Prisão de Anemas
Prisão de Anemas Anemas Zindanları | |
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A chamada Torre de Isaac Ângelo, com sua alvenaria caracteristicamente irregular com as colunas de pedra reutilizadas | |
Informações gerais | |
Estilo dominante | bizantino |
Geografia | |
País | Império Bizantino (atual Turquia) |
Cidade | Constantinopla (atual Istambul) |
Coordenadas | 41° 02′ 19″ N, 28° 56′ 27″ L |
Geolocalização no mapa: Turquia |
A Prisão de Anemas (em turco: Anemas Zindanları) é um grande edifício bizantino ligado às muralhas de Constantinopla (moderna Istambul, Turquia). É tradicionalmente identificada com as prisões em honra de Miguel Anemas, um general bizantino que iniciou uma fracassada revolta contra o imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118) e foi a primeira pessoa a ser presa lá. A prisão marca predominantemente os últimos séculos do Império Bizantino, quando quatro imperadores foram presos ali.
Descrição
[editar | editar código-fonte]O edifício está situado no subúrbio de Blaquerna, entre o trecho das muralhas de meados do século XII construído pelo imperador Manuel I Comneno (r. 1143–1180) e as muralhas mais antigas dos imperadores Heráclio (r. 610–641) e Leão V, o Armênio (r. 813–820). Um pequeno trecho da muralha conecta a estrutura a leste com a muralha de Manuel Comneno.[1] O muro exterior da estrutura é extraordinariamente alto, subindo tão alto quanto 23 metros acima do chão em frente dela, e têm 11-20 metros de espessura. Atrás da cortina exterior, o edifício consiste em 12 câmaras de três andares. Sua fachada exterior caracteriza-se por duas torres retangulares construídas lado a lado com um muro compartilhado. As torres gêmeas estão, por sua vez, apoiadas por um contraforte maciço, que se estende por quase 8 metros acima do nível do solo e se projeta de 6.5-9 metros em frente as torres.[2]
Apesar de sua proximidade, as duas torres diferiam muito em construção, uma diferença que se estende para o parapeito também, indicando uma construção em momentos distintos.[3] A torre sul é uma estrutura quadrilateral irregular de dois andares. Sua alvenaria é muito desigual, incluindo vários pilares de pedra que foram inseridos nela, frequentemente não totalmente, e seu contraforte é feito de pedras pequenas e montadas irregularmente.[4] Seu arranjo interior, com seu andar superior espaçoso, grandes janelas, e varanda dirigida ao oeste, sugere um uso como uma torre residencial. Combinados, estes fatores fortemente apoiam sua identificação tradicional com a chamada Torre de Isaac Ângelo: segundo o historiador Nicetas Coniata, aquela torre foi construída pelo imperador Isaac II Ângelo (r. 1185-1195; 1203-1204) como forte e residência privada e fez uso de materiais de igrejas arruinadas.[5] Em contraste, a torre norte, que é identificada com a Torre de Anemas, é uma estrutura cuidadosamente construída, exibindo a tipicamente bizantina alternância de camadas de pedra e tijolos. Seu contraforte é construídos de blocos grandes, regulares e cuidadosamente encaixados.[3] A força dos muros e dos contrafortes é explicada ao se considerar que esta estrutura formou o muro de contenção mais ocidental da grande colina em terraço sobre a qual o tardio Palácio de Blaquerna foi construído.[6]
A principal estrutura consiste em 13 muros-contrafortes transversos, perfurados por três arcos de tijolos sobrepostos, que criaram 12 compartimentos, cada um com 9-13 metros de largura. As duas paredes longitudinais não são paralelas, mas se afastam a medida que vão para o norte.[7] O muro leste caracteriza-se por um par de corredores sobrepostos em seus dois níveis superiores, construídos dentro do corpo da muralha e iluminado por lacunas nas fachadas do muro. Os compartimentos do nível do porão não têm janelas, mas os níveis superiores são iluminados através de pequenas abertures no muro oeste.[8] Uma torre com escadaria em espiral conecta a principal estrutura com as duas torres.[9]
Inconsistências na colocação das janelas, que estão parcialmente cobertas pelas adições posteriores, bem como outras evidências de sucessivas alterações, mostram que a estrutura foi construída e modificada em fases separadas. O muro oriental da cidade veio primeiro, como uma simples muralha defensiva com galerias das quais flechas e outros projéteis poderiam ser atirados através das aberturas.[10] O resto da estrutura principal foi adicionada depois, provavelmente como um revestimento reforçado para a colina do palácio. O papel dos compartimentos é incerto; eles foram identificados como celas de prisão, o que levou a aplicação do nome "Prisão de Anemas" para a estrutura torda, mas tal hipótese não pode ser conclusivamente provada. É possível que funcionaram como armazéns ou (os dois níveis superiores ao menos) como quarteis.[11]
