Síndrome de Fregoli

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Síndrome de Fregoli
Especialidade psiquiatria, psicoterapia
Classificação e recursos externos
CID-10 F22
CID-9 297.1
eMedicine emerg/
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Síndrome de Fregoli, também chamada de ilusão de Fregoli, delírio de Fregoli ou até mesmo ilusão de duplas, é um raro distúrbio em que o paciente detém um delírio de que diferentes pessoas são de fato uma única pessoa que muda de aparência ou está disfarçada. A síndrome pode estar relacionada a uma lesão cerebral e muitas vezes possui sintomas de natureza paranoica, com a pessoa delirante acreditando estar sendo perseguida pela pessoa que acredita estar disfarçada.[1][2]

A pessoa com este delírio também pode lembrar vagamente de lugares, objetos e eventos. Este distúrbio pode ser explicado por "nós associativos", que servem como ligações biológicas de informações sobre outras pessoas com uma face familiar e específica (para o paciente). Isso significa que, para qualquer face que seja semelhante a uma face reconhecível, o paciente se lembrará dessa face como a pessoa que conhece.[3]

A síndrome de Fregoli é classificada tanto como um delírio monotemático, uma vez que abrange apenas um tópico ilusório, quanto como uma síndrome ilusória de falsa identificação (DMS), uma classe de crenças delirantes que envolve a identificação errônea de pessoas, lugares ou objetos.[4] Como o delírio de Capgras, os psiquiatras acreditam que isso está relacionado a uma quebra na percepção facial normal.

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

Considerada uma das síndromes menos conhecidas no contexto de falsa identificação delirante, na qual o paciente apresenta uma crença delirante na existência de um perseguidor que assume qualquer aparência nas diferentes alturas.[5] A principal característica é a necessidade do paciente em enxergar através da aparência exterior e, como consequência, identificando a pessoa que creem estar perseguindo-o.[6]

Prováveis causas[editar | editar código-fonte]

Tratamento com levodopa[editar | editar código-fonte]

A levodopa, também conhecida como L-Dopa, é o fármaco precursor de várias catecolaminas, especificamente da dopamina, epinefrina e noradrenalina, utilizado clinicamente para tratar a doença de Parkinson e a distonia responsiva à dopamina. Estudos clínicos demonstraram que o uso de levodopa pode levar a alucinações visuais e delírios. Na maioria dos pacientes, os delírios eram mais evidentes do que as alucinações. Com o uso prolongado de levodopa, os delírios ocupam quase toda a atenção do paciente. Em estudos experimentais, quando a concentração de levodopa diminui, o número de delírios relatados também diminui. Concluiu-se que os delírios relacionados aos medicamentos antiparkinsonianos são uma das principais causas da síndrome de Fregoli.[7]

Tratamento[editar | editar código-fonte]

Uma vez identificada positivamente, segue-se a farmacoterapia. As drogas antipsicóticas são as pioneiras no tratamento deste delírio e de outras DMSs. Além dos antipsicóticos, anticonvulsivantes e antidepressivos que também são prescritos em alguns cursos de tratamento. Caso um paciente apresenta outros distúrbios psicológicos, o tratamento geralmente resulta no uso de trifluoperazina.[8][9][10]

Histórico[editar | editar código-fonte]

A condição é nomeada em homenagem ao ator italiano Leopoldo Fregoli, que era conhecido por sua capacidade de fazer rápidas mudanças de aparência durante suas atuações no palco.[11]

P. Courbon e G. Fail relataram pela primeira vez a condição em um artigo de 1927 (Syndrome d'illusion de frégoli et schizophrénie). Eles descreveram uma mulher de 27 anos que morava em Londres e que acreditava estar sendo perseguida por dois atores que costumava ver no teatro. Ela acreditava que essas pessoas a perseguiam de perto, assumindo a forma de pessoas que conhecia.[12]

Relação com as síndromes de falsa identificação delirante[editar | editar código-fonte]

As síndromes de falsa identificação delirante (DMS) estão enraizadas na incapacidade de registrar a identidade de algo, seja um objeto, evento, lugar ou até mesmo uma pessoa. Existem várias formas de DMS, como a síndrome dos duplos subjetivos, intermetamorfose, síndrome de Capgras além da síndrome de Fregoli. No entanto, todas essas várias síndromes têm um denominador comum: todas são devidas ao processamento de familiaridade disfuncional durante o processamento da informação. As síndromes mais comuns são Capgras e Fregoli. o delírio de Capgras é a crença ilusória de que um amigo, membro da família, etc., foi substituído por um impostor idêntico.[13] Outros pontos em comum entre essas síndromes são que eles são discriminatórios em quais objetos são identificados erroneamente. Por último, a hiperatividade da dopamina é evidente em todas as DMSs e, portanto, todas as síndromes utilizam medicamentos antipsicóticos para ajudar a controlá-la.

