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Léger-Félicité Sonthonax[editar | editar código-fonte]

Léger-Félicité Sonthonax


Léger-Félicité Sonthonax, um abolicionista convicto, nasceu em 1763, na cidade de Oyonnax, França[1]. Vindo de uma família provincial, rica, ainda que não aristocrata, Sonthonax, na década de 1780 estudou Direito na Universidade de Dijon. Ele então se mudou para Paris, onde trabalhou como advogado no parlamento francês.[2]

Em 1792 foi enviado, junto a outros dois comissários, pela Assembleia Nacional para governar São Domingos (atualmente parte do Haiti).[3]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Após formar-se em Direito na faculdade de Dijon, em 1784, Sonthonax vai trabalhar como advogado no parlamento francês, onde seu pai lhe compra um escritório. Então, ele entra em contato com a comitiva do Duque de Orleans, onde encontra um de seus apoiadores e criador da “Sociedade dos Amigos Negros”, Jacques Pierre Brissot, em 1788.[4] Primeiro grupo antiescravista organizado da França, a Sociedade dos Amigos negros surge nas vésperas da Revolução Francesa, sendo composta de um seleto grupo de intelectuais, nobres e financistas dedicados a levar o problema da escravidão ao espaço público por meio de panfletos e petições a Assembléia. O grupo tinha como principal preocupação a fragilidade do sistema colonial da época que, apesar de não deixar a desejar em produtividade, apresentava problemas estruturais profundos, em especial relacionados ao sistema escravista, que ameaçavam sua estabilidade. Vale lembrar, porém, que eles não visavam o fim do sistema colonial. Com um antiescravismo moderado, lutavam pelo fim do tráfico e abolição lenta da escravidão.[5]

Participação política[editar | editar código-fonte]

Afiliado à Sociedade dos amigos negros, fundada por Brissot, Sonthonax também fazia parte do Clube dos Jacobinos, pró-abolicionistas e membros ativos na Revolução Francesa,uma Revolução burguesa com sustentação popular que tem como marco a queda da bastilha em 1789, inaugurando a Idade Moderna. A revolução francesa tem suas raízes na crise fiscal (falta de dinheiro nos cofres públicos) e no confronto entre a nobreza tradicional e a nova classe emergente, a burguesia mercantil. Durante a Revolução, dois partidos principais disputavam o poder, os Girondinos (setor mais conservador) e os Jacobinos (que propunham reformas mais radicais). O governo dos Jacobinos em 1793 resulta na elaboração mais democrática até então na história, com o direito ao voto universal masculino e o direito da revolta popular. Apesar de ter sido um processo histórico regado a muito sangue e mortes, a Revolução é um divisor de águas no mundo ocidental, com os seus conceitos de Igualdade, Liberdade e Fraternidade sendo inspiração para diversas revoltas nas Américas, levando várias colônias à independência[6].

Sonthonax também teve um papel importante na Revolução de São Domingos. Em 24 de Agosto de 1790, numa reunião aberta em Le Cap (cidade na região norte do província de São Domingos), 15.000 pessoas votaram a favor da emancipação dos escravos do norte da colônia. Finalmente, em 29 agosto de 1790, Sonthonax emitiu um decreto que começava com: “Homens nascem e vivem livres e em igualdade de direitos”, todos aqueles que estavam escravizados no momento na província do norte foram declarados livres.[7]

Em 1792, Sonthonax estava em um comitê que debatia uma carta em nome do apoio do Clube Jacobino de 15 de Maio de 1791, decreto que garantia direitos políticos a alguns homens livres e de cor. No mesmo ano, Sonthonax e outros dois comissários foram enviados pela Assembleia Nacional para governar São Domingos.[8]

Os conflitos entre Monarquia e República não foram resolvidos em São Domingos em 1793, apesar de ter sido resolvido na França, com a Revolução. Em meados deste ano, Sonthonax lembra-se do momento em que alguns insurgentes que foram recrutados para o lado Republicano, haviam proposto fazê-lo “rei em nome da República” como forma de acabar com a guerra contra seus inimigos. Tal proposta caiu por terra quando os escravizados perceberam que o conflito entre Monarquismo e Republicanismo era, de fato, uma questão sobre escravidão e liberdade, fazendo com que muitos - apesar de não todos - deixarem a ideia republicana de lado.[9]

Abolição da escravidão e a Revolução de São Domingos[editar | editar código-fonte]

Proclamação da Abolição

A ilha hoje chamada de Haiti, foi primeiro colonizada por espanhóis comprometidos com a exploração do ouro da região. Para este trabalho foi usado muita mão de obra indígena, que acabou dizimada pelos colonizadores, que passam a utilizar a mão de obra escrava africana como substituta. Em 1697, São Domingos (seu nome no período colonial) passa a ser domínio da França, se tornando uma das colônias mais ricas do Ocidente com a produção de açúcar. Essa produção em larga escala precisava de muita mão de obra, o que a leva a ter 90% de sua população constituída por escravos negros no século XVIII. Em meados do mesmo século, os ideais da Revolução Francesa são levados à ilha, juntamente com um impulso revolucionário, pelo escravo liberto Vicent Ogé, que lidera um dos primeiros levantes armados contra os brancos, sendo executado por tal ação em 1791. Porém, sua morte não tem o resultado esperado pelas autoridades, uma vez que se torna um símbolo para os escravos que explodem em rebeliões por toda a ilha.[10]

