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Teste de Rorschach: diferenças entre revisões

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A necessidade de unificar os diferentes sistemas em um todo coerente não ficou desapercebida. Na Europa, o principal movimento nessa direção, foi a obra do psiquiatra dinamarquês-suiço Ewald Bohm. Seu ''Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik'', publicado pela primeira vez em 1958, continua sendo a base do trabalho com o teste, principalmente no mundo germanófono. Nos Estados Unidos, foram os esforços de John E. Exner Jr. que, com seu Sistema Abrangente (''Comprehensive System'') procurou unificar os sistemas das cinco maiores escolas do teste de Rorschach nos Estados Unidos. Seu sistema tornou-se muito influente também em outros países e é hoje o sistema mais difundido. Infelizmente somente a primeira edição da obra de Bohm havia sido traduzida para o inglês, de tal forma que o autor americano não a levou em consideração no seu sistema. Na atualidade, há um esforço de unificação das escolas europeia e americana<ref>{{citar web|url=http://www.oerorg.at/weiterentwicklung.php|titulo=Weiterentwicklung des Rorschach Verfahrens in Europa und den USA |autor=Österreichische Rorschach Gesellschaft|data=|publicado=|acessodata=31/10/2010}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.phil.gu.se/fu/trad|titulo=Classical Rorschach: Rorschach Traditions|autor=Universidade de Goteborg|data=|publicado=|acessodata=31/10/2010}}</ref>.
A necessidade de unificar os diferentes sistemas em um todo coerente não ficou desapercebida. Na Europa, o principal movimento nessa direção, foi a obra do psiquiatra dinamarquês-suiço Ewald Bohm. Seu ''Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik'', publicado pela primeira vez em 1958, continua sendo a base do trabalho com o teste, principalmente no mundo germanófono. Nos Estados Unidos, foram os esforços de John E. Exner Jr. que, com seu Sistema Abrangente (''Comprehensive System'') procurou unificar os sistemas das cinco maiores escolas do teste de Rorschach nos Estados Unidos. Seu sistema tornou-se muito influente também em outros países e é hoje o sistema mais difundido. Infelizmente somente a primeira edição da obra de Bohm havia sido traduzida para o inglês, de tal forma que o autor americano não a levou em consideração no seu sistema. Na atualidade, há um esforço de unificação das escolas europeia e americana<ref>{{citar web|url=http://www.oerorg.at/weiterentwicklung.php|titulo=Weiterentwicklung des Rorschach Verfahrens in Europa und den USA |autor=Österreichische Rorschach Gesellschaft|data=|publicado=|acessodata=31/10/2010}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.phil.gu.se/fu/trad|titulo=Classical Rorschach: Rorschach Traditions|autor=Universidade de Goteborg|data=|publicado=|acessodata=31/10/2010}}</ref>.


== A lógica do teste ==
O teste de Rorschach, como todos os [[teste projetivo|testes projetivos]], baseia-se na chamada ''hipótese projetiva''. De acordo com essa hipótese, a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos de sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de, trabalhando por assim dizer "de trás para frente", reconstruir os aspectos da personalidade que levaram às respostas dadas<ref name="Lilienfeld">Lilienfeld et al (2000). The scientific status of projective techniques. ''Psychological Science in the Public Interest, 01'', 2.</ref>.

A hipótese projetiva baseia-se no conceito [[freud]]iano de [[ajustamentos|projeção]]: um mecanismo de defesa, através do qual o indivíduo atribui de maneira inconsciente características negativas da própria [[personalidade]] a outras pessoas (projeção clássica). Apesar de a projeção clássica carecer de confirmação empírica e ser assim alvo de controvérsias, há ainda um outro caso de projeção que conta com uma relativa unanimidade entre os estudiosos: a projeção generalizada ou assimilativa. Esta é a tendência de determinadas características da personalidade, [[necessidade (psicologia)|necessidades]] e experiências de vida de influenciar o indivíduo na interpretação de estímulos ambíguos. De acordo com os defensores do uso de testes projetivos, tais testes possuem duas grandes vantagens em comparação aos testes estruturados: (a) eles "enganam" os [[mecanismos de defesa]] do indivíduo e (b) permitem ao intérprete do teste ter acesso a conteúdos não acessíveis à consciência do indivíduo testado<ref name="Lilienfeld" />.


