Natalus: diferenças entre revisões

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''Natalus stramineus natalensis'' [[Goodwin 1959]]
''Natalus stramineus natalensis'' [[Goodwin 1959]]
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''Natalus'' é um gênero de morcegos de ampla distribuição geográfica que habita regiões da América central e do sul (México e Brasil), até as ilhas do Caribe. ''Natalus''  pertence a família Natalidae, junto com ''Chilonatalus, Nyctiellus e Primonatalus''<ref>{{citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=|titulo=The type locality of ''Natalus stramineus'' (Chiroptera: Natalidae): implications for the taxonomy and biogeography of the genus Natalus.|jornal=Acta Chiropterologica 8(2): 361-380.|doi=|url=https://www.researchgate.net/publication/232685440_The_type_locality_of_Natalus_stramineus_Chiroptera_Natalidae_Implications_for_the_taxonomy_and_biogeography_of_the_genus_Natalus|acessadoem=}}</ref> e tem como características serem morcegos um corpo pequeno e longas orelhas em forma de funil, insetívoros e cavernícolas. A história taxonômica da família Natalidae já passou por diversas alterações e continua controversa e sendo constantemente alterada. Inicialmente ''Natalus'' era o único gênero, tendo como subgêneros ''Chilonatalus, Natalus e Nyctiellus''<ref>{{citar periódico|ultimo=Koopman, K.F. 1994.|primeiro=|titulo=Chiroptera: systematics|jornal=Handbuch der Zoologie, Vol. VIII,Mammalia, Part 60, 1–217. Berlin: Walter de Gruyter.|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> e mais recentemente os três foram colocados na categoria de gênero<ref>{{citar periódico|ultimo=SIMMONS, N. B. 2005|primeiro=|titulo=Order Chiroptera in Mammal species of the World: a taxonomic and geographic reference|jornal=Johns Hopkins University Press, Baltimore, 2141 pp.|doi=|url=http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0327-93832006000200017|acessadoem=}}</ref> junto com ''Primonatalus'' (já extinto)<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=Adrian|data=2011-06-03|titulo=Systematics of Funnel-Eared Bats (Chiroptera: Natalidae)|jornal=Bulletin of the American Museum of Natural History|paginas=1–140|issn=0003-0090|doi=10.1206/636.1|url=http://www.bioone.org/doi/abs/10.1206/636.1}}</ref>. Porém o nome da espécie continua em discussão, inicialmente chamado de ''N. stramineus''<ref>{{citar periódico|primeiro=GRAY, J. E|titulo=A revision of the genera of bats (Vespertilionidae) and the description of some new genera and species|jornal=Magazine of Zoology and Botany, 2: 483–505.}}</ref>, ''N. dominicensis''<ref>{{citar periódico|primeiro=SHAMEL, H. H.|titulo=A new bat from Dominica|jornal=Proceedings of the Biological Society of Washington, 41: 67–68.|Data da publicação=1928}}</ref> , ''N. stramineus natalensis''<ref>{{citar periódico|primeiro=Goodwin, G.G. 1959|titulo=Bats of the subgenus Natalus|jornal=Am. Mus. Novit. 1977: 1 – 22.}}</ref> ,  ''Myotis espiritosantensis''<ref>{{citar periódico|primeiro=Ruschi, A. 1951|titulo=Morcegos do estado do Espírito Santo. Família Vespertilionidae, chave analítica para os Gêneros e espécies representadas no E. Santo. Descrição de Myotis nigricans e Myotis espiritosantensis n. sp. e algumas observações a seu respeito.|jornal=Bol. Mus. Biol. Mello Leitão, Zool. 4: 1 – 11.}}</ref> , ''N. espiritosantensis''<ref>{{citar periódico|primeiro=Ruschi, A. 1970|titulo=Morcegos do estado do Espírito Santo|jornal=Bol. Mus.Biol. Mello Leitão, 20 Zool. 34: 1 – 11.}}</ref> , sendo o segundo nome mais antigo ''Spectrellum macrourum''<ref>{{citar periódico|primeiro=Gervais, P. 1856b|titulo=Documents zoologiques pour servir à la monographie de Ch é iropt è res sud-am é ricains|jornal=C. R. Acad. Sci. Paris 42: 1 – 11.}}</ref><ref>{{citar periódico|primeiro=Gervais, P. 1856a|titulo=Deuxi è me m é moire. Documents zoologiques pour servir à la monographie des Chéiropt è res sud-am é ricains}}</ref> que apesar de não incluir o gênero ''Natalus'', descobriu-se que a espécie descrita era de fato pertencente ao gênero e o nome ''N. macrourus'' vem sendo cada vez mais usado no lugar de ''N. espiritosantensis'', sendo este último considerado sinônimo do primeiro.
