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O abdome muscular é notavelmente robusto e distintamente segmentado.<ref name=":1" /> Existem seis pares de apêndices abdominais ou pleópodes: os primeiros cinco são birremes, largos e achatados, com brânquias filamentosas finas e altamente ramificas que fornecem uma superfície ampla para trocas gasosas desses animais muito ativos. Os estomatópodes constituem um dos dois únicos grupos de malacóstracos que têm brânquias pleopodiais. Apenas os isópodes compartilham essa característica, mas os pleópodes são muito diferentes nesses dois grupos. <ref name=":0" /> Nos machos, o endopódio do primeiro e segundo par de pleópodes são modificados em um petasma, embora no segundo par essa modificação não seja tão proeminente.
O abdome muscular é notavelmente robusto e distintamente segmentado.<ref name=":1" /> Existem seis pares de apêndices abdominais ou pleópodes: os primeiros cinco são birremes, largos e achatados, com brânquias filamentosas finas e altamente ramificas que fornecem uma superfície ampla para trocas gasosas desses animais muito ativos. Os estomatópodes constituem um dos dois únicos grupos de malacóstracos que têm brânquias pleopodiais. Apenas os isópodes compartilham essa característica, mas os pleópodes são muito diferentes nesses dois grupos. <ref name=":0" /> Nos machos, o endopódio do primeiro e segundo par de pleópodes são modificados em um petasma, embora no segundo par essa modificação não seja tão proeminente.


O sexto par de apêndices abdominais são os urópodes. Este é geralmente encontrado separado do télson, mas pode haver em alguns casos uma fusão entre eles, formando um pleotélson. O télson terminal porta o ânus em sua base e pode ser utilizado em espécies do gênero Gonodactylus para se defender contra ataques de outros estomatópodes. <ref name=":2" />
O sexto par de apêndices abdominais são os urópodes. Este é geralmente encontrado separado do télson, mas pode haver em alguns casos uma fusão entre eles, formando um pleotélson. O télson terminal porta o ânus em sua base e pode ser utilizado em espécies do gênero ''Gonodactylus'' para se defender contra ataques de outros estomatópodes. <ref name=":2" />


Os estomatópodes rastejam ao redor utilizando os toracópodes posteriores e os pleópodes em forma de abas. Além disso, essas criaturas podem nadar por meio de batimentos metacronais dos pleópodes (natatórios). Para esses animais relativamente grandes, viver em tocas estreitas requer um grau acentuado de maleabilidade. A carapaça curta e o abdome musculoso e flexível permitem que esses animais torçam duplamente e girem ao redor dentro de seus túneis ou em outros abrigos apertados. Essa habilidade facilita uma reação de fuga, com a qual o camarão-louva-a-deus joga-se rapidamente dentro de sua toca, primeiramente com a cabeça, depois girando o corpo para ficar de frente para a entrada. <ref name=":0" />
Os estomatópodes rastejam ao redor utilizando os toracópodes posteriores e os pleópodes em forma de abas. Além disso, essas criaturas podem nadar por meio de batimentos metacronais dos pleópodes (natatórios). Para esses animais relativamente grandes, viver em tocas estreitas requer um grau acentuado de maleabilidade. A carapaça curta e o abdome musculoso e flexível permitem que esses animais torçam duplamente e girem ao redor dentro de seus túneis ou em outros abrigos apertados. Essa habilidade facilita uma reação de fuga, com a qual o camarão-louva-a-deus joga-se rapidamente dentro de sua toca, primeiramente com a cabeça, depois girando o corpo para ficar de frente para a entrada. <ref name=":0" />

