Larfiagem

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Larfiagem, também conhecido como grinfia ou hervalês, é um argot ou criptoleto, um código linguístico para uso secreto, típico da cidade brasileira de Herval d'Oeste, no estado de Santa Catarina.[1]

Foi criado na década de 1950 por um grupo de crianças e adolescentes que trabalhavam junto à estação ferroviária, orientando passageiros, carregando bagagens, reservando assentos nos trens, engraxando sapatos e desempenhando outras pequenas tarefas. O objetivo era tanto lúdico como prático: ao usar uma linguagem que não era entendida pelos outros, podiam tirar vantagem das situações e eventualmente aumentar seus parcos ganhos, além de despistar a polícia, que não permitia suas atividades.[2]

O argot floresceu até a década de 1970, mas entrou em declínio depois da desativação da ferrovia.[2] No entanto, ainda sobrevive entre os seus praticantes mais antigos, muitas de suas palavras e expressões hoje são de domínio público local, sendo usadas regularmente pela população, mas são poucos os que o dominam amplamente. Houve outros ensaios de resgate desse linguajar original. Foi registrado em dicionário e foi proposta sua inclusão no currículo escolar, mas ela não foi aprovada. Por outro lado, há planos de se criar oficinas para a multiplicação de falantes.[3]

A larfiagem permanece pouco conhecida fora da cidade, mas já foi tema de matérias em veículos de circulação nacional. Contribuiu para sua divulgação em maior escala a realização de um documentário, Larfiagem (2017), dirigido pela pesquisadora Gabi Bresola, que foi apresentado em vários festivais e recebeu prêmios: Melhor Documentário no Fórum Audiovisual Mercosul e Melhor Documentário, Melhor Filme do Júri Popular e Melhor Filme do Júri Oficial da Mostra de Curtas Catarinense.[3][4][5] Bresola justificou seu interesse pelo tema referindo-se ao seu papel sociocultural: "Vejo a possibilidade de percebermos a nossa cultura. Retratar essa narrativa marginal, que não vai aparecer nos livros de história, é importante".[3] Em 2019 a larfiagem foi incluída por decreto no Patrimônio Imaterial do município, considerando seu interesse histórico e cultural e seu enquadramento nos requisitos do Inventário Nacional da Diversidade Linguística.[6] Em 2019 estava em tramitação a proposta de sua inclusão no Patrimônio Imaterial do estado de Santa Catarina.[7]

Referências

  1. "Promover e proteger o patrimônio cultural de Herval d’Oeste". Câmara Municipal de Herval d'Oeste, 23/05/2017
  2. a b "Crônicas de sábado: Conheça a larfiagem, língua criada em Herval d'Oeste". O Globo: Jornal do Almoço, 13/05/2017
  3. a b c Toni, Gabriela de. "A lárfia da Estaronse". Superinteressante, fev/2018, pp. 54-57
  4. "Três tipos de medo e Larfiagem foram os principais vencedores do FAM 2017". Notícias da UFSC, 26/06/2017
  5. "MIS PR apresenta nova exposição com ambientação de filmes". Revista Museu, 09/03/2019
  6. Decreto nº 3979/2019. Herval d'Oeste: Leis Municipais.
  7. "Rede de Engenhos entrega pedido de registro dos engenhos como Patrimônio Cultural". Rede Catarinense de Engenhos de Farinha, 16/05/2019

Ver também[editar | editar código-fonte]