''[[Natalus]]'' é um gênero de [[Morcego|morcegos]] de ampla distribuição geográfica que habita regiões da [[América Central|América central]] e do sul (México e Brasil), até as ilhas do [[Caribe|Caribe.]] ''Natalus''  pertence a família Natalidae, junto com ''[[Chilonatalus]], [[Nyctiellus lepidus|Nyctiellus]] e Primonatalus''<ref>{{citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=|titulo=The type locality of ''Natalus stramineus'' (Chiroptera: Natalidae): implications for the taxonomy and biogeography of the genus Natalus.|jornal=Acta Chiropterologica 8(2): 361-380.|doi=|url=https://www.researchgate.net/publication/232685440_The_type_locality_of_Natalus_stramineus_Chiroptera_Natalidae_Implications_for_the_taxonomy_and_biogeography_of_the_genus_Natalus|acessadoem=}}</ref> e tem como características serem morcegos um corpo pequeno e longas orelhas em forma de funil, insetívoros e cavernícolas. A história taxonômica da família Natalidae já passou por diversas alterações e continua controversa e sendo constantemente alterada. Inicialmente ''Natalus'' era o único gênero, tendo como subgêneros ''Chilonatalus, Natalus e Nyctiellus''<ref>{{citar periódico|ultimo=Koopman, K.F. 1994.|primeiro=|titulo=Chiroptera: systematics|jornal=Handbuch der Zoologie, Vol. VIII,Mammalia, Part 60, 1–217. Berlin: Walter de Gruyter.|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> e mais recentemente os três foram colocados na categoria de gênero<ref>{{citar periódico|ultimo=SIMMONS, N. B. 2005|primeiro=|titulo=Order Chiroptera in Mammal species of the World: a taxonomic and geographic reference|jornal=Johns Hopkins University Press, Baltimore, 2141 pp.|doi=|url=http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0327-93832006000200017|acessadoem=}}</ref> junto com ''Primonatalus'' (já extinto)<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=Adrian|data=2011-06-03|titulo=Systematics of Funnel-Eared Bats (Chiroptera: Natalidae)|jornal=Bulletin of the American Museum of Natural History|paginas=1–140|issn=0003-0090|doi=10.1206/636.1|url=http://www.bioone.org/doi/abs/10.1206/636.1}}</ref>. Porém o nome da espécie continua em discussão, inicialmente chamado de ''N. stramineus''<ref>{{citar periódico|primeiro=GRAY, J. E|titulo=A revision of the genera of bats (Vespertilionidae) and the description of some new genera and species|jornal=Magazine of Zoology and Botany, 2: 483–505.}}</ref>, ''N. dominicensis''<ref name=":1">{{citar periódico|primeiro=SHAMEL, H. H.|titulo=A new bat from Dominica|jornal=Proceedings of the Biological Society of Washington, 41: 67–68.|Data da publicação=1928}}</ref> , ''N. stramineus natalensis''<ref name=":2">{{citar periódico|primeiro=Goodwin, G.G. 1959|titulo=Bats of the subgenus Natalus|jornal=Am. Mus. Novit. 1977: 1 – 22.}}</ref> ,  ''Myotis espiritosantensis''<ref name=":3">{{citar periódico|primeiro=Ruschi, A. 1951|titulo=Morcegos do estado do Espírito Santo. Família Vespertilionidae, chave analítica para os Gêneros e espécies representadas no E. Santo. Descrição de Myotis nigricans e Myotis espiritosantensis n. sp. e algumas observações a seu respeito.|jornal=Bol. Mus. Biol. Mello Leitão, Zool. 4: 1 – 11.}}</ref> , ''N. espiritosantensis''<ref>{{citar periódico|primeiro=Ruschi, A. 1970|titulo=Morcegos do estado do Espírito Santo|jornal=Bol. Mus.Biol. Mello Leitão, 20 Zool. 34: 1 – 11.}}</ref> , sendo o segundo nome mais antigo ''Spectrellum macrourum''<ref name=":4">{{citar periódico|primeiro=Gervais, P. 1856b|titulo=Documents zoologiques pour servir à la monographie de Ch é iropt è res sud-am é ricains|jornal=C. R. Acad. Sci. Paris 42: 1 – 11.}}</ref><ref name=":5">{{citar periódico|primeiro=Gervais, P. 1856a|titulo=Deuxi è me m é moire. Documents zoologiques pour servir à la monographie des Chéiropt è res sud-am é ricains}}</ref> que apesar de não incluir o gênero ''Natalus'', descobriu-se que a espécie descrita era de fato pertencente ao gênero e o nome ''N. macrourus'' vem sendo cada vez mais usado no lugar de ''N. espiritosantensis'', sendo este último considerado sinônimo do primeiro.