== A realização do teste ==
== A realização do teste ==

Revisão das 17h43min de 8 de novembro de 2013

Hermann Rorschach

O teste de Rorschach é uma técnica de avaliação psicológica pictórica, comumente denominada de teste projetivo, ou mais recentemente de método de auto-expressão. Foi desenvolvido pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em dar respostas sobre com o que se parecem as dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. O teste de Rorschach é amplamente utilizado em vários países[1].

As pranchas do teste, desenvolvidas por Rorschach, são sempre as mesmas. No entanto, para a codificação e a interpretação das informações, diferentes sistemas são utilizados.

Paralelamente ao "Teste de Rorschach" propriamente dito, Rorschach desenvolveu em 1921 juntamente com Hans Behn-Eschenburg uma segunda série de pranchas que ficou conhecida como Behn-Rorschach ou simplesmente Be-Ro-Teste. Hans Zulliger publicou em 1948 um teste semelhante, mas em forma de slides a serem projetados na parede, chamado Teste Z. Esse teste, originalmente pensado como um teste para grupos, foi posteriormente editado em pranchas e utilizado como uma forma breve do teste de Rorschach, com apenas três pranchas[2].

Introdução histórica

O uso de manchas de tinta como uma forma de teste não foi uma ideia de Rorschach. Antes dele muitos autores, como Binet, Henri, Dearborn, Kirkpatrik entre outros, fizeram uso desse técnica, sobretudo no estudo da imaginação e da criatividade. No entanto esses trabalhos não parecem ser a origem do interesse de Rorschach pelas manchas de tinta. Durante sua infância fora Rorschach um entusiasmado jogador de um jogo muito difundido no século XIX chamado Klecksographie (Klecks significa mancha de tinta) em que os jogadores criavam pequenos poemas a partir de manchas abstratas de tinta - cujo princípio básico é o mesmo de formar figuras com as nuvens dispostas no céu. Apesar de ter feito alguns experimentos anteriores menos sistemáticos foi nos anos 1917-1918 que Rorschach começou um estudo mais sistemático do uso do método de manchas de tinta no diagnóstico psiquiátrico, sobretudo no diagnóstico da esquizofrenia. Na época ele trabalhava como diretor do hospital Krombach em Herisau, na Suíça e pode colher dados tanto de pacientes como de funcionários e estudantes, coletando assim respostas tanto de pacientes como de pessoas saudáveis. Essa foi a base da tese Psychodiagnostik publicada em junho de 1921, primeira apresentação oficial do teste[3].

Originalmente Rorschach usava um total de 40 pranchas diferentes, que logo se reduziram a 15. Mesmo esse número bem diminuído de pranchas, representou uma grande dificuldade para a publicação da obra devido ao alto custo de impressão. A maioria dos editores consultados se mostravam dispostos a publicar apenas 6 pranchas, com o que o autor não concordava. Assim, durante todo o ano de 1920 a obra, já pronta, não pode ser publicada - e foi mesmo reescrita, uma vez que Rorschach continuava colhendo dados. Apenas em 1921 Rorschach conseguiu, com o auxílio de Walter Morgenthaler, negociar um compromisso com o editor Bircher de Berna: ele editaria 10 das pranchas. Importante para o desenvolvimento posterior do teste foi o fato de o editor ter tido problemas na reprodução das manchas, de forma que as pranchas editadas eram menores que as originais e possuíam um sombreado inexistente anteriormente. Essa é a forma atual do teste. Essas mudanças, antes de serem um problema representaram novas possibilidades para o teste, possibilidades que não faziam parte da obra original de Rorschach. Assim este começou a colher novos dados com as pranchas publicadas. Infelizmente o psiquiatra morreu precocemente em Abril de 1922 e deixou apenas um artigo inacabado a respeito dos sombreados. A obra de Rorschach foi um fracasso editorial. A comunidade científica não se mostrou interessada e a maior parte dos 1200 livros publicados ainda estavam no depósito quando o autor faleceu. Somente quando mais tarde os direitos da obra foram comprados pelo editor Huber e os primeiros artigos começaram a ser publicados é que o teste passou a ganhar em respeitabilidade. No entanto seu autor estava morto e as pranchas publicadas não correspondiam àquelas que ele utilizara na coleta original de dados. Essa situação levou ao aparecimento de diversos novos sistemas de codificação e interpretação do teste[3].

