Six Livres de la République

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Os Seis Livros da República (na versão original francesa, Les Six Livres de la République) são uma obra de filosofia política escrita por Jean Bodin, historiador, jurista e filósofo francês - publicada em 1576. É um dos clássicos da filosofia política.

Apresentação geral[editar | editar código-fonte]

Histórico de publicação[editar | editar código-fonte]

Os Seis Livros da República são a obra-prima de Jean Bodin, reconhecido na época da publicação como um dos principais intelectuais europeus. Escreve os Livros em francês, e não na língua erudita que era o latim, para que possam ser partilhados e lidos pelo maior número de pessoas possível [1].

A partir do final da década de 1570, esta obra foi estudada na Universidade de Cambridge e na Universidade de Londres. Para o público académico, o próprio Bodin traduziu o livro para o latim, que foi publicado em 1586 [2]. Entre 1576 e 1629, esta obra teve pelo menos quatorze edições francesas e nove edições latinas [3]. Foi traduzido para italiano (1588), espanhol (1590), alemão (1592 e 1611) e inglês (1606) [4].

Propósito[editar | editar código-fonte]

La République abre com uma carta a “Monseigneur Du Faur, Seigneur de Pibrac, Assessor do Rei em seu Conselho Privado” na qual o autor justifica o seu empreendimento com o desejo de “salvar este Reino”. A França encontrava-se então envolta por fortes divisões religiosas, entre católicos e huguenotes, que geraram guerras religiosas e culminaram com o massacre de Saint-Barthélemy em 1572. Rejeitando o método escolástico, então ainda amplamente ensinado nas universidades, bem como os ideais utópicos então encarnados por Thomas More, Bodin remodelou o pensamento político pelo método histórico - sobretudo a história constitucional dos principais Estados europeus. Esta obra magistral e preceptora da política moderna ainda hoje serve de referência para juristas e filósofos.

Bodin elabora o conceito-chave do Estado moderno cuja existência é definida pela soberania, e cujo principal atributo é o “poder de dar e quebrar a lei”. Também atualiza uma nova classificação dos regimes políticos (democracia, monarquia, aristocracia).

Resumo[editar | editar código-fonte]

  • Livro I: fim principal de uma República bem ordenada. Comparação com agregado familiar. poder conjugal; poder paterno; poder senhorial e sofrimento de escravos numa República. Definição de cidadão. Tratados entre Príncipes. Soberania.
  • Livro II: os tipos de repúblicas: monarquia senhorial, real, tirânica; estado aristocrático; estado popular.
  • Livro III: senado, magistraturas e administração.
  • Livro IV: Crescimento e Declínio das Repúblicas; relações do Príncipe com seus súbditos; como lidar com sedições.
  • Livro V: variação das Repúblicas de acordo com a diversidade da topografia, do clima e das populações. Leis da poligamia. Atribuição de cargos oficiais. Destino dos bens dos condenados.
  • Livro VI: finanças e integridade das moedas. Comparação das três formas de repúblicas. Justiça distributiva.

A edição francesa original de 1576 tem um índice de 70 páginas.

Teses[editar | editar código-fonte]

Soberania[editar | editar código-fonte]

Jean Bodin coloca a noção de soberania, que caracteriza o Estado, no centro do seu pensamento. Bodin não fundamenta assim o Estado no recurso ao contrato social, que será ainda conhecido no seu tempo e desenvolvido pelos protestantes, nem no estado de natureza.[5]. A soberania é definida como uma indivisível, perpétua e absoluta. Não tem outra condição "além dos mandamentos da lei de Deus e da natureza". A soberania tem vários atributos:

  • Poder de ditar a lei: "A primeira marca da soberania é 'dar a lei', sem estar sujeito ao comando ou supervisão de ninguém"[5]. Como corolário, fica a ideia de igualdade: “um pequeno Rei é tão soberano quanto o maior Monarca da terra”[6].
  • Respeito pelas leis da natureza: Soberania não implica poder arbitrário: “E assim o poder absoluto dos príncipes e senhorios soberanos não se estende de forma alguma às leis de Deus e da natureza” [7]. Disso decorre que “Na ordem internacional, a soberania também está sujeita à lei: “o príncipe soberano está vinculado por contratos por ele celebrados com seus súbditos ou com países estrangeiros”. O príncipe está vinculado por tratados e convenções justas e razoáveis. Assim Bodin faz aparecer, no plano internacional, soberanos independentes e iguais, sujeitos à lei nas suas relações mútuas."[8].
  • Noção de Estado nacional: “Conforme as pessoas colocadas sob o mesmo poder soberano estejam ou não sujeitas às mesmas leis e costumes, o Estado é unitário ou federal; claro, ele ocupa território, mas esse último ponto não chama a atenção de Bodin. O que conta para ele é a união de um povo sob um senhor soberano, a vontade de viver juntos”[9].