Coexistência das síndromes de Capgras e Frégoli[editar | editar código-fonte]

As quatro síndromes de falsa identificação delirante são: a síndrome dos duplos subjetivos, intermetamorfose, Capgras e Fregoli. Delas, a síndrome de Fregoli é a menos frequente, seguida por Capgras. Sendo assim, a coexistência destas é raridade. A coexistência de DMSs é melhorada quando combinada com outros distúrbios mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar e outros transtornos do humor. Os sintomas de despersonalização e desrealização geralmente se manifestam em pacientes que exibem dois delírios de identificação incorreta. No entanto, esses sintomas foram presenciados quando as DMSs coexistentes são totalmente desenvolvidas.[14]

Referências

  1. Devinsky, Orrin (6 de janeiro de 2009). «Delusional misidentifications and duplications: Right brain lesions, left brain delusions». Neurology. 72 (1): 80–87. PMID 19122035. doi:10.1212/01.wnl.0000338625.47892.74 
  2. Feinberg, Todd; Eaton, Lisa; Roane, David; Giacino, Joseph (1999). «Multiple Fregoli Delusions after Traumatic Brain Injury». Cortex. 35 (3): 373–387. PMID 10440075. doi:10.1016/S0010-9452(08)70806-2 
  3. Tibbetts, Paul. " Symbolic Interaction Theory and the Cognitively Disabled: A neglected Dimension." Jstor. Inverno de 2004. Web. 28 de setembro de 2011 Symbolic Interaction Theory and the Cognitively Disabled: A Neglected Dimension
  4. Mojtabai R (setembro de 1994). «Fregoli syndrome». Aust N Z J Psychiatry. 28 (3): 458–62. PMID 7893241. doi:10.3109/00048679409075874 
  5. Forstl H:Psychiatric, "Neurological and medical aspects of misidentification syndromes: a review of 260 cases." PsychologicalMedicine. 1991, vol. 21, no. 4, pp. 905–910.
  6. Enoch MD, TrethowanWH. "Uncommon Psychiatric Syndromes." 2ª edição. Bristol, Reino Unido: John Wright; 1979.
  7. Stewart JT (janeiro de 2008). «Frégoli syndrome associated with levodopa treatment». Mov. Disord. 23 (2): 308–9. PMID 18044770. doi:10.1002/mds.21843 
  8. Silva JA, Leong GB, Miller AL (1996). «Delusional misidentification syndromes — Drug treatment options». CNS Drugs. 5 (2): 89–102. doi:10.2165/00023210-199605020-00002 
  9. McAllister TW, Ferrell RB (2002). «Evaluation and treatment of psychosis after traumatic brain injury». NeuroRehabilitation. 17 (4): 357–68. PMID 12547983 
  10. Christodoulou GN (1977). «Treatment of the "syndrome of doubles"». Acta Psychiatr Belg. 77 (2): 254–9. PMID 20738 
  11. Ellis HD. Misidentification Syndromes. "Troublesome disguises. Underdiagnosed psychiatric syndromes." Blackwell: Science Oxford; 1997.
  12. Ellis HD, Whitley J, Luauté JP (março de 1994). «Delusional misidentification. The three original papers on the Capgras, Frégoli and intermetamorphosis delusions. (Classic Text No. 17)». Hist Psychiatry. 5 (17 Pt 1): 117–46. PMID 11639277. doi:10.1177/0957154X9400501708 
  13. Sousa-Ferreira, Teresa; Moreira, Tânia; Mendes, Márcia; Ferreira, Sérgio (Dezembro de 2015). «Síndromes de Falsa Identificação Delirante e Esquizofrenia Paranóide: A Propósito de um Caso Clínico». 13. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 
  14. Lykouras L, Typaldou M, Gournellis R, Vaslamatzis G, Christodoulou GN (julho de 2002). «Coexistence of Capgras and Frégoli syndromes in a single patient. Clinical, neuroimaging and neuropsychological findings». Eur. Psychiatry. 17 (4): 234–5. PMID 12231272. doi:10.1016/S0924-9338(02)00660-0