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== Fisiologia ==

=== Sistema Visual ===
O sistema visual dos Stomatopoda é o mais complexo dentre os conhecidos. Seus olhos compostos possuem o maior número de tipos de fotorreceptores dentre os animais conhecidos – entre 16 a 21 receptores diferentes em algumas espécies. <ref>{{citar periódico|ultimo=Marshall|primeiro=N. J.|data=1988|titulo=A unique colour and polarization vision system in mantis shrimps|url=https://www.nature.com/articles/333557a0|jornal=Nature 333, 557-560|acessodata=29/05/2019}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Marshall|primeiro=J.|ultimo2=Cronin|primeiro2=T.W.|data=2007|titulo=Stomatopod eye structure and function: a review.|url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18089120|jornal=Arthropod Struct Dev. 2007 Dec;36(4):420-48|acessodata=29/05/2019}}</ref> Cada olho composto possui três regiões distintas: hemisférios dorsal e ventral, separados por uma banda mediana. <ref name=":4">{{citar periódico|ultimo=Exner|primeiro=S.|data=1891|titulo=Die Physiologie derfacettirten Augen von Krebsen und Insecten|url=https://www.biodiversitylibrary.org/item/18541|jornal=Leipzig:Deuticke|acessodata=29/05/2019}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Horridge|primeiro=G.A.|data=1978|titulo=The separation of visual axes in apposition compound eyes.|url=https://royalsocietypublishing.org/doi/abs/10.1098/rstb.1978.0093|jornal=Philosophical Transactions of the Royal Society of London B, 285, l-59.|acessodata=29/05/2019}}</ref> Os omatídeos da banda mediana são separadas em diferentes funcionalidades, sendo elas: o processamento de cores e a detecção de luz polarizada circular ou linear. <ref>{{citar periódico|ultimo=Cronin|primeiro=T.|ultimo2=Marshall|primeiro2=N.J.|data=1989|titulo=Multiple spectral classes of photoreceptors in the retinas of gonodactyloid stomatopod crustaceans|url=|jornal=Comp. Physiol. A Neuroethol. Sens. Neural Behav. Physiol. 166, 261 (1989)|acessodata=}}</ref>
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Muitos estomatópodes possuem padrão de cores do corpo variadas, utilizando até a fluorescência na exibição de cores. Além disso, várias espécies deste grupo habitam em recifes rasos de corais, um dos ambientes mais coloridos da Terra. Acredita-se que as cores dos estomatópodes estão envolvidas com complexos sistemas de comunicação. <ref name=":4" /> Em rituais de acasalamento, a mesma fluorescência é ativa, indicando a fertilidade das fêmeas que, possuem ciclos de fertilidade específica, o que resulta na prevenção de gasto energético com tentativa de acasalamento sem sucesso.[[Ficheiro:Usando telson pra defesa stomatopoda.jpg|miniaturadaimagem|Luta entre estomatópodes: um indivíduo usa o télson para se defender contra os ataques do par de maxilípedes 2 desenvolvidos (dobrados) (Caldwell & Dingle, 1976)|302x302px]]


== Ecologia ==
== Ecologia ==

Revisão das 15h55min de 29 de maio de 2019

Como ler uma infocaixa de taxonomiaHoplocarida

Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Subfilo: Crustacea
Classe: Malacostraca
Subclasse: Hoplocarida

Hoplocarida Calman, 1904, é uma subclasse de malacóstracos marinhos bentônicos, de hábito predador (carnívoro raptorial), cujo tamanho varia de 2 até 30 cm. Caracterizam-se pela presença de um segundo par de maxilípedes modificado em uma garra raptorial expandida e subquelada, utilizada para forragear, escavar tocas e para perfurar as presas em interações agonísticas. Além disso, apresentam brânquias nos pleópodes. Sua distribuição ocorre majoritariamente em águas marinhas rasas tropicais e subtropicais. Vivem em buracos ou em abrigos naturais e tendem a ser territoriais. [1]