Definição de bom governo[editar | editar código-fonte]

Bodin recusa o maquiavelismo e procura reabilitar a ideia segundo a qual a observância da Justiça pelo rei é condição necessária para o funcionamento da República. Assim, define a República como "um governo de direito de várias famílias e o que lhes é comum, com poder soberano". O decisor público só pode decidir tendo em vista o bem comum, e só pode decidir coisas que são comuns e nunca particulares[10].

Portanto, o governo correto deve-se conformar à lei do Deus do Cristianismo, visando a justiça e a ordem. A República deve ser sempre bem ordenada, visar a realização de valores superiores, moral e intelectualmente[10].

A República é, portanto, também uma arte de governar: "Se, portanto, o Príncipe deve, no trato de seus súbditos, imitar a sabedoria de Deus no governo deste mundo, ele deve-se colocar raramente à vista dos súbditos, e com uma majestade adequada à sua grandeza e poder”[10].

Relações entre nações[editar | editar código-fonte]

Bodin coloca o equilíbrio entre os poderes soberanos em primeiro plano: "a segurança dos Príncipes e das Repúblicas reside num contrapeso igual de poder"[11]. O respeito aos tratados é obrigatório e não exige a antiga prática do juramento. Mas é preciso garantir que as condições não sejam insuportáveis ​​para nenhuma das partes.[12].

No plano comercial, é a favor das trocas entre Estados e considera que as restrições às trocas devem limitar-se aos imperativos do interesse público.[12]. Considera ainda que existe "uma verdadeira interdependência das diferentes regiões do mundo [...] marcada por uma distribuição desigual da riqueza", o que implica a necessidade de relações comerciais, mas também de "relações de amizade e de caridade": "Devemos dar parte dos nossos bens aos estrangeiros e ensinar-lhes as nossas artes e as nossas técnicas, porque lhes devemos esta caridade por obrigação natural"[11].

Investindo no campo do direito do mar, Bodin sustenta que a soberania territorial se estende até o mar, até "trinta léguas de terra".[13].

Posteridade[editar | editar código-fonte]

Inspiração[editar | editar código-fonte]

Abundantemente discutido em França, Inglaterra e países germânicos[14], inspirou a obra de juristas e teóricos do Estado moderno, notadamente Grotius, Pufendorf, Hobbes e Locke. Estava nas bibliotecas dos primeiros colonos puritanos na Nova Inglaterra já em 1620[15].

Contribuição para o direito internacional[editar | editar código-fonte]

Legohérel acredita que Bodin desempenhou um papel fundador no direito internacional, porque muito mais do que Grotius, "ele estabeleceu uma ligação estreita entre o direito das gentes e a prática das nações"[13].

Críticas[editar | editar código-fonte]

O trabalho de Bodin é alvo de algumas críticas. Jean-Jacques Chevallier observa que Bodin foi processado por ter estendido e colocado a pedra final no edifício dos juristas reais que justificaram a monarquia absoluta. Os Seis Livros conteriam uma doutrina que justificaria filosoficamente o absolutismo real. Bodin negou isso durante sua vida, escrevendo na epístola dedicatória colocada no início da edição de 1578: não era apropriado fazê-lo a um cidadão corajoso”. Acrescenta: "Fui o primeiro de todos, numa época em que era perigoso fazê-lo, a refutar as opiniões daqueles que, escrevendo sobre a extensão dos direitos fiscais e das prerrogativas régias, atribuíam aos reis um poder ilimitado, superior ao leis divinas e naturais” [16].

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Jean-Jacques Chevallier, Histoire de la pensée politique, Payot, 1979-<1984> (ISBN 2228125108)
  2. Maloy 2017, p. 4.
  3. République 1986, p. 6.
  4. Pour une liste complète des éditions, voir Denzer 1973, , p. 492-500.
  5. a b Legohérel 1999, p. 41.
  6. République, p. 10.
  7. République, p. 133.
  8. Legohérel 1999, p. 42.
  9. Legohérel, p. 42.
  10. a b c République, p. 451 (IV.6).
  11. a b Legohérel 1999, p. 44.
  12. a b Legohérel 1999, p. 45.
  13. a b Legohérel 1999, p. 46.
  14. Maloy 2017, p. 10.
  15. Maloy 2017, p. 8.
  16. Carl Joachim Friedrich, Theory and Politics / Theorie und Politik: Festschrift zum 70. Geburstag für Carl Joachim Friedrich, Springer Science & Business Media (ISBN 978-94-015-1063-9)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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