O primeiro autor a se dedicar à interpretação dos sombreados foi Hans Binder[4]. Outros importantes representantes do teste na Europa foram Walter Morgenthaler, Emil Oberholzer, Georgi Roemer, Hans Behn-Eschenburg e Hans Zulliger. Eles foram os primeiros treinadores de especialistas na execução do teste. Entre estes estava o americano David Levy, que levou o teste para os Estados Unidos. Em torno de Levy reuniu-se um grupo de pesquisadores que se dedicaram ao desenvolvimento do método diagnóstico com as pranchas de Rorschach. Entre eles destacam-se Samuel J. Beck e Marguerite Herz. A expansão do nacional-socialismo nos países germanófonos levou a uma onda de imigração e muitos pesquisadores europeus se estabeleceram nos Estados Unidos. Entre eles o alemão Bruno Klopfer, o polonês Zygmunt Piotrowski e o húngaro David Rapaport. Cada uma dessas cinco personalidades gerou um próprio sistema de codificação e interpretação do teste de Rorschach[3].

A necessidade de unificar os diferentes sistemas em um todo coerente não ficou desapercebida. Na Europa, o principal movimento nessa direção, foi a obra do psiquiatra dinamarquês-suiço Ewald Bohm. Seu Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik, publicado pela primeira vez em 1958, continua sendo a base do trabalho com o teste, principalmente no mundo germanófono. Nos Estados Unidos, foram os esforços de John E. Exner Jr. que, com seu Sistema Abrangente (Comprehensive System) procurou unificar os sistemas das cinco maiores escolas do teste de Rorschach nos Estados Unidos. Seu sistema tornou-se muito influente também em outros países e é hoje o sistema mais difundido. Infelizmente somente a primeira edição da obra de Bohm havia sido traduzida para o inglês, de tal forma que o autor americano não a levou em consideração no seu sistema. Na atualidade, há um esforço de unificação das escolas europeia e americana[5][6].

A realização do teste

O teste compõe-se, como visto, de 10 pranchas diferentes, algumas com borrões coloridos, outras são pretas e brancas. O realizador do teste apresenta as pranchas, sempre na mesma ordem, à pessoa que está sendo testada com a pergunta: "o que poderia ser isto?". Apesar de as pranchas serem sempre apresentadas na mesma posição, a pessoa pode virá-las à vontade. E pode dar quantas respostas quiser.

O principal trabalho do realizador do teste é a codificação das respostas dadas: cada resposta deve ser classificada através de um complexo sistema de códigos, que reduz as várias respostas a algumas categorias básicas. Uma das principais diferenças entre os diversos sistemas do teste (ver acima "Introdução histórica") é exatamente a forma da codificação.

Tanto no sistema de Bohm[7] como no sistema de Exner[3] cada resposta é classificada sob quatro pontos de vista:

  1. o modo de percepção - ou seja, se o borrão é visto como um todo ou se apenas uma parte é importante (e, neste caso, em que parte do borrão);
  2. a determinante - ou seja, que aspecto do borrão foi importante para a resposta: a forma, a cor, a impressão de movimento;
  3. o conteúdo - a figura descrita é de um ser humano, de um animal, uma parte do corpo humano, uma planta, uma paisagem, uma objeto (arquitetônico, histórico, etc.)
  4. a originalidade ou vulgaridade da resposta - ou seja, se a resposta é, na população da pessoa que está sendo testada, uma resposta muito comum (que muitas pessoas dão) ou muito rara.

Para cada um desses pontos de vista é utilizada uma série de letras, que indicam cada uma das várias possibilidades. Assim uma resposta pode ser codificada G F M no sistema de Bohm, o que significa que essa resposta utiliza toda a figura (G), baseia-se na forma do borrão (F) e descreve uma ser humano (M); uma outra resposta poderia ser codificada D Fb T (ou seja, utiliza apenas um detalhe do borrão (D), baseia-se sobretudo na cor (Fb) e representa um animal (T)).

O que diferencia os dois sistemas não é apenas o uso de letras diferentes para indicar cada uma das categorias (Bohm usa abreviaturas alemãs e Exner em inglês; assim para indicar o uso do borrão como um todo o primeiro utiliza G (al. Ganzes, todo) e o útimo utiliza W (ing. Whole, todo)), mas sobretudo detalhes de execução do teste e de codificação das respostas. Bohm, por exemplo, utiliza um relógio para medir o tempo de exposição da pessoa à prancha; Exner codifica diferentes formas de respostas em que diferentes categorias se misturam, e cada um deles utiliza um sistema diferente para codificar as respostas que envolvem a inclusão de detalhes dos borrões. A exatidão com que as respostas devem ser codificadas exige uma grande perícia por parte do realizador do teste, que precisa, assim, ser muito bem treinado para essa atividade.

A técnica de interpretação

Uma vez codificadas todas as respostas, elas são somadas e reduzidas a diferentes índices (por exemplo, a relação entre o número de respostas G e de respostas D, etc.) Cada um dos sistemas utiliza índices diferentes. Esses índices são reunidos em agrupamentos (ing. clusters), que descrevem determinadas dimensões da personalidade.

Bohm[7] propõe para a interpretação o seguinte esquema:

  1. Avaliação quantitativa da inteligência - ou seja, uma estimativa do grau de inteligência de alguém;
  2. Avaliação qualitativa da inteligência - que tipo de inteligência é mais desenvolvido (talentos, modo de trabalho, fantasia)
  3. Avaliação da afetividade - a estrutura e controle da vida emocional do indivíduo e sua capacidade de fazer contatos sociais;
  4. Atitudes gerais como ambição, sentimentos de inferioridade ou superioridade, agressividade, tendência de sentir-se embaraçado, entre outros;
  5. Humor - tristeza, alegria, apatia, ansiedade, entre outros;
  6. Traços neuróticos, tipo e estrutura;
  7. Indícios de um diagnóstico psiquiátrico, além de resultados de outros testes que talvez tenham sido realizados, da anamnese e indicação de outros testes complementares, que talvez sejam necessários.

Exner[3] propõe uma interpretação dos diferentes índices. Ele apresenta três grupos de "variáveis chave" (ing. key variables):

  1. Grupo I, formado de três índices: o de esquizofrenia, o de depressão e o de déficit de coping
  2. Grupo II, formado pelas chamadas "Escalas D", que se referem à capacidade pessoal de controle do próprio comportamento e à capacidade de lidar com estresse
  3. Grupo III, que descreve os estilos (ou tendências) dominantes de personalidade.

Os diferentes índices dos três grupos são então utilizados para o cálculo de três agrupamentos de qualidades do funcionamento mental do indivíduo:

  1. Grupo 1: "A tríade cognitiva"
    1. Processamento de informações
    2. Ideação - a capacidade do indivíduo de traduzir as informações que recebe do ambiente em conceitos e ideias abstratos
    3. Mediação cognitiva - a tendência de o indivíduo ser convencional (ou não) na sua maneira de ver e pensar as coisas
  2. Grupo 2:
    1. Afetividade
    2. Autopercepção
    3. Percepção interpessoal
  3. Grupo 3:
    1. Capacidade de controle e tolerância de estresse
    2. Estresse ligado à situação

Com base nesses dados o realizador do teste obtém um perfil da personalidade da pessoa testada. Esse perfil pode auxiliar o diagnóstico clínico de um transtorno mental; o teste sozinho não oferece, no entanto, uma base sólida para tal diagnóstico.

Outro ponto importante é notar que para o teste de Rorschach não há respostas corretas. Cada resposta só obtém seu significado quando vista em conjunto com todas as respostas dadas. Além disso, o significados das respostas varia de acordo com a população do indivíduo testado, mostrando a importância da influência da cultura sobre os padrões de percepção e interpretação. Assim, um mesmo resultado poderia ser considerado normal em um europeu e problemático em um norte-americano[8]

Além de Exner e de Böhm, muitos outros autores utilizaram o teste de Rorschach de maneiras diversas e para diferentes fins. Marvin Goldfried e seus colegas (1971)[9] oferecem uma visão geral de diversos usos dados ao teste no decorrer de seu desenvolvimento: O teste foi utilizado para o diagnóstico do nível de desenvolvimento pessoal, do nível de hostilidade, de ansiedade, o nível do limite corporal (ou seja, a tendência do indivíduo de perceber a si mesmo como "firme" ou "fraco" e "penetrável"), a tendência homossexual, a tendência para o suicídio entre outros. Esses diferentes usos do teste apresentam diferenças consideráveis na sua confiabilidade.

Quantidade de respostas

É esperado que pessoas saudáveis consigam dar pelo menos 14 respostas entre as 10 manchas. Para que a pessoa não pense que deve dar apenas uma por mancha, na primeira mancha ela é instruída a dar mais de uma resposta. Pessoas que apesar de serem estimuladas não conseguem dar muitas respostas podem ser interpretadas com tendo menor capacidade cognitiva, como tendo tendência a depressão ou como indicativo de problemas mentais sérios.

O número normal de respostas é de cerca de 23 no total, por volta de 2-3 por mancha. Quem consegue dar mais de 30 respostas pode ser visto como mais criativo, com mais recursos e com maior capacidade intelectual.

Em entrevistas de emprego, o Rorschach é visto como uma tarefa diferente e interativa, mas ainda assim uma tarefa semelhante a outras que o novo profissional deve receber, para testar como a pessoa lida com tarefas novas. Ser capaz de dar respostas rápidas, bem elaboradas, bem explicadas, com tranquilidade, usando os diversos recursos da mancha (cor, sombreado, textura, complementando com a área em branco...) indica que o profissional é capaz de executar tarefas com competência e possui capacidade cognitiva para tal.[10].

Qualidade formal da resposta

Todas as respostas são codificadas de acordo com o quanto elas foram vistas pelo de grupos de pessoas que o paciente se encaixe (não-pacientes, esquizofrenicos, depressivos internados, menores de 15 anos...). No modelo Exner a amostra base foi de cerca de 1.200 pessoas. Dependendo do número de pessoas que deu resposta semelhante a essa, a resposta pode ser classificada como[11]:

Comum: Vista por mais de 2% da amostra. Indica que a pessoa tem um processamento cognitivo normal e objetivo.

Comum integrada: Codificado quando forem vistas duas respostas comuns interagindo entre si, indica boa integração de informações.

Incomum: Menos de 2% viram, mas algumas viram. Essas respostas indicam peculiaridades do indivíduo, mas ainda usando bem os detalhes da mancha.

Única: Não há registros sobre essa resposta. Essas respostas indicam projeções do indivíduo. Mais comum entre indivíduos mais criativos, com pensamento diferenciado e uma visão peculiar da vida como artistas e filósofos.

Ver muitas respostas populares (a mais comum de cada mancha) é um sinal de obsessividade e compulsividade, pois supostamente é comum que os obsessivos façam um esforço maior para não perder nenhum detalhe importante, sendo excessivamente preocupados com a opinião dos outros e com dificuldade de relaxar e dar respostas criativas.[10].

Respostas de movimento

Respostas de movimento são classificadas como ativas ou passivas de acordo com a ação executada pelas pessoas ou animais. É esperado que pessoas mais ativas, decididas e determinadas dêem mais respostas de movimento ativo, enquanto pessoas tímidas e reprimidas dão mais respostas de movimento passivo. Exemplos de respostas ativas incluem animais ou pessoas comendo alguma coisa, brigando, correndo ou algo semelhante. Exemplos de respostas passivas são animais ou pessoas sentados, deitados, dormindo ou algo semelhante. Respostas de objetos se movendo também são codificadas como movimento.

Muitas respostas de movimento também são indicativo de pessoas bem motivadas e pró-ativas por envolverem maior esforço cognitivo. Respostas de movimento que também tenham qualidade formal única indicam pessoas capazes de resolver problemas usando métodos não pensados pelos outros, ou seja criatividade e produtividade.[10].