É este cenário que Sonthonax e Polverel (um dos outros comissários enviados a São Domingos) encontram ao chegar a Ilha. Decidindo confiar no negros livres, aliam-se a neles, após algumas medidas contra os brancos escravistas, proclamando liberdade para todos os escravos que lutariam pela República em 1792. Insatisfeito com tal medida, o novo governador de São Domingos, Galbaud, que tinha acabado de sair da cidade de Le Cap (cidade na região norte do província de São Domingos), rebela-se contra os comissários, sendo apoiado pelos colonos pró-regime escravista.[11]

Em 29 de agosto de 1793, Sonthonax deu um passo radical, que representou um dos eventos mais importantes da história das Américas; decretou a abolição geral da escravidão na província do norte. Em seu decreto, ele afirmou que sua missão era "gradualmente preparar, sem rasgar e abalar, o envolvimento geral dos escravos", fazendo com que a declaração de direitos dos homens e dos cidadãos esteja na constituição pela primeira vez em São Domingos[12]. Um pouco mais tarde, em 21 de setembro, Polverel aboliu a escravidão no oeste e no sul.[12] Sonthonax, ao declarar a liberdade de escravos no norte, foi atacado pela parcela branca da população, em resposta, escreveu um folhetim se defendendo e o espalhou por toda a ilha[13]. Em agosto de 1796, Sonthonax foi eleito deputado de São Domingos ao órgão legislativo. Um ano depois, 24 de agosto de 1797, ele embarcou para a França por pressão do líder negro, Toussaint Louverture: a descolonização, que Sonthonax não queria, estava em andamento. [12]

Volta à França[editar | editar código-fonte]

Depois do evento em São Domingos, a França declara a abolição em todas as suas colônias, com o decreto da Convenção Nacional em 4 de fevereiro de 1974, tendo o clube dos jacobinos levantado a bandeira da “igualdade de pigmentação” do mesmo modo que a Sociedade dos Amigos Negros. A bancada pró-escravista passa a atacar a delegação de São Domingos, travando uma campanha de calúnias sobre seus membros, entre eles Polverel e Sonthonax, acusando-os de "robespierrismo", uma grave acusação na época, sendo a escravidão restituída em 1802.[11]

Ele volta à França no final de 1797, com 34 anos e membro do corpo legislativo, ainda com muito interesse em São Domingos.[12] A partir de 1798 o governo passa a monitorá-lo, apesar disso, em 4 de fevereiro de 1799 ele faz uma grande defesa contra a escravidão na Sociedade dos Amigos Negros. [12]

O golpe de 18 de Brumário encerra sua carreira política. Napoleão Bonaparte ordena seu exílio, ainda em 1799. Depois de passar por diversas cidades, em 1806 ele retorna à Paris, recebendo um novo mandado de exílio em 1813. Assim, ele vai para sua cidade natal, Oyonnax, onde morreu, em 23 de julho, aos 50 anos.[1]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Mémoire de Léger-Félicité Sonthonax à Oyonnax (Ain).
  2. DUBOIS, Laurent. 2004. (p.142)
  3. Ibid. p.142
  4. G.H.C.- Bulletin 20 : Octobre 1990 Page 204 - LEGER FELICITE SONTHONAX.
  5. SAES, 2013
  6. HOBSBAWM, 2003
  7. DUBOIS, Laurent. 2004. (p.163)
  8. DUBOIS, Laurent. 2004. (p.143)
  9. DUBOIS, Laurent. 2004. (p.107)
  10. SOARES; SILVA. 2006
  11. a b DORIGNY, Marcel (2003). The abolitions of slavery: from L. F. Sonthonax to Victor Schoelcher, 1793, 1794, 1848. United States: UNESCO/Berghan Books. pp. 170–173 
  12. a b c d e G.H.C. - Bulletin 20 : Octobre 1990 Page 204 - LEGER-FELICITE SONTHONAX
  13. NESBITT, Nick. 2008.


Bibliografia[editar | editar código-fonte]

BULLETIN, G.H.C., Leger Felicite Sonthonax: Octubre, 1990, p. 204. Disponível em: http://www.abolitions.org/index.php?IdPage=1504598707#sto-onglet-1504598707

DUBOIS, Laurent. Avengers of the new world. 2004. p. 107-163.

DORIGNY, Marcel. The abolitions of slavery: from L. F. Sonthonax to Victor Schoelcher, 1793, 1794, 1848. United States: UNESCO/Berghan Books. p. 170-173

MÉMOIRE DE LÉGER-FÉLICITÉ SONTHONAX  À OYONNAX (AIN). Mémoires des abolitions de l'Esclavage Pôle mémoriel national de l'Est de la France. Disponível em: http://www.abolitions.org/index.php?IdPage=1504598707#sto-onglet-1504598707  

NESBITT, Nick. Universal Emancipation: The Haitian Revolution and the Radical Enlightenment (Charlottesville: University of Virginia Press, 2008). http://islandluminous.fiu.edu/part02-slide03.html.
SAES, Laurent Azevedo Marques de. A sociedade dos amigos dos negros: o antiescravismo na revolução francesa. História econômica & história de empresas vol. 16 n.2, 2013. p. 269-300.

SOARES, Ana Loryon; SILVA, Elton Batista da. A REVOLUÇÃO DO HAITI: UM ESTUDO DE CASO (1791-1804). Ameríndia, ano 1, vol 1. 2006

HOBSBAWM, E. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 84-113