A única ordem dentro de Hoplocarida com representantes ainda vivos é Stomatopoda Latreille, 1817, popularmente conhecidos como tamarutacas ou tamburutacas ("mantis shrimp" em inglês), mas outros grupos existiram no Paleozoico: Aeschronectida e Palaeostomatopoda. [2] O registro fóssil indica que a origem de Stomatopoda ocorreu no Período Devoniano. Todos os cerca de 500 hoplocáridos vivos são colocados na ordem Stomatopoda, dentro da subordem Unipeltata, constituído por sete superfamílias: Bathysquilloidea, Erythrosquilloidea, Eurysquilloidea, Gonodactyloidea, Lysiosquilloidea, Parasquilloidea e Squilloidea. [3]

Morfologia

Os organismos de Hoplocarida são crustáceos relativamente grandes, cujo comprimento varia de 2 a 30 cm em sua forma adulta. [4] O Bauplan (plano corporal) de Hoplocarida é constituído por três tagmas: cabeça, tórax e abdômen. A cabeça é composta por 5 segmentos (excluindo o ácron), o tórax por 8 e o abdômen por 6 (excluindo o télson).[3] Em geral são animais longilíneos, com um leve achatamento dorsoventral ou corpo subcilíndrico. [5] Muitas espécies são listradas ou brilhantes, variando entre verde, azul e vermelho com um mosqueamento profundo.

Ficheiro:Morfologia externa de um estomatópode (Salgado-Barragán & Hendrickx, 2010).jpg
Morfologia externa de um estomatópode (Salgado-Barragán & Hendrickx, 2010)

Cabeça

Posteriormente ao ácron (região pré-segmentar) apresentam-se 5 segmentos cefálicos com um par de antênulas ou primeiras antenas (no primeiro segmento), um par de antenas ou segundas antenas (no segundo segmento) e pares de apêndices bucais: mandíbula (no terceiro segmento), maxílula ou primeiras maxilas (no quarto segmento) e maxila ou segundas maxilas (no quinto segmento). [4]

Em relação aos detalhes dos pares de apêndices, os estomatópodes apresentam um par de apêndices que sustenta três flagelos multiarticulados cada (antênulas trirremes); um par de apêndices bissegmentados sustentando flagelos multiarticulados (antenas birremes), cujas escamas antenais ou escafoceritos em forma de leme presentes no exopodito são utilizadas para a natação; um par de mandíbulas grandes que recobre a boca ventral pequena e forte, com superfícies trituradoras opostas, podendo ou não estar presente um palpo mandibular; um par de maxílulas, que consistem de um protopódio bipartido com um endito em cada parte, sendo que o endópodo é reduzido a um palpo e não há um exopódio; um par de maxilas mais posteriores. [1] [3]

Os dois grandes olhos compostos pedunculados contém fileiras centrais de omatídeos e são capazes de formar imagens independentes. Entre os olhos compostos encontra-se um olho naupliano. A cabeça também apresenta rostro articulado móvel. [1][3][4]

A carapaça é curta e em forma de escudo, recobrindo a região cefálica e somente os primeiros segmentos torácicos. Ela geralmente surge como uma dobra posteriormente direcionada da parede corporal da cabeça e pode ser fundida com um número variável de segmentos atrás dela. [1] Nela há três sulcos: um transversal (cervical) e dois longitudinais paralelos (gástricos). Pode ser utilizada para a identificação de indivíduos da superfamília Squilloidea, pois estes apresentam uma carapaça ornamentada com fileiras de carenas longitudinais, um estado de caráter ausente em outras superfamílias. [5]

Tórax

Uma característica distintiva de Hoplocarida é a estrutura dos 8 pares de apêndices torácicos (toracópodos): os primeiros cinco pares são chamados de maxilípedes ou gnatopódios, pois podem estar envolvidos com a alimentação, sendo morfologicamente subquelados, unirremes e com menos garras; contudo, o segundo par é modificado em uma garra raptorial expandida e subquelada, utilizada para forragear, escavar tocas e para perfurar as presas em interações agonísticas, de aparência similar a do louva-a-deus; os últimos três pares de apêndices torácicos são pereópodes birremes e ambulatoriais, que são utilizados na locomoção. [3]

