Usuário:DAR7/Testes/História de Curitiba/História do Alto da XV, do Hugo Lange e do Jardim Social

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No primeiro decênio do século XlX o antigo Jardim Social era constituído por pradarias e possuía como referências famosas na região, o Morro do Querosene e a Colônia Argelina, composta por quinhões agrícolas no antigo Bacacheri. Registram-se documentos dos primeiros mapas de loteamentos que datam da década de 1920. Na segunda metade do século XX, na década de 1950, a antiga região se encontrava na compreensão do então bairro Marumbi e em menor parte do Bacacheri, e só mais tarde, em 1975, teve a sua denominação e demarcação atual, estabelecidas. A procedência do bairro Jardim Social está associada ao estabelecimento de uma ocupação de uso exclusivamente residencial de baixa densidade, ocasionando a formação de um padrão construtivo excelente, que se sobressaiu no panorama urbano da cidade.[1]

No século XlX a antiga região em que atualmente se situa o Alto da Rua XV era até este momento afastada do centro de Curitiba e constituída por um panorama de pradarias. Ainda no princípio do século XX, em 1928, no momento em que foi instalado o hospital da região, mais tarde chamado Hospital Oswaldo Cruz, o antigo bairro era referido como um lugar “isolado da cidade” com uma paisagem, em sua maior parte, destituído de instalações construídas. O bairro teve seu nome ligado à Rua XV de Novembro, que em sua extensão, desde o centro de Curitiba alcançava uma região de maiores altitudes, por isso, chamada Alto da Rua XV. Na primeira metade do século XX, na década de 1940, a região era alcançada pela extensão dos antigos bairros Cajuru, Marumbi e General Carneiro até o momento em que, em 1975, teve sua designação e demarcações tornadas oficiais como bairro Alto da Rua XV.[2]

No princípio do século XX, em 1906, a região do antigo Hugo Lange era até aquele momento composta por pradarias que possuíam em sua extensão as instalações da Colônia Argelina nas cercanias. Em 1915, os antigos Cabral e Juvevê já eram alcançados pela interconexão da rede viária, e o Hugo Lange, possuindo essa ligação com seus primórdios, sentia os reflexos da colonização. Com um desenvolvimento associado aos primitivos caminhos, estabeleciam-se empresas mercantis e de serviços. Como referência local situavam-se as antigas Avenida Nossa Senhora da Luz e a Rua Itupava, tidas como principais elos de conexão dentre as diversas regiões da cidade. Em 1950 a região do Hugo Lange já teve seu espaço assimilado pelas ruas e o seu novo traçado coexistindo com as quintas e propriedades existentes. Apesar desse progresso, sua superfície era constituída nesse período pelos antigos bairros Marumbi, Juvevê e Cabral, surgindo como bairro e com suas atuais divisas, mais tarde, em 1975.[3]

Fundação de Curitiba (1693)[editar | editar código-fonte]

Centro Cultural Vilinha e escultura do Cacique Tindiquera, que teria demarcado o marco zero de Curitiba.

No dia 29 de março de 1693, como comprova a ata, é criada oficialmente a Vila de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, atualmente Curitiba, Nos séculos posteriores, uns das rotas que conectavam Curitiba à antiga Vilinha e à costa, o caminho da Itupava, cortaria a região dos três bairros.[nota 1] Com ele, chegaram os primeiros colonizadores.[4]

Caminho do Itupava (1855)[editar | editar código-fonte]

Caminho do Itupava.

O relatório do Presidente da Província do Paraná, Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos, na solenidade da Assembleia Legislativa Provincial em 8 de fevereiro de 1855, retrataria: “A estrada da Graciosa, sob as vistas do zeloso Manoel Gonçalves Marques, conserva-se em bom estado, como declaram todos os que por ella passam, o que muito abona o dito inspetor, visto que, com pequenas quantias, fez apparecer melhoramentos nas obras a seu cargo, que outros, com somas muito maiores nunca realizaram”. As precauções com a antiga rota possuíam justificativa. Era por meio dela que tropeiros e mercadores trouxeram alimentos de Paranaguá. Através dela ainda chegaram vários imigrantes que, não foram capazes de se habituar ao cotidiano na costa, chegaram ao primeiro planalto paranaense. Na segunda metade do século XIX, a região dos três bairros até esse momento era “bem longe” da cidade, dessa maneira constituída por certas casas de campo e alguns moradores.[5]

