Saltar para o conteúdo

Usuário(a):Carolina Bulhões/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Igreja Sagrado Coração de Jesus[editar | editar código-fonte]

A Igreja do Sagrado Coração de Jesus, designada, usualmente por Igreja do Coração de Jesus, é a igreja paroquial do Coração de Jesus, freguesia de Santo António que pertence ao Patriarcado de Lisboa, sita na Rua Camilo Castelo Branco, nº 4, em Lisboa.

Construída entre 1962 e 1967, foi inaugurada em 25 de Junho de 1970 e obteve o primeiro prémio do concurso a que o programa tinha sido sujeito. É obra dos arquitectos Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, tendo-lhe sido atribuído o Prémio Valmor de 1975. Os arquitetos realizaram uma obra de carácter “experimental”, sendo uma charneira no núcleo de equipamento religioso. O modo como a escala da arquitectura se articula em simbiose com a dimensão urbana, onde é valorizado o espaço público, são vitais para a boa prática de uma cidadania efectiva. A sua inserção urbana, mas também a linguagem brutalista que adoptaram, de betão à vista são algumas das características. Na concepção do projeto, houve o propósito de inserir o edifício no quarteirão envolvente e de criar espaços públicos de acesso e de ligação entre as duas ruas que o marginam, o que resulta no desaparecimento do objecto arquitectónico, enquanto elemento isolado que se dissolve na estrutura urbana do lote através de uma “boa solução volumétrica e integração urbana correcta”. [1]

A igreja e o corpo dos anexos desenvolvem-se em vários níveis, seguindo o desnível do terreno, unidos por um espaço aberto central, designado adro que serve de elemento articulador dos acessos em socalcos, ligando as cotas das diferentes ruas através de um percurso urbano resolvido com escala e intimidade. A dilatação da rua e a penetração do espaço público no lote, são propostas inovadoras do programa de “igreja que se abre arquitectonicamente para a cidade”, correspondendo a um espaço interno dinâmico, rico e participante desenvolvido através da sobreposição de plataformas traduzidas num piso principal, cripta e diversos níveis de galerias e balcões. O conceito de espaço sagrado integrado no tecido urbano, concretizando, com a criação de um adro que liga um percurso entre as duas ruas, a ideia da igreja aberta à sociedade e aos valores da cidadania. A igreja faz parte de um complexo paroquial que apresenta para além dos espaços dedicados ao culto, uma secretaria, cafetaria, capelas mortuárias, auditório e ainda outros espaços para atividades socioculturais.A sobreposição de plataformas na igreja (piso principal, cripta, galerias e balcões) centra-se em dois fulcros, o santuário e o baptistério, e orienta-se num movimento de abertura em relação ao conjunto paroquial e à praça interiorizada, que é o coração do espaço exterior. Ou seja, não se estabelece apenas uma direcção ao altar-mor, mas sim este movimento de abertura com diversas orientações, que concorrem para acentuar a fluidez do espaço. Na concepção da nave principal, procurou-se uma forma envolvente centrada no altar, para enfatizar esse espaço nos actos litúrgicos, dando muita importância e atenção à entradas de luz, de modo a a hierarquizar e a dinamizar as relações espaciais. [2]

Foi edificada para substituir a igreja paroquial do mesmo orago, sita na Rua de Santa Marta, que se tornara pequena para tantos fiéis. Esta igreja fora construída entre 1780 e 1790, com projecto de Manuel Caetano de Sousa, nos terrenos cedidos por Cristóvão de Sousa da Silva d'Alte, tendo a obra sido paga pela Irmandade do Santíssimo, da qual era membro D. Francisco de Sousa Coutinho, 12.º Conde de Redondo. A igreja foi restaurada nos anos 70 do século XIX.

Em 2010 a Igreja do Sagrado Coração de Jesus foi classificada como monumento nacional.

Movimento de Renovação da Arte Religiosa[editar | editar código-fonte]

Paralelamente à sua ação dirigida ao programa habitacional, Nuno Teotónio Pereira lutou por uma arquitetura religiosa contemporânea, que se libertasse de estigmas historicistas, abaixo uma citação do arquiteto que resume algumas das suas preocupações em relação à concepção da igreja: “Uma reflexão sobre o programa colocava em primeiro plano o problema da presença urbana da igreja: de um dos pólos não se poderia iludir que ao novo edifício se atribuía uma projeção mais vasta do que os limites da paróquia residencial, o que desde logo sugeria a procura de uma situação evidente de um destaque volumétrico do templo. Por outro lado, a regularidade do traçado urbanístico da zona pedia uma rotura na continuidade da construção marginal que deixasse verter o espaço público da rua por um “centro paroquial” que se deseja aberto e atractivo.” [3]

Na própria arte religiosa surge o Movimento de Renovação da Arte Religiosa, institucionalizado em 1954 e encabeçado por Nuno Teotónio Pereira. Seis anos mais tarde dirá que “a ideia de formação do MRAR não nasceu: impôs-se-nos. Teve de ser”, pois a realidade da arquitetura religiosa era particularmente opressiva, por ter “especialíssimas exigências de verdade, harmonia e dignidade”, pelo que a prática e aceitação da mentira construtiva nas igrejas era uma verdadeira contradição, que deveria ser condenada e consideravam que “guardar silêncio seria atraiçoar a sua vocação de arquitetos e católicos”. Pretendia criar uma arquitetura religiosa contemporânea, renovada, livre de estigmas historicistas, combatendo assim o “falso tradicionalismo” e o “falso modernismo” das construções da época, de modo a resultar numa maior simplicidade e clareza dos espaços sagrados. O apogeu deste movimento é, sem dúvida, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus do atelier de Teotónio Pereira. [4]


Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Pereira, Paulo (2011). Arte Portuguesa-História Essencial. Lisboa: Círculo de Leitores. 820 páginas 
  2. Tostões, Ana (2004). Arquitectura e Cidadania. Lisboa: Centro Cultural de Belém. 30 páginas 
  3. Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas. Vila do Conde: Verso da História. 2013. pp. 62–63  |coautores= requer |autor= (ajuda)
  4. Tostões, Ana (1997). Arquitectura do século XX - Portugal. Lisboa: Centro Cultural de Belém. pp. 51–52