L.H.O.O.Q.

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L.H.O.O.Q.
Autor Marcel Duchamp
Data 1919
Gênero ready-made, retrato, détournement
Técnica lápis, cópia
Dimensões 19,7 centímetro x 12,4 centímetro
Localização Centro Georges Pompidou, Museu de Israel

L.H.O.O.Q. (pronúncia em francês: ​[el aʃ o o ky]) é uma das obras do pintor dadaísta Marcel Duchamp e data de 1919.[1] A sigla, lida em francês, parece dizer "Elle a chaud au cul", que em português seria "Ela tem um rabo quente".[2] O trabalho é considerado por Duchamp como um ready-made.

Os ready-mades envolvem a utilização de objetos mundano e utilitários que geralmente não são considerados arte e sua transformação por adição, mudança ou (no caso de seu trabalho mais famoso, "Fonte") simplesmente por renomeá-los e exibi-los em uma galeria.

Em L.H.O.O.Q., o objet trouvé ("objeto encontrado") é um cartão postal que reproduz a obra da Mona Lisa de Leonardo da Vinci na qual Duchamp desenhou um bigode e um cavanhaque em lápis e atribuiu o título. Na literatura da arte, este gesto é continuamente interpretado como uma insinuação por parte de Duchamp em termos de especulação em relação à suposta homossexualidade de Leonardo.[3]

Trabalhar com uma obra do Renascimento Italiano também aproximou Duchamp, artista baseado em Nova Iorque, do campo dadaísta europeu.

Análise[editar | editar código-fonte]

As obras ready-made não se constroem de maneira convencional, já que não seguem as estéticas pré-definidas pela academia. Isso gera um choque com os significados tradicionais de arte. O objeto em si que foi utilizado para a composição a obra já é uma crítica de Duchamp: a Mona Lisa de Leonardo está dentro da instituição do Museu do Louvre, porém suas cópias são reproduzidas e distribuídas, correndo risco de serem manipuladas, como o próprio Duchamp fez. A reprodução usa a obra original como uma referência visual.[4]

Ao demonstrar que seus objets trouvés e objetos cotidianos produzidos em série também poderiam ser elevados ao status de obras de arte simplesmente por definição, o artista quebrou com o mito romântico do criador, ao mesmo tempo em que o reforçou ao clamar para si próprio esta capacidade e autoridade. O objeto banal só se tornava arte porque foi um artista que assim o afirmou.[3]

O humor, o escândalo e o desrespeito com os sublimes valores da história da arte eram estratégias típicas dos dadaístas. Duchamp se recusava a criar obras que atraíssem o público visualmente, já que seu intenção era conectar a arte com a intelectualidade. Ele criava as obras não apenas pensando no visual da obra quando finalizada, mas na ideia que ela transmitia. A obra, além de uma releitura, tem intenção de tirar a Mona Lisa dos eixos da academia e da tradição, e criticar o consumo da própria arte.[4]

Pela construção visual, a obra apenas mostra uma mulher chamada Mona Lisa com bigode e cavanhaque, representando o padrão de beleza feminino na época de Da Vinci. Duchamp diverge com esta ideia, e entra em conflito com estes padrões impostos: a figura de Mona Lisa se torna masculina com os simples detalhes da barba. As representações o belo e do ideal, presentes na obra original de Leonardo, são provadas na produção de L.H.O.O.Q. Duchamp adicionou novos elementos para uma obra inalcançável, e o fez de uma maneira que causou grande impacto. O francês formou a partir de uma reprodução novos conceitos que se aderiam às suas ideias e valores.[4]

Neste contexto, cria-se um novo símbolo da arte a partir de seu próprio estatuto e pré-definição. É importante ressaltar que a crítica não é diretamente encaminhada à Da Vinci ou ao próprio Renascimento Italiano. Ambos artistas são relevantes, porém cada um carrega um símbolo diferente. Duchamp não duvida da importância inquestionável das obras renascentistas. [4]

Duchamp revela o caráter mutável da arte, que sofre transformações inevitáveis no decorrer da história a partir de mudanças das próprias culturas. Portanto, pode-se afirmar que a obra do francês assume uma identidade pessoal, mesmo que tenha referência a um trabalho renascentista.[4]

Referências

  1. «Mona Lisa». asrlab. Consultado em 8 de Novembro de 2015. Arquivado do original em 16 de outubro de 2015 
  2. Kristina, Seekamp (2004). «L.H.O.O.Q. or Mona Lisa». Unmaking the Museum: Marcel Duchamp's Readymades in Context. Binghamton University Department of Art History. Consultado em 8 de novembro de 2015. Arquivado do original em 12 de setembro de 2006 
  3. a b ELGER, Dietmar (2010). Dadaísmo. Colônia: Taschen. p. 83 
  4. a b c d e Archer, Renan Battisti; Schlichta, Consuelo Alcioni B. D. [periodicos.unespar.edu.br/index.php/sensorium/article/download/1052/633 «L.H.O.O.Q.: O Estatuto de Arte Explorado Por Marcel Duchamp»] Verifique valor |url= (ajuda). Revista Interdisciplinar Internacional de Artes Visuais 
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