Compra de um terreno em Passo do Meio, no Quarteirão do Atuba (1901)[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Sociedade Morgenau.jpg à direita

Em 1893, vinha à região Michael Ange Poplade, um francês perito em cultivo de horta, que chegara da costa principalmente para administrar o conhecido e estranho Jardim Botânico do Barão de Capanema. Michael comprou cinco hectares de área em um local denominado Passo do Meio, situado no Quateirão do Atuba, mais precisamente no atual Clube Morgenau. Nessa região, se encontram as colinas em que desenvolveriam os bairros Jardim Social e Tarumã. A escritura de ocupação também comprova que sua fazenda limitava-se ao norte com a Estrada da Uberaba (hoje Rua XV), ao sul com Franz Müller, a leste com Giácomo Preslery e a oeste com Carlos Wiegrt. Nesse terreno, ele procurou três objetivos: fundar o maior viveiro de árvores exóticas da cidade, organizar viveiros para o surgimento de uvas finas para mesa e industrializar vinhos. O desejo do “francês” teve sucesso. Além de colaborar para o aparecimento de um panorama europeu na cidade, Michael ergueu um dos mais conhecidos lugares deleitosos do começo do século XX.[6]

Mapa de Curitiba (1913)[editar | editar código-fonte]

Os registros já atestam a presença na Rua Itupava do bar de Pedro Mattano, da indústria de gasosas de João Dalcol, da paramentaria de Orestes Camilli e do curtume da família Schlenker. Por essa trilha, também chamada Estrada do Matadouro Velho, transitavam os tílburis com as famílias ricas de Curitiba que iam hospedar aos domingos na Chácara Poplade. O mapa de Curitiba em 1913, indica a localização dos bairros à época. A região era chamada quarteirão da Uberaba. A maior parte do Jardim Social estava situado entre o que os habitantes mais antigos denominariam “Morro do Querosene”, Vila Marumbi e Colônia Argelina, no Bacacheri.[7]

Inauguração do Hospital de Isolamento de Curitiba (1928)[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Hospital Oswaldo Cruz Curitiba PR.jpg à esquerda

No limite do Alto da XV, famílias despertavam com o assobio da indústria de fitas. Quando amanhecia, o fogão à lenha aquecia a casa, dava a brasa para o ferro de passar roupas e liquidificava a manteiga no pão da avó. Até o desfecho da década de 1920, a eletricidade havia vindo só na divisa do Alto da XV. O lampião na parede alumiava a maior parte das residências. A região era tida como tão longe do centro da cidade que em 28 de janeiro de 1928 era instalado, na atual Rua Ubaldino do Amaral, o Hospital de Isolamento de Curitiba (atualmente Oswaldo Cruz). A razão para a eleição do lugar constava nos relatórios públicos: ⁣[8]

Situa-se em local afastado da cidade, mas, ao contrário do Lazareto das Mercês, é de fácil acesso, mesmo nos dias chuvosos. Depois dele, nada mais há, tudo um só banhado, onde não se prevê a construção de novas moradias. É um lugar pouco visitado pelo vulgo, evitando-se assim o contágio.

Primórdios da colonização do Hugo Lange (1934)[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Rua Professor Brandão Curitiba PR.jpg à direita