Os gonóporos estão localizados no sexto segmento do pereion nas fêmeas e no oitavo no pereion dos machos. Os machos também apresentam um par de estruturas tubulares copulatórias ou pênis na base do último par de apêndices torácicos. [3]

A carapaça cobre parte da cabeça e está fundida aos toracômeros 1 a 4, ou seja, os 4 primeiros segmentos do tórax. [4]

Abdômen

O abdome muscular é notavelmente robusto e distintamente segmentado.[1] Existem seis pares de apêndices abdominais ou pleópodes: os primeiros cinco são birremes, largos e achatados, com brânquias filamentosas finas e altamente ramificas que fornecem uma superfície ampla para trocas gasosas desses animais muito ativos. Os estomatópodes constituem um dos dois únicos grupos de malacóstracos que têm brânquias pleopodiais. Apenas os isópodes compartilham essa característica, mas os pleópodes são muito diferentes nesses dois grupos. [4] Nos machos, o endopódio do primeiro e segundo par de pleópodes são modificados em um petasma, embora no segundo par essa modificação não seja tão proeminente.

O sexto par de apêndices abdominais são os urópodes. Este é geralmente encontrado separado do télson, mas pode haver em alguns casos uma fusão entre eles, formando um pleotélson. O télson terminal porta o ânus em sua base e pode ser utilizado em espécies do gênero Gonodactylus para se defender contra ataques de outros estomatópodes. [3]

Os estomatópodes rastejam ao redor utilizando os toracópodes posteriores e os pleópodes em forma de abas. Além disso, essas criaturas podem nadar por meio de batimentos metacronais dos pleópodes (natatórios). Para esses animais relativamente grandes, viver em tocas estreitas requer um grau acentuado de maleabilidade. A carapaça curta e o abdome musculoso e flexível permitem que esses animais torçam duplamente e girem ao redor dentro de seus túneis ou em outros abrigos apertados. Essa habilidade facilita uma reação de fuga, com a qual o camarão-louva-a-deus joga-se rapidamente dentro de sua toca, primeiramente com a cabeça, depois girando o corpo para ficar de frente para a entrada. [4]

Fisiologia

Sistema Visual

O sistema visual dos Stomatopoda é o mais complexo dentre os conhecidos. Seus olhos compostos possuem o maior número de tipos de fotorreceptores dentre os animais conhecidos – entre 16 a 21 receptores diferentes em algumas espécies. [6][7] Cada olho composto possui três regiões distintas: hemisférios dorsal e ventral, separados por uma banda mediana. [8][9] Os omatídeos da banda mediana são separadas em diferentes funcionalidades, sendo elas: o processamento de cores e a detecção de luz polarizada circular ou linear. [10]

Ficheiro:Olho de Stomatopoda.png
Olho de tamarutaca. HD: Hemisferio dorsal; BM: Banda mediana; HV: Hemisferio ventral

Dos aproximados 16 fotorreceptores, em torno de 12 são para a analise de cores em diferentes ondas de luz (incluindo as sensíveis para a luz ultravioleta) e 4 para a analise de luz polarizada. [11] Em comparação, os olhos humanos, em sua maioria, possuem apenas 4 pigmentos visuais, sendo que 3 são dedicados para a coloração e o ultravioleta é bloqueado na lente.

As tamarutacas são conhecidas pela sua sensibilidade por luzes em Ultra Violeta. [12][13] A capacidade de enxergar nestes comprimentos de onda, os possibilita a identificação de contrastes de objetos camuflados nos ambientes submarinos que, por sua vez, possui baixo contraste devido à dispersão de luz de comprimento de onda curto. [14] Por exemplo, muitos peixes têm coloração prateada para refletir a luz de tal maneira que eles são invisíveis contra o campo de luz subaquático. [15] Este tipo de reflexão é produzido por interferência construtiva e, portanto, menos efetiva no UV.

