Tufão Catastrófico de 1874

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Devastação do tufão em Yau Ma Tei. Foto de Lai Afong
Resultado do tufão. Foto de Lai Afong

O Tufão Catastrófico de 1874 (em chinês: 甲戌風災) foi um tufão de enormes proporções que atingiu o sul da China em setembro de 1874. É tido como o pior tufão na história de Macau e o terceiro pior a atingir Hong Kong.

Curso da tempestade[editar | editar código-fonte]

O tufão atingiu Hong Kong com "violência sem precedentes"[1] e deixou nada menos que 2.000 pessoas feridas. No entanto, cerca de 5.000 pessoas perderam a vida em Macau, tornando o tufão a pior tempestade já registada a atingir Macau, sendo o Tufão Hato em 2017 a segunda pior.[2]

A colônia britânica de Hong Kong passou por um período de baixa pressão, típico do olho de um tufão. A partir das 20h, os ventos sopraram e uivaram com sons ensurdecedores, ao lado dos gritos dolorosos de muitas pessoas que ficaram sem casa. O tufão aumentou de força continuamente até 2h15 da manhã. Uma análise moderna em 2017 indicou que este grande tufão passou aproximadamente 50 a 60 km ao sul de Hong Kong em sua abordagem mais próxima, semelhante ao Hato em 2017.

Alguns aventureiros foram para Praya às 23h e se encontraram com a água até os joelhos e correram o risco de serem levados pelas ondas que atingiam a costa. Eles foram forçados a recuar por volta da 1h da manhã, pois os ventos atingiam velocidades cada vez maiores. O East Point em Causeway Bay registrou um nível de água de mais de um metro acima de sua média. Muitas lojas, mesmo longe da orla de Praya, foram inundadas e danificadas pela água.

O tufão começou a enfraquecer depois das 3 da manhã, mas seu impacto de duas horas feriu e matou muitos na colônia. A comunicação telegráfica foi interrompida e a comunicação com a ilha de Hong Kong foi interrompida por um tempo. A cidade havia sofrido grandes perdas, suas estradas estavam desertas e cobertas de escombros, telhados de casas estavam arruinados, janelas quebradas e paredes caídas, cabos e canos de gás explodidos e árvores arrancadas.

Resultado[editar | editar código-fonte]

A maioria dos 37 navios no porto foi danificada e centenas de juncos de pesca e sampanas naufragaram ou quebraram, apesar de estarem sob o abrigo da baía. À época, Hong Kong não tinha seu próprio observatório meteorológico e muitas pessoas esperavam que a tempestade viesse de uma direção diferente, enquanto outros foram pegos de surpresa e naufragaram ou perderam suas casas. Alguns alertas falsos de tufão haviam sido anunciados no início do ano.

Na manhã seguinte, via-se barcos virados e cadáveres flutuando e à deriva na água com alguns corpos arrastados para a costa pelas marés altas.

A cadeia de Stonecutters Island, de dimensões consideráveis, foi deixada em ruínas e os tribunais de polícia e a Cadeia de Victoria tiveram seus telhados descobertos. O dano geral foi considerado "incalculável".[1]

Ernst Eitel contou como muitas das casas europeias e chinesas foram arruinadas e ficaram sem telhado; grandes árvores foram desenraizadas e cadáveres foram encontrados nas ruínas e começaram a emergir na orla marítima dos navios naufragados.[3]

Um visitante que chegou em um navio a vapor de Pequim durante o tufão relatou que a orla quase foi varrida, quase não sobrou uma sequer árvore no Jardim Botânico e muitos edifícios foram encontrados sem telhado e em ruínas. As pessoas enterravam apressadamente os mortos, pois o calor era intenso e havia grande preocupação com o surgimento de doenças contagiosas.[4]

Após o incidente, o astrônomo brasileiro Francisco Antônio de Almeida, em seu relato de 1879, descreve um episódio de incêndio criminoso e saques em dois armazéns em que alguns estrangeiros foram assassinados, crime pelos qual os dois autores foram condenados à morte. Almeida também cita jornais ingleses da época que calcularam até oito mil vítimas do tufão, muitas delas famílias espanholas que fugiam das Guerras Carlistas e rumavam às Filipinas.[5]

Controvérsia[editar | editar código-fonte]

O capitão superintendente de polícia Walter Meredith Deane recebeu severas críticas por ordenar que seus homens fossem confinados em quartéis, em vez de arriscar o resgate das tripulações dos navios naufragados Leonor e Albany. Recusando os pedidos de inquérito público, o governador Sir Arthur Kennedy passou todos os documentos sobre o assunto ao secretário de Estado, Lord Carnarvon, que confirmou a decisão de Kennedy.[1]

Referências

  1. a b c Norton-Kyshe, James William (1898). History of the Laws and Courts of Hong Kong. Vetch and Lee Ltd (1972 reissue). 2. [S.l.: s.n.] 
  2. "TERRIFIC TYPHOON IN HONGKONG", The Straits Times, 10 October 1874, Page 1
  3. Eitel, Ernest John (1895). Europe in China: the history of Hongkong from the beginning to the year 1882. Luzac & Co. London: [s.n.] 
  4. Mrs Hugh Fraser, (1911) A Diplomat's Wife in Many Lands. Hutchison & Co.: London. Vol 2, Chapter XXIII, Two weddings and a voyage to the East : in the wake of a typhoon, p397-400.
  5. Dr. Francisco Antonio de Almeida (janeiro de 1879), Da França ao Japão, Rio de Janeiro, OCLC 1020876163, OL 6327358M, Wikidata Q99930394 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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