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O Trabalho Doméstico na Idade Moderna[editar | editar código-fonte]

Introdução[editar | editar código-fonte]

A Idade Moderna é geralmente entendida como o período histórico marcado entre 1453, queda do Império Bizantino, até 1789, Revolução Francesa. Nesse período ocorreram diversas mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas que estão ligadas a transição do feudalismo para o capitalismo. Dentro dessa transição ocorre também a transformação do espaço doméstico e do trabalho.

O trabalho, em seu significado geral, é um conjunto de atividades exercidas pelos seres humanos. O termo doméstico é relativo ao lar, a vida particular ou vida familiar. Desta forma, trabalho doméstico é geralmente compreendido como atividades relacionadas ao ambiente caseiro. É na Idade Moderna que o conceito de trabalho doméstico adquire esses significados.

Tipos de trabalho: produtivo e reprodutivo[editar | editar código-fonte]

No contexto do capitalismo, trabalho produtivo é aquele voltado à produção de bens com valor de troca. Já o trabalho reprodutivo é aquele cujo conjunto de operações diárias são realizadas em prol da sobrevivência dos seres humanos[1]. Nesse sentido, o trabalho produtivo é aquele realizado exclusivamente a produção de capital e o trabalho reprodutivo a realização de procriação orgânica. O trabalho de produção domina o de reprodução e, ao mesmo tempo, o trabalho de reprodução sustenta o de produção.

Nas sociedades pré-industriais da Europa ocidental, o que caracterizava a vida das famílias era a integração entre as funções domésticas e o trabalho produtivo, realizados num único ambiente[2]. Nesse período de transição, a forma de produção industrial mais típica foi o sistema doméstico, adotado primeiramente com a produção têxtil.

As oficinas domésticas, rurais e urbanas, também conhecidas como corporações de ofício, tinham por característica, além da base tecnológica artesanal, o forte entrelaçamento com a vida familiar. O controle de produção e consumo estava sob o domínio da família, a chamada economia familiar. Ou seja, o trabalho reprodutivo e o trabalho produtivo, aconteciam no mesmo ambiente.

Cada tarefa era realizada por uma pessoa, todas reunidas num mesmo espaço, em que trabalho reprodutivo e produtivo eram realizados no ambiente doméstico.

Esses tipos de trabalhos não recebiam conotação sexual para serem realizados, isso muda com na transição do capitalismo comercial para o capitalismo industrial. Esse processo separa as esferas de realização dos dois tipos de trabalho, primeiro conotando grau de valoração, depois se apropria e ressignifica os espaços de atuação, transferindo o trabalho de produção para as fábricas. Essas antigas indústrias domésticas rurais e as oficinas dos artesãos urbanos foram transformadas em empresas familiares pelo modo de produção do sistema doméstico ou, putting-out system.

Putting-out system[editar | editar código-fonte]

O putting-out system, sistema desenvolvido no século XVI, se manteve ativo até meados do século XIX, decaindo a partir da Revolução Industrial. Os primeiros sistemas domésticos ocorreram como uma consequência da divisão de trabalho. Esta divisão de trabalho gerou uma série de problemas de coordenação entre as Corporações de ofício. Contudo, algumas corporações cresceram e ganharam um padrão mais estável do que aquelas que permaneceram fora deste sistema. Os comerciantes puderam ampliar sua rede internacional de vendas.  Por isso o desenvolvimento dessa tendência é muitas vezes considerado uma forma de proto-industrialização. Com a Revolução Industrial, restringiu a produção dos artesãos, reunindo-os em oficinas ou fábricas, dando origem a manufatura.

A divisão sexual do trabalho[editar | editar código-fonte]

Com o deslocamento da proto-indústria para as fábricas, os tipos de trabalhos que antes se misturavam dentro do ambiente doméstico, surge a divisão sexual do trabalho. O trabalho doméstico, ou trabalho de reprodução, começa a ser desvalorizado e conotado até de “não trabalho”[3]. Na nova organização do trabalho, as mulheres tornaram-se bens comuns, ao receber conotação de “não trabalho” para as atividades que exerciam, o trabalho reprodutivo passa a aparecer como um recurso natural[4].

As antigas divisões do trabalho são apropriadas com o desenvolvimento do capitalismo industrial, a transferência do trabalho produtivo para as fábricas conota a desvalorização do trabalho reprodutivo e das mulheres a quem este é destinado. Desta forma, a divisão do trabalho aparece como uma relação de poder que ocultou o trabalho não remunerado realizado pelas mulheres possibilitando a valorização do trabalho produtivo e consequentemente a ampliação do capitalismo[5].

  1. SILVA, Viviane Zerlotini da (2019). «As relações de gênero na produção capitalista no espaço de trabalho.». Cadernos Pagu (55). Consultado em 20 de outubro de 2019 
  2. ALVES, Ana Elizabeth Santos (2013). «A divisão sexual do trabalho: a separação da produção no espaço reprodutivo da família.» (PDF). Redalyc vol 11, núm. 2. Consultado em 20 de outubro de 2019 
  3. FEDERICI, Silvia (2017). Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (PDF). São Paulo: Elefante. 182 páginas. Consultado em 20 de outubro de 2019 
  4. FEDERICI, Silvia (2017). Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (PDF). São Paulo: Elefante. pp. 193–194. Consultado em 20 de outubro de 2019 
  5. FEDERICI, Silvia (2017). Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. (PDF). São Paulo: Elefante. 232 páginas. Consultado em 20 de outubro de 2019