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Usuário(a):HistoriaEditorial/Testes

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Nize Isabel de Moraes (Bauru, 2 de fevereiro de 1938 - Dacar, Senegal, 2015) foi uma mulher negra e historiadora brasileira-senegalense, especialista em História da África, que tornou-se pioneira nos estudos sobre a Senegâmbia, especialmente a região de Petite Côte, entre os séculos XVI e XVII, estudo para o qual dedicou os últimos trinta anos de sua vida. Aposentou no dia 1 de agosto de 2003, depois de vinte e seis anos como pesquisadora associada e sete anos como bolsista do Institut Fondamental d’Afrique Noire (Ifan) da Universidade Cheikh Anta Diop (UCAD).[1][2][3]

A historiadora Nize Isabel de Moraes, conhecida pelos mais próximos em Dacar como Bella, era filha da cozinheira Corina Barbosa de Moraes e do operário Ophélio de Paula de Moraes, que morreu precocemente, em 1951, quando a filha tinha apenas vinte e dois anos. Sua mãe e sua avó Iganácia Barbosa configuraram um cenário familiar predominantemente negra e matriarcal, sendo esta uma das particularidades da história da população negra na história do país.[1]

Formação no Brasil

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Bella estudou no Colégio Caetano de Campos, onde se qualificou para atuar na educação infantil do estado de São Paulo. Ingressou no ensino superior a partir do curso de História do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), obtendo a Licenciatura e o Bacharelado entre 1959 e 1964. Dois anos após a graduação, começou a lecionar a matéria de História para o ensino secundária. Sua relação com os estudos afro-brasileiros e africanos começaram na década de 1960, quando começou a desenvolver seus estudos no Centro de Estudos Africanos (CEA).[1][2]

Logo começaria a articular a continuidade de suas pesquisas no Ifan. Apresentou sua biografia para Amar Samb, o diretor o Ifan, nos seguintes termos:

Sou brasileira, solteira, tenho 30 anos. Sou licenciada em História pela Universidade de São Paulo, eu residohá dois anos em Dakar, onde eu aprendi francês e recebi um certificado em história africana. Estou terminando um artigo sobre A tomada de Gorée no século XVII, que deve aparecer no Bulletinde vosso Instituto.[2]

As correspondências de seu arquivo pessoal, demonstram que sua relação com esta instituição foi determinante para o desenvolvimento de suas pesquisas sobre História da África. No Brasil e no mundo, ainda era um cenário marcado pouca presença de pesquisadoras, assim como negras, o que era ainda mais desigual quando se tratava de pesquisadoras desenvolvendo suas pesquisas no continente africano.[3]

Formação no exterior

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O cenário político brasileiro era marcada pela Ditadura Civil-Militar. Em 1967, sua vida profissional seria marcada pela primeira bolsa de estudos pelo Ifan, onde cursou a especialização em História da África, quando era a antiga Universidade de Dakar. Sua saída do país para estudar no Senegal foi uma resposta ao desencanto com a ditadura militar do Brasil.[2]

A formação como pesquisadora no exterior não foi uma tarefa fácil. Antes das bolsas de pesquisa que conseguiu entre as décadas de 1960 e 1970, teve que trabalhar como cuidadora de uma menina de sete anos pela Embaixada de Israel em Dacar. Como gozava da simpatia da embaixatriz conseguiu um quarto, que ficava debaixo da casa do embaixador.[1] Mas, as bolsas de estudo, que foram quatro no total para pesquisar Senegâmbia pelo Ifan, inclusive uma em cooperação entre França e Senegal, foram fundamentais para a sua sobrevivência.[2]

Hoje é dia 16/11/1967. Hoje faz exatamente 15 dias que estou em Dakar. Aqui não é muito fácil. Todos são diferentes. Fiz 2 exames e não passei em nenhum, pois a língua francesa para mim está se tornando um bocado difícil. Pelo que vejo vou ser obrigada a entrar numa escola para crianças (enfant) para começar o B-A-BA francês. Os negros africanos são completamente diferentes uns dos outros (assim penso eu). Pois não tomam conhecimento da mulher, a moça, que para eles é algo comum, to-das são iguais, eles não fazem diferença alguma. Já tive uma experiência um bocado desagradável com um rapaz de Gana, por sinal bastante desagradável mesmo, tudo por falta de experiência e orientações neste sentido. Só agora posso compreender por que me chamavam de inocente no teatro, todos continuam rindo de mim aqui na África. Tudo por causa da minha maneira de pensar. Ninguém me entende. Quando penso que encontrei uma pessoa amiga, jaz trás [...].[3]

A questão financeira não era o único problema. Teve que lidar com problemas culturais fundamentais para a sua sobrevivência num país cuja língua não era o português, mas o francês. Em outubro de 1968, começou a cursar francês, mas não apenas aprendeu esta língua como o inglês e o wolof, sendo esta uma língua nativa.[4][5]

Atuação profissional

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Arquivo pessoal

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Referências

  1. a b c d Farias, Juliana Barreto; Lopes, Maria Aparecida de Oliveira (16 de dezembro de 2022). «Nize Isabel de Moraes: memórias de uma historiadora na Senegâmbia». FGV. Estudos Históricos. 35 (77): p. 515. ISSN 0103-2186. doi:10.1590/S2178-149420220309. Consultado em 20 de julho de 2024 
  2. a b c d e Oliveira Lopes, Maria Aparecida (27 de julho de 2023). «(Des)fragmentando uma narrativa sobre a vida acadêmica de Nize Isabel de Moraes, historiadora da Petite Côte». UFG. Revista de Teoria da História. 26 (1): p. 37-38. ISSN 2175-5892. doi:10.5216/rth.v26i1.75421. Consultado em 20 de julho de 2024 
  3. a b c Farias, Juliana Barreto (24 de maio de 2023). «Descobrir Nize Isabel de Moraes: o "arquivo pessoal" de uma historiadora negra entre Brasil e Senegal (1967-2015)». Arquivo Nacional. Acervo. 36 (3): p. 3. Consultado em 20 de julho de 2024 
  4. Farias, 2023, p. 3
  5. Idem.