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Usuário(a):Tavaresluiza/Otite média

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OTITE MÉDIA E SUA RELAÇÃO COM A AQUISIÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM[editar | editar código-fonte]

A otite média com efusão (OME – caracterizada pela presença crônica de secreção na cavidade da orelha média [1] e sua perda auditiva relacionada têm sido associadas ao atraso no desenvolvimento da linguagem, principalmente se a doença for recorrente ou de longa duração. Por meio da literatura é possível evidenciar que os primeiros 3 anos de vida de uma criança são primordiais e críticos para a aquisição e desenvolvimento da linguagem. Vários fatores podem prejudicar esse desenvolvimento, como por exemplo, um período mais curto de aleitamento materno, o ingresso precoce em creches e a convivência com grande número de crianças na mesma creche/escola são alguns dos fatores que aumentaram a incidência de otites médias na infância[2].

O desenvolvimento da linguagem se inicia precocemente, mesmo no período pré-natal a criança já é capaz de reconhecer vozes e sons da fala. Sabe-se que existe um padrão universal para a aquisição da linguagem, ou seja, os fonemas, sílabas e a prosódia (pronúncia das palavras) parecem surgir na mesma sequência e na mesma idade em todas as línguas já estudadas. Porém esse desenvolvimento se torna mais específico para cada idioma[3].

O processo maturacional da função auditiva ocorre em conjunto com o processo maturacional do desenvolvimento da fala e das habilidades de linguagem (atenção, memória de trabalho, acesso ao léxico, dentre outras), as principais consequências das otites médias e da perda auditiva sobre a linguagem nessas crianças são erros fonéticos, articulação da fala e dificuldade para compreensão da leitura[4]

Crianças com perda auditiva na faixa etária de um a três anos têm maior dificuldade para aquisição da linguagem, apresentando menor percepção dos sons da fala que contenham consoantes mudas ou fricativas como por exemplo, /s/ e /z/, apresentando frequentemente erros fonéticos na pronúncia de /l/ e /r/, tendo como causa a hipoacusia (perda da audição) condutiva leve – ainda que unilateral – provocada pelas otites médias. Durante essas infecções, a criança recebe estímulos sonoros distorcidos, o que explica a ocorrência dos erros fonéticos. Cerca de 80% das crianças têm pelo menos um episódio de OMS (otite média crônica supurativa) até os oito anos de idade e quando afetadas aproximadamente 55% têm perda auditiva leve nas frequências da fala (médias e altas frequências)[5].

O tratamento adequado das otites médias nos três primeiros anos de vida é fundamental, pois é a fase de maior desenvolvimento da linguagem. Por volta dos 18 meses, o vocabulário da criança apresenta em média, 50 palavras, atingindo 1.000 palavras até os 3 anos. Essa expansão não depende somente da integridade do sistema auditivo, abrangendo também a estimulação e comunicação com as outras crianças e adultos que convivem[6].

A preocupação com as consequências das otites médias na infância principalmente em relação à aquisição da linguagem chegou a modificar o padrão de cirurgias otorrinolaringológicas utilizadas, tornando a timpanocentese - realização de uma pequena incisão no tímpano para aspirar a secreção da orelha média - com inserção de tubo de ventilação o procedimento mais comum nas crianças de diversos países.

A privação sensorial decorrente da otite média secretora pode gerar impacto social evidente, além de se verificar uma habilidade reduzida de detectar sons objetivos em ambientes ruidosos nas crianças maiores que apresentaram OMS[7]. Portanto, a prevenção, diagnóstico, acompanhamento e intervenção precoce das otites, principalmente as que acometem as crianças nos primeiros anos de vida é fundamental e todos os recursos devem ser utilizados com o objetivo de detectar possíveis perdas auditivas decorrentes das doenças otológicas.

Considerando esses dados, acredita-se que as otites médias e a consequente perda auditiva nos três primeiros anos de vida possam ter efeito duradouro, comprometendo não apenas a aquisição da linguagem nesse período crucial, mas também o futuro desenvolvimento e aprendizado escolar da criança[8].

  1. Becker, Celso G.; Silva, Alcino L. da; Guimarães, Roberto E. S.; Becker, Helena M. G.; Barra, Iolanda M.; Oliveira, Wanessa D. (agosto de 2003). «Tratamento cirúrgico da otite média com efusão: tubo de ventilação versus aplicação tópica de mitomicina C». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (4): 513–519. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992003000400012. Consultado em 28 de julho de 2022 
  2. Klausen, Olav (janeiro de 2000). «Lasting Effects of Otitis Media with Effusion on Language Skills and Listening Performance». Acta Oto-Laryngologica (em inglês) (543): 73–76. ISSN 0001-6489. doi:10.1080/000164800454026. Consultado em 28 de julho de 2022 
  3. Balbani, Aracy P.S.; Montovani, Jair C. (outubro de 2003). «Impacto das otites médias na aquisição da linguagem em crianças». Jornal de Pediatria (em inglês) (5). ISSN 0021-7557. doi:10.1590/S0021-75572003000500005. Consultado em 28 de julho de 2022 
  4. Κολούτσου, Κωνσταντίνα. «Speech audiometry test in modern Greek language with sentence lists for hearing impaired children». Consultado em 28 de julho de 2022 
  5. Reis Borges, Leticia. «Avaliação do sistema nervoso auditivo central nas crianças com histórico de otite média». Consultado em 28 de julho de 2022 
  6. Paradise, Jack L. (novembro de 1998). «Otitis media and child development: should we worry?:». The Pediatric Infectious Disease Journal (em inglês) (11): 1076–1083. ISSN 0891-3668. doi:10.1097/00006454-199811000-00038. Consultado em 28 de julho de 2022 
  7. Nery, Claudio de Gois. «Relação da otite média secretora com o crescimento craniofacial e as características oclusais». Consultado em 28 de julho de 2022 
  8. Ruben, R.J. (outubro de 1999). «Persistency of an effect: otitis media during the first year of life with nine years follow-up». International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology: S115–S118. ISSN 0165-5876. doi:10.1016/s0165-5876(99)00145-7. Consultado em 28 de julho de 2022