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Usuário(a):Os Vendedores do Passado/Testes

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Primeira página da Bíblia Poliglota Complutense, com o brasão cardinalício de Cisneiros.

A Bíblia Poliglota Complutense foi a primeira edição poliglota impressa da Biblía na sua totalidade, reunindo Antigo e Novo Testamentos. Ela foi financiada pelo Cardeal Francisco Jiménez de Cisneros e publicada pela Universidade de Alcalá de Henares (em latim, Complutum), na Espanha. A bíblia incluía em uma única página a versão Hebraica, Latina, Grega e Aramaica dos textos sagrados. Ademais, sabe-se que das seiscentas impressas, apenas cerca de 150 sobreviveram até os dias atuais.[1]

Com o surgimento da prensa móvel em 1450, tornou-se possível a impressão de textos numa escala, até então, impensável. Por esta época, o Cardeal Cisneros convidou vários eruditos, incluindo Hernán Nuñez, Diego López de Zúñiga, Pablo Coronel e Alfonso de Alcalá para o ambicioso projeto de compilar uma edição poliglota completa da Bíblia. Encontraram-se em Alcalá de Henares (em latim, Complutum) na Universidade de Alcalá, fundada pelo próprio cardeal e, sob seus cuidados, iniciaram o empreendimento da Bíblia Poliglota Complutense.[2]

O Novo Testamento estava completo e impresso em 1514, porém, sua publicação não seria realizada enquanto os trabalhos no Antigo Testamento não fossem concluídos, para que ambos pudessem vir a luz como uma única obra. A notícia do projeto chegou até o conhecimento de Erasmo de Roterdã, que produziu sua própria edição impressa do Novo Testamento grego. Erasmo obteve do imperador Maximiliano e do papa Leão X, o privilégio de ter sua edição publicada antes da Complutense, ganhando assim, o título de "editio princeps".[3] O texto de Erasmo, mesmo que montado às pressas, foi usado como base pelos tradutores do Rei James para a sua própria versão da bíblia.[4]

O Antigo Testamento complutense foi completado em 1517, mas, por força do privilégio obtido por Erasmo, a publicação da Poliglota Complutense foi adiada até que o papa Leão X pudesse sancioná-la em 1520. Acredita-se que sua distribuição foi reduzida até 1522. O cardeal Cisneros morreu em julho de 1517, cinco meses após o término da obra e não chegou a ver sua publicação.[5]

Em uma carta direcionada ao Sumo Pontífice León X, em 1502, Cisneros escreveu explicitamente os motivos que o levaram a elaborar o seu projeto. Na carta, o Cardeal expõe que não existia nenhuma versão que conseguia traduzir com toda a veemência e propriedade a Escritura Sagrada original, principalmente por se tratar, sob a visão cristã, da língua falada por Deus. Além disso, ele argumentou que as bíblias escritas em latim, não se correspondiam entre si, ou seja, possuíam muitas alterações. Então, Cisneros propôs sua edição da Bíblia para corrigir o Antigo e o Novo Testamento.[6]

Identificação das traduções presentes em uma página da Bíblia Poliglota Complutense.

A Poliglota complutense foi publicada em seis volumes. Os primeiros quatro volumes contêm o Velho Testamento. Cada página consiste em três colunas de texto paralelo: hebraico à esquerda, a Vulgata no meio e a Septuaginta grega na última coluna. Em cada página do Pentateuco o texto aramaico (Targum Onkelos) e sua tradução para o latim estavam na parte inferior.[7] No quinto volume, o Novo Testamento, consistia em colunas paralelas do texto grego e da Vulgata; O sexto volume continha dicionários de hebraico, aramaico e grego e textos de apoio.[8]

Texto em Hebraico

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Muitos acreditavam que o hebraico se tratava do idioma do próprio Deus, o que tornou-o elemento central de qualquer Biblía Poliglota. Na Complutense, o texto em hebraico era a peça central, pois, para Cisneros, ele continha o significado e mistério mais completos da Palavra de Deus. Como a Espanha era o principal centro de estudos em hebraico desde a Idade Média, graças à uma próspera comunidade judaíca lá instalada, Cisneros teve acesso aos Manuscritos da mais alta qualidade para produzir a edição hebraica do Complutense, e os conversos recrutados para produzi-lo, Pablo Coronel, Alfonso de Toledo e Alfonso de Zamora, tinham vasta experiência trabalhando com essas fontes.[1]

