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DIVERSIDADE GEOLINGUÍSTICA

Diversidade geolinguística designa o processo de usos diversificados de uma determinada língua que são condicionados, entre outros aspectos, pelos fatores histórico, geográfico, cultural, interacional, econômico e quantidade de falantes. A diversidade geolinguística ganha importância na medida em que contribui como um dos fatores que contribui para consolidação de uma identidade nacional e para expansão dos limites territoriais de uso das línguas atualmente faladas no mundo[1].

Definição

O conceito de diversidade geolinguística pode começar a ser compreendido, inicialmente, a partir das duas palavras que formam o conceito: diversidade e geolinguística. A diversidade, no aspecto linguístico, pode ser compreendida a partir do momento que partimos do pressupostos de que, mesmo sendo classificados como usuários de uma mesma língua-mãe, os falantes fazem uso dessa língua de diferentes formas, condicionados por fatores diversos, tendo finalidades diferentes no uso da língua, direcionados a um público-alvo específico, o que faz com que se possa falar em diversidade linguística.

Geolinguismo no contexto internacional

Os estudos de geolinguismo tiveram seu início, de acordo com alguns teóricos, a partir do Atlas Linguistique de la France (1909) – ALF, cuja autoria é atribuída a Jules Gilliéron (1854-1926) e Edmont Edmond (1854-1926). Além trabalho elaborado pelos dois autores, outros estudos impulsionaram o surgimento dos estudos geolinguísticos, como o Atlas Linguístic de Catalunya (1923), de autoria de Antoni Griera (1887-1973).

Na Europa, também tiveram importância no estabelecimento da Geolinguística como um novo ramo da linguística, os seguintes trabalhos: Atlas linguístico etnográfico da Itália e da Suíça meridional foi realizado pelos linguistas Karl Jaberg (1877-1958) e Jakob Jud (1882-1952); o Atlas Linguístico Romeno foi dirigido por Sextil Puscariu (1877-1948) e o Atlante Linguístico italiano (ALI), projeto elaborado antes de 1914 por Matteo Bartoli (1873-1946). Já no continente americano, a publicação do Linguistic Atlas New of England (LANE), elaborado por Hans Kurath (1939) com seus colaboradores, impulsionou os estudos sobre Geolinguística[2].

Conforme observado, os atlas são os tipos de trabalho que mais ganham importância quando se pensa na expansão da compreensão dos aspectos linguísticos que influenciam uma língua e buscam, a partir da coleta, catalogação e interpretação de dados obtidos junto aos falantes de uma língua, descrever os fatores pertinentes a apropriação, manutenção do uso, expansão das fronteiras geográficas e até mesmo desaparecimento de línguas ao redor do mundo.  Esse tipo de estudos embasa-se em duas variáveis: a monodimensional e a pluridimensional[3].

Em sua concepção, os estudos geolinguísticos levam em consideração, para compreender o fenômeno da diversidade linguística, algumas dimensões relevantes como a diolingual (línguas diferentes), a diatópica (regiões pesquisadas), a diatópico-cinética (migrações de falantes), a diastrática (classes sociais dos falantes), a digeracional (faixas etárias), a dissexual (gênero dos indivíduos), a diafásica (graus de interlocução) e a dirreferencial (questões metalinguísticas).

Um aspecto bastante interessante de ser destacado é que as variações linguísticas advindas de aspectos geopolíticos fizeram imergir um novo conceito. Assim sendo, alguns autores, como Câmara Júnior (1975) defendem que a geolinguística passe a ser compreendida como sendo um método da Dialetologia considerado como sendo o “estudo do arrolamento, sistematização e interpretação de traços linguísticos dos dialetos” (CAMARA JR, 1975, p. 115)[4]. Outros autores como Coseriu (1991)[5], entendem que a Geolinguística deve ser compreendida como uma nova forma de expressão dos estudos linguísticos que “designa exclusivamente um método dialetológico e comparativo que chegou se desenvolver extraordinariamente em nosso século”.

Entrentanto, no centro do debate acerca do papel e contribuição do geolinguismo deve estar seu avanço no sentido de proporcionar aos pesquisadores da área e a toda a comunidade científica e acadêmica elementos que permitam compreender os aspectos que permeiam as formas, expressões linguísticas, usos concretos, novos significados/possibilidades e avanços que expressões linguísticas utilizadas por grupos de falantes (sejam grandes ou pequenos) podem fornecer para a consolidação de uma identidade linguística e compreensão dos aspectos subjacentes à expansão e importância de uma língua, seja a partir de seu uso local, regional ou até mesmo internacional.

