', II.v.38–42.</ref> uma alusão simples para o fim da [[virgindade]] feminina.<ref name="Mackenzie_07_2242">MacKenzie (2007: 22–42).</ref> Julieta também compara Romeu com a morte de forma [[Erotismo|erótica]] e, mesmo antes de seu suicídio, ela se apossa do punhal de Romeu e diz: "Oh! sê bem-vindo, punhal! Tua bainha é aqui. Repousa aí bem quieto e deixa-me morrer."<ref name="Mackenzie_07_2242"/><ref>''Romeu e Julieta'', V.iii.169–170.</ref>

=== Azar e sorte ===
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
Ó, Sou o bobo da fortuna!
|-
| style="text-align: right;" |Romeu<ref>''Romeu e Julieta'', III.i.138.</ref>
|}
Os estudiosos se encontram divididos quanto ao papel da sorte na peça. Não existe consenso entre eles sobre se os protagonistas são realmente fadados a morrerem juntos ou se os eventos ocorrem através de uma série de hipóteses azaradas. Os argumentos a favor do destino geralmente referem-se aos dois como "amantes desditosos".<ref name="RJ_Prologue">Romeu e Julieta, I.0.6.</ref> Essa expressão aponta que as estrelas predeterminam o futuro dos amantes.<ref>Evans (1950: 841–865).</ref> O estudioso John W. Draper acredita que existe um paralelo entre a crença Isabelina dos "quatro humores" e os principais personagens da peça (sendo Tebaldo um hipocondríaco).<ref name="Draper 16">Draper (1939: 16–34).</ref> Interpretar o texto através dos humores reduz o valor do enredo atribuído ao acaso pelas audiências modernas.<ref name="Draper 16"/>

Ainda nesse tema, outros estudiosos encontram na peça um enredo envolto de muito azar, colocando-a não como uma tragédia, mas como um [[melodrama]] emocional.<ref name="Draper 16"/> Ruth Nevo crê que o elevado grau em que a oportunidade é sublinhada na narrativa faz de ''Romeu e Julieta'' a mais fútil das tragédias em seus acontecimentos, mas não em seus personagens: quando Tebaldo desafia Romeu para uma luta, por exemplo, ele não está sendo impulsivo, ou seja, após a morte de Mercúcio, a ação mais esperada no momento e sua escolha termina sendo tomada.<ref name="Nevo 241">Nevo (1969: 241–258).</ref> Nessa cena, Nevo lê Romeu como um jovem consciente dos perigos que o desrespeito das [[Norma social|normais sociais]], de identidade e compromissos podem acarretar e, por isso, ele decide cometer um assassínio não por causa de uma "falha trágica", mas devido à circunstância.<ref name="Nevo 241"/>

=== Dualidade ===
Segundo Caroline Spurgeon, "… em ''Romeu e Julieta'' a imagem dominante é a luz, e todas as formas e manifestações da mesma: o sol, a lua, as estrelas, o fogo, os raios, os flashes de pólvora e a luz que reflete a beleza e o amor, enquanto que, em contrapartida, temos a noite, a escuridão, as nuvens, a chuva, a névoa e a fumaça."<ref name="Parker 663"/>
[[Ficheiro:Johann Heinrich Füssli 060.jpg|thumb|upright|O conceito de luz e sombra é muito bem retratado no quadro ''Romeu no Leito de Morte de Julieta'', por Füssl, 1809.|left]]
Em verdade, os estudiosos têm longas críticas e análises acerca do amplo uso da "luz" e da "escuridão" que Shakespeare fez questão de utilizar na peça. Esse uso é uma técnica estilística muito facilmente encontrada na literatura para referir em linguagem descritiva uma experiência sensorial. Caroline Spurgeon considera esse tema da luz como "um símbolo da beleza natural do amor juvenil"<ref name="Nevo 241"/> e essa interpretação serviu de argumento para outros críticos.<ref name="Parker 663">Parker (1968: 663–674).</ref> De maneira resumida, podemos dizer que Romeu e Julieta vêem-se como uma luz na escuridão circundante: o primeiro descreve a amada como se ela fosse o sol;<ref>''Romeu e Julieta'', II.ii.</ref> mais brilhante do que uma tocha;<ref>''Romeu e Julieta'', I.v.42.</ref> uma jóia que brilha no escuro das noites,<ref>''Romeu e Julieta'', I.v.44–45.</ref> e um brilhante anjo entre nuvens negras.<ref>''Romeu e Julieta'', II.ii.26–32.</ref> Até mesmo quando Julieta está (aparentemente) morta, ele diz: "... a insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido pendão da morte ..."<ref>''Romeu e Julieta'', I.v.85–86.</ref> Julieta, por sua vez, descreve Romeu como "dia em noite" e "mais branco do que neve sobre um corvo."<ref>''Romeu e Julieta'', III.ii.17–19.</ref><ref name="Halio_98_55">Halio (1998: 55–56).</ref>

Esse contraste entre claro e escuro presente no diálogo de ambos pode ser uma clara metáfora para amor e ódio, juventude e maturidade.<ref name="Nevo 241"/> Por vezes esses entrelaçamentos metafóricos criam o que se chama hoje de [[Ironia|ironia dramática]], uma vez que o amor de Romeu e Julieta é uma luz no meio do ódio de seus familiares, que seria a escuridão, mesmo que os dois jovens vivam um relacionamento apaixonante na luz da noite, enquanto seus parentes briguem em plena luz do dia.<ref name="Nevo 241"/> Uma vez existindo esses supostos paradoxos na peça, cria-se uma atmosfera do dilema moral que os amantes terão que enfrentar: ser fiel à família ou ser fiel ao amor?<ref name="Halio_98_55"/>

No final da história, quando a "manhã é sombria e o sol esconde seu rosto de tristeza", segundo as palavras do próprio Príncipe de Verona, a luz e a escuridão retornam a seus devidos lugares, e isto reflete a verdadeira escuridão interior da luta entre as famílias diante da tristeza pelos amantes. Os personagens então reconhecem seus erros à luz dos recentes acontecimentos, e tudo volta à ordem natural, "graças ao amor de Romeu e Julieta".<ref name="Parker 663"/> Além disso, o tema da "luz" e "escuridão" também pode ser interpretado como uma forma ligada ao tempo, e assim os dramaturgos da Inglaterra quinhentista expressavam a passagem de tempo através de descrições do sol, da lua e das estrelas, enfim.<ref name="Tanselle">Tanselle (1964: 349–361).</ref>

=== Tempo ===
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
Este tempo de dor não é propício para fazermos a corte.
|-
| style="text-align: right;" |Páris<ref>''Romeu e Julieta'', III.iv.8–9.</ref>
|}
O tempo em ''Romeu e Julieta'' desempenha um papel importante na linguagem e no enredo da peça, uma vez que tanto Romeu quanto Julieta lutam para manter um mundo imaginário em face da dura realidade que os rodeia. Quando Romeu jura o seu amor por Julieta para a lua, ela protesta: "Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável."<ref>''Romeu e Julieta'', II.ii.109–111</ref> Desde o início, os amantes são designados como estrelas cruzadas, baseado numa crença da [[astrologia]] associada com o tempo.<ref name=MuirMuir>Muir (2005: 34–41).</ref> Segundo essa crença, as estrelas controlam o destino da humanidade e, uma vez que o tempo passa, as estrelas se movem ao longo de seu curso no céu, traçando também o curso de vidas dos seres abaixo delas.<ref name=MuirMuir/> Romeu, por exemplo, diz no início da peça que tem um pressentimento baseado nos movimentos das estrelas e, quando pensa que Julieta está morta, ele desafia o curso que elas têm guardado para ele.<ref name="Draper 16"/>

Outro tema central (e muito visível) é a rapidez com que os acontecimentos se desenvolvem: a obra de Shakespeare abarca um período de quatro a seis dias, enquanto que o poema de Brooke se passa em nove meses.<ref name="Tanselle" /> Estudiosos como G. Thomas Tanselle, acreditam que o tempo foi "especialmente importante para Shakespeare" nessa peça, uma vez que ele usou referências a "curto prazo" para os jovens amantes, enquanto usava referências a "longo prazo" para a geração mais velha destacando uma provável "corrida precipitada para a perdição".<ref name="Tanselle" /> Romeu e Julieta lutam contra o tempo para fazer com que seu amor dure para sempre. No final, a única forma de derrotar o tempo parece ser através da morte que os torna imortais através da arte.<ref name="Lucking">Lucking (2001: 115–126).</ref>

O tempo também está ligado ao tema da luz e da escuridão desenvolvido na sub-seção anterior: na época de Shakespeare, as peças eram usualmente encenadas de dia, e isso obrigou o dramaturgo a usar palavras para criar a "ilusão" de dia e noite em suas peças.<ref name=HalioHalioHalio>Halio (1998: 55–58).</ref> Além de se referir ao tempo através dos diálogos, que citam o sol, a lua, as estrelas, o dia, a noite, os atores também se referiam a dias da semana e a horas específicas para ajudarem o público na compreensão do ambiente da peça.<ref name=HalioHalioHalio/> Somente em ''Romeu e Julieta'', por exemplo, pode-se encontrar exatamente 103 referências claras ao tempo.<ref>Driver (1964: 363–370).</ref>

== Crítica e interpretação ==
=== Contexto histórico ===
[[Ficheiro:Samuel Pepys.jpg|thumb|upright|Retrato do primeiro crítico da peça, [[Samuel Pepys]], por John Hayls. Óleo sobre tela, 1666.]]
Os críticos têm observado muitos pontos fracos na peça ''Romeu e Julieta'', mas ela ainda é considerada como uma das melhores shakespearianas. O mais famoso crítico da peça foi [[Samuel Pepys]], administrador naval e [[Deputado|membro do Parlamento]] conhecido pelos relatos históricos que ele escrevia em seu [[diário]] pessoal.<ref name="ShakeCrit415">Scott (1987: 415).</ref> Entre esses relatos se encontram acontecimentos ocorridos na [[Grande Praga de Londres]], na [[Segunda Guerra Anglo-Holandesa]] e no [[Grande Incêndio de Londres]].<ref name="ShakeCrit415"/> Quanto à trama de Romeu e Julieta, Pepys escreveu em 1662: "é a pior peça que já assisti em toda a minha vida."<ref name="ShakeCrit415"/> Dez anos depois, o poeta [[John Dryden]] elogiou a peça e o personagem Mercúcio: "Shakespeare demonstrou o melhor da sua habilidade artística em seu ''Mercúcio'', e ele próprio dizia que foi obrigado a matá-lo no terceiro ato para evitar ser morto por ele."<ref name="ShakeCrit415"/> A crítica da peça no século XVIII era menos esparsa, mas não menos dividida: o editor Nicholas Rowe foi o primeiro crítico a refletir sobre o tema da obra, concluindo que o final trágico foi uma punição justa para as duas famílias que brigavam entre si.<ref name="ShakeCrit410">Scott (1987: 410).</ref> Em meados do mesmo século, o escritor Charles Gildon e o filósofo [[Lord Kames]] argumentaram que a peça era um fracasso artístico, pois não seguia as "regras clássicas" do teatro: "a tragédia final deve ocorrer por conta de algum erro dos personagens envolvidos no enredo, e não por um acidente do destino."<ref name="ShakeCrit410"/> [[Samuel Johnson]], contudo, considerava a peça mais agradável de Shakespeare.<ref name="ShakeCrit410"/>

