Tragédia do Cine Oberdan

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Tragédia do Cine Oberdan
Tragédia do Cine Oberdan
Fachada do Cine Oberdan, na década de 1930.
Localização São Paulo, Brasil
Data 10 de abril de 1938 (86 anos)
Resultado 31 mortos

A Tragédia do Cine Oberdan faz referência a uma calamidade ocorrida em 10 de abril de 1938, naquele que era então um dos principais cinemas da região central de São Paulo, capital do estado homônimo, no Brasil.

Trata-se de um caso de alarme falso de incêndio que vitimou trinta crianças e um adulto, enquanto tentavam desesperadamente fugir do edifício. É considerada assim a maior tragédia infantil da cidade.

Era tarde de domingo e a sessão exibia o filme Criminosos do Ar, de 1937.[1][2]

Histórico[editar | editar código-fonte]

O Cine Oberdan foi inaugurado no ano de 1929, como Theatro Oberdan. Projetado pelo imigrante italiano Augusto Marchesini para a Sociedade Italiana de Mútuo Socorro Guglielmo Oberdane, localizava-se na esquina das ruas Saião Lobado com Chavantes, hoje Ministro Firmino Whitaker, no Brás. Parte dos custos foi bancada pelo Conde Francesco Matarazzo, presidente honorário da entidade.

O prédio era decorado com azulejos portugueses no teto e estátuas no hall. A sala foi preparada para 1 600 pessoas e seu nome homenageava o anarquista italiano Guglielmo Oberdan.Posteriormente foi vendido para a Empresa Teatral Paulista.[3]

Segundo relatos, no dia dos fatos, durante a exibição do filme, alguém entre os espectadores teria gritado "fogo!", o que fefrou inúmeras controvérsias. O alarme falso colocou a plateia em pânico, que correu buscando a saída. Porém, a única porta do prédio e as duas escadarias de acesso ao andar superior eram estreitas e não comportavam o fluxo de pessoas, assim muitos foram pisoteados e esmagados. O socorro chegou em seguida, porém muitos dos sobreviventes levados à Santa Casa de São Paulo não resistiram. No total, trinta menores de idade e um adulto faleceram.

A vítima maior de idade era Maria Pereira, que tinha 45 anos e morreu ao salvar sua filha, Joana, com menos de um ano de idade.[4]

Luto e repercussão[editar | editar código-fonte]

O evento causou comoção em São Paulo, que tinha cerca de um milhão de habitantes. Multidões acompanharam o velório das vítimas, realizado no então "Cemitério do Brás", atual Cemitério da Quarta Parada, onde vinte das vítimas foram sepultadas. Seis dos falecidos foram enterrados no Cemitério da Penha, três no Cemitério do Araçá e dois no Cemitério de Itaquera.

A notícia teve repercussão mundial, com telegramas de solidariedade de países como Itália, Cuba e Peru. A cidade decretou três dias de luto oficial e operários das fábricas foram convidados a enviar comissões para os eventos fúnebres.

Medidas posteriores[editar | editar código-fonte]

Após a tragédia, o governo federal determinou que escolas de todo país realizassem treinamentos de incêndio e dicas para momentos de pânico. Medidas de segurança foram adotadas em salas de cinema e teatros.

Investigações[editar | editar código-fonte]

Muitos boatos passaram a circular sobre o que gerou o equívoco. Um deles dava conta de que em uma das cenas do filme, dois aviões se chocaram, fazendo com que alguém gritasse "fogo!", mas isso foi desmentido.

Posteriormente, chegou-se à conclusão de que um menino foi ao banheiro, mas como as luzes não funcionavam, ele pôs fogo em algumas folhas de jornal, utilizando fósforos. Para auxiliar a iluminação, deixou a porta entreaberta. Ao verem as chamas e sentirem cheiro de queimado, pessoas entraram em desespero e contaminaram os demais. A multidão correu em direção à única saída, uma porta de ferro, que estava trancada. As crianças morreram pisoteadas.[5]

A reportagem do Correio Paulistano narrou que um jornal parcialmente queimado foi encontrado em uma das cabines de banheiro do cinema.