Muitos estomatópodes possuem padrão de cores do corpo variadas, utilizando até a fluorescência na exibição de cores. Além disso, várias espécies deste grupo habitam em recifes rasos de corais, um dos ambientes mais coloridos da Terra. Acredita-se que as cores dos estomatópodes estão envolvidas com complexos sistemas de comunicação. [8] Em rituais de acasalamento, a mesma fluorescência é ativa, indicando a fertilidade das fêmeas que, possuem ciclos de fertilidade específica, o que resulta na prevenção de gasto energético com tentativa de acasalamento sem sucesso.

Ficheiro:Usando telson pra defesa stomatopoda.jpg
Luta entre estomatópodes: um indivíduo usa o télson para se defender contra os ataques do par de maxilípedes 2 desenvolvidos (dobrados) (Caldwell & Dingle, 1976)

Ecologia

A maioria dos estomatópodes é encontrada nos ambientes marinhos tropicais ou subtropicais rasos. Quase todos eles vivem em tocas escavadas nos sedimentos moles ou nas rachaduras e fendas, entre os cascalhos, ou em outros nichos protegidos. Todas as espécies são carnívoras raptoriais e predam peixes, moluscos, cnidários e outros crustáceos, como camarões e caranguejos.[1][4] Como predadores, tratam-se de importantes controladores numéricos das populações cujas espécies fazem parte de seu nicho trófico.[5]

Habitat

Estomatópodes são espécies essencialmente marinhas bentônicas que habitam tocas escavadas em sedimentos moles, em rachaduras, entre cascalhos, em zonas rochosas ou recifes de corais. A Squilla empusa vive em buracos em forma de "U", mas pode construir buracos verticais com uma única abertura que se estendem até 4m no inverno. A Echinosquilla guerini habita corais e tem espinhos que ornamentam toda a superfície do télson, sendo este utilizado para tampar a entrada do buraco em que a tamarutaca se esconde, de modo a mimetizar um ouriço-do-mar preso à superfície do coral. A Gonodactylus bredini fecha a entrada do seu buraco com detritos e durante o dia o bloqueia com os apêndices predatórios.[1]

Distribuição geográfica

Os estomatópodes constituem um grupo eminentemente tropical, com algumas espécies que atingem latitudes temperadas. A maioria das espécies encontram-se em águas rasas da plataforma continental, com algumas espécies de encosta continental e muito poucas espécies de habitat batial (nos fundos da zona batipelágica oceânica). Contudo, algumas espécies têm sido coletadas em sistemas costeiros sob condições de água salobra, nas quais ocorre uma mistura de água salgada e água doce em regiões onde os rios se encontram com o mar, como os mangues. Cloridopsis dubia (H. Milne-Edwards, 1837) tem sido repetidamente coletado em lagunas e ambientes lamacentos e rasos ao longo de sua amplitude de distribuição.[16]

O Atlântico oriental, o Mediterrâneo e as costas atlânticas do sul da Europa representam o limite norte de distribuição da ordem dos estomatópodes. Apenas doze espécies foram citadas no Mediterrâneo e no Atlântico Europeu.[17] As espécies atlânticas que apresentam populações ao norte são Rissoides desmaresti e Platysquilla eusebia, cujo limite norte de distribuição inclui as Ilhas Britânicas na Irlanda e no País de Gales. Apenas uma espécie, Squilla mantis, é relativamente comum e tem interesse de pesca. O Golfo de Cádis e o Algarve constituem o limite setentrional de distribuição desta espécie. Um total de dez espécies foram relatadas na Macaronésia.[3]

Apesar da primeira citação ter sido registrada em 1648 por Marcgrave, a pesquisa taxonômica e ecológica acerca da distribuição de Stomatopoda no Brasil ainda é escassa. Por serem animais tipicamente tropicais e subtropicais, a fauna desses animais tende a decrescer a partir do sul de Recife, o que salienta a importância de se conhecer a sua diversidade especialmente na costa nordestina.[5]