Em finais do século XVIII e através do século XIX, a crítica centrou-se nos debates sobre a mensagem moral da peça. A adaptação do ator e dramaturgo [[David Garrick]], realizada em 1748, excluiu a personagem Rosalina, porque era visto como inconstante e imprudente o abandono que Romeu faz para ficar com Julieta.<ref name="Scott_87_412">Scott (1987: 411–412).</ref> Críticos como Charles Dibdin alegavam que a inclusão de Rosalina, no entanto, era proposital para mostrar como o herói era imprudente, e que essa foi a verdadeira razão para seu trágico fim.<ref name="Scott_87_412"/> Outros argumentam que Frei Lourenço pode ter sido o porta voz que Shakespeare utilizou para demonstrar suas advertências contra a pressa injustificada.<ref name="Scott_87_412"/> Com o advento do século XX, todos esses argumentos acerca da moralidade da peça foram contestados por críticos como Richard Green Moulton. Ele acreditava que o acidente, e não a falha das personagens, foi o que as levou à morte.<ref>Scott (1987: 413).</ref>

=== Estrutura dramática ===
[[Ficheiro:Romeo and Juliet with Friar Laurence - Henry William Bunbury.jpg|upright|thumb|Romeu e Julieta e Frei Lourenço por Henry Bunbury, 1792-96|left]]
Em ''Romeu e Julieta'', Shakespeare emprega diversas técnicas dramáticas que têm adquirido bastante elogio de críticos. A técnica mais notavelmente destacada são as bruscas mudanças de gênero da [[comédia]] para a [[tragédia]] (como, por exemplo, o intercâmbio de [[paranomásia]] entre Romeu e Mercúcio pouco antes da entrada de Tebaldo).<ref name="Shapiro_64_501">Shapiro (1964, p. 498–501).</ref> Antes da morte de Mercúcio no Ato III, a peça é basicamente uma comédia, mas após sua morte, a obra adquire subitamente um tom sério e assume elementos trágicos.<ref name="Shapiro_64_501"/> Quando Romeu é punido pelo Príncipe e se exila, o fato do protagonista não ter sido executado e o de que Frei Lourenço oferece um plano para reunir ambos, o público/leitor ainda pode esperar que os amantes acabarão bem.<ref name="Bonnard5127">Bonnard (1951: 319–327).</ref> Nessa etapa, o público/leitor se encontra em um "estado ofegante de suspense" até a abertura da última cena no túmulo, afinal, se Romeu está atrasado o suficiente para o Frei aparecer, ele e Julieta ainda poderão se salvar.<ref name="Bonnard5127"/> Essas mudanças repentinas de estados (de esperança para desespero, e depois indulto, e novamente esperança) são simplesmente elementos que servem para salientar a tragédia, até que a esperança final termina e os protagonistas morrem.<ref name="Halio 20">Halio (1998: 20–30).</ref>

Shakespeare também utiliza sub-enredos para oferecer uma visão mais clara das ações dos personagens principais: quando a peça abre, Romeu está apaixonado por Rosalina, que tem recusado toda a corte do moço. Esse afeto que Romeu nutre por Rosalina é um evidente contraste entre seu amor por Julieta mais tarde.<ref name = "Halio 20"/>Esse contraste permite uma comparação entre ambos os relacionamentos através do qual o público (ou leitor) tem a chance de acreditar na seriedade do amor e do casamento entre Romeu e Julieta.<ref name = "Halio 20"/>O afeto de Páris por Julieta também estabelece, por sua vez, um contraste entre os sentimentos da moça por ele e seus sentimentos por Romeu.<ref name = "Halio 20"/>A [[linguagem formal]] que ela utiliza quando está na presença de Páris, bem como a forma como ela fala sobre ele para sua Ama, mostram que seus sentimentos mentem com Romeu.<ref name = "Halio 20"/>Além disso, o sub-enredo das rixas entre os Montecchios e os Capuletos providencia uma atmosfera de ódio que se torna o principal contribuinte, segundo alguns críticos, para o final trágico da peça.<ref name = "Halio 20"/>

=== Linguagem ===
[[Ficheiro:Romeo by Bianchini.JPG|thumb|upright|Romeu por Bianchini, um dos personagens que utiliza o [[soneto]] em suas falas.]]
As [[:Categoria:Formas poéticas|formas poéticas]] utilizadas por Shakespeare ao longo da obra são muito variadas, o que torna ''Romeu e Julieta'' rica em [[poesia]] (apesar das traduções para o português terem insistido na prosa). Ele inicia com um [[prólogo]] de 14 linhas em forma do [[soneto shakespeariano]], recitado por um Coro. A maior parte do texto de ''Romeu e Julieta'' é, contudo, escrita em [[verso branco|versos brancos]], muitos deles dentro do [[pentâmetro iâmbico]], com menor variação rítmica do que a maioria de suas peças posteriores.<ref name="Halio 1998: 51">Halio (1998: 51).</ref> Shakespeare escolhe suas formas poéticas de acordo com o personagem que irá falar. Frei Lourenço, por exemplo, utiliza as formas do [[sermão]] e da síntese, e a Ama usa unicamente o verso branco correspondendo rigorosamente à fala coloquial.<ref name="Halio 1998: 51"/> Cada uma dessas formas também é moldada à emoção da cena em que o personagem ocupa. Romeu, por exemplo, no início da peça tenta usar o [[Francesco Petrarca|soneto de Petrarca]] para falar de Rosalina - provavelmente porque essa forma era frequentemente utilizada pelos homens que possuíam o intuito de elogiar a beleza das mulheres cujo amor era impossível de atingir pela falta de reciprocidade, como na situação dele com Rosalina.<ref name="Halio 1998: 51"/> Essa forma de soneto também é usada pela Senhora Capuleto quando ela tenta convencer sua filha do homem maravilhoso que o Conde Páris é.<ref>Halio (1998: 47–48).</ref>

Quando ocorre o encontro entre Romeu e Julieta, a forma poética muda: do soneto petrarquiano (que estava se tornando arcaico na época de Shakespeare), temos uma forma mais contemporânea de soneto, usando metáforas como "peregrino" e "santos".<ref>Halio (1998: 48–49).</ref> Finalmente, quando os dois se encontram no terraço, Romeu tenta usar a forma de soneto que sensibilize seu amor, mas Julieta rompe a técnica ao dizer: "Acaso ainda me amas?"<ref>''Romeu e Julieta'', II.ii.90.</ref> Ao fazer isso, ela busca uma expressão verdadeira e sincera, ao invés de uma exageração poética do amor de ambos.<ref>Halio (1998: 49–50).</ref> Nas falas de Julieta, Shakespeare usa [http://pt.wiktionary.org/wiki/monoss%C3%ADlabo palavras com monossílabos] quando ela está diante de Romeu, e linguagem formal quando diante de Páris.<ref>Levin (1960: 3–11).</ref> Outras formas poéticas usadas na peça são o [[epitalâmio]] (em Julieta); a [[Poesia épica|rapsódia]] (no diálogo que Mercúcio cita uma tal de Rainha Mab), e a [[elegia]] (em Páris).<ref>Halio (1998: 51–52).</ref> Na linguagem da peça, Shakespeare economiza seu [[Prosa|estilo prosaico]], utilizando-o com mais frequência nas falas das personagens mais pobres, embora ele as use também em outras, como em Mercúcio.<ref>Halio (1998: 52–55).</ref> O [[humor]], por sua vez, é um elemento importante na obra: o estudioso Molly Mahood identificou, pelo menos, 175 [[trocadilho]]s no texto.<ref>Bloom (1998: 92–93).</ref> Muitos desses trocadilhos são [[piada]]s de natureza sexual, especialmente as que envolvem Mercúcio e a Ama.<ref>Wells (2004: 11–13).</ref>

=== Psicanálise ===
Os primeiros [[Psicanálise|críticos psicanalíticos]] da peça viram um grande problema no enredo de ''Romeu e Julieta'': a personalidade impulsiva de Romeu, decorrente de uma suposta "agressão mal-controlada e dissimulada", que levou Mercúcio para a morte e também o suicídio dos amantes.<ref>Halio (1998: 82) citando ''O Homem Contra Si Mesmo'' (1938), de Karl A. Meninger.</ref> ''Romeu e Julieta'' não é considerada como uma peça psicologicamente complexa, e sua leitura psicanalítica se atenta a trágica experiência masculina com a doença.<ref>Appelbaum (1997: 251–272).</ref> Norman Holland, escrevendo em 1966, considerou o "sonho de Romeu"<ref>''Romeu e Julieta'' V.i.1–11.</ref> como um "desejo realista que satisfaça a fantasia de ambos em termos do mundo adulto de Romeu e suas hipotéticas [[Desenvolvimento psicossexual#Fase oral (0-18 meses)|fase oral]], [[Desenvolvimento psicossexual#Fase Fálica (2-3/5 anos)|fálica]] e [[Complexo de Édipo|edípica]] na infância, tão frequentes no [[desenvolvimento psicossexual]]".<ref name="Halio_98_83">Halio (1998: 83, 81).</ref> Hollanda aproveita e reconhece que um personagem dramático não é um ser humano com os processos mentais separados dos do autor.<ref name="Halio_98_83"/> Críticos como Julia Kristeva focam-se no ódio entre as duas famílias, argumentando que esse ódio é a causa da paixão de Romeu e Julieta, e salienta que essa sua compreensão se manifesta de forma muito clara na linguagem dos dois: Julieta, por exemplo, diz "o meu único amor nasceu do meu único ódio"<ref>''Romeu e Julieta'' I.v.137.</ref> e, muitas vezes, expressa sua paixão através da antecipação da morte de Romeu.<ref>Halio (1998: 84–85).</ref> Essas interpretações conduzem a uma especulação quanto à [[psicologia]] do dramaturgo, em particular pelo luto que, dizem os psicanalistas, Shakespeare foi obrigado a assumir diante da morte de seu filho [[Hamnet Shakespeare|Hamnet]].<ref>Halio (1998: 85).</ref>

=== Feminismo ===
A [[Feminismo|crítica feminista]] argumenta que a culpa da briga entre as famílias de Verona reside no sistema de sua [[Patriarcado|sociedade patriarcal]]. Para Coppélia Kahn, por exemplo, o código de violência restritamente masculino imposto a Romeu é a principal força-matriz de sua tragédia; quando Teobaldo mata Mercúcio, Romeu torna-se violento, lamentando que Julieta tenha o feito "afeminado".<ref>''Romeu e Julieta'', III.i.112. </ref> Nesta perspectiva, os jovens do [[sexo masculino]] "tornam-se homens" por intermédio da [[violência]] em nome de seus pais ou, no caso dos funcionários ou serviçais, de seus patrões ou mestres. Na peça, a rivalidade também está ligada à [[virilidade]] masculina, como demonstram suas inúmeras piadas sobre a "cabeça das solteiras".<ref>Kahn (1977, p. 5–22).</ref><ref> Halio (1998, p.87–88).</ref> Julieta também delega um código de docilidade feminina, permitindo que outros, como o Frei, resolvam seus problemas por ela. Outros críticos, como Dympna Callaghan, vê o [[feminismo]] na peça sob um [[Historicismo|ângulo histórico]], sublinhando que quando a peça foi escrita e encenada, a [[Feudalismo|ordem feudal]] era contestada pelo governo inglês, que estava cada vez mais centralizado e influenciado pelo [[capitalismo]]; ao mesmo tempo, as novas ideias [[Puritanismo|puritanas]] acerca do [[casamento]] estavam menos preocupadas com os males da "sexualidade feminina" do que as das épocas anteriores, e mais simpáticas em relação às peças que tratavam do tema do amor: assim, quando Julieta evita a tentativa de seu pai de obrigá-la a se casar com um homem pelo qual ela não nutre sentimento algum, ela estaria desafiando esta ordem patriarcal de uma forma que não teria sido possível em um momento anterior da história.<ref>Halio (1998, p. 89–90).</ref>