Vulgata (tradução latina)

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No século XVI, muitos estudiosos reconheceram diversos erros e traduções questionáveis na Vulgata (tradução da Biblía para o latim) feita no século IV por São Jerónimo, que se tornou a versão dominante do Livro Sagrado ao longo da Idade Média. No entanto, essa versão foi considerada a tradução definitiva da Escritura pela Igreja Romana, que proibiu qualquer um de fazer uma edição corrigida. Assim, o Estudiosos Complutensianos, construíram sua edição da Vulgata a partir de manuscritos medievais na Espanha, nenhum dos quais estava completo.[1]

Septuaginta (tradução grega)

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A partir do século XIV, houve um crescente interesse em aprender e usar o grego nos estudos religiosos, o que trouxe a tona a tradução grega do Antigo Testamento (Septuaginta) feita por judeus falantes do idioma que residiam no Egito centenas de anos antes do Cristianismo, um conhecimento praticamente desconhecido na Europa Ocidental medievalista. O Vaticano emprestou manuscritos da Septuaginta a Cisneros, que os usou para produzir a primeira versão impressa do Antigo Testamento em grego completo na sua Bíblia Poliglota. [1][7]

Targum Onkelos (texto em Aramaico)

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O Aramaico foi a principal lingua adotada pelos judeus após a morte do hebraico clássico. Assim, foram feitos manuscritos em Aramaico (Targum Onkelos) que eram uma espécie de parafrase das Escrituras Hebraicas, traduzindo e explicando os textos originais. Muitos desses manuscritos eram usados nas Sinagogas Judaicas ao longo da Europa. Os escolares Complutenses incluiram o Targum na poliglota, com objetivo de se aproximarem ainda mais dos mistérios divinos.[1]

Observações

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Um fac-símile em tamanho fólio foi publicado em Valência entre 1984 e 1987, reproduzindo os cinco primeiros volumes a partir da cópia da Biblioteca dos Jesuítas em Roma. O raro sexto volume foi reproduzido a partir da cópia da Universidade de Madri.

A letra criada para a Complutense por Arnaldo Guillén de Brocar, foi considerada por tipógrafos, como Robert Proctor, como o ápice do desenvolvimento da tipografia grega naquela época de início das publicações impressas. Antes que a letra criada por Aldus Manutius tomasse conta do mercado pelos próximos dois séculos. Proctor baseou sua criação, a letra Otter Greek na letra da Poliglota. A GFS Complutensian Greek da organização grega Greek Font Society igualmente baseou-se na Poliglota.

  1. a b c d e «Polyglots: The Bible in Multiple Tongues, 1502-1657» (PDF). Newberry Library. Consultado em 13 de Agosto de 2024 
  2. REVILLA, Mariano Rico (1917). La Políglota de Alcalá: estudio histórico-crítico. Pasaje de la Alhambra, Madrid: Imprenta Helénica. p. 10-13 
  3. PINILLA, Ignacio García (2016). Reconsidering the relationship between the Complutensian Polyglot Bible and Erasmus’ Novum Testamentum. In: Basel 1516. Erasmus’ Edition of the New Testament. [S.l.]: Mohr Siebeck. p. 61 
  4. EHRMAN, Bart D. (2005). Texts of the New Testament: Editions, Manuscripts and Differences. In: Misquoting Jesus: The History Behind Who Changed the Bible and why. San Francisco: HarperCollins. p. 79. ISBN 978-0-06-073817-4 
  5. PINILLA, Ignacio García (2016). Reconsidering the relationship between the Complutensian Polyglot Bible and Erasmus’ Novum Testamentum. In: Basel 1516. Erasmus’ Edition of the New Testament. [S.l.]: Mohr Siebeck. p. 62 
  6. REVILLA, p.6
  7. a b O'Connel, Séamus (2006). «From most ancient sources : the nature and text-critical use of the Greek Old Testament text of the Complutensian Polyglot bible». ZORA (Zurich Open Repository and Archive). Consultado em 29 de agosto de 2024 
  8. REVILLA, p.49