Escrita das línguas de sinais

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Escrita das línguas de sinais

Alfabeto manual em ELiS.
Tipo alfabeto
Línguas Línguas de sinais
Período de tempo
1998-presente
Sistemas-pais
Escrita de Sinais
  • ELiS
Sistemas-irmãos
Notação Stokoe

Escrita das línguas de sinais (ELiS) é um sistema de escrita das línguas de sinais. Desenvolvida, a princípio, nos níveis gramaticais da língua brasileira de sinais, a Libras, pela linguista brasileira Mariângela Estelita, surgiu em 1998 e, desde então, sofreu algumas modificações que a caracterizam como universal a qualquer língua de sinais em conformidade com suas particularidades linguísticas. De ordem alfabética, linear e disposta pelos parâmetros, grupos visológicos formadores dos sinais, esse sistema, embora planejado independente, se aproxima da notação Stokoe.

Ao contrário do sistema de William Stokoe e do SignWriting, impulsionado pela dançarina Valerie Sutton, a ELiS considera, para sua organização, os cinco parâmetros da Libras: configuração de mão, orientação, ponto de articulação, movimento e expressão facial. Por tal pressuposto, esse sistema agrupa suas representações gráficas, denominadas visografemas, em quatro grupos visológicos: configuração de dedo, orientação da palma, ponto de articulação e movimento.

História[editar | editar código-fonte]

O primeiro sistema de escrita das línguas de sinais que se tem registro é o desenvolvido pelo professor Roch-Ambroise Auguste Bébian, em seu livro Mimographie (1825), de acordo com a estrutura gramatical da língua de sinais francesa (LSF).[1] Com a expansão da legitimidade dos direitos da comunidade surda, na segunda metade do século XX surgiram dois sistemas renomados: a notação Stokoe (1965), de William Stokoe,[2] e o SignWriting (1974), de Valerie Sutton; ambos desenvolvidos pela e para a língua de sinais americana (ASL).[3]

Na década de 1990, a linguista Mariângela Estelita começou a utilizar símbolos, por economia, para substituir a descrição extensa, em língua portuguesa, de algum sinal.[4] Durante seu mestrado, em 1998, criou a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), de base alfabética, linear e fundamentada pelos parâmetros.[5] Universalizável, antes de ELiS, já havia sido intitulada AlfaSig, QuiroSig e ScripSig.[6]

Visografemas[editar | editar código-fonte]

Os 95 visografemas da ELiS.

Em paralelo com o alfabeto latino, os visografemas se correspondem às letras e, assim como as letras representam uma relação com determinado som, os visografemas se ligam ao sinal. A ELiS apresenta noventa e cinco visografemas, divididos em quatro grupos: configuração de dedo, orientação da palma, ponto de articulação e movimento. Para a escrita de algum sinal, dispõe-se da organização linear respectiva desses quatro elementos.[7]

A configuração de dedo (CD) é estabilizada pelo arranjo de dez visografemas, cinco para o polegar e outros cinco para os demais dedos. Para o polegar, admite-se fechado, estendido paralelamente à frente da palma, curvo, estendido perpendicularmente à frente da palma, estendido perpendicularmente ao lado da palma e estendido paralelamente ao lado da palma; para os demais, fechado, muito curvo, curvo, estendido inclinado à frente da palma e estendido contínuo à palma. A orientação da palma (OP) possui seis visografemas: palma para frente, para trás, para cima, para baixo, para a medial e para a distal. Em seguida, o grupo visológico ponto de articulação (PA) é composto por trinta e cinco visografemas, dentre os quais indicam a realização do sinal na cabeça, tronco, membros ou na mão como apoio. Por fim, o movimento (M) tem quarenta e quatro visografemas, realizados com o braço, dedos, punho ou sem as mãos, incluindo a expressão facial. Novas versões foram criadas a partir da Elis. A mais usada é a SimElis ou Elis Simplificada criada por alunos da professora Maria Bethania Sardeiro dos Santos do instituto de Matemática e Estatística da UFG com o intuito de utilizar a Elis juntamente com linguagens de programação. A SimElis possui apenas 30 visografemas, não utiliza sinais diacríticos. Os visografemas poderão ser combinados como desinências para formas novas representações sem a necessidade de serem memorizados pelos usuarios. Pois, as combinações são intuitivas e requerem um esforço mínimo para serem interpretadas.

Referências

  1. Quadros, 2007, p. 5
  2. Stokoe et al., 1965, p. 168
  3. Sutton, p. J11
  4. Quadros, 2007, p. 2
  5. Estelita, 1998, p. 3-8
  6. Quadros, 2007, p. 3-4
  7. Estelita, 2008, p. 29-37

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Estelita, Mariângela (2015). ELiS — Escrita das Línguas de Sinais. Porto Alegre: Penso 
  • Estelita, Mariângela (1998). Proposta de escrita das Línguas de Sinais (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Goiás 
  • Estelita, Mariângela (2008). ELiS — Escrita das Línguas de Sinais: proposta teórica e verificação prática (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina 
  • Estelita, Mariângela (2006). «ScripSig - Escrita quirográfica das línguas de sinais». Fragmentos. 30: 155-167 
  • Estelita, Mariângela (2007). «Um texto escrito em Libras? Sistema ELiS?». Revista da FENEIS. 32: 28-29 
  • Sutton, Valerie (1981). SignWriting for everyday use. La Jolla: Deaf Action Committe for SignWriting 
  • Scliar-Cabral, Leonor (2003). Princípios do sistema alfabético do português do Brasil. São Paulo: Contexto 
  • Stokoe, William; Casterline, Carl; Croneberg, Dorothy (1965). A dictionary of American Sign Language on inguistic principles. Washington D.C.: Gallaudet 
  • Fernandes, Leandro (2015). ELiS — internacionalização da escrita das línguas de sinais. Saarbrücken: Novas Edições Acadêmicas 
  • Quadros, Ronice Müller (2007). Estudos Surdos II. Petrópolis: Arara Azul