=== Teoria homossexual ===
A [[Teoria queer|teoria ''queer'']] é uma teoria sobre a [[identidade de gênero]] que afirma que a [[orientação sexual]] e a [[identidade sexual]] ou de gênero dos indivíduos são o resultado de um [[constructo social]] e que, portanto, não existem [[papel social de gênero|papéis sociais de gênero]] sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais. Baseados nesses fundamentos, seus estudiosos se atentam na questão da sexualidade de Mercúcio e Romeu, comparando a amizade de ambos com o amor sexual: Mercúcio, numa conversa amigável, menciona o [[falo]] de Romeu, sugerindo vestígios de homoerotismo entre os dois.<ref>Halio (1998: 85–86).</ref> Um exemplo é quando ele diz: "O que o magoara fora invocar no círculo da amada um espírito estranho e aí deixá-lo até que ela o tivesse exorcismado."<ref>''Romeu e Julieta'', II.i.24–26</ref><ref>Rubinstein (1989: 54)</ref> O homoerotismo de Romeu também pode ser encontrado em sua atitude diante de Rosalina, uma mulher que está distante e que não quer saber dele, e que não demonstra nenhuma esperança de descendência. Benvólio até argumenta que é melhor substituí-la por alguém que é recíproca. Os "sonetos de procriação" de Shakespeare descrevem um outro jovem que, como Romeu, está tendo dificuldades para ter filhos e que é [[homossexual]]. Os críticos dessa teoria acreditam que Shakespeare pode ter utilizado Rosalina como forma de expressar os problemas íntimos que os homossexuais enfrentam por conta de suas faltas de procriação.<ref name="Goldberg_94_227">Goldberg (1994: 221–227).</ref> Nessa perspectiva, quando Julieta diz "O que chamamos rosa [os críticos dizem que ela faz alusão à [[Rosalina]], sob uma outra designação teria igual perfume",<ref>''Romeu e Julieta'', II.ii.43–44.</ref> talvez ela esteja levantando a questão de saber se existe alguma diferença entre a beleza de um homem e a beleza de uma mulher.<ref name="Goldberg_94_227"/>

== História das encenações ==
=== Época de Shakespeare ===
[[Ficheiro:RichardBurbage.jpg|upright|thumb|[[Richard Burbage]], o ator que mais provavelmente viveu o papel de Romeu pela primeira vez.<ref name="Halio 97">Halio (1998: 97).</ref>]]
''Romeu e Julieta'' figura — juntamente com ''[[Hamlet]]'' — um espaço que a coloca como uma das peças shakespearianas mais encenadas, conhecidas e adaptadas em todo o planeta.<ref name="awesome" /> Suas diversas adaptações a transformaram numa das histórias mais famosas e mais vigorosas de toda a literatura e arte em geral.<ref name="awesome">Halio (1998: ix).</ref> Mesmo na época de Shakespeare a peça era extremamente popular. O acadêmico Gary Taylor dizia que ela era a sexta peça mais famosa de Shakespeare (as cinco mais famosas são, em ordem decrescente, ''[[Henrique VI, Parte 1]]'', ''[[Ricardo III (peça)|Ricardo III]]'', ''[[Péricles, Príncipe de Tiro]]'', ''[[Hamlet]]'' e ''[[Ricardo II (peça)|Ricardo II]]''), no período após a morte de [[Christopher Marlowe]] e [[Thomas Kyd]], mas antes da popularidade de [[Ben Jonson]], que era o dramaturgo mais prestigiado de toda a [[Londres]] na época de Shakespeare.<ref name="Taylor_02_18">Taylor (2002: 18)</ref>

A data da primeira encenação da peça é desconhecida. O Primeiro Quarto (Q1), impresso em 1597, diz que "ela tem sido muitas vezes encenada e adquirido um grande público", o que nos dá a pista de que se realizaram encenações antes dessa data.<ref name="Taylor_02_18"/> O [[Lord Chamberlain's Men]] foi certamente o primeiro grupo a encená-la.<ref name="Taylor_02_18"/> Além de sua forte ligação com Shakespeare, [[William Kempe]] é nomeado no Segundo Quarto (Q2) como Pedro numa linha do Ato V.<ref name="Halio 97"/> [[Richard Burbage]] foi provavelmente o primeiro ator a fazer Romeu, já que ele era o líder da companhia e desempenhava os papéis dos [[protagonista]]s, e Master Robert Goffe (um homem) foi provavelmente a primeira Julieta, uma vez que na época as mulheres eram proibidas de desempenharem qualquer tipo de papel.<ref name="Halio 97"/> Através dessa formação, acredita-se que a primeira estréia da peça aconteceu no "[[The Theatre]]", com outras produções realizadas posteriormente no "[[The Curtain]]".<ref>Levenson (2000: 62).</ref> Além disso, ''Romeu e Julieta'' trata-se de uma das primeiras peças shakespearianas a serem encenadas fora da [[Inglaterra]]: uma breve versão da obra foi produzida em [[Nördlingen]] no ano de 1604.<ref>Dawson (2002: 176)</ref>

=== Século XVIII ===
Todos os teatros ingleses foram fechados pelo governo [[puritano]] em 6 de Setembro de 1642.<ref name="Marsden_2002_21">Marsden (2002: 21).</ref> Após a restauração da monarquia em 1660, duas companhias patentes de teatro (a Duke's Company e a King's Company) se uniram, e o repertório teatral ficou dividido entre as duas.<ref name="Marsden_2002_21"/>
[[Ficheiro:Mary Saunderson 17th century.jpg|thumb|upright|[[Mary Saunderson]], provavelmente a primeira atriz a ser Julieta profissionalmente.<ref name="Van Lennpe_65_65">Van Lennep (1965).</ref><ref name = "Halio 100">Halio (1998: 100–102).</ref>|left]]
[[William Davenant]], da Duke's Company, encenou uma adaptação de 1662 em que o ator Henry Harris desempenhou o papel de Romeu; [[Thomas Betterton]] era Mercúcio, e a esposa de Betterton, [[Mary Saunderson]], foi Julieta — ela foi provavelmente a primeira mulher a encenar o papel profissionalmente.<ref name="Van Lennpe_65_65"/><ref name="Halio 100"/> Outra versão, posterior a essa, seguiu de perto a adaptação de Davenant e era produzida regularmente pela Duke's Company. Era uma espécie de [[tragicomédia]] feita por James Howard, onde os dois amantes protagonistas acabam sobrevivendo no final.<ref>Levenson (2000: 71).</ref>

''The History and Fall of Caius Marius'', de [[Thomas Otway]], uma das adaptações de Shakespeare mais extremas da restauração, estreou em 1680. O enredo é totalmente diferente do original de Shakespeare: a cena é ambientada na [[Roma antiga]], em vez de ser na Verona da Renascença; Romeu passou a ser chamado de Mário e Julieta de Lavínia; a rixa é entre os [[patrícios]] e os [[plebeu]]s e Julieta/Lavínia acorda de sua aparente morte após Romeu/Mário morrer.<ref name="Halio 100"/> Essa versão de Otway foi um sucesso, e continuou a ser encenada nos setenta anos seguintes.<ref name="Halio 100"/> Sua inovação na cena final foi ainda mais duradoura, sendo utilizada ao longo de 200 anos: a adaptação de 1744 de [[Theophilus Cibber]] e de [[David Garrick]] em 1748 aproveitaram as variações da cena final criadas por Otway.<ref>Marsden (2002: 26-27).</ref> Essas duas últimas versões, no entanto, eliminaram elementos considerados inapropriados em suas épocas: Garrick, por exemplo, transferiu toda a linguagem referente a Rosalina para Julieta, com o objetivo de reforçar a idéia de fidelidade e de minimizar o tema do amor-a-primeira-vista.<ref>Branam (1984: 170–179)</ref><ref>Stone (1964: 191–206).</ref>

A primeira produção da peça conhecida na [[América do Norte]] foi amadora: em 23 de Março de 1730, um físico chamado Joachimus Bertrand anunciou no Jornal Gazeta, em Nova Iorque, que promoveria uma produção em que ele iria desempenhar o papel de boticário.<ref>Morrison (2007: 231).</ref> No entanto, as primeiras encenações profissionais na América do Norte foram as produzidas pela Companhia Teatral Hallam.<ref>Morrison (2007: 232).</ref>

=== Século XIX ===
[[Ficheiro:Charlotte and Susan Cushman - Romeo Juliet 1846.jpg|thumb|upright|Os irmãos Cushman, [[Charlotte Cushman|Charlotte]] e [[Susan Webb Cushman|Susan]], como Romeu e Julieta em 1846, na produção que preservava o texto de Shakespeare.<ref name="Halio 100"/> ]]
A versão de Garrick — que alterava grande parte do enredo — ficou bastante popular, sendo usada por quase um século.<ref name="Halio 100"/> Contudo, nenhuma encenação do texto original de Shakespeare havia regressado aos [[Estados Unidos]] até as irmãs [[Susan Webb Cushman|Susan]] e [[Charlotte Cushman]] a representarem em 1845, ambos como Romeu e Julieta, respectivamente,<ref>Gay (2002: 162).</ref> e então em 1847 na [[Grã-Bretanha]] com [[Samuel Phelps]] no Teatro Wells.<ref>Halliday (1964: 125, 365, 420).</ref> Os Cushman respeitaram a versão de Shakespeare, que teve início com uma sequência de oitenta e quatro encenações e sua representação de Romeu foi considerada como genial por muitos críticos: O ''[[The Times]]'', por exemplo, escreveu na época: "Por muito tempo Romeu tem sido muito convencional. O Romeu da senhorita Cushman é criativo, vivo, animado, um ser muito ardente."<ref>''[[The Times]]'' 30 de Dezembro de 1845, citado por Gay (2002: 162).</ref> A [[Vitória do Reino Unido|Rainha Vitória]], por sua vez, escreveu em seu jornal que "ninguém poderia imaginar que ela era uma mulher".<ref>Potter (2001: 194–195).</ref> O sucesso dos Cushman quebrou a tradição estabelecida primeiramente por Garrick e preparou o caminho para as encenações posteriores começarem a se focar na história original de Shakespeare.<ref name="Halio 100"/>