Parasitas

Um estudo de 2009 no Japão encontrou a presença de fungos Plectosporium oratosquillae NJM 0662 e Acremonium sp. NJM 0672, que foram encontrados parasitando brânquias de um indivíduo da espécie Oratosquilla oratoria coletado em Yamaguchi e Aichi. A mortalidade de tamarutacas em laboratório, após 25 dias de alta e baixa doses injetadas (em conídos/mL), de Plectosporium oratosquillae atingiu 100% e 60%, respectivamente, e Acremonium sp. atingiu 100% e 80%, respectivamente. Histopatologicamente, as hifas e os conídios foram encontrados nos filamentos das brânquias e coração, sendo que as hifas foram encapsuladas por hemócitos. [18]

Efeitos do aquecimento global e acidificação dos oceanos

Devido ao fato de organismos marinhos com partes calcificadas tipicamente apresentarem estresse oxidativo e mudanças na mineralização em resposta à acidificação dos oceanos e ao aquecimentos global, um estudo experimental publicado na Nature em 2016 tentou verificar se o mesmo fenômeno podia ser observado em tamarutacas, já que esses efeitos poderiam reduzir a potência do segundo maxilípede modificado em arma raptorial, que é calcificado e permite ao animal dar pancadas em presas e competidores. Para tal, estresse oxidativo, a estrutura do exoesqueleto, conteúdo mineral e propriedades mecânicas do apêndice raptorial sob condições futuras de pH e temperatura previstas se a acidificação dos oceanos e o aquecimento global continuar. Os resultados demonstraram que o apêndice raptorial apresentou maior % de Mg sob condições de menor pH, enquanto os níveis de estresse oxidativo, % Ca e propriedades mecânicas do apêndice raptorial continuaram os mesmos, demonstrando que tamarutacas toleram amplitudes altas de variação de pH e temperatura sem afetar o estresse oxidativo ou a função do segundo maxilípede, de modo que, sob esses aspectos, tamarutacas talvez não terão seu desempenho biológico reduzido no cenário oceanográfico futuro. [19]

Espécies exóticas e invasoras

Duas das espécies de Stomatopoda registradas no Mediterrâneo conseguiram invadir esta região através do Canal de Suez: Erugosquilla massavensis, registrada pela primeira vez no Mediterrâneo em 1933, é atualmente amplamente distribuído por todo o Mediterrâneo oriental. [20] Outra espécie, Chlorida albolitura, tem sido recentemente relatado também no Mediterrâneo oriental. O caso de Erythrosquilla sp. é complexo, uma vez que é conhecido apenas pela presença de uma pós-larva. [21]

