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Revisão das 01h27min de 25 de novembro de 2023

O leão é um felino catemeral.

A catemeralidade é um padrão de atividade de um organismo que possui intervalos irregulares durante o dia ou a noite para realizar seus meios de subsistência, como adquirir alimentos, socializar com outros organismos e outras atividades necessárias.[1] Ela se difere do padrão monofásico (dormir uma vez ao dia) das espécies noturnas e diurnas, uma vez que espécies catemerais são polifásicas (dormir de quatro a seis vezes por dia) e distribuem o sono ao longo do ciclo de 24 horas.[2]

Apesar de as definições tradicionais de comportamento noturno, diurno e crepuscular serem úteis para a compreensão geral de como os animais se comportam, muitas espécies não se encaixam perfeitamente em nenhuma dessas categorias. Isso ocorre porque a atividade animal é influenciada por uma variedade de fatores, incluindo disponibilidade de alimentos, predação e variação da temperatura. Embora a catemeralidade não seja tão comum quanto a atividade diurna ou noturna, ela é observada em uma ampla variedade de animais mamíferos, incluindo leões, coiotes e lêmures.

O comportamento catemeral pode também variar sazonalmente ao longo do ano, alternando entre comportamentos predominantemente noturnos e predominantemente diurnos. Como exemplo, temos a catemeralidade sazonal do lêmure mangusto (Eulemur mongoz), que muda de predominantemente diurna para predominantemente noturna ao longo do ciclo anual. Já os lêmures marrons comuns (Eulemur fulvus) comportam-se de forma a mudar sazonalmente da atividade diurna para a catemeralidade.

À medida que pesquisas sobre catemeralidade são feitas, muitos fatores que influenciam sob a razão de um animal comportar-se de forma catemeral foram identificados. Tais fatores incluem variação de recursos no ambiente, qualidade da comida, fotoperiodismo, luminosidade noturna, temperatura, evitação de predadores e restrições de energia.

Etimologia

Em manuscrito original "Padrões de atividade do lêmure de Mayotte, Lemur fulvus mayottensis", Ian Tattersall introduziu o termo catemeralidade para descrever um padrão de atividade observado que não se encaixava em diurno ou noturno. Apesar do termo catemeral ter sido proposto, foi inicialmente ditado como um jargão desnecessário e então o termo diel foi usado na versão publicada. Em 1987, Tattersall cunhou uma definição formal de catemeral, usando as raízes da Grécia Antiga.

A palavra catemeral é composta de dois termos gregos: κᾰτᾰ́ (katá), "durante", e ἡμέρᾱ (hēmérā) "dia". O termo, portanto, significa "durante o dia", onde "dia" refere-se ao ciclo de 24 horas. Tattersall credita seu pai, Arthur Tattersall, e Robert Ireland, dois classicistas, por considerarem tal questão léxica e proporem sua solução.

Influências na catemeralidade

Um lêmure marrom comum, um primata catemeral

Fatores Ambientais

O fotoperiodismo é um fator que influencia fortemente na distribuição da atividade durante o dia. [3] Quando há um aumento nas horas de sol e um atraso do pôr-do-sol, a atividade da tarde começa mais cedo, o que acarreta no aumento da quantidade de atividade diurna. Em contraste, quando há uma diminuição nas horas de sol e adiantamento do pôr-do-sol, a atividade da tarde começa mais tarde, o que acarreta no aumento de atividade noturna.

Luminosidade noturna influencia o padrão anual de ritmos de atividade e afeta ambos comportamentos diurnos e noturnos.[4] Foi notado que a luminosidade noturna se correlaciona com a quantidade de atividade noturna e é contrária à quantidade de atividade diurna. Dessa forma, a distribuição de atividade de um animal pode ser dependente da presença da lua e a fração da lua iluminada em relação aos horários de pôr-do-sol e nascer do sol.[5]

Termorregulação

É dito que o processo de termorregulação é uma resposta adaptativa que permite aos animais catemerais minimizar o impacto termorregulatório e os custos da manutenção da homeostase da temperatura do organismo.[6] Uma comparação entre a atividade diurna e temperatura ambiente mostra que indivíduos catemerais têm menor atividade durante os períodos mais quentes do dia e maior atividade no período noturno, assim tendo uma diminuição da atividade diurna durante as estações quentes e úmidas.[7] Como exemplo, os cangurus cinzentos orientais (Macropus giganteus) passam as horas mais quentes do dia na sombra para reduzir o estresse térmico, e por consequência aumentam sua atividade noturna. [8]