Em meados do século XIX, os espetáculos profissionais das obras de Shakespeare (incluindo ''Romeu e Julieta'') possuíam duas características particulares: em primeiro lugar, eram, geralmente, veículos que os atores encontravam para adquirir maior prestígio em suas carreiras, com o auxílio de papéis secundários muitas vezes marginalizados para dar maior destaque e foco aos personagens (e principalmente aos atores que os desempenhavam) centrais;<ref name="Levenson_00_84">Levenson (2000: 84)</ref> em segundo lugar, eram "pictóricos", cuja ação passava-se em espetaculares e elaborados palcos (exigindo longas pausas para a mudança de cenas) onde se usava frequentemente a técnica de ''tableaux''.<ref name="Levenson_00_84"/> [[Henry Irving]] produziu ''Romeu e Julieta'' em 1882 no Teatro Lyceum (ele próprio era Romeu e [[Ellen Terry]] era Julieta) cuja encenação ficou caracterizada como "o arquétipo do estilo pictórico."<ref>Schoch (2002: 62-63).</ref> Em 1895, Johnston Forbes-Robertson assumiu o lugar de Irving, e lançou as bases para uma imagem mais natural de Shakespeare que continua a ser popular ainda hoje, evitando a ostentação que Irving fazia e retratando os diálogos poéticos como uma prosa realista cujo objetivo era evitar os desempenhos melodramáticos.<ref>Halio (1998: 104-105).</ref>

No [[Japão]], George Crichton Miln produziu talvez a primeira encenação profissional da peça no país: sua companhia de teatro excursionou por toda a [[Yokohama]] em 1890.<ref>Holland (2002: 202–203)</ref> Ao longo do século XIX, ''Romeu e Julieta'' tinha sido uma das peças mais populares de Shakespeare, se formos nos focar ao número de encenações profissionais que se realizaram dando novas versões à peça.<ref name="Lavenson_00_6970">Levenson (2000: 69–70).</ref> No século XX, a obra passaria a ser a segunda mais popular de Shakespeare, atrás somente de ''[[Hamlet]]''.<ref name="Lavenson_00_6970"/>

=== Século XX ===
[[Ficheiro:Acervo Cedoc Funarte.jpg|thumb|left|[[Paulo Porto]] e [[Sônia Oiticica]] como Romeu e Julieta, na produção mais prestigiada da peça no [[Brasil]].]]
Ainda que não-profissionalmente, em 1904 a peça já era encenada no [[Brasil]], em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], tendo Eurico Cuneo na direção e, entre o elenco, encontravam-se a atriz [[Itália Fausta]].<ref>Sem Nome. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_biografia&cd_verbete=603&cd_item=29&id_evento=405610 "Romeu e Julieta, 1904 - São Paulo/SP"]. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm ''Enciclopédia Itaú Cultura Teatro'']. Acesso: 5 de Janeiro, 2009</ref> Com a produção do [[Teatro Universitário]], em 1945, no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[Nicette Bruno]] encenou a peça ao lado de outros nomes como [[Sérgio Britto]] e [[Sérgio Cardoso]], na direção de Esther Leão.<ref>Sem Nome. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_biografia&cd_verbete=603&cd_item=29&id_evento=398062 "Romeu e Julieta, 1945 - Rio de Janeiro/RJ"]. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm ''Enciclopédia Itaú Cultura Teatro'']. Acesso: 5 de Janeiro, 2009</ref> A versão brasileira que merece destaque, contudo, é a de 1938, produzida no Teatro São Caetano, também no Rio de Janeiro, que contava com um elenco com nomes como [[Antônio de Pádua]], Paulo Ventania Porto e [[Sônia Oiticica]] (estreando nos palcos).<ref name="ItauCultural1938">Sem Nome. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_biografia&cd_verbete=603&cd_item=29&id_evento=399269 "28/ 10/ 1938 - Rio de Janeiro/RJ"]. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm ''Enciclopédia Itaú Cultura Teatro'']. Acesso: 5 de Janeiro, 2009</ref> Nesta produção, [[Itália Fausta]] (a que era Julieta na encenação de 1904), dirigiu e coordenou o texto traduzido por Domingos Ramos, contando com a trilha sonora do músico F. Chiafitelli.<ref name="ItauCultural1938"/> Tal versão — que antecipou em vários procedimentos o advento da encenação moderna em território brasileiro —<ref name="ItaulCulturalJoaoCaetano">Sem Nome. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_biografia&cd_verbete=603&cd_item=28 "Romeu e Julieta, 28/ 10/ 1938 - Rio de Janeiro/RJ - Teatro João Caetano"]. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm ''Enciclopédia Itaú Cultura Teatro'']. Acesso: 5 de Janeiro, 2009</ref> conquistou, em particular, o público e a crítica da época (tanto [[mineira]] quanto [[paulista]]), além de receber diversos prêmios nacionais e internacionais, como também se apresentar em [[Londres]], [[Alemanha]], [[Madri]], e no próprio [[Globe Theatre]], onde a companhia teatral de Shakespeare fez as primeiras apresentações de suas obras.<ref name="ItaulCulturalJoaoCaetano"/> Por interpretar Julieta nessa produção, Sônia é conhecida hoje como a primeira atriz brasileira a desempenhar o papel.<ref name="SoniaItaulCultural">Sem Nome. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=849 "Oiticica, Sônia (1921 - 2007)"]. [http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm ''Enciclopédia Itaú Cultura Teatro'']. Acesso: 5 de Janeiro, 2009</ref> Além disso, sua interpretação lhe rendeu um enorme prestígio nos [[Teatro do Brasil|palcos brasileiros]].<ref name="SoniaItaulCultural"/> Houve uma recontextualização dessa produção, dirigida por [[Gabriel Villela]] 54 anos depois.<ref name="ItaulCulturalJoaoCaetano"/>
[[Ficheiro:Portrait of John Gielgud 2 by Carl Van Vechten cropped.jpeg|thumb|upright|[[John Gielgud]], que estava entre os atores mais famosos do século XX a interpretarem Romeu, Frei Lourenço e Mercúcio no palco.]]
Em 1935, [[John Gielgud]] realizou uma produção no Noël Coward Theatre onde ele era Romeu e [[Laurence Olivier]] era Mercúrio, embora ambos trocassem de papéis durante o prazo de seis semanas de encenação, com [[Peggy Ashcroft]] como Julieta.<ref name="Smallwood_02_102">Smallwood (2002: 102).</ref> Gielgud usou uma combinação acadêmica dos textos do Q1 e do Q2, organizando a locação e os figurinos para tentar fazer sua encenação ficar o mais próximo possível das produções que eram feitas no [[teatro isabelino]].<ref name="Smallwood_02_102"/> Seus esforços tiveram um enorme sucesso de bilheteria, e legaram às próximas produções um certo realismo histórico.<ref>Halio (1998: 105–107).</ref> Olivier, mais tarde, comparou seu desempenho com o de Gielgud, e disse: "John, completamente espiritual, inteiramente espirituoso, era o auge da beleza, um resumo de todas as coisas abstratas; e eu era como todos os da Terra, com sangue, humanidade... Sempre senti que John havia perdido o lado inferior ou humano das personagens, e isso me fez assumir essa outra parte... Mas seja lá como foi, quando eu estava desempenhando Romeu e carregava uma tocha, eu tentava vender o realismo que existe em Shakespeare."<ref>Smallwood (2002: 110).</ref>

Em 1947, a versão de [[Peter Brook]] marcou um estilo diferente de encenar ''Romeu e Julieta'': ela se preocupava menos com o realismo, enquanto voltava sua atenção a adaptar uma produção que falasse diretamente com seu mundo moderno.<ref name="Halio_98_1079">Halio (1998: 107–109).</ref> Quanto a isso, Brooke relatou certa vez: "Uma produção só é correta no momento de sua correção, e só é boa no momento de seu sucesso."<ref name="Halio_98_1079"/> No texto da sua produção teatral, Brooke excluiu a reconciliação final das duas famílias.<ref name="Levenson 2000: 87">Levenson (2000: 87).</ref>

Ao longo do século XX, as audiências, influenciadas pelo cinema, tornaram-se cada vez menos dispostas a aceitarem atores distintos e mais velhos do que atores juvenis e adolescentes para encenaram a dupla protagonista de amantes.<ref>Holland (2001: 207).</ref> Um exemplo significativo de elenco juvenil foi na produção do [[Old Vic]], realizada por [[Franco Zeffirelli]], em 1960, com John Stride e [[Judi Dench]], que serviu como base para seu famosíssimo [[Romeo and Juliet (1968)|filme de 1968]].<ref name="Levenson 2000: 87"/> Zeffirelli baseou-se em algumas idéias fixadas por Brooke, e, com isso, retirou cerca de um terço do texto da peça, a fim de torná-lo mais acessível e adequado à sua produção.<ref name="Levenson 2000: 87"/> Numa entrevista ao ''[[The Times]]'', Zeffirelli declarou o seguinte: "Na peça, o tema do amor e da desagregação entre duas gerações possui uma relevância extremamente contemporânea."<ref>''[[The Times]]'' 19 de Setembro de 1960, citado por Levenson (2000: 87).</ref>

Encenações mais recentes definiram, de certa forma, o modo contemporâneo de produzir ''Romeu e Julieta'': em 1986, por exemplo, a [[Royal Shakespeare Company|Companhia Real de Shakespeare]] colocou o enredo da peça numa moderna [[Verona]], substituindo [[Punhal|punhais]] ou [[espada]]s por [[canivete]]s, os bailes e as cerimônias tradicionais por festas de [[rock]], enquanto Romeu comete suicídio através de uma agulha hipodérmica.<ref>Halio (1998: 110).</ref> Em 1997, a Livraria Folger de Shakespeare, que reúne uma vasta coleção impressa das obras do dramaturgo, produziu uma versão colocando o enredo num [[Subúrbio|mundo suburbano]], onde Romeu pula a churrasqueira do edifício de Julieta para encontrar-se com ela, e onde também Julieta descobre a morte de Tebaldo quando estava em sua classe na escola.<ref>Halio (1998: 110–112).</ref>

Por vezes, a peça atribuiu uma locação histórica em seu enredo, permitindo ao público refletir sobre conflitos subjacentes: um exemplo são as adaptações que foram fixadas no meio do [[Conflito israelo-palestino]],<ref>Pape (1997: 69).</ref> no [[apartheid]] da [[África do Sul]],<ref>Quince (2000: 121–125).</ref> e no rescaldo do Pueblo Revolt.<ref>Lujan (2005).</ref> Da mesma forma, [[Peter Ustinov]], em 1956, adaptou a peça (agora sob o nome de ''Romanoff e Julieta'') para um lado cômico, cuja locação é um fictício país da [[Europa]] que está nas profundezas da [[Guerra Fria]].<ref name="Howard 2000: 297">Howard (2000: 297).</ref> Em 1980, uma versão revisionista de ''Romeu e Julieta'' incluiu um final feliz na trama, onde Romeu, Julieta, Mercúrio e Páris não morrem, e onde Benvólio, disfarçado de mulher, diz que o último desses quatro é sua verdadeira paixão.<ref>Edgar (1982: 162).</ref> Joel Calarco, em seu ''R & J de Shakespeare'', adapta a trama para um conto moderno de dois adolescentes homossexuais que se amam.<ref>Marks (1997).</ref>

== Influência artística ==
=== Música ===
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#ddeeff; color:black; width:30em; max-width: 25%;" cellspacing="0"
| style="text-align: left;" |
"Romeo loved Juliet<br />Juliet felt the same<br />When he put his arms around her<br />He said Julie, baby, you're my flame<br />Thou givest fever..."
|-
| style="text-align: right;" |—"[[Fever]]" cantada por [[Peggy Lee|Peggy Lee's]].<ref>Buhler (2007: 156); Sanders (2007: 187).</ref>
|}
Cerca de 24 [[ópera]]s foram baseadas em ''Romeu e Julieta''.<ref>Meyer (1968: 36–38).</ref> A mais antiga, ''[[Romeo und Julie]]'' de 1776, um [[Singspiel]] de [[Georg Benda]], omite muito da ação da peça teatral e a maioria de seus personagens, e tem um final feliz. É remontada ocasionalmente. A mais conhecida é a de [[Charles Gounod|Gounod]], de 1887, ''[[Roméo et Juliette]]'' ([[libreto]] de [[Jules Barbier]] e [[Michel Carré]]), um triunfo em termos de crítica quando foi apresentada pela primeira vez, é sempre remontada nos dias de hoje.<ref>Sadie (1992: 31); Holden (1993: 393).</ref>[[I Capuleti e i Montecchi]]'' de [[Vincenzo Bellini|Bellini]] é sempre apresentada de tempos em tempos, mas é, às vezes, depreciada, por causa de suas notórias liberdades com Shakespeare; entretanto, Bellini e seu libretista, [[Felice Romani]], trabalharam a partir de fontes italianas—principalmente o libreto de Romani para uma ópera de [[Nicola Vaccai]]—ao invés de adaptar diretamente da peça de Shakespeare.<ref>Collins (1982: 532–538).</ref>

''[[Roméo et Juliette (sinfonia)|Roméo et Juliette]]'' de [[Hector Berlioz|Berlioz]] é uma "sinfonia dramática", uma obra faraônica em três partes para vozes mistas, coro e orquestra, que estreou em 1839.<ref>Sanders (2007: 43-45).</ref> A Abertura-fantasia de [[Pyotr Ilyich Tchaikovsky|Tchaikovsky]] (de 1869, revisada em 1870 e 1880) é um longo [[poema sinfônico]], que contém a famosa melodia conhecida como "tema do amor".<ref>Stites (1995: 5).</ref> A invenção de Tchaikovsky de repetir o mesmo tema musical no baile, na cena do terraço, no quarto de Julieta e na tumba<ref>''Romeo and Juliet'' I.v, II.ii, III.v, V.iii.</ref> foi usada por diretores que o seguiram: por exemplo, o tema do amor de [[Nino Rota]] é usado de modo semelhante no filme de 1968 sobre a peça, como também em [[Kissing You (Des'ree song)|Kissing You]] de [[Des'ree|Des'ree's]] no filme de 1996.<ref>Sanders (2007: 42–43).</ref> Outros compositores clássicos influenciados pela peça incluem [[Johan Svendsen|Svendsen]] (''Romeo og Julie'', 1876), [[Frederick Delius|Delius]] (''[[A Village Romeo and Juliet]]'', 1899–1901) e [[Wilhelm Stenhammar|Stenhammar]] (''Romeo och Julia'', 1922).<ref>Sanders (2007: 42).</ref>

A mais conhecida versão para balé é o "[[Romeu e Julieta (Prokofiev)|Romeu e Julieta]]" de [[Prokofiev]].<ref>Nestyev (1960: 261).</ref> Originalmente designada para o Balé Kirov, foi por eles rejeitada, quando Prokofiev tentou escrever um final feliz, e foi rejeitada novamente pela natureza experimental de sua música. Posteriormente, adquiriu "imensa" reputação e foi coreografada por [[John Cranko]] (1962) e [[Kenneth MacMillan]] (1965), dentre outros.<ref>Sanders (2007: 66–67)</ref>

A peça influenciou várias obras do [[jazz]], incluindo ''[[Fever (1956 song)|Fever]]'' de [[Peggy Lee]].<ref>Sanders (2007: 187).</ref> ''[[Such Sweet Thunder]]'' de [[Duke Ellington]] contém uma peça intitulada "The Star-Crossed Lovers"<ref>''Romeo and Juliet'' I.0.6.</ref> na qual o casal é representado por saxofones altos e tenores: críticos observaram que os saxofones de Julieta dominam a peça, em vez de oferecerem uma imagem de igualdade.<ref>Sanders (2007: 20).</ref> A peça tem influenciado, frequentemente, a [[música popular]], incluindo obras de [[The Supremes]], [[Bruce Springsteen]], [[Tom Waits]] e [[Lou Reed]].<ref>Sanders (2007: 187)</ref> A mais famosa trilha desse tipo é a canção "Romeo and Juliet" de [[Dire Straits]]<ref>Buhler (2007: 157)</ref>

A mais famosa adaptação para teatro musical é a ''[[West Side Story]]'' com música de [[Leonard Bernstein]] e letra de [[Stephen Sondheim]]. Debutou na Broadway em 1957 e no [[West End]] em 1958, e se tornou um filme popular em 1961. Essa versão atualizou a montagem para a Nova Iorque da metade do século XX, e as famílias guerreiras para gangues raciais.<ref>Sanders (2007: 75-76).</ref> Outras adaptações musicais incluem o rock musical de 1999 ''William Shakespeare's Romeo and Juliet'' de [[Terrence Mann|Terrence Mann's]], com parceria de Jerome Korman,<ref>Ehren (1999).</ref> ''[[Roméo et Juliette, de la Haine à l'Amour]]'' de Gérard Presgurvic, de 2001, e ''[[Giulietta e Romeo (musical)|Giulietta & Romeo]]'' de [[Riccardo Cocciante]], de 2007.<ref>Arafay (2005: 186).</ref>

=== Literatura e arte ===
''Romeu e Julieta'' atribuiu uma profunda influência na literatura posterior a ela. Anteriormente, contudo, a trama nunca tinha sido vista como digna de tragédia.<ref>Levenson (2000: 49-50).</ref> Nas palavras de [[Harold Bloom]], Shakespeare "inventou a fórmula pelo qual o elemento sexual ficou associado com o elemento erótico quando atravessa as sombras da morte."<ref>Bloom (1998: 89).</ref> Das obras de Shakespeare, ''Romeu e Julieta'' tem gerado as mais variadas adaptações, sejam em trabalhos produzidos em versos narrativos ou em prosa, e também em [[drama]], [[ópera]], [[orquestra]] e [[balé]], [[cinema]], [[televisão]] e [[pintura]].<ref>Levenson (2000: 91)</ref> Na [[língua inglesa]], a palavra "Romeu" se tornou [[sinônimo]] de "amante masculino".<ref>"Romeu", ''Merriam-Webster Online''.</ref>
[[Ficheiro:Capa Original de Inocência de Taunay.jpg|thumb|upright|Capa original de ''[[Inocência (livro)|Inocência]]'' (1872), de [[Visconde de Taunay]]: a obra é considerada "O Romeu e Julieta sertanejo".]]
''Romeu e Julieta'' foi [[Paródia|parodizada]] na época de Shakespeare: em ''As Duas Furiosas Mulheres de Abingdon'' (1598), de [[Henry Porter]], e em ''Blurt, Master Constable'' (1607), de [[Thomas Dekker]], existe a cena da varanda, onde uma heroína virgem diz palavras indecentes.<ref>Bly (2001: 52)</ref> Em outra perspectiva, a peça shakespeariana influenciou, mais posteriormente, outros [[Literatura|trabalhos literários]], como ''[[Nicholas Nickleby]]'', de [[Charles Dickens]].<ref>Muir (2005: 352–362).</ref> Em [[Portugal]], [[Camilo Castelo Branco]] publicou, em 1862, ''[[Amor de Perdição]]'', considerada uma espécie de "Romeu e Julieta lusitano".<ref name="RomeuJulietaLusitano">Estudo de ''Amor de Perdição'' apresentado na edição do livro do ''[[O Estado de São Paulo]]'', [http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/amordeperdicao "Análise de ''Amor de Perdição''"]. Acesso: 20 de fevereiro, 2009</ref> Talvez isso se deva pelo fato da obra pertencer ao [[Ultrarromantismo em Portugal|Ultrarromantismo português]],<ref name="RomeuJulietaLusitano"/> tendo similaridades com a peça shakespeariana no sentido de narrar a inimizade entre as famílias de Simão e Tereza, que se amam perdidamente, e acabam tendo um fim trágico.<ref>Branco, Camilo Castelo; ''Amor de Perdição'', Série Bom Livro, Editora Ática, 22ª edição, p.137</ref> Exatamente dez anos após a publicação de ''Amor de Perdição'', era publicado ''[[Inocência (livro)|Inocência]]'', romance regionalista do [[Alfredo d'Escragnolle Taunay|Visconde de Taunay]], que possui muitas conexões com a obra de Castelo Branco (como a personagem Inocência ter sido inspirada em Teresa).<ref>Machado, A. Irene. [http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/inocencia "Estudo de Inocência"], em [http://www.portrasdasletras.com.br/ Por Trás das Letras]. Acesso: 20 de Novembro, 2008</ref> A obra de Taunay — além de abrir cada capítulo com citações de [[Goethe]], [[Rosseau]], [[Cervantes]], [[Ovídio]], [[Molière]], [[Walter Scott]], [[Eurípedes]], e do próprio Shakespeare — é frequentemente chamada de "O Romeu e Julieta sertanejo".<ref name="RomeuJulietaSertanejo">Lorena Bezerra, "O Romeu e Julieta sertanejo.", Crítica literária publicada no Jornal Diário de Pernambuco, [[Recife]], [[Pernambuco]], 1998-2000.</ref> Tanto o livro de Taunay como o livro de Castelo Branco possuem estruturas semelhantes à peça de Shakespeare: os protagonistas participam de um amor recíproco, porém impossível, e, além de terminarem num final trágico, possuem a ajuda de uma terceira pessoa que quer vê-los juntos.<ref name="RomeuJulietaSertanejo"/> No Brasil, em 1978 foi lançado uma versão paródica da [[Turma da Mônica]], ''[[Mônica e Cebolinha – No Mundo de Romeu e Julieta]]'', que foi publicada em quadrinhos, teatro, televisão e LP.<ref>Nasi, Eduardo. [http://www.universohq.com/quadrinhos/2010/review_TurmaMonica-RomeuJulieta.cfm "TURMA DA MÔNICA - ROMEU E JULIETA"], Universo HQ (15/01/10)</ref>

De todas as obras de Shakespeare, a peça dos dois amantes é um de seus trabalhos que mais foram ilustrados.<ref>Fowler (1996: 111)</ref> A primeira [[ilustração]] conhecida da peça foi uma [[xilogravura]] retratando a cena do túmulo,<ref>''Romeu e Julieta'', V.iii.</ref> que talvez pertencesse a Elisha Kirkall, cuja primeira impressão foi em 1709, numa edição das peças de William Shakespeare, produzida por [[Nicholas Rowe]].<ref>Fowler (1996:112–113).</ref> No século XVIII, a Galeria Boydell Shakespeare encomendou cinco pinturas da peça que retratassem cada um dos cinco atos da trama.<ref>Fowler (1996: 120).</ref> No século XIX, a moda de produzir encenações teatrais "pictoriais" levou a direções que se inspirassem nas pinturas produzidas especialmente para as cenas da peça, que, por sua vez, influenciou pintores a desenharem atores e cenas de teatro.<ref>Fowler (1996: 126–127)</ref> No século XX, os ícones visuais da peça derivavam das produções cinematográficas famosas.<ref name="Orgel 2007: 91">Orgel (2007: 91).</ref>

