Diplacusia

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Diplacusia, também conhecida como diplacusia binaural, diplacusia desarmônica ou diferença de tom interaural, trata-se de uma desordem perceptiva de um único estímulo auditivo, onde o mesmo tom é identificado de forma diferente entre as orelhas direita e esquerda, o que pode afetar a combinação de informações recebidas entre as orelhas. É tipicamente, embora não exclusivamente, experimentado como um sintoma secundário de perda auditiva neurossensorial, embora nem todos os indivíduos com esse tipo de perda auditiva experimentem diplacusia ou zumbido. [1][2] O início geralmente é espontâneo e pode ocorrer após um trauma acústico ou na presença de uma infecção na orelha.[3] Os que sofrem podem experimentar o efeito permanentemente, ou ser apenas temporário. A diplacusia pode ser particularmente prejudicial para os sujeitos que trabalham em áreas que exigem audição apurada, como músicos, engenheiros de som ou artistas performáticos.[4][5][6]

Diplacusia de tons puros[editar | editar código-fonte]

Os resultados obtidos na literatura indicam que a diplacusia binaural é mais prevalente e mais pronunciada em indivíduos com perda auditiva neurossensorial unilateral ou perda auditiva assimétrica, do que em indivíduos que possuem audição normal, ou seja, com os limiares auditivos dentro dos padrões da normalidade. Nos casos de diplacusia, ao apresentar o mesmo tom alternadamente às orelhas, pode ser percebido como tendo tons diferentes entre as duas orelhas.[7][8] A magnitude da mudança pode ser medida fazendo com que o sujeito ajuste a frequência de um tom em uma orelha até que seu tom corresponda ao tom da outra. Na apresentação de um único tom alternando entre as orelhas (ou seja, 1000 Hz à esquerda, 1000 Hz à direita, 1000 Hz à esquerda, ...) uma determinada pessoa irá incompatibilizar consistentemente esses sinusoides a mesma quantidade entre as tentativas, se estiver executando uma tarefa de correspondência de afinação. Por exemplo, um tom de 1000 Hz em uma orelha não afetada pode ser escutado como um tom ligeiramente diferente na orelha oposta ou ter uma qualidade tonal imperfeita na orelha afetada.

Explicação biológica por meio de teorias da afinação de tons puros[editar | editar código-fonte]

Existem duas teorias sobre a causa da diplacusia. Ambas as teorias estão em debate.[9][10] A primeira é teoria dos lugares e a segunda teoria temporal.[11] A teoria dos lugares afirma que a causa está relacionada a borda da onda para o tom e, poderia explicar a diplacusia como uma pequena diferença entre as duas cócleas.[12]

A teoria temporal afirma que a causa é olhar para o bloqueio de fase e dizer qual é o tom. Esta teoria tem dificuldade em explicar a diplacusia. Existem alguns exemplos de tom que não possuem uma "borda" na membrana basilar, o que explicaria - por exemplo, ruído branco, cliques etc.[13]

Efeitos da perda auditiva neurossensorial[editar | editar código-fonte]

A audição normal dos humanos pode discriminar entre duas frequências que diferem em apenas 0,2%.[14] Se uma orelha tem limiares normais enquanto a outra apresenta perda auditiva neurossensorial (PASN), a diplacusia pode estar presente em até 15 a 20% (por exemplo, 200 Hz uma orelha = > 240 Hz na outra). O tom pode ser difícil de combinar, porque a orelha com SNHL ouve o som "difuso". A PASN bilateral proporciona menos diplacusia, mas as distorções de tom podem persistir. Isso pode causar problemas com a música e na compreensão da fala.[15]

Tratamento[editar | editar código-fonte]

O tratamento da diplacusia inclui um exame médico e audiológico completo que pode explicar a natureza do problema. Se necessário, a amplificação pode aliviar os sintomas da diplacusia. A terapia para ajudar o paciente a entender a causa do sintoma e ressignificar o zumbido pode proporcionar algum alívio. Em pelo menos alguns casos, a amplificação não faz diferença e não há outro tratamento além de esperar pela resolução natural. Algumas pessoas podem achar que a amplificação fornecida também aumenta a audibilidade de sua discrepância de tom. Se o início estiver associado a uma causa médica subjacente, ou seja, perda auditiva neurossensorial súbita, recomenda-se tratamento médico adequado.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Diplacusia vem das palavras gregas "diplous" (duplo) e "akousis" (audição).[16]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Fontes externas[editar | editar código-fonte]