Algumas manchas estimulam respostas de luta, então é esperado que pessoas que conseguem resolver seus problemas adequadamente respondam algumas. Pessoas introvertidas que dão mais respostas passivas e não dão nenhuma resposta de luta são interpretadas como incapazes de tomar lutar pelos seus próprios direitos, um indicativo de vítimas de crimes.[10]

As pranchas e os resultado mais comuns

A seguir estão os dez borrões do teste de Rorschach, impressos em pranchas[12] juntamente com as respostas mais frequentes (quer para a imagem inteira quer para os detalhes mais importantes) de acordo com vários autores.
Note que as imagens são de domínio público na Suíça, terra nativa de Hermann Rorschach's (desde 1992 - 70 anos após a morte do autor, ou 50 anos após a data-limite de 1942), de acordo com a lei de direitos autorais suíço.[13][14]

Info Aviso: Esta seção expõe o teste e apresenta os resultados mais comuns
Prancha Respostas Frequentes[15][16][17] Comentários[18][19]
Beck: morcego, borboleta, mariposa
Piotrowski: morcego (53%), borboleta (29%)
Dana (França): borboleta (39%)
Ao verem a Prancha I, os testados frequentemente indagam sobre como eles devem proceder, o que eles estão autorizados a fazer com o cartão (por exemplo, girá-lo). Sendo o primeiro cartão, pode fornecer pistas sobre como abordar temas novos e uma tarefa estressante. Não é, porém, um cartão geralmente difícil. Nessa mancha, é comum dar resposta de máscara ou de cara de animal usando as áreas em branco como olhos e narinas.
Beck: dois seres humanos
Piotrowski: animal de quatro patas (34%, parte cinza)
Dana (França): animal: cachorro, elefante, urso (50%, cinza)
Os detalhes vermelhos da Prancha II são muitas vezes vistos como o sangue, e são as características mais distintivas. Respostas a ela podem fornecer indicações sobre como um sujeito é capaz de controlar sentimentos de raiva ou danos físicos e sobre sofrimentos do passado. Este cartão também pode induzir uma variedade de respostas sexuais. Também é comum respostas sobre a área branca no centro como avião e diamante.
Beck: dois seres humanos (cinza)
Piotrowski: figuras humanas (72%, cinza)
Dana (França): seres humanos (76%, cinza)
A Prancha III é geralmente percebida como contendo dois seres humanos envolvidos em alguma interação, e pode fornecer informações sobre como o sujeito se relaciona com outras pessoas (mais especificamente, a latência de resposta pode revelar dificuldades nas interações sociais). Essas pessoas podem parecer transsexuais por possuirem pênis e vagina, indicando como o entrevistado lida com a questão de gênero.
Beck: ser parahumano
Piotrowski: pele animal, tapete de pele (41%)
Dana (França): pele animal (46%)
A Prancha IV é notável por sua cor escura e seu sombreamento e é geralmente considerada uma grande figura parahumana (gigante, monstro, vulto) e, por vezes ameaçadora, agravada com a impressão comum do sujeito estar em uma posição inferior vendo pés enormes e cabeça pequena. O conteúdo humano ou animal é quase sempre classificado como masculino. As qualidades expressas pelo assunto podem indicar atitudes para com os homens e de autoridade. Também é comum respostas usando as variações de sombreado dessa mancha.
Beck: morcego, borboleta, mariposa
Piotrowski: borboleta (48%), morcego (40%)
Dana (France): borboleta (48%), morcego (46%)
A Prancha V é, geralmente, facilmente interpretada e normalmente não é percebida como uma ameaça. Instiga uma "mudança de ritmo" na prova, depois da prancha anterior mais desafiadora. Contendo algumas características que geram preocupações, é a mais fácil para gerar uma resposta de boa qualidade. É comum ser vista como uma mistura de animais.
Beck: couro, pele, tapete
Piotrowski: pele animal, tapete de pele (41%)
Dana (França): pele animal (46%)
A textura é a característica dominante da Prancha VI, que muitas vezes provoca associação relacionada à proximidade interpessoal; é especificamente uma placa de "sexo": respostas com conteúdo sexual são relatadas com mais freqüência do que em qualquer outro cartão, apesar de outros cartões terem uma maior variedade de conteúdo sexual comumente visto. Respostas indicando textura (macio, áspero, fofo, peludo...) revelam sobre a carência sexual do indivíduo.
Beck: cabeças humanas ou faces (topo)
Piotrowski: cabeças de mulheres ou crianças (27%, topo)
Dana (França): cabeça humana (46%, topo)
A Prancha VII pode ser associada com a feminilidade, e funciona como a prancha materna, onde as dificuldades em responder podem estar relacionadas a preocupações com as figuras femininas na vida do sujeito. O detalhe central é relativamente frequente (embora não seja popularmente) identificado como uma vagina, o que torna esta prancha ligada à sexualidade feminina, em particular. É comum que as mulheres ou meninas da imagem sejam vistas como sem braço ou/e sem pernas e com o cabelo para cima ou um cocar de índio. Também é comum que elas estejam interagindo.
Beck: animal: não um gato ou cachorro (rosa)
Piotrowski: animal de quatro patas (94%, rosa)
Dana (França): animal de quatro patas (93%, rosa)
Os testados muitas vezes expressam alívio sobre a Prancha VIII, o que lhes permite relaxar e responder de forma eficaz. Similar à Prancha V, ela representa uma mudança de ritmo, no entanto, a placa apresenta dificuldades de elaboração de novo, sendo a primeira complexa e multi-colorida prancha no conjunto. Portanto, pessoas com dificuldades em situações complexas ou de processamento de estímulos emocionais sentem-se desconfortáveis com esta placa.
Beck: ser parahumano (laranja)
Piotrowski: não existe uma resposta popular
Dana (França): não existe uma resposta popular
A característica da Prancha IX é a forma indistinta e difusa, silenciado características cromáticas, criando uma indefinição geral. Existe apenas uma resposta popular, e é a menos frequente de todos os cartões. Tendo dificuldades com o processamento, esta placa pode indicar dificuldade para lidar com dados não estruturados. Na área laranja é comum respostas de criaturas semelhantes a humanos (classificados como parahumanos) como bruxas ou pessoas fantasiadas.
Beck: caranguejo, lagosta, aranha (azul)
Piotrowski: caranguejo, aranha (37%, azul),
cabeça de coelho (31%, verde claro),
lagartas, larvas, cobras (28%, verde)
Dana (França): não existe uma resposta popular
A Prancha X é estruturalmente semelhante à Prancha VIII, mas a sua incerteza e complexidade são uma reminiscência da Prancha IX: as pessoas que têm dificuldade de lidar com muitos estímulos simultâneos podem particularmente não gostar dela. Além das respostas de animais é comum respostas de fogo de artifício e flores.