=== Cinema ===
''Romeu e Julieta'' talvez seja a peça mais transportada para as estruturas cinematográficas de todos os tempos.<ref name="Brode 2001: 42">Brode (2001: 42).</ref> As mais famosas produções foram a [[Romeo and Juliet (1936)|produção de 1936]], de [[George Cukor]], que ganhou mais de um [[Oscar]], a [[Romeo and Juliet (1968)|versão de 1968]] do diretor [[Franco Zeffirelli]], e ''[[Romeo + Juliet|Romeu + Julieta]]'', de [[Baz Luhrmann]]. Essas duas últimas foram, em sua época, as produções que tratavam de Shakespeare que mais bateram recorde de vendas.<ref>Rosenthal (2007: 225).</ref> ''Romeu e Julieta'' foi filmada pela primeira vez na era do [[cinema mudo]] por [[Georges Méliès]], embora seu vídeo esteja perdido hoje em dia.<ref name="Brode 2001: 42"/> A primeira versão cinematográfica da peça no cinema falado foi em ''[[The Hollywood Revue of 1929]]'', onde [[John Gilbert]] e [[Norma Shearer]] interpretavam a cena da sacada.<ref>Brode (2001: 43).</ref>

Shearer e [[Leslie Howard]], com mais de 75 anos na soma das suas idades, desempenharam os amantes adolescentes na [[Romeo and Juliet (1936)|versão de 1936]], de [[George Cukor]]. Tanto o público quanto os críticos reprovaram tal versão. O críticos consideraram o filme muito "artificial", ficando de fora assim como ''[[A Midsummer Night's Dream (1935)]]'' havia ficado um ano antes: liderando Holywood a abandonar as adaptações de Shakespeare por uma década.<ref>Brode (2001: 48).</ref> Renato Castellani ganhou o [[Leão de Ouro]] no [[Festival de Veneza]] por sua versão de 1954.<ref>Tatspaugh (2000: 138).</ref> [[Laurence Harvey]], como Romeu, já era um ator experiente nas telas.<ref>Brode (2001: 48–9)</ref> Susan Shentall, contudo, como Julieta, era uma secretária anônima descoberta pelo diretor, que se disse interessado em contratá-la.<ref>Brode (2001: 51) citando Renato Castellani.</ref>

O estudioso Stephen Orgel descreve o [[Romeo and Juliet (1968)|''Romeu e Julieta'' de 1968]], do diretor [[Franco Zeffirelli]], como "cheio de beleza e juventude, com câmeras e luzes exuberantes, que contribuíram para a impressão da energia sexual e da boa aparência da peça."<ref name="Orgel 2007: 91"/> Nesse filme, os protagonistas Leonard Whiting e [[Olivia Hussey]] já eram atores experientes.<ref>Brode (2001: 51–52); Rosenthal (2007: 218).</ref> Zeffirelli foi bastante elogiado por essa produção,<ref>Por exemplo, Anthony West da ''[[Vogue (revista)|Vogue]]'' e Mollie Panter-Downes da ''[[The New Yorker]]'' foram dois jornalistas que elogiaram o filme; citados por Brode (2001: 51–53).</ref> principalmente na cena do duelo onde a fanfarronice fica fora de controle.<ref>Brode (2001: 53).</ref> O filme também criou certa controvérsia por conta da aparição do nu dos atores na cena da lua de mel,<ref>''Romeo and Juliet'', III.v.</ref> principalmente pelo fato de Olivia Hussey, a Julieta, ter apenas dezasseis anos na altura em que o filme foi filmado.<ref>Rosenthal (2007: 218-220).</ref>

[[Baz Luhrmann]], com seu ''[[Romeo + Juliet|Romeu + Julieta]]'' (1996) e sua trilha sonora, atraiu para os cinemas um público bastante jovem.<ref>Tatspaugh (2000: 140).</ref> Mais obscura que a versão de Zeffirelli, o filme foca-se na "sociedade grosseira, violenta e superficial" da Verona Beach e Sycamore Grove.<ref>Tatspaugh (2000: 142).</ref> [[Leonardo DiCaprio]] atuou como Romeu, e [[Claire Danes]], como Julieta, foi elogiada pelos críticos por ter retratado com sabedoria a personagem embora sua pouca experiência nas telas, além de ter sido aclamada como "a primeira Julieta do cinema cujos discursos soaram de maneira espontânea".<ref name="Rosenthal224">Rosenthal (2007: 224).</ref>

Em 2005, o brasileiro [[Bruno Barreto]] dirigiu a comédia ''[[O Casamento de Romeu e Julieta]]'', que trazia [[Luana Piovani]] e [[Marco Ricca]] nos papéis principais. Nessa produção, que se passava em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], as famílias de cada um também eram rivais, mas pelo fato de que torciam por [[time]]s diferentes: a família de Julieta torcia para o [[Palmeiras]], enquanto que a família de Romeu torcia para o [[Corinthians]].<ref name="AdoroCinemaBrasileiro">[http://www.adorocinemabrasileiro.com.br/filmes/casamento-de-romeu-e-julieta/casamento-de-romeu-e-julieta.asp Filmes: O Casamento De Romeu E Julieta], em [http://www.adorocinemabrasileiro.com.br Adoro Cinema Brasileiro]. Acesso: 21 de fevereiro, 2009</ref> Embora tenha sido livremente inspirado na peça, o filme também é baseado num conto de [[Mario Prata]], "Palmeiras, Um Caso de Amor".<ref name="AdoroCinemaBrasileiro"/> O filme recebeu críticas razoáveis, que não o consideraram um grande filme, mas "divertido, assim como é uma partida de [[futebol]]."<ref>Victor Melo, [http://grupoanima.org/o-casamento-de-romeu-e-julieta-por-victor-melo/ "''O Casamento de Romeu e Julieta'', de Bruno Barreto"]. Disponível em http://grupoanima.org/ Acesso: 21 de fevereiro, 2009</ref> Outras críticas consideraram Ricca como um ator mediano na área da comédia, e que seu relacionamento com a Julieta de Piovani "deixa muito a desejar."<ref>Sem nome. [http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI5375-MNfilmes,00.html "Futebol é pano de fundo em ''O Casamento de Romeu e Julieta''"] (2004), em [http://cinema.terra.com.br ''Terra Cinema'']. Acesso: 21 de fevereiro, 2009</ref>

Em 2006, ''[[High School Musical]]'', da [[Disney]], utilizou o enredo de ''Romeu e Julieta'', substituindo as famílias rivais por duas "panelinhas" da escola.<ref>Daily Mail {{Citar web|url=http://www.dailymail.co.uk/tvshowbiz/article-404621/Disneys-teenage-musical-phenomenon-premieres-London.html|título=Disney's teenage musical 'phenomenon' premieres in London|acessodata=2007-08-19|data=September 11, 2006|obra=Daily Mail}}</ref> Os diretores têm frequentemente utilizado personagens para encenarem determinadas cenas de ''Romeu e Julieta''.<ref>McKernan e Terris (1994: 141–156) listam 39 instâncias de usos de ''Romeu e Julieta'', não incluindo filmes que sejam adaptações da peça.</ref> O [[conceito]] de dramatização da peça shakespeariana tem sido muito usada através dos tempos,<ref>Lanier (2007: 96); McKernan e Terris (1994: 146).</ref> como aconteceu em 1998, com o lançamento de ''[[Shakespeare in Love|Shakespeare Apaixonado]]'', do diretor [[John Madden]], em que o personagem Shakespeare acaba finalizando a tal obra por conta de seu próprio amor por uma jovem.<ref>Howard (2000: 310); Rosenthal (2007: 228).</ref>

== Indícios históricos ==
:''"Vê, descuidoso, na aflição tamanha,''
:''Capelletti e Montecchi entristecidos.''
:''Monaldi e Filippeschi, alvo de sanha."''<ref name="DanteDivinaEbook">Dante, ''A Divina Comédia'', Purgatório, Trad. José Pedro Xavier Pinheiro (1822-1882). Disponível online em http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/purgatorio.html / Trecho retirado de http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/purgatorio.html#PG6</ref>
:([[Dante Alighieri|Dante]], ''[[A Divina Comédia]]'' — [[A Divina Comédia#Purgatório|Purgatório]], Canto VI, Linha 106)

[[Ficheiro:Casa Giulietta.jpg|thumb|"Casa de Julieta", em [[Verona]], [[Itália]], que atrai milhares de visitantes todos os anos.]]
[[Verona]] — cidade que Shakespeare escolheu para sua peça — trata-se das mais prósperas do norte da [[Itália]].<ref name="ManualTurista">Sem nome. [http://www.manualdoturista.com.br/detalhes6.ASP?pesquisa=1203 "Itália (2) Norte - Verona"], em [http://www.manualdoturista.com.br/ Manual do Turista]. Acesso: 21 de fevereiro, 2009</ref> A cidade atrai cada vez mais jovens, casais, e namorados, por ter ganhado a fama de "cidade de Romeu e Julieta".<ref name="ManualTurista"/> Possuindo um patrimônio arquitetônico e histórico muito preservado, Verona carrega em seu território um anfiteatro romano, um castelo da [[Idade Média]], palácios e igrejas medievais.<ref name="ManualTurista"/> Além dessas atrações, e de outras, como o [[Castelvecchio]], Verona possui a "Casa de Julieta" que, embora não carregue nenhuma prova de que os Montecchios e os Capuletos realmente tenham morado por ali, atrai muitos visitantes. A construção da casa se iniciou no século XVIII, e talvez tenha sido de propriedade dos Cappellos.<ref name="ManualTurista"/> No interior da construção existe uma estátua de bronze de Julieta, [[afresco]]s da peça, e um balcão com um pouco da biografia de Shakespeare.<ref name="ManualTurista"/> Criou-se a lenda de que dá sorte no amor tocar o seio esquerdo da estátua de Julieta.<ref name="ManualTurista"/>

Na verdade, a questão sobre se Romeu e Julieta, e, consecutivamente, os Montecchios e os Capuletos, existiram, é antiga. Talvez um dos motivos da grande dúvida sobre a veracidade histórica da peça é o fato de que o enredo passeou pelos séculos até ser melhor aproveitado por Shakespeare,<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta">Rainer Souza, [http://www.brasilescola.com/historia/romeu-julieta-romance-ou-historia.htm "Romeu e Julieta: romance ou História?"], em [http://www.brasilescola.com Brasil Escola]. Acesso: 21 de fevereiro, 2009</ref> como vimos na seção ''[[Romeo and Juliet#Fontes textuais|Fontes textuais]]''. Há registros de que Giralomo della Corte, um italiano que viveu na mesma época de Shakespeare, afirmava que o relacionamento dos jovens amantes havia ocorrido em 1303, embora não se tenha certeza sobre isso.<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/> O único elemento comprovado é que as famílias Montecchi e Capelletti realmente existiram, embora não se saiba se moravam na [[Península Itálica]], ou se eram rivais.<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/>