Espinhaços-de-linhas-douradas exibem comportamento catemeral para evitar predadores

Esquiva de predadores

Tem-se a hipótese de que animais catemerais alternam seu padrão de atividade durante o período de 24 horas como um mecanismo para evitar predadores. Como exemplo, lêmures estão expostos a uma grande quantidade de predação, como aves de rapina, quando estão em atividade diurna. Assim, como uma estratégia para diminuir o risco de predação, os lêmures limitam a quantidade de atividade diurna. [6] Efeitos do mascaramento da predação também foram observados em um peixe de recife tropical, o espinhaço-de-linhas-douradas (Siganus lineatus), que muda sua atividade baseada no risco de predação em ambientes específicos.[9] Outras hipóteses sugerem que a catemeralidade fornece um padrão de atividade imprevisível aos predadores, tornando o indivíduo catemeral uma "incógnita temporária". Isso proporciona ao indivíduo catemeral uma vantagem, visto que seus predadores são incapazes de prever seus padrões de atividades devido a irregularidade e flexibilidade de seu horário.[10]

Restrições energéticas

Foi observado que o tamanho corporal está correlacionado com o comportamento catemeral.[11] A catemeralidade habilita animais a procurar alimentos em qualquer período das 24 horas do dia para maximizar sua energia e a ingestão de nutrientes. Isso implica na oportunidade de comer até o dobro de espécies diurnas ou noturnas. Como animais maiores possuem maior necessidade de energia, eles tendem a passar mais tempo procurando alimentos do que animais menores, e comportam-se de forma catemeral como resultado.[11] Em contraste, um tamanho corporal pequeno causa uma aceleração da taxa metabólica que também pode contribuir para atividade catemeral como tentativa de melhorar a procura por alimentos, como já visto em musaranhos e ratazanas. [12]

Evolução da catemeralidade

A hipótese do desequilíbrio evolutivo sugere que a catemeralidade é um resultado da diversificação de padrões de atividade específicos, e vista como um estado de transição entre o comportamento noturno e o comportamento diurno.[13] Por exemplo, diz-se que o primata ancestral era noturno, mas em algum momento pode ter demonstrado flexibilidade em seus padrões de atividade, o que facilitaria a evolução da catemeralidade. Essa hipótese é apoiada pela abordagem comparativa da morfologia de visão em primatas.[14] Os primatas noturnos possuem sistemas de visão que eram, primariamente, dependentes da sensibilidade à luz em detrimento da qualidade da acuidade. Primatas noturnos também possuem área de córnea maior e melhores fotoreceptores em comparação a sistemas de visão de primatas diurnos.[14] Primatas catemerais possuem um sistema de visão intermediário entre primatas diurnos e noturnos, o que implica numa acomodação evolutiva que proporcionou às espécies noturnas uma oportunidade de atividade diurna, quando esta é vantajosa.

