Sambaqui de Piaçaguera
Sambaqui de Piaçaguera | |
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Localização | |
País | Brasil |
Estado | São Paulo |
Localidade mais próxima | Cubatão |
Dados | |
Área | 850m2 |
Gestão | Luciana Pallestrini, Paulo Duarte, Caio del Rio Garcia |
Sítio oficial | sambaqui |
Coordenadas | |
Notas | datação: material malacológico (5.000 a 4.800); carbono-14 (4790 a 5030 BP) |
O sambaqui de Piaçaguera é um sítio arqueológico que estava localizado na Baixada Santista, no Município de Cubatão, próximo aos rios Mogi e Quilombo. O sítio possuía em torno de 10 metros de altura, chegando a alcançar até 12,3 metros em seu ponto mais alto. Antes do processo de terraplanagem da região, o sambaqui beirava a margem de um canal próximo a um mangue.
O processo de escavação ocorreu nas duas décadas subsequentes a 1960: pela equipe do Museu Paulista[1], do Musée de l’Homme e posteriormente entre 1965 a 1969 pelo grupo do Instituto de Pré-História da Universidade de São Paulo [2][3][4][5]. Durante este período, o terreno pertencia à Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), a qual foi integrada posteriormente à USIMINAS, e uma vez em área industrial o sítio encontrava-se em processo de destruição [6]. Como consequência, o segundo período de escavação foi um trabalho de salvamento que permitiu a coleta de remanescentes de 87 indivíduos, sendo destes 54 adultos, 2 jovens e 31 crianças. Esse material encontra-se no acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, antigo Instituto de Pré-História [5].
A constituição do sambaqui é marcada sobretudo por conchas de moluscos e elevado número de gastrópodes. Também estavam presentes restos de peixes, vestígios de crustáceos, poucas aves e mamíferos. A fauna encontrada indica que os construtores de sambaqui exploravam a região do mangue e rios próximos, e parcela importante de sua alimentação baseava-se no consumo de peixes [6]. A presença humana no sítio foi marcada pela presença de machados, artefatos líticos, adornos de conchas, dentes de animais terrestres, artefatos de ossos de animais[7] e diversos sepultamentos. Encontram-se também vestígios vegetais, muito menos evidentes, e constituintes basicamente de restos de sementes carbonizadas. Apesar da pequena quantidade encontrada, hipotetiza-se que os recursos vegetais teriam um papel importante na alimentação e economia do grupo, porém que as condições de preservação e técnicas de coleta não favoreceram a identificação no registro arqueológico. A presença humana no sambaqui parece ter sido ininterrupta e sempre contando com a presença de um mesmo grupo, do qual não são observados longos períodos de abandono [5][8].
Achados arqueológicos
[editar | editar código-fonte]Líticos
[editar | editar código-fonte]Os materiais líticos encontrados no sambaqui de Piaçaguera foram divididos em duas principais categorias: artefatos formais e lascas. Artefatos foram interpretados como instrumentos de trabalho do grupo, que poderiam se tornar acompanhamentos funerários em sepulturas. Dentro dessa classificação estão contidos os machados, batedores e fragmentos de corante com desgaste, por exemplo. Mais numerosa que a primeira categoria, as lascas eram compostas por fragmentos de quartzo obtidos por percussão direta, com raros retoques e polimentos[8].
Osteodontomalacológica
[editar | editar código-fonte]Os materiais confeccionados a partir de ossos e dentes de animais foram classificados como instrumentos osteodontomalacológicos. A partir deles duas categorias foram criadas, a primeira delas é formada por aqueles com funções associadas ao trabalho. Por exemplo, artefatos feitos a partir de dentes de mamíferos com a função de escavar, raspar e furar; pontas ósseas confeccionadas para pesca e espátulas de osso de baleia para preparo de comida[9]. Os outros artefatos foram classificados como adornos, dentre eles dentes de mamíferos no geral e de tubarões, além de conchas perfuradas[7].
Sepultamentos
[editar | editar código-fonte]Diversos sepultamentos foram exumados do sambaqui de Piaçaguera, muitos dos quais obedeciam um ritual fúnebre específico. Tal ritual consistia nos membros inferiores fletidos, posicionamento em decúbito lateral, sem a presença de covas, com quantidade expressiva de corante vermelho (limonita) sobre os corpos e a justaposição a adornos e utensílios. Por vezes, ocorriam sepultamentos duplos ou triplos, principalmente de mulheres e crianças [4][5].
Referências
- ↑ PALLESTRINI, L. Jazida litorânea em piaçaguera, Cubatão, Estado de São Paulo. Revista do Museu Paulista, v. XV, 1964.
- ↑ GARCIA, C. Meios de subsistência de populações pré-históricas no litoral do estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado—Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. 1970.
- ↑ GARCIA, Caio Del Rio. Estudo comparativo das fontes de alimentação de duas populações pré-históricas do litoral paulista. Tese de mestrado, Departamento de Zoologia - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 1972.
- ↑ a b UCHÔA, D. P. O sítio arqueológico de Piaçaguera. Tese de mestrado—Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.1970.
- ↑ a b c d UCHÔA, D. P. Arqueologia de Piaçagüera e Tenório: análise de dois tipos de sítios pré-cerâmicos do litoral paulista. Tese de doutorado—Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, Setor de Antropologia, Arqueologia e Etnologia: 1973.
- ↑ a b Calazans, Marília Oliveira. “DE RESTOS A RASTROS: OS SAMBAQUIS DE CUBATÃO/SP E A CONSTRUÇÃO DE UMA PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA FROM RESTS TO TRACES: THE SHELL MOUNDS OF CUBATÃO/SP AND THE BUILDING OF A BRAZILIAN PREHISTORY.” (2013).
- ↑ a b Klokler, D. The worked bone and tooth assemblage from Piaçaguera: Insights and challenges. BONES AT A CROSSROADS, 133.
- ↑ a b FISCHER, Patrícia Fernanda. Os moleques do morro e os moleques da praia: estresse e mortalidade em um sambaqui fluvial (Moraes, vale do Ribeira de Iguape, SP) e em um sambaqui litorâneo (Piaçaguera, Baixada Santista). 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-28082012-143626/. Acesso em: 29 ago. 2022.
- ↑ Silva, J. A., CARVALHO, O. A. D., & QUEIROZ, A. N. (2014). A cultura material associada a sepultamentos no Brasil: Arqueologia dos Adornos. Clio Arqueológica, 29(1), 45-82.