Apesar de possuir uma ampla distribuição, essa espécie se encontra como quase ameaçada, segundo lista vermelha da IUCN<ref>{{Citar web|url=http://www.iucnredlist.org/details/136448/0|titulo=Natalus espiritosantensis|acessodata=2017-02-22|obra=www.iucnredlist.org}}</ref> , devido principalmente a vulnerabilidade do seu habitat, uma vez que são animais cavernícolas. Além disso a prática de extermínio de colônias de morcegos cavernícolas é muito comum no Brasil.
Apesar de possuir uma ampla distribuição, essa espécie se encontra como quase ameaçada, segundo lista vermelha da IUCN<ref>{{Citar web|url=http://www.iucnredlist.org/details/136448/0|titulo=Natalus espiritosantensis|acessodata=2017-02-22|obra=www.iucnredlist.org}}</ref> , devido principalmente a vulnerabilidade do seu habitat, uma vez que são animais cavernícolas. Além disso a prática de extermínio de colônias de morcegos cavernícolas é muito comum no Brasil.
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'''História taxonômica'''
'''História taxonômica'''


Atualmente a família Natalidae possui quatro gêneros e treze espécies 25. Inicialmente  ''Natalus stramineus'' 9 foi o nome aplicado à diversas populações do gênero ''Natalus'' por todo o novo mundo, sem descrição geográfica específica. E durante muito tempo a dúvida sobre sua localização permaneceu, até que chegou-se à conclusão que o espécime inicialmente analisado e que fazia parte da coleção do Museu Britânico era habitante da América do Sul  e depois Brasil 2. A ideia do morcego habitar o Brasil, levou a criação de um novo nome para a população de ''Natalus''  Caribenha, mais especificamente de Dominica, ''N. dominicensis'' 22 que diferia da população brasileira. Porém, outros estudos levaram a crer que o holótipo de ''N. stramineus'' tinha origem nas Pequenas Antilhas, no Caribe e não no Brasil 9, o que levou a redução da espécie descrita como ''N. dominicensis'' à sinônimo de ''N. stramineus'' e levou a criação de um novo nome para a espécie brasileira  ''N. stramineus natalensis''  considerando-a subespécie de  ''N. stramineus''.
Atualmente a família Natalidae possui quatro gêneros e treze espécies<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=Adrian|data=2011-06-03|titulo=Systematics of Funnel-Eared Bats (Chiroptera: Natalidae)|jornal=Bulletin of the American Museum of Natural History|paginas=1–140|issn=0003-0090|doi=10.1206/636.1|url=http://www.bioone.org/doi/abs/10.1206/636.1}}</ref> . Inicialmente  ''Natalus stramineus''<ref name=":2" /> 9 foi o nome aplicado à diversas populações do gênero ''Natalus'' por todo o novo mundo, sem descrição geográfica específica. E durante muito tempo a dúvida sobre sua localização permaneceu, até que chegou-se à conclusão que o espécime inicialmente analisado e que fazia parte da coleção do [[Museu Britânico]] era habitante da [[América do Sul]]  e depois [[Brasil]] <ref>{{citar periódico|primeiro=DOBSON, G. E. 1878|titulo=Catalogue of the Chiroptera in the collection of the British Museum|jornal=British Museum of Natural History, London, 567 pp}}</ref>. A ideia do morcego habitar o Brasil, levou a criação de um novo nome para a população de ''Natalus''  Caribenha, mais especificamente de Dominica, ''N. dominicensis''<ref name=":1" /> que diferia da população brasileira. Porém, outros estudos levaram a crer que o holótipo de ''N. stramineus'' tinha origem nas [[Pequenas Antilhas]], no [[Caribe]] e não no [[Brasil]]<ref name=":2" /> , o que levou a redução da espécie descrita como ''N. dominicensis'' à sinônimo de ''N. stramineus'' e levou a criação de um novo nome para a espécie brasileira  ''N. stramineus natalensis''  considerando-a subespécie de  ''N. stramineus''.


Contudo, uma espécie brasileira de corpo levemente maior já havia sido descrita como  ''Myotis espiritosantensis'' 17, como habitante da região sudeste do Brasil, porém sua existência não havia sido levada em conta devido a não comunicação entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos. Em seguida, o espécime brasileiro foi também considerado pertencente ao gênero ''Natalus'', e foi reduzido a sinônimo de  ''N. stramineus'' 19. A origem e o nome do morcego continuam em discussão, porém estudos recentes permitiram separar ''N. stramineus'' e ''N. macrourus'' 23 baseado em morfologia.
Contudo, uma espécie brasileira de corpo levemente maior já havia sido descrita como  ''Myotis espiritosantensis''<ref name=":3" /> , como habitante da região [[Sudeste do Brasil|sudeste]] do Brasil, porém sua existência não havia sido levada em conta devido a não comunicação entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos. Em seguida, o espécime brasileiro foi também considerado pertencente ao gênero ''Natalus'', e foi reduzido a sinônimo de  ''N. stramineus''<ref>{{citar periódico|ultimo=Pine, R. H.|primeiro=Ruschi, A.|titulo=Concerning certain bats described and recorded from Espírito Santo, Brazil|jornal=An. Inst. Biol. Univ. Nal. Autón. Méx., Ser. Zool., Mexico, 2:183-196}}</ref>. A origem e o nome do morcego continuam em discussão, porém estudos recentes permitiram separar ''N. stramineus'' e ''N. macrourus''<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tejedor|primeiro=Adrian|data=2006-12-01|titulo=The type locality of Natalus stramineus (Chiroptera: Natalidae): implications for the taxonomy and biogeography of the genus Natalus|jornal=Acta Chiropterologica|volume=8|numero=2|paginas=361–380|issn=1508-1109|doi=10.3161/1733-5329(2006)8[361:TTLONS]2.0.CO;2|url=http://www.bioone.org/doi/abs/10.3161/1733-5329(2006)8%5B361:TTLONS%5D2.0.CO;2}}</ref> baseado em morfologia.


Atualmente, o nome utilizado para se referir a essa espécie de ''Natalus'', é ''N. macrourus'', o segundo nome mais antigo, é que de fato descreveu a espécie tratada, além do autor fornecer possível distribuição geográfica 6. Argumenta-se que Gervais, 1856, descreveu o primeiro espécime dessa espécie fornecendo informações morfológicas e medidas craniais semelhantes aos morcegos habitantes ao sul do rio amazonas e América do sul, além de fornecer medidas craniais. O nome inicialmente utilizado foi  ''Spectrellum macrourum'' , porém estudos recentes o classificaram no gênero ''Natalus'', e foi proposto um novo nome ''N. stramineus macrourus'' 4 combinando os nomes mais antigos com recentes 4 .
Atualmente, o nome utilizado para se referir a essa espécie de ''Natalus'', é ''N. macrourus'', o segundo nome mais antigo, é que de fato descreveu a espécie tratada, além do autor fornecer possível distribuição geográfica. Argumenta-se que Gervais, 1856<ref name=":5" /><ref name=":4" />, descreveu o primeiro espécime dessa espécie fornecendo informações morfológicas e medidas craniais semelhantes aos morcegos habitantes ao sul do [[Rio Amazonas|rio amazonas]] e [[América do Sul|América do sul]], além de fornecer medidas craniais. O nome inicialmente utilizado foi  ''Spectrellum macrourum'' , porém estudos recentes o classificaram no gênero ''Natalus'', e foi proposto um novo nome ''N. stramineus macrourus''<ref>{{Citar web|url=https://www.researchgate.net/publication/260034181_Natalus_macrourus_Gervais_1856_Chiroptera_Natalidae_is_a_senior_synonym_of_Natalus_espiritosantensis_Ruschi_1951|titulo=Natalus macrourus (Gervais, 1856) (Chiroptera: Natalidae) is a senior synonym of Natalus espiritosantensis (Ruschi, 1951) (PDF Download Available)|acessodata=2017-02-22|obra=ResearchGate|lingua=en}}</ref> combinando os nomes mais antigos com recentes.
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!História de Taxonomia de ''N. macrourus''
!História de Taxonomia de ''N. macrourus''
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'''Localização geográfica'''
'''Localização geográfica'''