  • Diplacusis: I. Historical Review [15]
  • Turner, Christopher. "Perception of Pitch." Wendell Johnson Speech and Hearing Center, Iowa City. Dec. 2008.
  • Plack et al. (ed.). Pitch: Neural coding and perception. Springer. 2005.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Colin. «Binaural Diplacusis and Its Relationship with Hearing-Threshold Asymmetry». PLoS ONE. 11: e0159975. Bibcode:2016PLoSO..1159975C. ISSN 1932-6203. PMC 4990190Acessível livremente. PMID 27536884. doi:10.1371/journal.pone.0159975 
  2. Reiss. «Binaural pitch fusion: Comparison of normal-hearing and hearing-impaired listeners». The Journal of the Acoustical Society of America. 141. 1909 páginas. Bibcode:2017ASAJ..141.1909R. ISSN 1520-8524. PMC 5848869Acessível livremente. PMID 28372056. doi:10.1121/1.4978009 
  3. Knight. «Diplacusis, hearing threshold and otoacoustic emissions in an episode of sudden, unilateral cochlear hearing loss». International Journal of Audiology (em inglês). 43: 45–53. ISSN 1499-2027. PMID 14974627. doi:10.1080/14992020400050007 
  4. Jansen, E.J.M. (11 de abril de 2008). «Noise induced hearing loss and other hearing complaints among musicians of symphony orchestras». Int Arch Occup Environ Health. 82: 153–64. ISSN 1432-1246. PMID 18404276. doi:10.1007/s00420-008-0317-1 
  5. Kähärit. «Assessment of hearing and hearing disorders in rock/jazz musicians». International Journal of Audiology. 42: 279–288. ISSN 1499-2027. PMID 12916701. doi:10.3109/14992020309078347 
  6. Di Stadio. «Hearing Loss, Tinnitus, Hyperacusis, and Diplacusis in Professional Musicians: A Systematic Review». International Journal of Environmental Research and Public Health (em inglês). 15. 2120 páginas. ISSN 1660-4601. PMC 6209930Acessível livremente. PMID 30261653. doi:10.3390/ijerph15102120 
  7. Burns. «Pure-tone anomalies. I. Pitch-intensity effects and diplacusis in normal ears». The Journal of the Acoustical Society of America. 72: 1394–1402. ISSN 0001-4966. PMID 7175025. doi:10.1121/1.388445 
  8. Burns. «Pure-tone pitch anomalies. II. Pitch-intensity effects and diplacusis in impaired ears». The Journal of the Acoustical Society of America. 79: 1530–1540. Bibcode:1986ASAJ...79.1530B. ISSN 0001-4966. PMID 3711452. doi:10.1121/1.393679 
  9. Verschooten, Eric; Shamma, Shihab; Oxenham, Andrew J.; Moore, Brian C. J.; Joris, Philip X.; Heinz, Michael G.; Plack, Christopher J. (2019). «The upper frequency limit for the use of phase locking to code temporal fine structure in humans: A compilation of viewpoints». Hearing Research. 377: 109–121. ISSN 1878-5891. PMC 6524635Acessível livremente. PMID 30927686. doi:10.1016/j.heares.2019.03.011 
  10. Oxenham, Andrew J. (4 de janeiro de 2018). «How We Hear: The Perception and Neural Coding of Sound». Annual Review of Psychology. 69 (1): 27–50. ISSN 0066-4308. PMC 5819010Acessível livremente. PMID 29035691. doi:10.1146/annurev-psych-122216-011635 
  11. Oxenham. «Revisiting place and temporal theories of pitch». Acoustical Science and Technology. 34: 388–396. ISSN 1346-3969. PMC 4215732Acessível livremente. PMID 25364292. doi:10.1250/ast.34.388 
  12. Oxenham. «Pitch perception beyond the traditional existence region of pitch». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 108: 7629–7634. ISSN 1091-6490. PMC 3088642Acessível livremente. PMID 21502495. doi:10.1073/pnas.1015291108 
  13. Oxenham, Andrew J.; Micheyl, Christophe; Keebler, Michael V.; Loper, Adam; Santurette, Sébastien (3 de maio de 2011). «Pitch perception beyond the traditional existence region of pitch». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 108 (18): 7629–7634. ISSN 1091-6490. PMC 3088642Acessível livremente. PMID 21502495. doi:10.1073/pnas.1015291108 
  14. Micheyl. «Characterizing the dependence of pure-tone frequency difference limens on frequency, duration, and level». Hearing Research. 292: 1–13. ISSN 0378-5955. PMC 3455123Acessível livremente. PMID 22841571. doi:10.1016/j.heares.2012.07.004 
  15. a b Albers. «Diplacusis. I. Historical review». Archives of Otolaryngology (Chicago, Ill.: 1960). 87: 601–603 contd. ISSN 0003-9977. PMID 4871882. doi:10.1001/archotol.1968.00760060603009 
  16. «Surgical Clinics of Chicago». California State Journal of Medicine. 19: 36–37. ISSN 0093-402X. PMC 1516741Acessível livremente