Notícias e loteamentos no Hugo Lange. As propriedades que já haviam se subordinado aos José Borges e à família Paciornik recebiam novos moradores. No dia 8 de abril de 1934, a família Schneck celebrava a vinda do material de construção em que se construiria sua vindoura casa. Os Schneider e os Hartmann acolhiam novos vizinhos. Na mesma época, o marido de Dona Juvina Graciano adquiria quintas da família Geraldi, na atual Rua Professor Brandão, nas cercanias do rio Juvevê. Revoltada ela falava: “Você vai morar sozinho, porque em banhado eu não moro”. Na região do Jardim Social, os homens capturavam preás nas terras dos Camargo e dos Bittencourt. Na boa educação e extraordinário intelecto e lembrança de Otto Schnek, a conjuntura do bairro Hugo Lange em 1934, abrigava 32 famílias que aí residiam, a saber: Lamik, Seier, Wagner, Dihmaier, Seier, Brenner, Pershcke, Maquinista E. F., Schiefelbein, Machado, Schipanski, Borchnek, Helena, Demari, Hassek, Schnek, Majoski, Steinhnebel, Zink, Bombeiro, família desconhecida, Marti, Ferruci, Schneider, A. Soares e seu armazém, Hartmann, Heibel, Schirmer, Oeller, Piper, Schreiber e R. Wagner.[9]

Fundação do Uracã São Vicente (1946)[editar | editar código-fonte]

Na década de 1940, para chegar do centro até suas residências, habitantes do Alto da XV, Hugo Lange ou Jardim Social iam até à caixa d'água (ponto final) e andavam pelas ruas em macadame ou barro puro que já acessíveis chegavam a parecer um tanto com um bairro. Além da estrutura urbana, os hábitos ainda eram outros. Mulher casada que passeasse em “momentos inoportunos” sem o esposo era assunto para as conversas de portão entre as “senhoras bem informadas”. O rádio, importante meio de comunicação à época, era posto onde se pudesse observá-lo, escutá-lo e contemplá-lo. Nos “campinhos de terra” do Alto da XV, um garoto chamado Barciminho chegava a atrair atenção de quem comparecia aos jogos. Com o passar do tempo, ele ficaria conhecido como Sicupira e partiria dos campos de pelada para disputar partidas em importantes estádios do Brasil.[10]

Vida interiorana (1950)[editar | editar código-fonte]

Caixa d'água da Sanepar, no Alto da XV.

A maneira de viver era simplória. Casas de campo até esse tempo subdividiam a região do Hugo Lange. A água encanada vinha ao bairro. Várias famílias chegavam a fechar seus antigos poços e as descargas sucediam às “casinhas”. Os domingos se iniciavam na eucaristia na igreja do Cristo Rei ou do Cabral, continuavam com os jogos entre o Uracã São Vicente e o Marumbi e acabavam numa pesca de lambaris no rio Bacacheri ou no córrego Tarumã. Menores de idade, que iam com frequência ao catecismo, recebiam ingresso para as vesperais de domingo nas proximidades da igreja do Cabral. Era a época dos cruzadinhos (versão pueril dos Filhos de Maria). Era o momento em que as árvores constituíam o “vídeo game” da criançada. Cada um possuía o seu ramo em macieiras, pereiras, pitangueiras, etc. Aparelho telefônico só o do curtume, na Rua Itupava. Os relógios-cuco anunciavam que o tempo ia transpassando.[11]

Paisagem rural (1965)[editar | editar código-fonte]

Os eletrodomésticos começavam a fazer parte da casa dos curitibanos mais ricos. Como a maior parte das residências tinha quintal, as mesas eram repletas de bolos, doces, tortas e frutas. As mais bem cuidadas ruas eram feitas de paralelepípedo. Boa parte de macadame. Curitiba possuía dimensões menos extensas. A "cidade" acabava ao norte da igreja do Cabral, ao sul no Portão, a leste na caixa d'água e a oeste, nas Mercês. A região do Jardim Social até este momento era ocupada por espaços abertos, pelo vale do córrego Tarumã e pelos lindos e altos eucaliptos que sobressaíam em sua vegetação. Nesse tempo, um jovem denominado Cássio chegava do centro, combatendo o barro do percurso, até vir à rua Fernandes de Barros, no Hugo Lange, onde residia Marina, sua amante. Dado que não existia energia elétrica na região, os amantes e alunos, no momento em que retornavam escola, quando anoitecia, faziam uma pausa para escutar Dona Clara Schreiber, uma suíça que com seu piano colocava música nos verões de lua cheia do Hugo Lange.[12]

Desenvolvimento urbano (1975)[editar | editar código-fonte]

Jardim Ambiental Schiller, no Hugo Lange.