Referências

  1. a b c d e f g Barnes, Robert D.; Ruppert, Edward E.; Fox, Richard S. (2005). Zoologia dos Invertebrados. [S.l.]: Roca. pp. 707–711 
  2. Ronald A. Jenner, Cees H. J. Hof & Frederick R. Schram (1998). «Palaeo- and archaeostomatopods (Hoplocarida: Crustacea) from the Bear Gulch Limestone, Mississippian (Namurian), of central Montana». Contributions to Zoology. 67 (3): 155–186. Consultado em 14 de abril de 2019. Arquivado do original em 7 de julho de 2012 
  3. a b c d e f g h Abelló, Pere; Guerao, Guillermo (2015). «Orden Stomatopoda» (PDF). Revista IDE Sea, nº 84, 1-10. Ibero Diversidad Entomológica. Consultado em 16 de maio de 2019 
  4. a b c d e f g Brusca, Richard C.; Moore, Wendy; Shuster, Stephen M. (2018). Invertebrados. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. pp. 928, 929 
  5. a b c d Barreto Pessoa Silva, Jonathas (2011). «Stomatopoda (Crustacea: Hoplocarida) no Nordeste brasileiro: morfometria como ferramenta taxonômica.» (PDF). Dissertação de Mestrado para o Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas - Zoologia da Universidade Federal de Paraíba. Consultado em 16 de maio de 2019 
  6. Marshall, N. J. (1988). «A unique colour and polarization vision system in mantis shrimps». Nature 333, 557-560. Consultado em 29 de maio de 2019 
  7. Marshall, J.; Cronin, T.W. (2007). «Stomatopod eye structure and function: a review.». Arthropod Struct Dev. 2007 Dec;36(4):420-48. Consultado em 29 de maio de 2019 
  8. a b Exner, S. (1891). «Die Physiologie derfacettirten Augen von Krebsen und Insecten». Leipzig:Deuticke. Consultado em 29 de maio de 2019 
  9. Horridge, G.A. (1978). «The separation of visual axes in apposition compound eyes.». Philosophical Transactions of the Royal Society of London B, 285, l-59. Consultado em 29 de maio de 2019 
  10. Cronin, T.; Marshall, N.J. (1989). «Multiple spectral classes of photoreceptors in the retinas of gonodactyloid stomatopod crustaceans». Comp. Physiol. A Neuroethol. Sens. Neural Behav. Physiol. 166, 261 (1989) 
  11. Bok, Michael (2014). «Biological Sunscreens Tune Polychromatic Ultraviolet Vision in Mantis Shrimp». Current Biology. 24 (14): 1636-42  line feed character character in |titulo= at position 27 (ajuda)
  12. Schiff, H. (1963). «Dim light vision of S'puillu mantis L.». American Journal of Physiology, 205, 927-940 
  13. Cronin, T.W.; Marshall, N.J. (1989). «A retina with at least ten spectral types of photoreceptors in a stomatopod crustacean». Nature, 339, 137-140 
  14. Lythgoe, J.N. (1979). The ecology of vision. [S.l.]: Oxford: Clarendon Press 
  15. Denton, E.J. (1965). «Studies on reflexions of light from silvery surfaces of fishes, with special reference to the bleak, Alburnus alburnus». Journal of the Marine Biologic Association of the U.K., 45, 683-703  line feed character character in |titulo= at position 56 (ajuda)
  16. Salgado-Barragán, José; Hendrickx, Michel E. (1 de janeiro de 2018). «Stomatopods (Malacostraca, Hoplocarida, Stomatopoda) in a shallow coastal lagoon in western Mexico». Crustaceana (em inglês). 91 (5): 635–638. ISSN 1568-5403. doi:10.1163/15685403-00003788 
  17. Colmenero, Ana I.; Abelló, Peré (2009). «New records of Parasquilla ferussaci (Roux, 1830) (Crustacea, Stomatopoda) from the Eastern Atlantic and Western Mediterranean» (PDF). Arxius de Miscel lánia Zoológica, 7 (2009): 72-77. Consultado em 16 de maio de 2019 
  18. Duc, P. M.; Hatai, K. (2009). «Pathogenicity of anamorphic fungi Plectosporium oratosquillae and Acremonium sp. to mantis shrimp Oratosquilla oratoria». Fish Pathology. Consultado em 19 de maio de 2019 
  19. Taylor, Jennifer R. A.; Deheyn, Dimitri D.; Sah, Robert L.; Victoria Morgan; Cory, Esther; Tu, Jenny; Webb, Summer J.; deVries, Maya S. (15 de dezembro de 2016). «Stress physiology and weapon integrity of intertidal mantis shrimp under future ocean conditions». Scientific Reports (em inglês). 6. 38637 páginas. ISSN 2045-2322. doi:10.1038/srep38637 
  20. Galil, B. S.; Frogolia, C.; Noel, P. (2002). «CIESM Atlas of exotic species in the Mediterranean». Monaco: CIESM Publishers 
  21. Froglia, K. D. (1992). «Stomatopod Crustacea of the Ligurian Sea». Doriana, 6: 1-10