Usuário(a):Digfish/Cabanas de Tavira

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História de Cabanas de Tavira[editar | editar código-fonte]

A região onde se encontra actualmente situada a localidade foram outrora a parte litoral do que era conhecido como terras da Gomeira, topónimo que aparece no Foral que Afonso III deu a Tavira (ano aqui). Este território estaria delimitado por oeste pela Ribeira do Almargem e a leste pelo Ribeiro do Lacém, sendo delimitado a norte pela estrada de Faro a Castro Marim ou a Serra. No foral citado, estas terras foram doadas à Ordem de Santiago de Espada . O termo "Gomeira" volta a aparecer em documentos históricos até ao século XVIII, mesmo depois da constituição da freguesia da Conceição de Tavira após a constituição da paróquia no princípio do século XVI, cujos limites sul, oeste e leste coincidiriam com os das então denominadas "Terras da Ordem".

Não existe qualquer notícia de residência permanente até cerca de meados do século XVIII, o Forte de São João foi erigido a leste da actual localização da localidade em 1672, em frente ao local onde na altura se situaria a entrada (barra natural) da navegação destinada a Tavira para o mar. Várias razões estiveram por detrás da construção do forte, como ataques regulares a esta costa por parte de piratas oriundos do Norte de África e a Guerra da Restauração.

Em 1732, é constituída em Tavira uma companhia para a exploração da pesca do atum, a Armação dos Mares de Tavira, constituída por seis sócios. Esta armação terá começada imediatamente a levantar as instalações que serviam para habitação dos pescadores envolvidos nesta indústria. Não existem documentos que comprovem a localização do arraial terrestre da armação, mas uma escritura de 1747 vai resolver essa dúvida quando num excerto desse documento se referem a umas "Cabanas da Armação dos atuns", cabanas que são referidas noutro excerto do mesmo documento por "Cabanas da Barra". Segundo mapas e outras fontes, a barra natural de Tavira estaria situada para leste do Forte, o que, por um lado, dava segurança aos pescadores, em virtude da sua guarnição permanente de dez homens, e por outro lado, não conviria a que a Armação ficasse situada muito longe da abertura para o mar, devido à dificuldade de transporte das redes e da estrutura para o mar alto através de embarcações, tendo o arraial da armação sido levantado provavelmente junto da foz do Ribeiro da Conceição ou Canada, onde desembocava um caminho que provinha da Igreja da Conceição, seguindo paralelo ao troço do ribeiro até à sua foz, o que permitia a comunicação com Tavira. Estas cabanas não teriam, no entanto, habitação permanente, sendo ocupadas apenas durante os meses da passagem do atum. Apenas em 1757 foi possível deslindar em registos paroquiais um nascimento ocorrido na localidade, sinal de que já haveriam famílias constituídas a residir em permanência nas referidas cabanas. No ano seguinte há notícias de um aforamento de terras em que é referido novamente o termo "Cabanas da Armação". Estas cabanas aparecem em dois mapas de José Sande de Vasconcelos datado de entre 1770 a 1790: primeiro o "Mappa das Terras da Tavira" e depois noutro mapa : "O Borrão de Campo de huma legoa d' suburbios orientaes de Tavira". Em ambos os mapas vemos um ajuntamento de quadrados: não sabemos se serão já habitações de taipa ou ainda cabanas de junco. Em ambos os casos o Sande de Vasconcelos refere "âncoras". Serão sem dúvidas as inúmeras âncoras usadas nas almadravas que estariam em posição de repouso recolhidas na praia.

Apenas em 1827 há novas notícias de Cabanas nos registos camarários: são dez os individuos. Em 1841, João Baptista da Silva Lopes na sua "Corografia do Reino do Algarve" refere-se novamente a estes "Cabanas da Armação", referindo-se aos seus habitantes que se dedicam à pesca no mar, não referindo se ainda seriam usadas pelos pescadores dedicados exclusivamente à lida do atum. Provavelmente, devido ao constante deslocar da barra natural para leste, a armação terá se movido para a Ilha de Tavira, defronte mais ao menos onde se situa o Forte do Rato. Nessa mesma ilha, e a cerca de um quilómetro para leste do local onde foi lançado primeiro Arraial, mas por volta dessa altura é construído um novo arraial de pesca do atum : a Armação da Abóbora, por parte de outro consórcio privado, a Lisbonense. Na carta constante na obra de Silva Lopes, vemos um cordão dunas em constante prolongamento para leste, e a barra defronte do Forte de S. João é dada como "perdida". É de supor que arraial de habitações da nova armação da Abóbora tenha sido construído mesmo no fim deste cordão dunar em expansão, pois por um lado podia-se varar as embarcações no interior da ria, em águas mais calmas, por outro lado, poder-se-ia lançar directamente a almadrava para o mar a partir da praia, sem ter de a transportar por uma distância se o arraial estivesse situada na margem continental mais longe de uma abertura para o mar. Por outro lado, o aumento da dimensão e da complexidade das almadravas aconselhava a que a sua montagem fosse efectuada junto da costa. A armação da Abóbora, como as demais armações de pesca de atum, era ocupada apenas durante as fazes da passagem do atum junto da costa. Fora destas ocasiões, os "companheiros" regressavam às suas habitações de origem.

As cabanas da armação terão sido, portanto, gradualmente substituída por habitações de alvenaria e pedra gradualmente ao longo do século XIX. Durante esse século, a povoação terá crescido no sentido oeste-leste, sendo quem em 1870 foi aberto o caminho de ligação de Conceição a Cabanas (que ao chegar a Cabanas é a actual rua Jorge Ribeiro), ao mesmo que era construída a estrada real 78 (o troço aproximado da moderna N125) que ligava o Algarve de lés a lés, deixando fora de uso o velho caminho que acompanhava a canada do Ribeiro da Conceição. Junto deste caminho o sábio algarvio Estácio da Veiga possuía uma casa rural, que havia herdado do avô Sebastião Martins Mestre, herói da resistência contra as invasões francesas no Algarve. É conhecida correspondência datada de 1886 em que o sábio algarvio se dirige ao município de Tavira colocando nas cartas a referência "Cabanas da Conceição". Temos assim dois eixos de expansão da aldeia nascente: uma acompanhando a nova estrada de acesso à estrada Real no sentido sul-norte e a outra na direcção da marginal da ria, de oeste para leste (em direcção ao forte).

Durante muitos anos, e até muito recentemente, o próprio topónimo "Cabanas" não era uma certeza, porque nos registos paroquiais da Conceição de Tavira aparece muitas vezes referências ao lugar do "Sítio da Praia" ou "Sítio da Fortaleza". Gomeira, sem dúvida, foi um topónimo que caiu em desuso e foi conservado apenas pelas propriedades rurais vizinhas (como "Quinta da Gomeira" e "Caminho da Gomeira").

A maior parte da população ocupava-se da pesca do cerco e da xávega. A nível de outras profissões, Estácio da Veiga refere a existência da existência de um açougue na aldeia.

Para as missas e outros ofícios profissionais a população teria de recorrer à sede de freguesia.

A escola frequentada seria a da Conceição, pois apenas em 1927 é referida a existência de um edifício escolar próprio, na já mencionada Rua Jorge Ribeiro.

Referências[editar | editar código-fonte]