"Jardim Social, o Luxo de Curitiba". "Morar no Jardim é ter conceito". As notícias de jornais anunciavam o que a ocasião e um projetado empreendimento imobiliário faziam com os espaços abertos que anteriormente constituíam o bairro. Em 1975, a neve vinha a Curitiba e o asfalto vinha à Rua Augusto Stresser. O Alto da XV, já um bairro seguro, vivenciava anos de expressiva evolução demográfica. No dia 21 de setembro de 1978, com a participação do Presidente Ernesto Geisel era instalado o Jardim Ambiental, uma construção que conciliava a tubagem do rio Juvevê e a edificação de uma grande área de lazer. No entretanto, como prova a notícia de jornal a região até este momento solicitava soluções.[13]

Inauguração da Dell'Arte Brotto (1984)[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Casas de alto padrão no Jardim Social, em Curitiba.jpg à esquerda

Alto da XV, Hugo Lange e Jardim Social já têm uma característica e perfil. Os terrenos de alguns anos antes cedem lugar a residências de alto padrão, mercado de fino estilo e pequenos prédios. A Augusto Stresser, que anteriormente inundava com as enxurradas do rio Juvevê, começava a albergar um mercado requintado que correspondesse às necessidades de compradores que procuravam "o melhor". Em 1984, era aberta, na Augusto Stresser a Dell'Arte Brotto, uma galeria de arte em que os móveis estão compreendidos dentre os trabalhos artísticos. A região chegava ao roteiro das artes, com colocações de livros no mercado e exibições de artistas nacional e internacionalmente renomados como Manabu Mabe, Max Forti, Di Cavalcanti e Scliar.[14]

Inauguração do Bosque de Portugal (1998)[editar | editar código-fonte]

Aladema de pedra do Bosque de Portugal.

Na opinião dos habitantes mais idosos, Alto da XV, Hugo Lange e Jardim Social entravam na década de 1990 "bem alterados". Casas de famílias convertidas em pontos comerciais e avenidas de trânsito pesado transformaram as particularidades da região. Os fatos, as ruas e os resultados revelavam queda na quantidade de habitantes e alto crescimento em sua potencialidade comercial. De maneira paradoxal, ao passo que o desenvolvimento vinha com muita rapidez, cidade e cidadãos começavam a cuidar de sua "qualidade de vida", levantando questões a respeito de sua própria atuação na cidade e no meio ambiente. Em 1996, era estabelecido o Bosque de Portugal, à beira do córrego Tarumã. Em 1998, vinte anos após a sua fundação, o Jardim Ambiental era reativado.[15]

Notas

  1. Viinha: o mais antigo lugar que se possui notícia na região de Curitiba, povoado pelos exploradores portugueses. Atualmente, equivaleria à região dos bairros Atuba e Bairro Alto, no limite com Pinhais.

Referências

  1. «NOSSO BAIRRO/JARDIM SOCIAL» (PDF). www.ippuc.org.br. Consultado em 18 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 7 de janeiro de 2022 
  2. «NOSSO BAIRRO/ALTO DA RUA XV» (PDF). www.ippuc.org.br. Consultado em 18 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 7 de janeiro de 2022 
  3. «NOSSO BAIRRO/HUGO LANGE» (PDF). www.ippuc.org.br. Consultado em 18 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 7 de janeiro de 2022 
  4. Fenianos 1998, p. 17.
  5. Fenianos 1998, p. 18.
  6. Fenianos 1998, p. 19.
  7. Fenianos 1998, p. 20.
  8. Fenianos 1998, p. 21.
  9. Fenianos 1998, pp. 22–23.
  10. Fenianos 1998, p. 24.
  11. Fenianos 1998, p. 25.
  12. Fenianos 1998, p. 26.
  13. Fenianos 1998, p. 27.
  14. Fenianos 1998, p. 28.
  15. Fenianos 1998, p. 29.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fenianos, Eduardo Emílio (1998). Alto da XV, Hugo Lange e Jardim Social: Unidos pela Itupava, Abençoados pela Nossa Senhora da Luz. Curitiba: UniverCidade