Espécie pertencente à família Natalidae, que é exclusiva da região Neotropical (México, América Central e América do Sul), a espécie ''N. macrourus'' é uma espécie sul-americana encontrada ao sul do Rio Amazonas e que habita todos os biomas do Brasil 8. Quinze por cento de toda a fauna de morcegos do planeta está no Brasil, e boa parte dessa riqueza está no bioma da Amazônia 15. O Brasil, com sua vasta porção territorial compreende uma alta riqueza de cavernas, com cerca de 12 mil já registradas, ambiente ideal para a habitação de morcegos cavernícolas, porém, os estudos sobre a distribuição desses morcegos ainda são muito fragmentados. Estudos mais recentes (agosto, 2015) mostram registros de ''N. macrourus'' na caverna Kararaô, localizada no estado do Pará, dado que ainda não havia sido demonstrado 26. Além disso, em 2012 reportou-se a primeira ocorrência dessa espécie na caatinga 3,12. Um único espécime foi encontrado no local, o que evidencia a importância de estudos realizados neste bioma, uma vez que existem poucos trabalhos de levantamento na região. Anteriormente a este estudo, o único registro disponível sobre a ocorrência dessa espécie na fauna de morcegos da Paraíba é proveniente da Fazenda Santana, capital João Pessoa, região litorânea do Estado, em ambiente de Mata Atlântica13.
Espécie pertencente à família [[Natalidae]], que é exclusiva da região Neotropical (México, América Central e América do Sul), a espécie ''N. macrourus'' é uma espécie sul-americana encontrada ao sul do [[Rio Amazonas]] e que habita todos os biomas do Brasil <ref>{{citar periódico|ultimo=Ferreira R.|primeiro=Guimarães M.|titulo=“Morcegos cavernícolas do Brasil: novos registros e desafios para a conservação|jornal=Revista brasileira de espeleologia v. 2 nº 4 (2014)}}</ref>. Quinze por cento de toda a fauna de morcegos do planeta está no Brasil, e boa parte dessa riqueza está no bioma da Amazônia <ref>{{citar periódico|ultimo=PATTON, JL., 2012.|primeiro=Paglia, AP.|titulo=Lista anotada dos mamíferos do Brasil.|jornal=2nd ed. Belo Horizonte: Conservação Internacional. 82 p. Occasional Paper, no. 6.}}</ref>. O Brasil, com sua vasta porção territorial compreende uma alta riqueza de cavernas, com cerca de 12 mil já registradas, ambiente ideal para a habitação de morcegos cavernícolas, porém, os estudos sobre a distribuição desses morcegos ainda são muito fragmentados. Estudos mais recentes (agosto, 2015) mostram registros de ''N. macrourus'' na caverna Kararaô, localizada no estado do Pará, dado que ainda não havia sido demonstrado<ref>{{Citar periódico|ultimo=Zortéa|primeiro=M.|ultimo2=Bastos|primeiro2=N. A.|ultimo3=Acioli|primeiro3=T. C.|ultimo4=Zortéa|primeiro4=M.|ultimo5=Bastos|primeiro5=N. A.|ultimo6=Acioli|primeiro6=T. C.|data=2015-08-01|titulo=The bat fauna of the Kararaô and Kararaô Novo caves in the area under the influence of the Belo Monte hydroelectric dam, in Pará, Brazil|jornal=Brazilian Journal of Biology|volume=75|numero=3|paginas=168–173|issn=1519-6984|doi=10.1590/1519-6984.00414BM|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1519-69842015000500168&lng=en&nrm=iso&tlng=en}}</ref> . Além disso, em 2012 reportou-se a primeira ocorrência dessa espécie na caatinga <ref>{{Citar periódico|ultimo=Leal|primeiro=Edson Silva Barbosa|ultimo2=Ramalho|primeiro2=Daniel de Figueiredo|ultimo3=Miller|primeiro3=Bruna Gonçalves|ultimo4=Filho|primeiro4=Paulo de Barros Passos|ultimo5=Neto|primeiro5=João Gomes do Prado|ultimo6=Nova|primeiro6=Fátima Verônica Pereira Vila|ultimo7=Lyra-Neves|primeiro7=Rachel Maria de|ultimo8=Moura|primeiro8=Geraldo Jorge Barbosa de|ultimo9=Telino-Júnior|primeiro9=Wallace Rodrigues|data=2014-01-20|titulo=Primeiro registro da família Natalidae (Mammalia: Chiroptera) para a Caatinga do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil|jornal=Revista Brasileira de Zoociências|volume=14|numero=1,2,3|url=https://zoociencias.ufjf.emnuvens.com.br/zoociencias/article/view/1796|idioma=pt}}</ref>. Um único espécime foi encontrado no local, o que evidencia a importância de estudos realizados neste bioma, uma vez que existem poucos trabalhos de levantamento na região. Anteriormente a este estudo, o único registro disponível sobre a ocorrência dessa espécie na fauna de morcegos da Paraíba é proveniente da Fazenda Santana, capital João Pessoa, região litorânea do Estado, em ambiente de Mata Atlântica<ref>{{Citar periódico|ultimo=Michel|primeiro=Miretzki,|data=2006-01-01|titulo=Padrões de distribuição de mamíferos na Floresta Atlântica brasileira|url=http://www.bv.fapesp.br/pt/publicacao/6764/padroes-de-distribuicao-de-mamiferos-na-floresta-atlantica-b/|idioma=pt}}</ref>.


Os exemplos utilizados demonstram a importância de estudos sobre a riqueza de morcegos do Brasil. Além dos Estados do Pará e da Paraíba, citados acima, há registros do ''N. macrourus'' em todos os biomas brasileiros, tendo sido registrada nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Roraima, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso.
Os exemplos utilizados demonstram a importância de estudos sobre a riqueza de morcegos do Brasil. Além dos Estados do Pará e da Paraíba, citados acima, há registros do ''N. macrourus'' em todos os biomas brasileiros, tendo sido registrada nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Roraima, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso.


Normalmente sua ocorrência está relacionada a ambientes cavernícolas e áreas quentes e úmidas. Por sua dieta, composta basicamente por insetos, costumam ser observados em grandes grupos 16 A gruta do Rio Itaúnas, no município de Conceição da Barra, estado do Espírito Santo foi registrada como sua localidade tipo.
Normalmente sua ocorrência está relacionada a ambientes cavernícolas e áreas quentes e úmidas. Por sua dieta, composta basicamente por insetos, costumam ser observados em grandes grupos<ref>{{citar periódico|ultimo=Lima, I|primeiro=Reis, N.;|titulo=Morcegos do Brasil|jornal=p. 145-147 (2007)}}</ref> A gruta do Rio Itaúnas, no município de Conceição da Barra, estado do Espírito Santo foi registrada como sua localidade tipo.


'''Morfologia'''
'''Morfologia'''


Os membros da família Natalidae tem características morfológicas peculiares, possuem orelhas em forma de funil (o que em alguns lugares concedeu o nome Funnel eared bat - Morcego com orelha de funil - para a família), fossas lacrimais presentes, manúbrio (parte superior do esterno) expandido lateralmente formando uma estrutura parecida com uma placa, os machos possuem uma estrutura singular chamada de órgão natalideo localizado na superfície dorsal do focinho. Este órgão é geralmente visível externamente como uma massa. O órgão natalideo secreta um líquido translúcido, viscoso e esverdeado que pode estar ligado a comunicação.
Os membros da família [[Natalidae]] tem características morfológicas peculiares, possuem orelhas em forma de funil (o que em alguns lugares concedeu o nome Funnel eared bat - Morcego com orelha de funil - para a família), fossas lacrimais presentes, manúbrio (parte superior do esterno) expandido lateralmente formando uma estrutura parecida com uma placa, os machos possuem uma estrutura singular chamada de órgão natalideo localizado na superfície dorsal do focinho. Este órgão é geralmente visível externamente como uma massa. O órgão natalideo secreta um líquido translúcido, viscoso e esverdeado que pode estar ligado a comunicação.


O seu tamanho varia de muito pequeno (2– 3 g, 26.6–31.0 mm) até tamanho médio (6.0–12.6 g, 46.1–51.2 mm), seus corpos são esguios com cauda e extremidades alongadas, no geral suas caudas medem mais que o corpo e cabeça juntos 24 . O uropatágio também apresenta grande tamanho e é fundido a cauda do animal, a membrana da asa é fina e translúcida, o plagiopatágio é conectado ao tornozelo ou a tíbia, o calcâneo é longo e na maioria dos Natalidae se estende até a ponta do uropatágio. Sua pelagem é longa pode variar de densa para escassa, com cores que vão do castanho-amarelado até o castanho escuro.
O seu tamanho varia de muito pequeno (2– 3 g, 26.6–31.0 mm) até tamanho médio (6.0–12.6 g, 46.1–51.2 mm), seus corpos são esguios com cauda e extremidades alongadas, no geral suas caudas medem mais que o corpo e cabeça juntos<ref name=":0" /> . O [[uropatágio]] também apresenta grande tamanho e é fundido a cauda do animal, a membrana da asa é fina e translúcida, o plagiopatágio é conectado ao tornozelo ou a tíbia, o calcâneo é longo e na maioria dos Natalidae se estende até a ponta do uropatágio. Sua pelagem é longa pode variar de densa para escassa, com cores que vão do castanho-amarelado até o castanho escuro.


Com relação à  morfologia no ''N. macrourus'' pode-se apontar como características: o órgão nataliídeo em forma de cunha e coberto por pelos finos. A crista sagital um pouco mais alta e mais acentuada na porção anterior, apófise do processo angular quadrado ou arredondado, margem ventral da dentição curvada para os molares.
Com relação à  morfologia no ''N. macrourus'' pode-se apontar como características: o órgão nataliídeo em forma de cunha e coberto por pelos finos. A crista sagital um pouco mais alta e mais acentuada na porção anterior, apófise do processo angular quadrado ou arredondado, margem ventral da dentição curvada para os molares.
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Pelagem geralmente mais escura dorsalmente do que ventralmente, crânio longo e relativamente largo com moderadas flexões rostrais, rostro largo e curto com sulcos quase imperceptíveis entre as narinas.
Pelagem geralmente mais escura dorsalmente do que ventralmente, crânio longo e relativamente largo com moderadas flexões rostrais, rostro largo e curto com sulcos quase imperceptíveis entre as narinas.


