Gastronomia e interdisciplinaridade

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A gastronomia perpassa os caminhos da formação humana encontrando com as ciências humanas e naturais. Neste caminho ela se alimenta da história, da química, da física, da antropologia. Alimenta-se da teia de saberes interdisciplinar.

Segundo Toledo (2010) um aluno de gastronomia não pode se reduzir a um mero reprodutor de receitas e pratos bem elaborados. Cada disciplina do currículo abarca conceitos muito além do fogão e da prática operacional.

O primeiro relato fiel sobre gastronomia data de 1825 e foi escrito por Jean Anthelme Brillat Savarin, advogado, escritor e gourmet com o título original em francês Physiologie du Goût, editada dois meses antes de sua morte, traduzido para o português como Fisiologia do Gosto. O autor visava a ordenar harmonicamente os festins. Ofereceu uma série de normas práticas de como proceder para que uma refeição fosse perfeita.

Savarin (2004) tomou como base para seus relatos a gastronomia que foi desenvolvida nos séculos anteriores e associou ao conjunto de saberes que desenvolveu sobre a importância do gosto no ato de cozinhar e de se alimentar.

A estética e as dimensões culturais na Gastronomia caminham juntas. O ato de se alimentar tem que ser confortante e prazeroso. Comer não é somente um ato fisiológico, ele está permeado de símbolos, sinais, cores, texturas, temperaturas, ética e estética. De acordo com Lody associou ao conjunto de saberes que desenvolveu sobre a importância do gosto no ato de cozinhar e de se alimentar.

A estética e as dimensões culturais na Gastronomia caminham juntas. O ato de se alimentar tem que ser confortante e prazeroso. Comer não é somente um ato fisiológico, ele está permeado de símbolos, sinais, cores, texturas, temperaturas, ética e estética. De acordo com Lody ( in ARAÚJO, 2006, p.144), “o valor cultural do ato de comer é cada vez mais entendido como um ato primordial, pois a comida é tradutora de povos, nações, civilizações, grupos étnicos, comunidades, famílias, pessoas”.

Todos nós comemos para muito além do cumprimento de uma função físico-biológica. Os sentidos que envolvem a alimentação são emblemáticos e simbólicos, como utensílios, espaço arquitetônico, mobiliário, protocolo à mesa e tantos outros que cada cultura reverencia.

Podemos assim nos alimentar sob vários enfoques, pensando que vivemos na era das singularidades:

1.            Cultural: visando a uma educação antropológica e analisando por que o homem se alimenta e qual a cultura que o rege. Alimentação em grupos, individuais, em família;

1.            Religioso: alimentos permitidos ou não de acordo com a crença, com a fé, com rituais;

2.            Político: como é o caso dos alimentos orgânicos: consumo por crer que esse tipo de alimento salvará o planeta;

3.            Filosófico: muito além do aspecto religioso, alimentos que fazem bem ao espírito;

4.            Econômico: ditado pela situação financeira propriamente dita;

5.            Fisiológico: comer o que faz bem ao organismo, pensar em vitaminas e proteínas.

Todos os enfoques estão ligados a comportamentos definidos pela sua bagagem, pela sua vida, pelos seus limites e modelos de família e educação.

A realização de um trabalho interdisciplinar na gastronomia exige ultrapassar as barreiras epistemológicas das disciplinas e aportar nos sentidos que elas trazem por intermédio dos conhecimentos que transitam pelos conteúdos abordados. Um docente de gastronomia tem que estar muito além da realização de uma preparação no fogão, isto é, estar muito além da receita executada e dessa técnica manual e artesanal. O saber proposto pela atividade interdisciplinar na gastronomia renasce do diálogo entre as diferentes áreas do saber. Ressaltamos Nicolescu (in NICOLESCU, 2000, p. 14-15), sobre a transdisciplinaridade, dizendo que é aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina.

Ainda sobre interdisciplinaridade Fazenda (2002, p.11), coloca que:

Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. Exige, portanto, na prática, uma profunda imersão no trabalho cotidiano.

Os conceitos teóricos não se dissociam da prática, pois toda prática pressupõe uma teoria. Essa parceria é realizados com base em conceitos amplos e atualizados, compondo uma metodologia de trabalho interdisciplinar. Essa ponte se dá no momento em que se esgota um argumento e se busca apoio no outro, de forma livre, natural e parceira. Os caminhos são traçados e professores e alunos transitam fundamentados em fontes de conhecimentos e suas práticas.

[1]

  1. FAZENDA, Ivani. Dicionário em construção: interdisciplinaridade. 2. ed. - São Paulo : Cortez, 2002. FAZENDA, Ivani. FERREIRA, Nali Rosa Silva (orgs). Formação de docentes interdisciplinares. p. 205 in BORELLI, Andrea, TOLEDO, Rosana. A história vai à mesa: uma vivência teórico-prática interdisciplinar. Curitiba: CRV, 2013 LODY, Raul: Comer é pertencer. p. 144 in ARAÚJO, Wilma Maria Coelho e TENSER, Carla Márcia Rodrigues (orgs). Gastronomia: cortes e recortes. VOL.I. São Paulo: Senac, 2007. NICOLESCU, B. A prática da transdiciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab (org). Educação e transdisciplinaridade. Brasília: UNESCO, 2000. Disponível em: www.cetrans.futuro.usp.br acesso em março/2012 SAVARIN, B. A fisiologia do gosto. São Paulo: Cia. das Letras, 2004. TOLEDO, Rosana Fernandez Medina.  De cozinheiro a gastrônomo: um olhar para formação do professor de gastronomia. São Paulo, 2010. Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo.