Templo de Beitel Uáli

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Beitel Uáli
Beit el-Wali
Templo de Beitel Uáli
Fachada do templo
Localização atual
Beitel Uáli está localizado em: Egito
Beitel Uáli
Coordenadas 23° 57' N 32° 51' E
País  Egito
Dados históricos
Fundação Reino Novo
Abandono Reino Novo
Relevo de Ramessés fazendo oferenda a Hórus
Releve de Ramessés ferindo um inimigo

Beitel Uáli é um templo egípcio cortado na rocha na Núbia, situado a 50 quilômetros ao sul de Assuã, que foi construído pelo faraó Ramessés II (r. 1279–1213 a.C.) e dedicado aos deuses Amom-Rá, Rá-Haraqueti, Quenúbis e Anúquis.[1] Foi o primeiro de uma série de templos construídos por Ramessés na região; seu nome significa "Casa do Homem Sagrado" e pode indicar seu uso anterior por um ermitão cristão em algum momento no passado.[2] O tempo foi realocado durante os anos 60 como resultado do projeto da represa de Assuã e movido para terreno mais alto, junto ao Templo de Calabexa. A movimentação foi coordenada com um time de arqueólogos poloneses financiados conjuntamente por um instituto sueco e o Instituto Oriental de Chicago.[1]

História política[editar | editar código-fonte]

Os templos núbios de Ramessés II (Uádi Sebua, Beitel Uáli e Abul-Simbel) eram parte de uma política de patrocínio estatal designada para manter o controle egípcio sobre a região. Durante o Reino Novo (1550–1069 a.C.), a Núbia não era apenas governada por oficiais egípcios, mas estava sujeita ao Egito:

[...] política deliberada de aculturação, cuja intenção era derrubar a identidade núbia. Muitos núbios importantes foram educados no Egito e adotaram roupas, costumes funerários e religião egípcias. Falavam a língua egípcia e até mudaram seus nomes para os egípcios. A decoração dos templos era, até certo ponto, propaganda real destinada a intimidar a população [local].[2]

Arquitetura e decoração[editar | editar código-fonte]

Há uma grande quantidade de relevos coloridos na parte interna deste templo, enquanto os relevos externos presentes no pátio desapareceram.[2] Perto do meio da parede sul do templo, Ramessés é retratado em batalha contra núbios enquanto seus dois filhos Amenerquepexefe e Caemuasete aparecem no relevo. No relevo seguinte,

Ramessés [é] entronado, recebendo o tributo da Núbia. No registro superior, o filho mais velho de Ramessés e vice-rei Amenemópis apresenta a procissão do tributo. O vice-rei é recompensado por seus esforços com colares de ouro.[3]

"Um molde pintado de relevo de parede" no templo ilustra a riqueza de produtos exóticos que os egípcios obtinham em troca ou tributo dos cuxitas; aqui, o faraó recebe peles de leopardo, caudas de girafa, girafas, macacos, leopardos, gado, antílopes, gazelas, leões, penas e ovos de avestruz, ébano, marfim, leques, tigelas, escudos feitos de peles de animais e ouro.[4] Alguns dos núbios que fazem parte do tributo "seriam destinados ao Egito para trabalhar nos projetos de construção do rei, agir como polícia ou ser recrutados para o serviço militar na Síria". O tema primordial do sucesso militar egípcio também é martelado na parede oposta, onde as campanhas triunfais de Ramessés II na Líbia e na Síria foram registradas: é retratado pisoteando seus inimigos e segurando os outros "pelos cabelos na mão esquerda enquanto os fere com a direita."[3]

O tema do poder de Ramessés também é levado ao interior, onde há cenas de violência nas paredes do vestíbulo. Doravante, Ramessés aparece como governante piedoso que adora outros deuses; além da porta que leva ao santuário, há nichos com estátuas do faraó com (à esquerda) Ísis e Hórus e (à direita) Quenúbis e Anúquis, os deuses de Elefantina e primeira catarata. [3] O faraó é mostrado apresentando vasos de vinho a Quenúbis[5] e Anúquis oferece a Ramessés vários jubileus. O santuário contém três imagens de culto recortadas, talvez de Amom, Ptá e Ramessés.[6] No lago oposto da porta, há cenas do faraó como criança sendo amamentado por Ísis e Anúquis; porém, o nicho da estátua foi destruído mais tarde, talvez na era cristã.[3] Os relevos de Beitel Uáli e seu plano incomum diferenciam-no dos templos posteriores deste faraó, que estão localizados mais ao sul, na Núbia.[6]

O templo é pequeno e foi construído em nível simétrico. Possui pátio, antessala com duas colunas e santuário cortado na rocha circundante, com exceção da entrada e porta da frente. Era fronteado por um pilone.[1] No início da época copta cristã, era uma igreja. Muitos viajantes visitaram-o. Os relevos do templo foram copiados por Günther Roeder em 1907, embora moldes foram feitos por Roberto Hay nos anos 1820. O sítio não foi compreensivamente estudado até o trabalho de uma expedição conjunta da Universidade de Chicago e o Instituto Sueco do Cairo nos anos 60.[6][7]

Referências

  1. a b c Arnold 2003, p. 29.
  2. a b c Oakes 2003, p. 200.
  3. a b c d Oakes 2003, p. 201.
  4. Quirke 1994, p. 212.
  5. David 1993, p. 103.
  6. a b c Arnold 2003, p. 103.
  7. Shaw 1995, p. 52.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Arnold, Dieter; Strudwick, Nigel; Gardiner (2003). The Encyclopaedia of Ancient Egyptian Architecture. Oxônia: I.B. Tauris Publishers 
  • David, Rosalie (1993). Discovering Ancient Egypt. Nova Iorque: Facts on File Publications 
  • Oakes, Lorna (2003). Pyramids, Temples and Tombs of Ancient Egypt. Londres: Anness Publishing 
  • Quirke, Stephen; Spenser, Jeffrey (1994). The British Museum Book of Ancient Egypt. Londres: Thames & Hudson 
  • Shaw, Ian; Nicholson, Paul (1995). «Beit el-Wali». In: Harry N. Abrams. The Dictionary of Ancient Egypt (em inglês). Nova Iorque: Princeton University Press. ISBN 0810932253