De delictis gravioribus

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De delictis gravioribus (latim para "Sobre crimes mais graves") é uma carta escrita em 18 de maio de 2001 pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a todos os Bispos da Igreja Católica e aos outros Ordinários envolvidos, incluindo os das Igrejas Católicas Orientais.

A carta foi publicada no diário oficial da Santa Sé, a Acta Apostolicae Sedis, em 2001.[1]

Conteúdo[editar | editar código-fonte]

Abrange "as ofensas mais graves reservadas à Congregação para a Doutrina da Fé" que a constituição apostólica Pastor Bonus, de 28 de junho de 1988, atribui à competência daquele cargo:[2]

Art. 52 - A Congregação examina as ofensas contra a fé e as mais graves, tanto no comportamento quanto na celebração dos sacramentos que lhe foram relatados e, se necessário, procede à declaração ou imposição de sanções canônicas de acordo com as normas de direito comum ou próprio.[2]

O Código de Direito Canônico também fala de ofensas reservadas à Congregação para a Doutrina da Fé, e também não as específica.[3]

Graviora delicta[editar | editar código-fonte]

Dos oito delitos mais graves (graviora delicta) no comportamento ou na celebração dos sacramentos que o De delictis gravioribus especificou, quatro dizem respeito à Eucaristia:

  1. Jogar fora as espécies consagradas ou, com um propósito sacrílego, tirá-las ou guardá-las;[4]
  2. Tentar, se não um padre, celebrar a missa ou fingir fazê-lo;[5]
  3. Concelebrar a Eucaristia com ministros de comunidades eclesiais que carecem de sucessão apostólica e não reconhecem a dignidade sacramental da ordenação sacerdotal;[6]
  4. Consagrar o pão ou o vinho sem o outro, ou consagrar ambos, mas fora da celebração da Missa.[7]

Três dizem respeito ao sacramento da Confissão:

  1. Absolver um cúmplice do pecado sexual;[8]
  2. Fazer um avanço sexual na Confissão ou por ocasião ou a pretexto da Confissão;[9]
  3. Violação direta do sigilo da confissão.[10]

Além disso, o documento lista um delito de caráter moral, não diretamente ligado à administração dos sacramentos, reservado da mesma forma que estes à Congregação para a Doutrina da Fé, a saber, o crime de um clérigo (bispo, sacerdote ou diácono) que comete um pecado sexual com alguém menor de 18 anos de idade.

Procedimento[editar | editar código-fonte]

A reserva desses delitos à Congregação não significa que a própria Congregação julgue os acusados de cometê-los. Em vez disso, exige que, se uma investigação preliminar demonstrar que é pelo menos provável que o delito tenha sido cometido, o ordinário (nas Igrejas Católicas Orientais chamado de hierarca) consulte a Congregação sobre a maneira pela qual seu próprio tribunal deve proceder. Além disso, quaisquer recursos do veredicto desse tribunal devem ser feitos à Congregação, em vez do habitual tribunal de apelação.[11]

Prescrição[editar | editar código-fonte]

No caso de ações penais intentadas perante um tribunal eclesiástico contra alguém acusado de crimes reservados à Congregação para a Doutrina da Fé, a prescrição limita normalmente a dez anos a contar da data da prática de uma infração o prazo em que a ação penal pode ser iniciada; mas o documento De delictis gravioribus estabelece que, no caso de crime sexual contra menor, o prazo de dez anos só começa a correr quando o menor atinge 18 anos de idade.[11]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «De delictis gravioribus» (PDF). Acta Apostolicae Sedis. 93: 785–788. 2001 
  2. a b Pastor Bonus, article 52 Arquivado em fevereiro 23, 2001, no Wayback Machine
  3. Code of Canon Law, canon 1362 §1 1°
  4. Cf. Code of Canon Law, canon 1367 and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1442
  5. Cf. Code of Canon Law, canons 1378 §2 1°, and 1379 and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1443
  6. Cf. Code of Canon Law, canons 908 and 1365 and Code of Canons of the Eastern Churches, canons 702 and 1440
  7. Cf. Code of Canon Law, canon 927
  8. Cf. Code of Canon Law, canon 1378 §1 and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1457
  9. Cf. Code of Canon Law, canon 1387 and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1458
  10. Cf. Code of Canon Law, canon 1388 and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1456 §1
  11. a b Cf. Code of Canon Law, canon 1362 §1 1° and Code of Canons of the Eastern Churches, canon 1152 §2 1°

Ligações externas[editar | editar código-fonte]