Massacre de Outubro

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Massacre de Outubro ou Massacre de Outubro Negro é o nome dado à repressão sangrenta realizada na Bolívia em outubro de 2003, no contexto das turbulências sociais geradas após o anúncio de uma série de medidas propostas pelo Governo do Presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que autorizou a intervenção militar contra ações realizadas por civis durante os eventos da chamada Guerra do Gás,[1] que provocaram a morte de pelo menos 63 pessoas e culminaram na renúncia de Sánchez de Lozada.[2] A principal questão do conflito foi a decisão de exportar gás através dos portos chilenos em um momento em que a cobertura da rede de gás na Bolívia era mínima[3][4] e não havia uma política clara de gerenciamento de recursos. A cidade de El Alto foi o local onde a intervenção militar, respaldada pelo Decreto Supremo nº 27209 de 11 de outubro de 2003, produziu mais vítimas. Nos dias anteriores, tal como La Paz, a cidade já havia sido fortemente militarizada.[5]

Ação judicial[editar | editar código-fonte]

Em 18 de maio de 2009, o Supremo Tribunal de Justiça da Bolívia iniciou o julgamento contra Sánchez de Lozada,[6][7] que foi acusado de genocídio. O julgamento foi realizado em Sucre, capital do país e sede do poder judiciário. Além do ex-presidente, dezessete pessoas foram acusadas, incluindo onze ministros e cinco ex-chefes militares.[8]

O Ministério Público apresentou 328 testemunhos e cerca de 4900 evidências durante as audiências realizadas,[9][10][11] nas quais, juntamente com o Ministério Público, a Associação de Direitos Humanos e a Associação de Vítimas, constituíram a parte acusadora.

Em 2011, após um julgamento no qual nem todos os réus compareceram,[12] o Tribunal de Justiça considerou culpado os ex-ministros Erick Reyes Villa e Adalberto Kuajara, que haviam permanecido no país e se submeteram ao julgamento. Ao contrário de outros ministros e autoridades acusadas, a pena foi estabelecida em três anos de prisão.

Também foi determinada a condenação de cinco ex-chefes militares: Roberto Claros, Juan Véliz, Osvaldo Quiroga, Luis Aranda e Gonzalo Rocabado, com sentenças entre dez e quinze anos de prisão. Igualmente foi determinado o pagamento de indenização às vítimas.[13][14] Em 2014, dois dos militares acusados apresentaram uma apelação ao processo e seu resultado para a ONU que foi desestimado.[15]

Como parte do processo, foi solicitada aos Estados Unidos a extradição de Sánchez de Lozada, que foi rejeitada em 2011. Uma segunda petição foi aceita em 2016.[16][17]

Referências

  1. «"Guerra del Gas", la insurgencia que cambió a Bolivia hace una década». La Razón 
  2. «El presidente de Bolivia dimite y abandona La Paz». El País. 17 de outubro de 2017 
  3. «Las inversiones para redes de gas casi se triplicarán en 2014». La Razón. 7 de novembro de 2013 
  4. «Instalaciones de gas natural en Oruro alcanza el 70 % de cobertura». La Patria. 18 de novembro de 2012 
  5. «Decenas de tanques protegen el palacio presidencial de Bolivia ante las revueltas». El País. 15 de outubro de 2003 
  6. Mery Vaca (18 de maio de 2009). «Bolivia: juicio contra Sánchez de Lozada». www.bbc.com (em espanhol) 
  7. «Bolivia: Comienza juicio contra Sánchez de Lozada por genocidio». La Tercera. 18 de maio de 2009 
  8. «El juicio del caso "octubre negro" arranca con acusados ausentes». Diario Crítico 
  9. «Se reanudan en Sucre audiencias por el juicio contra Sánchez de Lozada y sus ministros». 8 de junho de 2009 
  10. «Condenan a 15 años de cárcel a ex militares de Bolivia por la masacre de 2003». El Mundo. 30 de agosto de 2011 
  11. «Víctimas recuerdan en juicio sucesos de "Octubre Negro"». El Alto Digital. 7 de outubro de 2009 
  12. ABI, Agencia Boliviana de Información (18 de maio de 2011). «Se suspende juicio de responsabilidades por recusación y se declara rebeldes a los ausentes» 
  13. «Modifican resarcimiento a las víctimas de Octubre Negro». Erbol digital. 12 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2017 
  14. «Corte Suprema boliviana condena por genocidio a ex funcionarios de gobierno de Gonzalo Sánchez de Lozada». América. 31 de agosto de 2011 
  15. «Octubre Negro: ONU declara "inadmisible" el pedido de excomandantes del Gobierno de Goni». 24 de agosto de 2017 
  16. Luis Fernando Cruz Ríos (15 de fevereiro de 2016). «EEUU ADMITE LA EXTRADICIÓN DE GONZALO SÁNCHEZ DE LOZADA». www.cambio.bo (em espanhol) 
  17. «Departamento de Estado de EEUU admite extradición de Goni y lo deriva a la Justicia para su trámite». La Razón. 15 de fevereiro de 2016