“Junto a elle [o jornal queimado] estava uma calça de menino, e a suposição creada é a de que esse pequeno tivesse estado ali, firmando, e tivesse queimado o jornal proposital ou accidentalmente. Teria sido essa a fumaça que toldou a tela, justamente quando na fita o avião se incendiou", afirmou a publicação.[6]

Vítimas[editar | editar código-fonte]

Relação das vítimas fatais:[7][8]

  • Adelino Fontes (tinha 15 anos e residia no bairro de Itaquera)
  • Antônio Della Paschoa (tinha 10 anos e residia na rua Barão de Ladário, 270)
  • Antônio Bonifácio (tinha 13 anos e residia na rua Maria Carlota, 6)
  • Aparecido Bertolato (tinha 15 anos e residia na rua Müller, 23)
  • Armando Alegre (tinha 15 anos e residia na rua Oriente, 31)
  • Armando Vavá (tinha 8 anos e residia na rua Coronel Cintra, 67)
  • Enrico Mandorino (dados desconhecidos)
  • Ferdinando Machado (tinha 14 anos e residia na rua Coronel Machado, 105)
  • Francisco Trento (tinha 13 anos e residia na rua Claudino Pinto, 167)
  • Jayme Sallinas Gonçaves (tinha 10 anos e residia na rua Rio Bonito, 22)
  • João Fontes (dados desconhecidos)
  • Joaquim de Souza (tinha 13 anos e residia na rua Ricardo Gonçalves, 70)
  • José (tinha 14 anos e residia na avenida Celso Garcia, 1130)
  • José Moreno (tinha 11 anos e residia na rua Santa Rita, 382)
  • Maria Pereira (tinha 45 anos e residia em Guarulhos)
  • Mário da Conceição (tinha 16 anos e residia na rua Coimbra, 39)
  • Miguel (tinha 12 anos e residia na Travessa Particular, 12)
  • Miguel Garcia (tinha 13 anos e residia na rua Durvalina, 6)
  • Milton Casale (tinha 12 anos e residia na rua Celso Garcia, 221 – casa 10)
  • Nelson Paulo de Souza (tinha 10 anos e residia na rua Oriente, 599)
  • Nicola Del Poso (tinha 12 anos e residia na rua Almeida Lima, 171)
  • Orlando (tinha 11 anos e residia na rua Rio Bonito, 58)
  • Placidio Rubinho (tinha 9 anos e residia na rua Claudino Pinto, 167)
  • Rubens (tinha 14 anos e residia na rua Coimbra, 43-B)
  • Salvador Aurungo (tinha 11 anos e residia na rua Visconde de Parnaíba, 1993)
  • Waldermar Silva (tinha 11 anos e residia na rua Oriente, 567)
  • Waldomiro Lima (tinha 12 anos e residia na rua Itaquera, 8)
  • Walter Pricoli e seu irmão Pedro Pricoli (tinham 12 e 8 anos, respectivamente, e residiam na rua Maria Joaquina, 90)
  • Waltuir Gonçalves (tinha 17 anos e residia na rua Carlos de Campos, 82)
  • Vítima desconhecida

O Edifício[editar | editar código-fonte]

O estabelecimento foi interditado por um breve período e retornou à atividade após mudanças nas regras de funcionamento das salas de cinemas paulistas, como a proibição de trancar as portas, implementação de saídas de emergência, maior rigor na iluminação de corredores e na capacidade de público. Permaneceu em atividade até o final da década de 1960, quando foi fechado e vendido.[9]

Em 1972 foi transformado numa filial das Lojas Zelo. Até os dias de hoje está em funcionamento e mantém boa parte do visual arquitetônico original.[10][11]

Referências

  1. R7: Após 75 anos, tragédia do Cinema Oberdan ainda guarda mistérios
  2. «Tragédia no Cine Oberdan completa oitenta anos | Memória». VEJA SÃO PAULO (em inglês). Consultado em 21 de maio de 2020 
  3. São Paulo Antiga: A Tragédia do Cine Oberdan
  4. Barros, Lorena (10 de abril de 2020). «Boato de incêndio causou maior tragédia infantil de São Paulo há 82 anos». Último Segundo. Consultado em 17 de janeiro de 2023 
  5. «O pânico no Cine Oberdan». MegaCurioso - As curiosidades mais interessantes estão aqui. 17 de março de 2020. Consultado em 21 de maio de 2020 
  6. Barros, Lorena (10 de abril de 2020). «Boato de incêndio causou maior tragédia infantil de São Paulo há 82 anos». Último Segundo. Consultado em 3 de maio de 2023 
  7. O Arquivo: A tragédia do Cine Oberdan
  8. «Brasil, São Paulo, São Paulo, Registros de Sepultamento, 1858-1977 — FamilySearch.org». www.familysearch.org. Consultado em 21 de maio de 2020 
  9. «Cine Oberdan no Brás - SP». www.encontrabras.com.br. Consultado em 17 de janeiro de 2023 
  10. «Cine e Teatro Oberdan». São Paulo Antiga. 10 de janeiro de 2019. Consultado em 21 de maio de 2020 
  11. «A Tragédia do Cine Oberdan». São Paulo Antiga. 13 de janeiro de 2011. Consultado em 21 de maio de 2020