Outras fontes literárias que fazem alusões às duas famílias é ''[[A Divina Comédia]]'', do italiano [[Dante Alighieri]], escrita entre 1308 e sua morte em 1321. Nesse poema, Dante cita os Montecchi e Capelletti como participantes de uma disputa comercial e política que se deram na Itália.<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/> Em Dante, ambas as famílias estão no [[Purgatório]], tristes, e desoladas.<ref name="DanteDivinaEbook"/> Muitos estudiosos discordam que essas famílias tenham existido, mas o historiador Olin Moore acredita que seria um desígnio para dois importantes partidos políticos que eram rivais em território italiano: os [[Gibelinos]] e os [[Guelfo]]s.<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/> Outra fonte literária se encontra em [[Luigi da Porto]] (já citado em ''[[Romeo and Juliet#Fontes textuais|Fontes textuais]]''), que também citava as famílias como rivais, e [[Lope de Vega]], como também [[Matteo Bandello]], que enriqueceu a fábula e o enredo.<ref>Arêas, Alcebíades Martins; Cambeiro, Delia. [http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno04-01.html "A Instigante Prosa de Matteo Bandello"], em [http://www.filologia.org.br/ Filologia.org]. Acesso: 21 de Fevereiro, 2009</ref>

Não há nenhuma evidência quanto todas essas suspeitas, guardadas na literatura italiana e em Shakespeare. Mas as várias citações às duas famílias tem excitado o público e a crítica para investigarem sobre a questão. Para o histórico Rainer Sousa, "o amor trágico e desmedido de Romeu e Julieta parece instaurar um arquétipo de um amor ideal, muitas vezes, distante das experiências afetivas cotidianamente experimentadas."<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/> Rainer ainda afirma que "talvez por isso, tantos acreditam (ou pelo menos torcem) para que um amor sem medidas como do casal shakespeariano tivesse acontecido."<ref name="BrasilEscolaRomeuJulieta"/>

== Notas ==
{{refbegin}}
'''a.''' {{Note_label|A|a|none}} '''''Quarto''''': é um termo (usado na [[idade moderna]]) na [[impressão]], que se refere ao tamanho de um livro, geralmente impresso sobre duas faces de grandes folhas de papel, medindo 23&nbsp;cm por 30&nbsp;cm, aproximadamente o tamanho da maioria das [[revista]]s de hoje em dia.
{{refend}}

== Referências ==
=== Fontes ===
<div class="references-small">Sobre o sistema que referencia alguma passagem do texto da peça: 3.1.55 (p. ex.) significa ato 3, cena 1, página 55. Acerca das outras notas abaixo, o(s) nome(s) do(s) autor(es) aparece(m) antes de parênteses que contém o número da edição e, consecutivamente, o(s) número(s) da(s) página(s) correspondente(s) à fonte. Para avaliar as obras que foram utilizadas como fontes, dirija-se à subseção bibliografia.</div>
{{reflist|2}}