O mapeamento dos aspectos geolinguístico é obtido por meio da aplicação de instrumentos de coleta de dados, como o Atlas UNESCO das Línguas do mundo, o qual por meio de um rol de perguntas que abrangem aspectos como a quantidade de falantes, as situações de uso, a presença institucional, os materiais escritos, os suportes auditivos e visuais, a utilização em documentos legais, a incorporação da língua nas práticas sociais dos falantes, distribuição geográfica dos falantes, padronização da escrita (gramática), os instrumentos de institucionalização como língua oficial, entre outros aspectos, busca mapear todos os aspectos que permitam compreender de que forma ela está sendo utilizada pelos falantes de determinadas localidades (aspecto local) e seu posicionamento e importância em termos de maneira mais abrangente e além-fronteiras (aspecto global).

Os estudos atuais buscam aprofundar as definições conhecidas de dialetos, socioletos, linguagem padrão ou norma padrão ou norma culta, idioletos, etnoletos, ecoletos[6], dentre outras que podem contribuir para que se compreenda melhor a contribuição que a variação geolinguística pode fornecer para o entendimento dos fenômenos afins à variação linguística[7].

Políticas geolinguísticas

As políticas geolinguísticas buscam compreender o funcionamento de uma língua, em uso por um determinado grupo de falantes e associado a um continuum territorial. O estudo empreendido parte do pressuposto de que uma língua pode ser influenciada por uma série de fatores que determinam sua importância e abrangência, tais como, a ocupação de um determinado espaço geográfico, a preservação de costumes dos falantes, a medição do poder que pode ser atribuído a uma língua na medida em que expande seus limites de abrangência e se consolida ao longo do tempo.

Além disso, outra questão que ocupa espaço nas políticas geolinguísticas é a questão do reconhecimento, consolidação e divulgação das diferentes variantes linguísticas que podem estar presentes em um mesmo território nacional, buscando mapear a ocorrência de línguas mais ou menos faladas e dos fatores que podem influenciar no fenômeno de expansão ou apagamento de uma língua.

Merece destaque, ainda, a forma como a promoção de instrumentos de consolidação de políticas geolinguísticas que partem do material linguístico encontrado em diferentes línguas podem ser decisivos para que se ultrapasse o fator meramente geográfico que interfere no reconhecimento daquilo que pode ser considerado uma “língua de prestígio”. A questão da soberania linguística ganha, portanto, a partir dos estudos das políticas geolinguísticas, um novo status, que enseja a proposição de estudos que aprofundem as discussões sobre o tema[8].

VER TAMBÉM

* Atlas UNESCO das línguas do mundo

* Diversidade linguística

* Multilinguismo

* Políticas linguísticas

* Preconceito linguístico

Referências

  1. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino (2010). Geolinguística: tradição e modernidade. São Paulo: Parábola Editorial. ISBN 978-85-7934-011-6 
  2. ROMANO, Valter Pereira (2014). «Percurso historiográfico e metodológico da Geolinguística». Papéis: Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens-UFMS: 143. Consultado em 10 de abril de 2024 
  3. CARDOSO, Suzana Alice Marcelino (2002). aa71b52a3df2d54c0_12.pdf «A Geolinguística no Terceiro Milênio: Monodimensional ou pluridimensional?» Verifique valor |url= (ajuda) (PDF). Revista do GELNE (2). Consultado em 10 de abril de 2024 
  4. CÂMARA JR, Joaquim Mattoso (1975). CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. História da lingüística. Trad. de Maria de Amparo Barbosa de Azevedo. Petrópolis: Vozes, 1975 (PDF). Petrópolis: Vozes. p. 115 
  5. ELLA, Silvio (1986). «lntroducción a la Linguística.». Revista do Instituto de Língua Portuguesa. Consultado em 10 de abril de 2024 
  6. OSÓRIO, Paulo (2019). «Sociolinguística e ensino de línguas: teorias e enquadramentos epistemológicos». Liceu Português Rio de Janeiro. Revista do Instituto de Língua Portuguesa (66): 115-132. Consultado em 10 de abril de 2024 
  7. OSÓRIO, Paulo (2002). OSÓRIO, P. Reflexões metalinguísticas sobre a sintaxe do português e a dimensão histórica de fenómenos sintáticos do português arcaico médio. Portugal: Covilhã 
  8. OLIVEIRA, Gilvan Müller de et al. Política linguística, política historiográfica: epistemologia e escrita da histórioa da (s) língua (s) a propósito da língua portuguesa no Brasil Meridional (1754-1830). 2004.