Críticas e controvérsias

Até o desenvolvimento do sistema de Exner, a falta de padronização do teste de Rorschach foi o principal alvo de críticas ao teste. Exner, com seu sistema abrangente, ofereceu ao mundo científico um sistema que, ao menos em teoria, correspondia aos padrões psicométricos: validade (ou seja, o teste mede o que deve medir), confiabilidade ou fiabilidade (ou seja, o teste é exato na medição) e objetividade (ou seja, diferentes pessoas chegam ao mesmo resultado). O sistema de Exner foi validado e normatizado em populações de diferentes países, inclusive Portugal e Brasil[20][21]. Segundo Pasian (2002), o Rorschach já foi testado em diversos estudos normativos no Brasil e está validado nesse país pelo Conselho Federal de Psicologia como eficaz.

Apesar do grande desenvolvimento que o sistema de Exner representou para o Rorschach, seu uso ainda está longe de ser aceito por todos os pesquisadores. Os pesquisadores Scott O. Lilienfeld, James M. Wood, Howard N. Garb e seus colaboradores apontam uma série de problemas ligados tanto ao teste quanto à sua utilização. Em um artigo na revista Scientific American os autores apontam que a aplicação do teste não permite identificar a maior parte dos transtornos mentais tais como definidos nos sistemas atuais de classificação (CID-10 e DSM-IV)[1]. Em outro artigo[22] os autores contra-indicam expressamente o uso do teste como método diagnóstico de diagnósticos psiquiátricos e em contexto forense, além de fazerem recomendações para a melhoria da qualidade dos estudos científicos sobre o teste. Apesar da forte crítica quanto a seu uso em diagnóstico clínico, os autores não desvalorizam o teste totalmente. Eles reconhecem o valor do teste em diversas áreas de pesquisa bem como sugerem seu uso como complementação no diagnóstico da esquizofrenia e de desordens no pensamento. Um outro uso legítimo do teste seria como método exploratório e heurístico em certos tipos de psicoterapia[23].