''Fórmula dentária: I2\3 C 1\1 P 3\3 M 3\3 = 38,''
''Fórmula dentária: I2\3 C 1\1 P 3\3 M 3\3 = 38,''<ref name=":0" />


onde I= Incisivo; C= Canino; P= Pré-molar e M= Molar.
onde I= Incisivo; C= Canino; P= Pré-molar e M= Molar.
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Incisivos superiores curtos, I2 sobrepõe I1 em vista lateral (os números são referentes a posição do dente), perfil oclusal dos pré-molares, pré-molares superiores de tamanho semelhante. Cristas mesiais em M1 e M2 curtas e retas, crista mesial ausente em M3. Cíngulo de P4 de tamanho médio e largo; Molares com cúspides relativamente largas.
Incisivos superiores curtos, I2 sobrepõe I1 em vista lateral (os números são referentes a posição do dente), perfil oclusal dos pré-molares, pré-molares superiores de tamanho semelhante. Cristas mesiais em M1 e M2 curtas e retas, crista mesial ausente em M3. Cíngulo de P4 de tamanho médio e largo; Molares com cúspides relativamente largas.


Ecologia e comportamento
'''Ecologia e comportamento'''


Existem no Brasil 174 espécies diferentes de morcegos e isso representa 14% de riqueza mundial. Mesmo com uma riqueza tão grande, há lacunas no conhecimento a quiropterofauna, o que dificulta a preservação das espécies. Cerca de 60% do território brasileiro não contém um registro formal da distribuição de morcegos.  Estima-se que levará 33 anos (caso seja mantido o ritmo atual de inventário) para que haja o registro formal e mais 200 anos para que o Brasil esteja minimamente amostrado para a ocorrência dessa fauna. 1
Existem no Brasil 174 espécies diferentes de morcegos e isso representa 14% de riqueza mundial. Mesmo com uma riqueza tão grande, há lacunas no conhecimento a quiropterofauna, o que dificulta a preservação das espécies. Cerca de 60% do território brasileiro não contém um registro formal da distribuição de morcegos.  Estima-se que levará 33 anos (caso seja mantido o ritmo atual de inventário) para que haja o registro formal e mais 200 anos para que o Brasil esteja minimamente amostrado para a ocorrência dessa fauna. 1

Revisão das 00h56min de 22 de fevereiro de 2017

Introdução

Como ler uma infocaixa de taxonomiaNatalus
Natalus stramineus
Natalus stramineus
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Chiroptera
Família: Natalidae
Género: Natalus
Gray, 1838
Espécie: Natalus macrourus
Sinónimos
Natalus espiritosantensis Ruschi, 1951
Natalus stramineus  ssp. espiritosantensis 

Natalus stramineus natalensis Goodwin 1959

Natalus é um gênero de morcegos de ampla distribuição geográfica que habita regiões da América central e do sul (México e Brasil), até as ilhas do Caribe. Natalus  pertence a família Natalidae, junto com Chilonatalus, Nyctiellus e Primonatalus[1] e tem como características serem morcegos um corpo pequeno e longas orelhas em forma de funil, insetívoros e cavernícolas. A história taxonômica da família Natalidae já passou por diversas alterações e continua controversa e sendo constantemente alterada. Inicialmente Natalus era o único gênero, tendo como subgêneros Chilonatalus, Natalus e Nyctiellus[2] e mais recentemente os três foram colocados na categoria de gênero[3] junto com Primonatalus (já extinto)[4]. Porém o nome da espécie continua em discussão, inicialmente chamado de N. stramineus[5], N. dominicensis[6] , N. stramineus natalensis[7] ,  Myotis espiritosantensis[8] , N. espiritosantensis[9] , sendo o segundo nome mais antigo Spectrellum macrourum[10][11] que apesar de não incluir o gênero Natalus, descobriu-se que a espécie descrita era de fato pertencente ao gênero e o nome N. macrourus vem sendo cada vez mais usado no lugar de N. espiritosantensis, sendo este último considerado sinônimo do primeiro.

Apesar de possuir uma ampla distribuição, essa espécie se encontra como quase ameaçada, segundo lista vermelha da IUCN[12] , devido principalmente a vulnerabilidade do seu habitat, uma vez que são animais cavernícolas. Além disso a prática de extermínio de colônias de morcegos cavernícolas é muito comum no Brasil.

História taxonômica

Atualmente a família Natalidae possui quatro gêneros e treze espécies[13] . Inicialmente  Natalus stramineus[7] 9 foi o nome aplicado à diversas populações do gênero Natalus por todo o novo mundo, sem descrição geográfica específica. E durante muito tempo a dúvida sobre sua localização permaneceu, até que chegou-se à conclusão que o espécime inicialmente analisado e que fazia parte da coleção do Museu Britânico era habitante da América do Sul  e depois Brasil [14]. A ideia do morcego habitar o Brasil, levou a criação de um novo nome para a população de Natalus  Caribenha, mais especificamente de Dominica, N. dominicensis[6] que diferia da população brasileira. Porém, outros estudos levaram a crer que o holótipo de N. stramineus tinha origem nas Pequenas Antilhas, no Caribe e não no Brasil[7] , o que levou a redução da espécie descrita como N. dominicensis à sinônimo de N. stramineus e levou a criação de um novo nome para a espécie brasileira  N. stramineus natalensis  considerando-a subespécie de  N. stramineus.

Contudo, uma espécie brasileira de corpo levemente maior já havia sido descrita como  Myotis espiritosantensis[8] , como habitante da região sudeste do Brasil, porém sua existência não havia sido levada em conta devido a não comunicação entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos. Em seguida, o espécime brasileiro foi também considerado pertencente ao gênero Natalus, e foi reduzido a sinônimo de  N. stramineus[15]. A origem e o nome do morcego continuam em discussão, porém estudos recentes permitiram separar N. stramineus e N. macrourus[16] baseado em morfologia.