=== {{Bibliografia}} ===
<div class="references-small">A bibliografia em língua portuguesa sobre as peças de Shakespeare são muito escassas quando se trata de uma análise profunda e abrangente sobre suas obras, e a maioria das informações quanto ao assunto que podemos encontrar hoje em dia são em documentos acadêmicos muitas vezes desenvolvidos pelas universidades. Em contrapartida, muitos críticos e autores ingleses (ou necessariamente os que escrevem em língua inglesa) têm contribuído de forma significativa para uma bibliografia que vise preencher esse caminho, muito provavelmente porque Shakespeare fala sua língua e é de sua nacionalidade. Abaixo um pouco dessas fontes:</div>
<div class="references-small" style="-moz-column-count:2; column-count:2">
* {{citar periódico
|título = "Steing to the Wall": The Pressures of Masculinity in Romeo e Juliet
|sobrenome = Appelbaum
|nome = Robert
|ano = 1997
|periódico = ''Shakespeare Quarterly''
|publicação = Folger Shakespeare Library
|volume = 48
|número = 3
|issn = 00373222
|doi = 10.2307/2871016
}}
* {{ref-livro
|título = Books in Motion: Adaptation, Adaptability, Authorship
|sobrenome = Arafay
|nome = Mireia
|ano = 2005
|publicação = Editions Rodopi BV
|isbn = 9789042019577
}}
* {{ref-livro|título = Shakespeare: The Invention of the Human
|sobrenome = Bloom
|nome = Harold
|publicação = Riverhead Books
|local = New York
|ano = 1998
|isbn = 1573221201
}}
* {{ref-livro
|título = Shakespeare e Sexuality
|capítulo = The Legacy of Juliet's Desire in Comedies of the Early 1600s
|sobrenome = Bly
|nome = Mary
|editor = Margaret M. S. Alexeer; Wells, Stanley
|ano = 2001
|páginas = 52–71
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 0521804752
}}
* {{citar periódico|título = Romeo e Juliet: A Possible Significance?
|ultimo = Bonnard
|primeiro = Georges A.
|ano = 1951
|periódico = Review of English Studies
|volume = II
|número = 5
|páginas = 319–327
|doi = 10.1093/res/II.5.319
}}
* {{citar periódico|título = The Thematic Framework of Romeo e Juliet
|ultimo = Bowling
|primeiro = Lawrence Edward
|ano = 1949
|periódico = Modern Language Association
|volume = 64
|número = 1
|páginas = 208–220
|doi = 10.2307/459678
}}
* {{citar periódico|título = The Genesis of David Garrick's Romeo e Juliet
|ultimo = Branam
|primeiro = George C.
|ano = 1984
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 35
|número = 2
|páginas = 170–179
|doi = 10.2307/2869925
}}
* {{ref-livro|título = Shakespeare in the Movies: From the Silent Era to Today
|sobrenome = Brode
|nome = Douglas
|ano = 2001
|publicação = Berkley Boulevard Books
|local = New York
|isbn = 0425181766
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare e Popular Culture
|capítulo = Musical Shakespeares: attending to Ophelia, Juliet, e Desdemona
|sobrenome = Buhler
|nome = Stephen M.
|editor = Shaughnessy, Robert (ed.)
|ano = 2007
|páginas = 150–174
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521605809
}}
* {{citar periódico
|título = The Literary Background of Bellini's ‘I Capuleti ed i Montecchi’
|ultimo = Collins
|primeiro = Michael
|ano = 1982
|periódico = Jornal da Sociedade Americana de Musicologia
|volume = 35
|número = 3
|páginas = 532–538
|doi = 10.1525/jams.1982.35.3.03a00050
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = International Shakespeare
|sobrenome = Dawson
|nome = Anthony B.
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 174–193
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{citar periódico|título = Shakespeare's ‘Star-Crossed Lovers’
|ultimo = Draper
|primeiro = John W.
|ano = 1939
|periódico = Review of English Studies
|volume = os-XV
|número = 57
|páginas = 16–34
|doi = 10.1093/res/os-XV.57.16
}}
* {{citar periódico
|título = The Shakespearian Clock: Time e the Vision of Reality in ''Romeo e Juliet'' e ''The Tempest''
|ultimo = Driver
|primeiro = Tom F.
|ano = 1964
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 15
|número = 4
|páginas = 363–370
|doi = 10.2307/2868094
}}
* {{ref-livro
|sobrenome = Edgar
|nome = David
|authorlink = David Edgar (dramaturgo)
|título = The Life e Adventures of Nicholas Nickleby
|publicação = Dramatists' Play Service
|ano = 1982
|location = New York
|isbn = 0822208172
}}
* {{citar web|url=http://www.playbill.com/news/article/47546.html
|título = Sweet Sorrow: Mann-Korman's Romeo e Juliet Closes Sept. 5 at MN's Ordway
|sobrenome = Ehren
|nome = Christine
|dateformat = dmy
|accessdate = 13 August 2008
|date = 3 September 1999
|publicação = [[Playbill]]
}}
* {{citar periódico|título = The Brevity of Friar Laurence
|ultimo = Evans
|primeiro = Bertre
|ano = 1950
|periódico = PMLA
|volume = 65
|número = 5
|páginas = 841–865
|doi = 10.2307/459577
}}
* {{citar periódico
|título = Picturing Romeo e Juliet
|ultimo = Fowler
|primeiro = James
|ano = 1996
|editor = Stanley Wells
|periódico = Shakespeare Survey
|publicação = Cambridge University Press
|volume = 49
|páginas = 111–129
|isbn = 0521570476
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Women e Shakespearean Performance
|sobrenome = Gay
|nome = Penny
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 155–173
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet
|sobrenome = Gibbons
|nome = Brian (ed.)
|ano = 1980
|series = The Arden Shakespeare Second Series
|publicação = Thomson Learning
|local = London
|isbn = 9781903436417
}}
* {{ref-livro|título = Queering the Renaissance
|sobrenome = Goldberg
|nome = Jonathan
|ano = 1994
|publicação = Duke University Press
|local = Durham
|isbn = 0822313855
}}
* {{ref-livro
|sobrenome = Groves
|nome = Beatrice
|título = Texts e Traditions: Religion in Shakespeare, 1592–1604
|publicação = Oxford University Press
|ano = 2007
|location = Oxford, Engle
|isbn =0199208980
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet: A Guide to the Play
|sobrenome = Halio
|nome = Jay
|ano = 1998
|publicação = Greenwood Press
|local = Westport
|isbn = 0313300895
}}
* {{ref-livro|título = A Shakespeare Companion 1564–1964
|sobrenome = Halliday
|nome = F.E.
|authorlink = F. E. Halliday
|ano = 1964
|publicação = Penguin
|local = Baltimore
}}
* {{ref-livro|título = The Viking Opera Guide
|author = Holden, Amea (Ed.) et al
|ano = 1993
|publicação = Viking
|local = London
|isbn = 0670812927
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare
|capítulo = Shakespeare in the Twentieth-Century Theatre
|sobrenome = Holle
|nome = Peter
|editor = Wells, Stanley; deGrazia Margreta
|ano = 2001
|páginas = 199–215
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 0521658810
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Touring Shakespeare
|sobrenome = Holle
|nome = Peter
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 194–211
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{citar periódico
|título = ‘Wouldst thou withdraw love's faithful vow?’: The negotiation of love in the orchard scene (Romeo e Juliet Act II)
|ultimo= Honegger
|primeiro = Thomas
|ano = 2006
|periódico = Journal of Historical Pragmatics
|volume = 7
|número = 1
|páginas = 73–88
|doi = 10.1075/jhp.7.1.04hon
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet
|sobrenome = Hosley
|nome = Richard
|ano = 1965
|publicação = Yale University Press
|local = New Haven
}}
* {{ref-livro|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Film
|capítulo = Shakespeare's Cinematic Offshoots
|sobrenome = Howard
|nome = Tony
|editor = Jackson, Russell (ed.)
|ano = 2000
|páginas = 295–313
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 0521639751
}}
* {{citar periódico|título = Coming of Age in Verona
|ultimo = Kahn
|primeiro = Coppélia
|ano = 1977
|periódico = Modern Language Studies
|volume = 8
|número = 1
|páginas = 5–22
|issn = 00477729
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet: Study Notes
|sobrenome = Keeble
|nome = N.H.
|ano = 1980
|series = York Notes
|publicação = Longman
|isbn = 0582781019
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare e Popular Culture
|capítulo = Shakespeare™: myth e biographical fiction
|sobrenome = Lanier
|nome = Douglas
|editor = Shaughnessy, Robert (ed.)
|ano = 2007
|páginas = 93–113
|publicação = Cambridge University Press
|isbn = 9780521605809
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet
|sobrenome = Levenson (ed.)
|nome = Jill L.
|ano = 2000
|series = The Oxford Shakespeare (Oxford World's Classics)
|publicação = Oxford University Press
|local = Oxford
|isbn = 0192814966
}}
* {{citar periódico|título = Form e Formality in Romeo e Juliet
|ultimo = Levin
|primeiro = Harry
|ano = 1960
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 11
|número = 1
|páginas = 3–11
|doi = 10.2307/2867423
}}
* {{citar periódico|título = Uncomfortable Time In Romeo e Juliet
|ultimo = Lucking
|primeiro = David
|ano = 2001
|periódico = English Studies
|volume = 82
|número = 2
|páginas = 115–126
|doi = 10.1076/enst.82.2.115.9595
}}
* {{citar periódico|título=A Museum of the Indian, Not for the Indian
|ultimo = Lujan
|primeiro = James
|ano = 2005
|periódico = The American Indian Quarterly
|volume = 29
|número = 3–4
|páginas = 510–516
|issn = 0095182X
}}
* {{citar periódico|título = Love, sex e death in ''Romeo e Juliet''
|ultimo = MacKenzie
|primeiro = Clayton G.
|ano = 2007
|periódico = English Studies
|volume = 88
|número = 1
|páginas = 22–42
|doi = 10.1080/00138380601042675
}}
* {{ref-livro
|título = Walking Shadows: Shakespeare in the National Film e Television Archive
|sobrenome = McKernan
|nome = Luke
|coauthors = Terris, Olwen
|ano = 1994
|publicação = British Film Institute
|local = London
|isbn = 0851704867
}}
* {{citar web
|url = http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9501E1DE123AF93AA1575AC0A961958260&pagewanted=all
|sobrenome = Marks
|nome = Peter
|dateformat = dmy
|accessdate = 10 November 2008
|título = Juliet of the Five O'Clock Shadow, e Other Wonders
|work = New York Times
|date = 29 September 1997
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Shakespeare from the Restoration to Garrick
|sobrenome = Marsden
|nome = Jean I.
|editors = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 21–36
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{citar periódico|título = Measure for Measure: Shakespeare e Music
|ultimo = Meyer
|primeiro = Eve R.
|ano = 1968
|periódico = Music Educators Journal
|volume = 54
|número = 7
|páginas = 36–38, 139–143
|issn = 00274321
}}
* {{citar periódico|título = The Origins of the Legend of Romeo e Juliet in Italy
|ultimo = Moore
|primeiro = Olin H.
|ano = 1930
|periódico = Speculum
|volume = 5
|número = 3
|páginas = 264–277
|issn = 00387134
}}
* {{citar periódico|título = Beello e "Clizia"
|ultimo = Moore
|primeiro = Olin H.
|ano = 1937
|periódico = Modern Language Notes
|volume = 52
|número = 1
|páginas = 38–44
|publicação = Johns Hopkins University Press
|issn = 01496611
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare e Popular Culture
|capítulo = Shakespeare in North America
|sobrenome = Morrison
|nome = Michael A.
|editor = Shaughnessy, Robert (ed.)
|ano = 2007
|páginas = 230–258
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521605809
}}
* {{ref-livro|título = Shakespeare's Tragic Sequence
|sobrenome = Muir
|nome = Kenneth
|ano = 2005
|publicação = Routledge
|local = New York
|isbn = 9780415353250
}}
* {{ref-livro|título = Prokofiev
|sobrenome = Nestyev
|nome = Israel
|ano = 1960
|publicação = Stanford University Press
|local = Stanford
}}
* {{ref-livro
|título = Tragic Form in Shakespeare
|sobrenome = Nevo
|nome = Ruth
|ano = 1972
|publicação = Princeton University Press
|local = Princeton, NJ
|isbn = 069106217X
}}
* {{citar notícia|título = Shakespeare on the Drive
|trabalho = The New York Times
|data= 19 August 1977
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare e Popular Culture
|capítulo = Shakespeare Illustrated
|sobrenome = Orgel
|nome = Stephen
|editor = Shaughnessy, Robert (Ed.)
|ano = 2007
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521605809
}}
* {{citar periódico|título = Light e Dark Imagery in Romeo e Juliet
|ultimo = Parker
|primeiro = D.H.
|ano = 1968
|periódico = Queen's Quarterly
|volume = 75
|número = 4
}}
* {{ref-livro|título = The Theatrical Public in the Time of David Garrick
|sobrenome = Pedicord
|nome = Harry William
|ano = 1954
|publicação = King's Crown Press
|local = New York
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare
|capítulo = Shakespeare in the Theatre, 1660–1900
|sobrenome = Potter
|nome = Lois
|editor = Wells, Stanley; deGrazia Margreta
|ano = 2001
|páginas = 183–198
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 0521658810
}}
* {{ref-livro
|título = Shakespeare in South Africa: Stage Productions During the Apartheid Era
|sobrenome = Quince
|nome = Rohan
|ano = 2000
|publicação = Peter Lang
|local = New York
|isbn = 9780820440613
}}
* {{citar periódico|título = The Sources of Romeo e Juliet
|ultimo = Roberts
|primeiro = Arthur J.
|ano = 1902
|periódico = Modern Language Notes
|volume = 17
|número = 2
|páginas = 41–44
|issn = 01496611
}}
* {{citar web|url = http://www.merriam-webster.com/dictionary/Romeo
|título = Romeo — Definition from the Merriam–Webster Online Dictionary
|dateformat = dmy
|accessdate = 16 August 2008
|publicação = Merriam–Webster
}}
* {{ref-livro|título = BFI Screen Guides: 100 Shakespeare Films
|sobrenome = Rosenthal
|nome = Daniel
|ano = 2007
|publicação = British Film Institute
|local = London
|isbn = 9781844571703
}}
* {{ref-livro|título = A Dictionary of Shakespeare's Sexual Puns e their Significance (Second Edition)
|sobrenome = Rubinstein
|nome = Frankie
|ano = 1989
|publicação = Macmillan
|local = London
|isbn = 0333488660
}}
* {{ref-livro|título = The New Grove Dictionary of Opera
|sobrenome = Sadie
|nome = Stanley
|ano = 1992
|publicação = Oxford University Press
|local = Oxford
|isbn = 9781561592289
}}
* {{ref-livro
|título = Shakespeare e Music: Afterlives e Borrowings
|sobrenome = Seers
|nome = Julie
|ano = 2007
|publicação = Polity Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780745632971
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Pictorial Shakespeare
|sobrenome = Schoch
|nome = Richard W.
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 62–63
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{ref-livro|título = Shakespearean Criticism
|author = Scott, Mark W. (Ed.)
|coauthors = Schoenbaum, S. (Ed.)
|ano = 1987
|volume = 5
|publicação = Gale Research Inc.
|local = Detroit
|isbn = 0810361299
}}
* {{citar periódico
|título = Romeo e Juliet: Reversals, Contraries, Transformations, e Ambivalence
|ultimo = Shapiro
|primeiro = Stephen A.
|ano = 1964
|periódico = College English
|volume = 25
|número = 7
|páginas = 498–501
|doi = 10.2307/373235
}}
* {{citar periódico
|título = Christianity e the Religion of Love in Romeo e Juliet
|ultimo = Siegel
|primeiro = Paul N.
|ano = 1961
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 12
|número = 4
|páginas = 371–392
|doi = 10.2307/2867455
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Twentieth-century Performance: the Stratford e London companies
|sobrenome = Smallwood
|nome = Robert
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 98–117
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{ref-livro|título = Romeo e Juliet
|sobrenome = Spencer (ed.)
|nome = T.J.B.
|ano = 1967
|series = The New Penguin Shakespeare
|publicação = Penguin
|local = London
|isbn = 9780140707014
}}
* {{ref-livro|título = Culture e Entertainment in Wartime Russia
|author = Stites, Richard (Ed.)
|ano = 1995
|publicação = Indiana University Press
|local = Bloomington
|isbn = 9780253209498
}}
* {{citar periódico
|título = Romeo e Juliet: The Source of its Modern Stage Career
|ultimo = Stone
|primeiro = George Winchester Jr
|ano = 1964
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 15
|número = 2
|páginas = 191–206
|doi = 10.2307/2867891
}}
* {{citar periódico|título = Time in Romeo e Juliet
|ultimo = Tanselle
|primeiro = G. Thomas
|ano = 1964
|periódico = Shakespeare Quarterly
|volume = 15
|número = 4
|páginas = 349–361
|doi = 10.2307/2868092
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Film
|capítulo = The tragedies of love on film
|sobrenome = Tatspaugh
|nome = Patricia
|editor = Jackson, Russell
|ano = 2000
|páginas = 135–159
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 0521639751
}}
* {{ref-livro
|título = The Cambridge Companion to Shakespeare on Stage
|capítulo = Shakespeare plays on Renaissance Stages
|sobrenome = Taylor
|nome = Gary
|editor = Wells, Stanley; Stanton, Sarah
|ano = 2002
|páginas = 1–20
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|isbn = 9780521797115
}}
* {{ref-livro|título = The London Stage, 1660–1800
|author = Van Lennep, William (Ed.)
|coauthors = Avery, Emmett L.; Scouten, Arthur H.
|ano = 1965
|publicação = Southern Illinois University Press
|local = Carbondale
|url = http://www.personal.psu.edu/users/h/b/hb1/London%20Stage%202001/
|accessano = 2008
|accessmonth = August
}}
* {{ref-livro|título = Looking for Sex in Shakespeare
|sobrenome = Wells
|nome = Stanley
|publicação = Cambridge University Press
|local = Cambridge
|ano = 2004
|isbn = 0521540399
}}
* {{ref-livro|título = The Life e Art of Edwin Booth
|sobrenome = Winter
|nome = William
|ano = 1893
|publicação = MacMillan e Co
|local = London
|url = http://www.archive.org/details/lifeartofedwinbo00mattuoft
|accessano = 2008
|accessmonth =
}}
</div>

== {{Ligações externas}} ==
{{commonscat|Romeu e Julieta}}

; Textos
* {{Link||2=http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000087.pdf |3=''Romeu e Julieta'' |4=([[pdf]]), [http://www.dominiopublico.gov.br Domínio Público].}}
* {{Link||2=http://www.monica.com.br/comics/rom-juli/welcome.htm |3=Histórias Seriadas - Romeu e Julieta |4=, em [http://www.monica.com.br Turma da Mônica]}}

; Análises
* {{Link||2=http://www.brasilescola.com/historia/romeu-julieta-romance-ou-historia.htm |3="Shakespeare: romance ou história?" |4=, por Rainer Sousa.}}
* {{Link||2=http://www.unibero.edu.br/download/revistaeletronica/Mar05_Artigos/Romeu%20e%20Julieta_FINAL2.pdf |3="Organização Social em Romeu e Julieta" |4=([[pdf]]), por Célia Luiza Andrade Prado.}}
* {{Link||2=http://www.essay.org/school/portuguese/romeu.rtf |3="Análise de Romeu e Julieta" |4=([[pdf]]), por Adriana Buarque.}}

{{Shakespeare}}
{{Portal3|Literatura|Teatro}}

{{artigo destacado}}

{{DEFAULTSORT:Romeu E Julieta}}

[[Categoria:Peças de teatro de William Shakespeare]]
[[Categoria:Peças de teatro renascentistas]]
[[Categoria:Livros épicos]]

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{{Link FA|no}}

Revisão das 13h44min de 12 de abril de 2013

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