Uma outra controvérsia ligada ao teste diz respeito à divulgação principalmente das imagens das pranchas, mas também de toda e qualquer informação ligada à forma de realização e interpretação do teste. Para muitos psicólogos, o conhecimento dessas informações por parte da pessoa testada fere a confiabilidade do teste. Apesar de problemas ligados aos direitos autorais já existirem há alguns anos, uma vez que os direitos autorais venceram na maior parte dos países 70 anos após a morte do autor, a controvérsia tomou uma nova dimensão em 2009, quando as pranchas e dados ligados às respostas mais correntes em diferentes países foram publicadas no artigo em inglês da Wikipédia[24]. As discussões ligadas a esse caso levaram à publicação das pranchas em outros meios de comunicação, como os jornais The Guardian e The Globe and Mail[25].

Referências

  1. a b Lilienfeld, Scott O.; Wood, James M. & Garb, Howard N. (2001). What's wrong with this picture?. Scientific American. In: http://www.psychologicalscience.org/newsresearch/publications/journals/sa1_2.pdf
  2. Universidade de Gotteborg. «Classical Rorschach». Consultado em 31 de janeiro de 2010 
  3. a b c d e Exner, John E. Jr. (1993). The Rorschach - a comprehensive system. Volume 1: Basic foundations, 3rd. ed. New York: Wiley.
  4. Binder, Hans (1932). Die helldunkeldeutungen in psicodiagnostischen experiment von Rorschach. Schweiz Archives Neurologie und Psychiatrie, 30, 1-67.
  5. Österreichische Rorschach Gesellschaft. «Weiterentwicklung des Rorschach Verfahrens in Europa und den USA». Consultado em 31 de outubro de 2010 
  6. Universidade de Goteborg. «Classical Rorschach: Rorschach Traditions». Consultado em 31 de outubro de 2010 
  7. a b Bohm, Ewald (1972). Lehrbuch der Rorschach-Psychodiagnostik, 4. Aufl. Bern: Huber.
  8. Dana, Richard H. (2000). Handbook of cross-cultural and multicultural personality assessment. Lawrence Erlbaum. ISBN 9780805827897.
  9. Goldfried, Marvin R.; Stricker, George & Weiner, Irving (1971). Rorschach: Handbook of clinical and research applications. Englewood Cliffs-NJ: Prentice-Hall.
  10. a b c d J. E. Exner. Jr. Manual de interpretação do Rorschach para o sistema compreensivo
  11. J. E. Exner. Jr. Manual de classificação do Rorschach para o sistema compreensivo
  12. Rorschach, Hermann (1927). Rorschach Test – Psychodiagnostic Plates. Hogrefe. ISBN 3-456-82605-2.
  13. «Copyright Durations Wordwide - EU Copyright». Swiss Federal Institute of Intellectual Property. Consultado em 26 de agosto de 2009 [ligação inativa]
  14. «Copyrights – Terms of Protection». Swiss Federal Institute of Intellectual Property. Consultado em 26 de agosto de 2009 
  15. Alvin G. Burstein, Sandra Loucks (1989). Rorschach's test: scoring and interpretation. New York: Hemisphere Pub. Corp.. p. 72. ISBN 9780891167808.
  16. p. 107. ISBN 9780805801026.
  17. Dana 2000, p. 338
  18. Weiner & Greene 2007, pp. 390-395
  19. Weiner & Manual de Interpretação do Rorschach 2003, pp. 102-109
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Bibliografia

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  • Goldfried, Marvin R.; Stricker, George & Weiner, Irving (1971). Rorschach: Handbook of clinical and research applications. Englewood Cliffs-NJ: Prentice-Hall. ISBN 0-13-783225-7
  • Klopfer, B. & Davidson, H. H. (1971). Das Rorschach-Verfahren: Eine Einführung, 2. Aufl. Bern: Huber. (Original em inglês: The Rorschach technique: an introductory manual. New York: Harcourt, Brace, Jovanowich)
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