Atualmente, o nome utilizado para se referir a essa espécie de Natalus, é N. macrourus, o segundo nome mais antigo, é que de fato descreveu a espécie tratada, além do autor fornecer possível distribuição geográfica. Argumenta-se que Gervais, 1856[11][10], descreveu o primeiro espécime dessa espécie fornecendo informações morfológicas e medidas craniais semelhantes aos morcegos habitantes ao sul do rio amazonas e América do sul, além de fornecer medidas craniais. O nome inicialmente utilizado foi  Spectrellum macrourum , porém estudos recentes o classificaram no gênero Natalus, e foi proposto um novo nome N. stramineus macrourus[17] combinando os nomes mais antigos com recentes.

História de Taxonomia de N. macrourus
N. stramineus: Gray, 1838
Spectrellum macrourum: Gervais, 1856  
Myotis espiritosantensis Ruschi, 1951
N. espiritosantensis: Ruschi, 1970
N. stramineus natalensis: Goodwin, 1959
N. stramineus espiritosantensis: Ruschi and Pine, 1976
“Nova combinação” N. stramineus macrourus: Gardner, 2007

Localização geográfica

Espécie pertencente à família Natalidae, que é exclusiva da região Neotropical (México, América Central e América do Sul), a espécie N. macrourus é uma espécie sul-americana encontrada ao sul do Rio Amazonas e que habita todos os biomas do Brasil [18]. Quinze por cento de toda a fauna de morcegos do planeta está no Brasil, e boa parte dessa riqueza está no bioma da Amazônia [19]. O Brasil, com sua vasta porção territorial compreende uma alta riqueza de cavernas, com cerca de 12 mil já registradas, ambiente ideal para a habitação de morcegos cavernícolas, porém, os estudos sobre a distribuição desses morcegos ainda são muito fragmentados. Estudos mais recentes (agosto, 2015) mostram registros de N. macrourus na caverna Kararaô, localizada no estado do Pará, dado que ainda não havia sido demonstrado[20] . Além disso, em 2012 reportou-se a primeira ocorrência dessa espécie na caatinga [21]. Um único espécime foi encontrado no local, o que evidencia a importância de estudos realizados neste bioma, uma vez que existem poucos trabalhos de levantamento na região. Anteriormente a este estudo, o único registro disponível sobre a ocorrência dessa espécie na fauna de morcegos da Paraíba é proveniente da Fazenda Santana, capital João Pessoa, região litorânea do Estado, em ambiente de Mata Atlântica[22].

Os exemplos utilizados demonstram a importância de estudos sobre a riqueza de morcegos do Brasil. Além dos Estados do Pará e da Paraíba, citados acima, há registros do N. macrourus em todos os biomas brasileiros, tendo sido registrada nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Roraima, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso.

Normalmente sua ocorrência está relacionada a ambientes cavernícolas e áreas quentes e úmidas. Por sua dieta, composta basicamente por insetos, costumam ser observados em grandes grupos[23] A gruta do Rio Itaúnas, no município de Conceição da Barra, estado do Espírito Santo foi registrada como sua localidade tipo.

Morfologia

Os membros da família Natalidae tem características morfológicas peculiares, possuem orelhas em forma de funil (o que em alguns lugares concedeu o nome Funnel eared bat - Morcego com orelha de funil - para a família), fossas lacrimais presentes, manúbrio (parte superior do esterno) expandido lateralmente formando uma estrutura parecida com uma placa, os machos possuem uma estrutura singular chamada de órgão natalideo localizado na superfície dorsal do focinho. Este órgão é geralmente visível externamente como uma massa. O órgão natalideo secreta um líquido translúcido, viscoso e esverdeado que pode estar ligado a comunicação.

O seu tamanho varia de muito pequeno (2– 3 g, 26.6–31.0 mm) até tamanho médio (6.0–12.6 g, 46.1–51.2 mm), seus corpos são esguios com cauda e extremidades alongadas, no geral suas caudas medem mais que o corpo e cabeça juntos[4] . O uropatágio também apresenta grande tamanho e é fundido a cauda do animal, a membrana da asa é fina e translúcida, o plagiopatágio é conectado ao tornozelo ou a tíbia, o calcâneo é longo e na maioria dos Natalidae se estende até a ponta do uropatágio. Sua pelagem é longa pode variar de densa para escassa, com cores que vão do castanho-amarelado até o castanho escuro.

Com relação à  morfologia no N. macrourus pode-se apontar como características: o órgão nataliídeo em forma de cunha e coberto por pelos finos. A crista sagital um pouco mais alta e mais acentuada na porção anterior, apófise do processo angular quadrado ou arredondado, margem ventral da dentição curvada para os molares.

Pode ser considerado um animal de tamanho médio (37.0–42.1 mm) dentro do gênero Natalus, a fileira de dentes maxilares é pequena (6.5–7.0 mm). Focinho longo e achatado dorso ventralmente, narinas elípticas, abertura antero ventral na depressão superficial na margem do lábio superior, lábio inferior marcadamente espessado e comprimido nas margens dorsal e ventral, ouvido externo forma de funil e distalmente fino com as margens medial e lateral profundamente côncavas.

Pelagem geralmente mais escura dorsalmente do que ventralmente, crânio longo e relativamente largo com moderadas flexões rostrais, rostro largo e curto com sulcos quase imperceptíveis entre as narinas.

Fórmula dentária: I2\3 C 1\1 P 3\3 M 3\3 = 38,[4]

onde I= Incisivo; C= Canino; P= Pré-molar e M= Molar.