Veja também

Referências

  1. Tattersall, Ian (2006). «The Concept of Cathemerality: History and Definition». Folia Primatologica. 77 (1–2): 7–14. ISSN 0015-5713. PMID 16415574. doi:10.1159/000089692 
  2. Curtis, D.J.; Rasmussen, M.A. (2006). «The Evolution of Cathemerality in Primates and Other Mammals: A Comparative and Chronoecological Approach». Folia Primatologica. 77 (1–2): 178–193. ISSN 0015-5713. PMID 16415585. doi:10.1159/000089703 
  3. Donati, Giuseppe; Borgognini-Tarli, Silvana M. (2006). «Influence of Abiotic Factors on Cathemeral Activity: The Case of Eulemur fulvus collaris in the Littoral Forest of Madagascar». Folia Primatologica. 77 (1–2): 104–122. ISSN 0015-5713. PMID 16415580. doi:10.1159/000089698 
  4. Donati, Giuseppe; Borgognini-Tarli, Silvana M. (2006). «Influence of Abiotic Factors on Cathemeral Activity: The Case of Eulemur fulvus collaris in the Littoral Forest of Madagascar». Folia Primatologica. 77 (1–2): 104–122. ISSN 0015-5713. PMID 16415580. doi:10.1159/000089698 
  5. Donati, Giuseppe; Borgognini-Tarli, Silvana M. (2006). «Influence of Abiotic Factors on Cathemeral Activity: The Case of Eulemur fulvus collaris in the Littoral Forest of Madagascar». Folia Primatologica. 77 (1–2): 104–122. ISSN 0015-5713. PMID 16415580. doi:10.1159/000089698 
  6. a b LaFleur, Marni; Sauther, Michelle; Cuozzo, Frank; Yamashita, Nayuta; Jacky Youssouf, Ibrahim Antho; Bender, Richard (29 de outubro de 2013). «Cathemerality in wild ring-tailed lemurs (Lemur catta) in the spiny forest of Tsimanampetsotsa National Park: camera trap data and preliminary behavioral observations». Primates. 55 (2): 207–217. ISSN 0032-8332. PMID 24165866. doi:10.1007/s10329-013-0391-1 
  7. Mutschler, Thomas (7 de janeiro de 2003). «Alaotran gentle lemur: Some aspects of its behavioral ecology». Evolutionary Anthropology: Issues, News, and Reviews. 11 (S1): 101–104. ISSN 1060-1538. doi:10.1002/evan.10068 
  8. Clarke, JL; Jones, ME; Jarman, PJ (1995). «Diurnal and Nocturnal Grouping and Foraging Behaviors of Free-Ranging Eastern Grey Kangaroos». Australian Journal of Zoology. 43 (5). 519 páginas. ISSN 0004-959X. doi:10.1071/zo9950519 
  9. Fox, Rebecca J.; Bellwood, David R. (6 de junho de 2011). «Unconstrained by the clock? Plasticity of diel activity rhythm in a tropical reef fish, Siganus lineatus». Functional Ecology. 25 (5): 1096–1105. ISSN 0269-8463. doi:10.1111/j.1365-2435.2011.01874.xAcessível livremente 
  10. Colquhoun, Ian C. (2007), «Anti-Predator Strategies of Cathemeral Primates: Dealing with Predators of the Day and the Night», Primate Anti-Predator Strategies, ISBN 978-0-387-34807-0, Developments in Primatology: Progress and Prospects, Boston, MA: Springer US, pp. 146–172, doi:10.1007/978-0-387-34810-0_7, consultado em 23 de outubro de 2021 
  11. a b van Schaik, Carel P.; Griffiths, Michael (1996). «Activity Periods of Indonesian Rain Forest Mammals». Biotropica. 28 (1). 105 páginas. ISSN 0006-3606. JSTOR 2388775. doi:10.2307/2388775 
  12. Halle, Stefan (2000), «Ecological Relevance of Daily Activity Patterns», ISBN 978-3-642-62128-4, Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg, Activity Patterns in Small Mammals, Ecological Studies, 141: 67–90, doi:10.1007/978-3-642-18264-8_5, consultado em 10 de novembro de 2021 
  13. Curtis, D.J.; Rasmussen, M.A. (2006). «The Evolution of Cathemerality in Primates and Other Mammals: A Comparative and Chronoecological Approach». Folia Primatologica. 77 (1–2): 178–193. ISSN 0015-5713. PMID 16415585. doi:10.1159/000089703 
  14. a b Kirk, E. Christopher (2006). «Eye Morphology in Cathemeral Lemurids and Other Mammals». Folia Primatologica. 77 (1–2): 27–49. ISSN 0015-5713. PMID 16415576. doi:10.1159/000089694 

Bibliografia

  • Tattersall, I. (29 May 1979). «Patterns of Activity in the Mayotte Lemur, Lemur fulvus mayottensis». Journal of Mammalogy. 60 (2): 314–323. JSTOR 1379802. doi:10.2307/1379802  Verifique data em: |data= (ajuda)
  • Tattersall, Ian (14 February 1987). «Cathemeral Activity in Primates: A Definition». Folia Primatologica. 49 (3–4): 200–202. doi:10.1159/000156323  Verifique data em: |data= (ajuda)