Quanto às torres, eles presumivelmente foram adicionadas depois, com a torre sul sendo mais antiga que a norte, uma vez que esta compartilha uma muralha que manifestamente pertence a anterior.[12] Isso, contudo, derruba sua identificação, respectivamente, como as torres de Isaac Ângelo e Anemas, pois a Torre de Anemas é registrada como já existindo nos primeiros anos do século XII do século XII, mais de 70 anos antes da construção da Torre de Isaac Ângelo.[13] Várias hipóteses foram introduzidas para dar conta disso. Uma teoria é que a identificação tradicional delas está invertida, ou que juntas constituem o mesmo edifício sob diferentes nomes. Outra propõe que a real Torre de Anemas fica mais ao norte e foi uma das torres da muralha de Heráclio.[14] Todas as teorias, contudo, contêm vários problemas, e a identificação tradicional permanece em uso padrão hoje.[15]
Presos
[editar | editar código-fonte]Segundo Ana Comnena (Alexíada, XII.6-7), Miguel Anemas foi o primeiro homem a ser preso lá, e a torre e prisão foram nomeadas subsequentemente em sua homenagem.[16] Miguel havia conspirado contra o pai de Ana, o imperador Aleixo I, mas a conspiração foi descoberta e ele e seus partidários foram capturados e sentenciados à prisão e cegueira, a punição costumeira para traidores. Seus apelos por misericórdia quando estava sendo levado através da via Mese criou simpatia na população e em Ana. Junto com sua mãe, ela intercedeu em nome dele com Aleixo e o imperador demonstrou clemência por Anemas: ele não foi cegado, mas confinado por vários anos na torre que recebeu seu nome.[17] O próximo prisioneiro chegou na torre mesmo antes de Anemas ser perdoado e libertado. Foi Gregório Taronita, o duque da Cáldia, a região em torno de Trebizonda. Tomando vantagem do relativo isolamento de sua província, tentou fazer-se um governante independente em 1104.[18] Mesmo após sua captura, segundo a Alexíada, ele permaneceu provocador, implicando em seu longo encarceramento antes de ser liberto e perdoado.[19]
O próximo prisioneiro foi o imperador deposto Andrônico I Comneno (r. 1183–1185), que foi preso lá na véspera de sua execução pública no Hipódromo de Constantinopla, em 12 de setembro de 1185.[20] O próximo prisioneiro conhecido foi João Beco, então o cartofílax de Santa Sofia e futuro patriarca de Constantinopla como João XI, que foi preso lá por opôr-se às pretensões de reunir as Igrejas Católica e Ortodoxa do imperador Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282).[21] Em 1322, Sirgianes Paleólogo, que conspirou com e contra o imperador Andrônico II Paleólogo (r. 1282–1328) e seu neto e oponente Andrônico III (r. 1328–1341) na guerra civil deles, foi preso, porém em condições confortáveis, antes de ser perdoado e restaurado a seus ofícios em 1328.[22]
A prisão foi novamente utilizada nos conflitos dinásticos dos Paleólogos durante a década de 1370. O imperador João V Paleólogo (r. 1341-1376; 1379-1391) prendeu seu filho mais velho Andrônico IV após uma fracassada rebelião. Andrônico, contudo, escapou, e com auxílio genovês e otomano, conseguiu usurpar o trono de seu pai por três anos (1376–1379). Durante este tempo, João V e seus filhos mais novos, Manuel – o futuro Manuel II (r. 1391–1425) – e Teodoro I, foram presos na Prisão de Anemas.[23]
Referências
- ↑ van Millingen 1899, p. 131.
- ↑ van Millingen 1899, p. 131–132.
- ↑ a b van Millingen 1899, p. 132–133.
- ↑ van Millingen 1899, p. 132.
- ↑ van Millingen 1899, p. 143–145.
- ↑ van Millingen 1899, p. 138.
- ↑ van Millingen 1899, p. 134.
- ↑ van Millingen 1899, p. 134–135.
- ↑ van Millingen 1899, p. 136–138.
- ↑ van Millingen 1899, p. 139–140.
- ↑ van Millingen 1899, p. 140–142.
- ↑ van Millingen 1899, p. 141.
- ↑ van Millingen 1899, p. 146–149.
- ↑ van Millingen 1899, p. 149–153.
- ↑ Turnbull 2004, p. 31, 60.
- ↑ van Millingen 1899, p. 154.
- ↑ van Millingen 1899, p. 155–156.
- ↑ Kazhdan 1991, p. 2013.
- ↑ van Millingen 1899, p. 156.
- ↑ van Millingen 1899, p. 156–157.
- ↑ van Millingen 1899, p. 157–160.
- ↑ van Millingen 1899, p. 161.
- ↑ van Millingen 1899, p. 162–163.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Turnbull, Stephen R.; Dennis, Peter (2004). The walls of Constantinople AD 324-1453 (em inglês). Oxford: Osprey Publishing. ISBN 9781841767598
- van Millingen, Alexander (1899). Byzantine Constantinople: The Walls of the City and Adjoining Historical Sites (em inglês). Londres: John Murray Ed.