Incisivos superiores curtos, I2 sobrepõe I1 em vista lateral (os números são referentes a posição do dente), perfil oclusal dos pré-molares, pré-molares superiores de tamanho semelhante. Cristas mesiais em M1 e M2 curtas e retas, crista mesial ausente em M3. Cíngulo de P4 de tamanho médio e largo; Molares com cúspides relativamente largas.

Ecologia e comportamento

Existem no Brasil 174 espécies diferentes de morcegos e isso representa 14% de riqueza mundial. Mesmo com uma riqueza tão grande, há lacunas no conhecimento a quiropterofauna, o que dificulta a preservação das espécies. Cerca de 60% do território brasileiro não contém um registro formal da distribuição de morcegos.  Estima-se que levará 33 anos (caso seja mantido o ritmo atual de inventário) para que haja o registro formal e mais 200 anos para que o Brasil esteja minimamente amostrado para a ocorrência dessa fauna. 1

Uma das espécies que ocorrem no Brasil é o N. macrourus. Estes animais são insetívoros e capturam apenas pequenas presas, acredita-se que este hábito esteja relacionado com a alta frequência de sua emissão ultra-sônica (acima de 85hz)16. Seu período de maior atividade é entre 30 minutos a 2 horas após o pôr do sol. Seu voo de forrageio (busca por alimentos) é delicado, baixo e lento, este animal possui a capacidade de planar e de fazer grandes manobras. Eles são pouco capturados devido ao seu tamanho e sua forma de voo (dificulta a captura pelas redes que são usualmente utilizadas para as pesquisas ) por isso, sua ecologia e seu comportamento não são bem descritos.

O ciclo de reprodução das fêmeas da espécie não é conhecido. A captura apenas de machos na primavera e de machos e fêmeas no verão sugere que há segregação dos sexos após o nascimento dos filhotes. Há poucas informações sobre o comportamento desta espécie porque ele não é muito capturado devido ao seu tamanho e sua forma de voo.


Conservação

A presença destes animais é comumente relatada em florestas secas e semidecíduas e em matas secundárias. Ocasionalmente podem ser encontrados em florestas perenes. O N. macrourus tem baixa resistência a dessecação, sendo assim, são encontrados em ambientes úmidos como cavernas, minas e túneis, são achados preferencialmente nas porções mais profundas e quentes destes abrigos, desta forma sua distribuição depende do sistema cavernas porque são preferencialmente cavernícolas. Segundo Arita (1993), os morcegos podem ser classificados em não cavernícolas (para espécies não registradas em cavernas)  usualmente cavernícolas (para as frequentemente encontradas neste abrigo e em outros), ocasionalmente cavernícolas (para as que já foram registrada em cavernas, mas tem preferência por outros tipos de abrigos) e preferencialmente cavernícolas (para as espécies que o principal abrigo é a caverna). O N. macrourus é preferencialmente cavernícola.

A IUCN 24 classifica esta espécie como quase ameaçada, ela está próxima de ser classificada como vulnerável, uma vez que mesmo sendo amplamente distribuída pela América do sul (Brasil, Bolívia e Paraguai) são dependentes deste habitat altamente frágil. Houve alterações na legislação brasileira para a proteção do patrimônio espeleológico e isto ocasionou em uma redução da proteção das cavernas. Já que elas eram totalmente protegidas e agora as cavidades naturais subterrâneas são classificadas pelo grau de relevância de baixo a máximo de acordo com seus atributos ecológicos, socioeconômicos, hidrológicos, geológicos, paleontológicos, cênicos e histórico-culturais.

Além disto, no Brasil a prática de extermínio de colônias de morcegos é muito difundida - em campanhas contra a raiva. Acredita-se que esta prática seja a responsável pela declínio das populações de morcegos (tanto de N. macrourus quanto de outras espécies cavernícolas), em uma taxa de 20 a 25% a cada geração - 5 anos 1. Outras atividades humanas podem afetar a conservação de morcegos. Um exemplo é a geração de energia eólica, ocorre a colisão desses animais com os aerogeradores, não se sabe exatamente o porquê. Mas existem diversas hipóteses, como a busca pelos insetos que são atraídos pelas turbinas ou bloqueio do sistema de ecolocalização por ultra-frequências produzidas pelo movimento das pás.  

Os morcegos são essenciais para a manutenção dos ecossistemas subterrâneas uma vez que são os agentes de importação de matéria orgânica (pela deposição de guano e eventualmente dos próprios cadáveres) e umidade, lembrando que como é um ambiente escuro não há fotossíntese, por isso esta importação é tão importante. Eles também oferecem outros serviços a comunidade como o controle de pestes em plantações, desta forma os gastos com pesticidas seriam reduzidos e haveria oferta de alimentos mais saudáveis. Por exemplo, uma colônia com 150 morcegos (Eptesicus fuscus) pode comer cerca de 1,3 milhões de insetos por ano. Não se sabe ao certo que serviços biológicos o Natalus espiritosantensis presta porque há poucos trabalhos científicos sobre esta espécie devido a dificuldade de captura.

  • SIMMONS, N. B. Order Chiroptera. In: WILSON, D. E.; REEDER, D. M. (Eds.). Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference. 3. ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2005. v. 1, p. 312-529.
  • TEJEDOR, A. (2005). A new species of funnel-eared bat (Natalidae: Natalus) from Mexico. Journal of Mammalogy 86 (6), 1109-1120.
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  3. SIMMONS, N. B. 2005. «Order Chiroptera in Mammal species of the World: a taxonomic and geographic reference». Johns Hopkins University Press, Baltimore, 2141 pp. 
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