Ticumbi

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Ticumbi

Folião integrante da banda do Ticumbi em Itaúnas, no Espírito Santo. Autor: Gustavo de Azevedo
Categoria: Formas de expressão

O Ticumbi, ou "Congada" e também "Baile de Congo", é uma dança dramática, de procedência africana encontrada no estado brasileiro do Espírito Santo.[1][2]. Herança da antigas culturas africanas, o Ticumbi encena antigos acontecimentos históricos da terra de origem das comunidades negras e reinados africanos: cortejo de reis e entronização, coroamento, rivalidade entre monarcas, cenas de embaixadas e batalhas entre nações inimigas. Os gestos, os cantos e a linguagem do Ticumbi remontam ao período pré-colonial africano.[3]

Segundo o professor Guilmerme Santos Neves, no Ticumbi capixaba - diferente do que ocorre em outros estados - não estão presentes personagens como a "rainha", ou o "príncipe", nem, "feiticeiros" ou "quimbotos". Não estão presentes também, segundo o professor, as "mortes" e "ressureições", nem o "coroamento" de "reis e rainhas". Do ponto de vista estético, o Baile de Congos capixaba é "mais simples" e "menos dramático" do que as congadas cariocas, baianas e pernambucanas.[4]

História[editar | editar código-fonte]

O Ticumbi (chamado por estudiosos de outros estados como Baile de Congos) é encontrado em Conceição da Barra, cidade situada no extremo norte do Espírito Santo, na fronteira deste estado com a Bahia, distante cerca de 300 quilômetros da capital, Vitória.

Os lugares onde o Ticumbi sobrevive fortemente como manifestação cultural típica, além de Conceição da Barra, sede do município do mesmo nome, são: povoação de Santana, pela zona chamada de “sapê”, localidades de Campinas e Barreiras, povoados situados às margens do rio Cricaré. Há também uma expansão do ritual na vila de Itaúnas, onde ocorre a famosa Festa de São Benedito e São Sebastião, em meados de janeiro.

Em todo o Espirito Santo, mais precisamente na grande Vitória, há também a manifestação cultural do congo, sendo esta festividade realizada nos meses de Dezembro (com a fincada do Mastro de São Benedito) e em Janeiro (com a retirada do Mastro de São Benedito).[5]

Manifestação capixaba, étnica e ritualística, o Ticumbi mantém e reelabora elementos básicos da negritude, transmitindo valores capazes de atuar como expressões da cultura de um grupo. E, ao contrário do que julgam alguns, não é uma reprodução simbólica das guerras religiosas dos brancos. Não se trata de uma representação que põe um rei cristão contra um rei mouro ou pagão. Na verdade, é um modelo dramatizado das guerras étnicas tão frequentes entre os povos da África. Nesse sentido, no Ticumbi é contada a história da contenda entre o rei de Congo e o rei de Bamba, seu tradicional inimigo.

A existência do Ticumbi se confirma desde os primórdios da instalação de escravos africanos na região de Conceição da Barra, fixados ali quer em trabalhos de fazendas e afazeres domésticos, quer em quilombos formados pela inacessibilidade e aspereza daquelas paragens.

O Ticumbi representa as lutas entre o rei do Congo, considerado um rei a serviço dos portugueses na África, e o Mani Bamba, senhor da província africana de Bamba. A origem banta do Ticumbi se evidencia, ainda, pela permanência de palavras e prefixos bantos, bem como de alusão a divindades supremas de Angola e do Congo, em seus “cantes” (cantos) e “embaixadas”.

Na verdade, o Ticumbi era considerado apenas uma parte específica da coreografia, que, depois, passou a designar todo o ritual, anteriormente denominado genericamente de “baile de congos” ou de “brincadeira de São Benedito.”.

Referências

  1. «A memória do Ticumbi no acervo do Arquivo Público». Governo do Estado do Espírito Santo. 20 de janeiro de 2019. Consultado em 7 de fevereiro de 2022 
  2. «O Ticumbi é uma explosão de encantamentos». Século Diário. 2 de janeiro de 2020. Consultado em 7 de fevereiro de 2022 
  3. NEVES, Guilherme Santos (2008). Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba (1944-1982) - Vol. 2. Vitória: Centro de Cultura e Pesquisas do Espírito Santo. p. 111. ISBN 978-85-99380-04-8 
  4. NEVES, Guilmerme Santos (2008). Coletânea de Estudos e Registros do Folclore Capixaba (1944-1982) - Vol. 2. Vitória: Centro Cultural de Estudos e Pesquisas do Espírito Santo. p. 111. ISBN 978-85-99380-04-8 
  5. «Fincada do mastro de São Benedito acontece neste fim de semana na Barra do Jucu». ESHOJE. 26 de dezembro de 2018. Consultado em 12 de abril de 2019 
  • LYRA, Bernadette. O TICUMBI OU A LÓGICA DA AMBIGUIDADE. paper, s/d.