Xarqueada

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Xarqueada[1][2][3] é um romance escrito por Pedro Wayne, publicado em 1937.[4] O livro segue a linha delineada pela prosa do neorrealismo de 1930,[5][6][7] associando-se a narrativas como Porteira Fechada, Sem Rumo e Estrada nova, de Cyro Martins, ou Memórias do Coronel Falcão, de Aureliano de Figueiredo Pinto:[8][9] Trata-se de obras literárias que andam na contramão da exaltação do monarca das coxilhas,[10] em que aparece o gaúcho decadente,[2] afastado dos ideais míticos que lhe foram atribuídos pela tradição[11][12] e que corresponde a um período altamente produtivo da prosa regionalista do Rio Grande do Sul.[13][14][15]

A obra ganhou reedição em 1982 e, em 2018, recebeu nova edição sob orientação de Carlos Appel, em comemoração aos seus oitenta anos.[16][4]

Sobre a grafia do título, ("xarqueada" ao invés de "charqueada", substantivo usado para denominar os saladeiros), Paula Viviane Ramos explica: o romance Xarqueada, de Pedro Wayne (1904–1951), foi, originalmente, publicado em 1937. O título, grafado com X, foi sugestão de Oswald de Andrade e Jorge Amado. A história, ficcional, reporta o dia a dia de uma das mais importantes atividades econômicas do Rio Grande do Sul, já em declínio na época da escrita do livro, a produção de charque.[17]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

O enredo está centrado em Luiz, antigo líder sindical, guarda-livros em uma charqueada,[18][19] chamada Santa Margarida.[20] Luiz tinha ficado desempregado quando faliu uma tradicional instituição financeira, o que acabaria modificando bastante a sua vida. Trata-se de um sujeito com razoável conhecimento, capaz de analisar a realidade com algum senso crítico e que, com o passar do tempo, mobilizou os trabalhadores da charqueada para que buscassem melhores condições de trabalho e salário. A greve fracassou, mas, pela primeira vez, eles tomaram consciência da sua condição de trabalho, da exploração e da miséria em que viviam.

O dono da charqueada é Dionisio, casado com Vera. Ela se satisfaz ao ver o sofrimento dos trabalhadores. Dionisio, por sua vez, apenas quer sempre mais lucros maiores, indiferente ao sofrimento dos homens na charqueada.[21]

Estilo[editar | editar código-fonte]

Dividido em 58 capítulos, o romance traz, em primeiro plano, as doenças e a pobreza, mas, em um segundo plano, é possível verificar a forma violenta com que os trabalhadores são tratados pelos detentores do poder. Na verdade, as péssimas condições em que vivem os trabalhadores é representada pela decadência da própria estância, pelo ambiente insalubre - a charqueada,[22] que, por si só, é um local degradante.[23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. MOREIRA, Maria Eunice. "Charqueadas e Xarqueada: a vida saladeiril na província gaúcha". Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/2418/1892 25 de janeiro de 2019.
  2. a b Alves, Márcio Miranda (10 de outubro de 2017). «Xarqueada, de Pedro Wayne: um romance proletário?». Cenários. 1 (15): 32–45. ISSN 2177-1960 
  3. MASINA, Léa. ―"Xarqueada, de Pedro Wayne: um paradigma do romance gaúcho de 30". In. MASINA, Léa. APPEL, Myrna Bier.(Orgs.) A geração de 30 no Rio Grande do Sul: literatura e artes plásticas. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2000. p. 109-130.
  4. a b Carvalho, ~ Lucio (4 de março de 2018). «Xarqueada ganha edição comemorativa». Consultado em 1 de fevereiro de 2019 
  5. Longhi, Ana Maria (3 de julho de 2014). «Xarqueada : ficção e documento no romance de Pedro Wayne» 
  6. BUENO, Luís. "Uma história do Romance de 30". São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Campinas: Editora da Unicamp, 2006.
  7. DACANAL, José Hildebrando. "O romance de 30". 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
  8. ZILBERMAN, Regina. "A literatura no Rio Grande do Sul". 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992.
  9. HOHLFELDT, Antonio. "Literatura e vida social". 2.ed. Porto Alegre : Ed. da UFRGS, 1998.
  10. CHAVES, Flávio Loureiro. História e literatura. 2.ed. Porto Alegre: Ed.da UFRGS, 1991.
  11. GONZAGA, Sergius. As mentiras sobre o gaúcho: primeiras contribuições da literatura. IN: DACANAL, J.H. & GONZAGA, S. RS: Cultura & Ideologia. Porto Alegre : Mercado Aberto, 1980.
  12. HOHLFELDT, Antonio. "Trilogia da campanha: Ivan Pedro Martins e o Rio Grande Invisível". Porto Alegre: IEL, EdPUCRS, 1998.
  13. FISCHER, Luís Augusto. "Literatura gaúcha". Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.
  14. ZILBERMAN, Regina. "Roteiro de uma Literatura singular". Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992.
  15. CESAR, Guilhermino. "História da Literatura do Rio Grande do Sul". Rio de Janeiro: Editora Globo, 1956.
  16. «Aplausos (27/02/2018)». Folha do Sul Gaúcho - Site Oficial  |  O seu portal de informação e opinião para Bagé e região. Consultado em 1 de fevereiro de 2019. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2019 
  17. [1]
  18. Soares, Fernanda Codevilla (15 de março de 2006). «SANTA THEREZA: UM ESTUDO SOBRE AS CHARQUEADAS DA FRONTEIRA BRASIL URUGUAI» 
  19. «Charqueadas de Bagé e Xarqueada». Jornal do Comércio. Consultado em 27 de janeiro de 2019 
  20. Quadros, Douglas Lemos de (13 de julho de 2015). «A categoria do espaço e o contexto de produção na obra Xarqueada de Pedro Wayne» 
  21. MASSUTTI, Fernanda Alliatti. "Charque e cacau: um estudo socioregional do coronelismo em Pedro Wayne e Jorge Amado". 2015. 90p. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade). Universidade de Caxias do Sul, 2015.
  22. REMEDI, José Martinho Rodrigues. "Condição (sub)humana: um estudo das representações do universo saladeril no romance Xarqueada de Pedro Wayne". (Dissertação de mestrado). Porto Alegre: UFRGS, 1997.
  23. ZILBERMAN, Regina.   "Literatura gaúcha": temas e figuras da ficção e poesia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : L&PM, 1985.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]