Usuário(a) Discussão:Mandi demetrio

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É... Ele entrou para a História!

No processo de construção da História além de selecionarmos fatos que serão considerados parte dela, selecionamos pessoas que serão colocadas como personagens, protagonistas ou não, deste processo. Um desses escolhidos foi Getúlio Vargas, que é colocado como protagonista de parte da História do Brasil. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, em 1883 e viveu até 1954, onde teve uma morte um tanto quanto sensacionalista. Realmente ele conseguiu “entrar na História”. Foi construído para ele um personagem polêmico, que personificou um dos lemas da ditadura “Ame-o ou deixe-o”, adaptando-o para “Ame-o ou o odeie”. E por que ele deixou opiniões tão divergentes? Conhecendo um pouco de sua história e do que fez pelo Brasil podemos, cada um, nos posicionar nesse debate. Getúlio assumiu o governo quando o país vivia a República Velha, ou do Café-com-leite, e ele não assumiu pelo voto direto (mesmo que o voto da época não fosse tão democrático assim). Chegou ao poder após a Revolução de 30, depondo o presidente Washington Luís e acabando com a festa dos paulistas e mineiros. Durante vários anos, paulistas e mineiros se alternaram no poder, através de políticas pouco democráticas como a política dos governadores, que pode ser definida resumidamente como uma troca de favores entre políticos para se manterem no poder. Por que São Paulo? Pois era lá que se concentravam os Barões do Café, que tinham o poder econômico, e ter poder econômico num país como um nosso significa ter também poder político. Minas foi escolhido como aliado por um ser um grande colégio eleitoral, e democrática ou não, deveria haver eleição. Getúlio veio de um Estado fora do eixo “São Paulo-Minas Gerais”, expressando o descontentamento dos outros Estados com a política vigente. Até mesmo Minas Gerais apoiou Vargas, já que nos últimos anos da República Velha havia tido sérias divergências com a política paulista. Ele governou o país de 1930 a 1934 como presidente provisório, nesse período encontrou resistência principalmente em São Paulo, onde emergiu a Revolução de 32. Essa revolta que foi feita por São Paulo, dizia que o governo Getulista era inconstitucional, já que o presidente havia prometido uma constituição para o país e não havia cumprido. O resto do país se uniu contra São Paulo, e sob a tutela de Getúlio, os paulistas perderam. Apesar dos mortos em guerra, essa revolução deixou uma boa conseqüência: o Brasil ganhou uma constituição. Dentre as medidas interessantes da constituição de 1934 temos a criação de assistência judiciária para necessitados, colocação de normas de proteção social ao trabalhador (semente da CLT), obrigatoriedade do ensino primário gratuito, entre outros. Nessa fase Getúlio já começa a mostrar uma característica que vai dominar seu governo: o populismo. O populismo é considerado um fenômeno típico da América Latina, e Vargas foi um de seus “criadores”. Pode ser definido como uma política que conta com um líder carismático, e mantém contato direto com as grandes massas urbanas. Nesta política tenta-se agradar as elites e o operariado ao mesmo tempo. O líder associa-se a massa para obter seu apoio nas eleições. E aí, que surgem políticas eleitorais do tipo “Eu vim do povo e cheguei até aqui”, onde o candidato tenta fazer sua imagem como parte da nação e, portanto, líder natural. Foi por causa dessas políticas populistas que Vargas foi por vezes chamado de “Pai dos pobres”, mais ao longo de seu governo vemos que outra interpretação é possível: se ele é pai dos pobres, é também mãe dos ricos. Voltando a linha histórica temos que após seu governo provisório (1930-1934) ele assumiu definitivamente eleito indiretamente pela Assembléia Nacional Constituinte. De 1934 á 1937 governou tentando se equilibrar na bipolaridade socialismo-capitalismo. Surgiram no Brasil a ANL(Aliança Nacional Libertadora) ideologicamente ligada ao socialismo, e a AIB(Ação Integralista Brasileira) de caráter totalitário. Quando Getúlio não pode mais se equilibrar entre pontos tão opostos, ele se coloca do lado da AIB. Mostrando autoritarismo ele determina o fechamento da ANL, e até a prisão de alguns de seus membros. Vargas começa a mostrar sua outra face. Esta outra face fica declarada em 1937 quando o ex-presidente inaugura sua ditadura sob o distinto nome de Estado Novo. Esta política permaneceu até 1945, quando o presidente foi deposto. Dentre suas realizações que lhe deixaram uma boa imagem temos a colocação do Estado no centro, a intervenção estatal na economia, a criação de um Brasil Industrial (ele deixou a Petrobrás, a CSN, a Companhia Vale do Rio Doce...). E sua mais louvada herança: a CLT (Consolidação das leis do trabalho). Nesta lei, que estaria acima de outras possíveis mudanças na constituição, ele deu ao trabalhador direitos mostrando seu lado paternalista. Criou-se o Dia do Trabalho, o salário mínimo, as férias remuneradas, e tantos outros benefícios ao operariado, a massa urbana sobre a qual Vargas tentava exercer seu poder. Enfim, ele colocou tudo dentro de uma caixinha chamada Estado, considerando as opções de fora da caixinha ilegais, e isto foi um tanto quanto totalitário. Não é de se estranhar, pois foi durante este período que Hitler e Mussolini começaram a instaurar o nazismo e o fascismo, respectivamente. Não é estranho, mas isto não torna a atitude do nosso ex-presidente justificável! Quanto as atitudes que deixaram uma imagem negativa do presidente temos, antes de tudo, o fato de ter instaurado uma ditadura. Além disso, ele fechou o Congresso e outorgou nova constituição, e sabemos que outorgar não é a melhor maneira de um país “ganhar” uma constituição. Em mais um ato totalitário fechou os partidos políticos, e censurou os meios de comunicação com o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). E o DIP foi além, ele tinha também a função de fazer uma propaganda ideológica do Estado, construir em torno de Getúlio uma figura positiva para a opinião pública. O rádio foi um meio de comunicação que ligou o presidente ao resto da nação, dando uma sensação de coesão e progresso. Porém, todo esse fluxo se deparou com um grande obstáculo: a 2ª Guerra Mundial. O Brasil conseguiu se manter neutro até 1941, quando entrou ao lado dos Estados Unidos. Em troca disso os EUA deram ao Brasil a sua primeira siderúrgica, um favor que os norte-americanos fizeram a contra gosto. A Força Expedicionária Brasileira foi pra guerra e lutou contra regimes totalitários, formando assim uma contradição na opinião pública: nosso regime se aproxima muito do regime que estamos combatendo, então por que continuar assim? Começava a nascer um movimento a favor da redemocratização. Vargas tomou várias atitudes: marcou eleições, liberou a organização de outros partidos e até se comprometeu a eleger uma nova Assembléia Constituinte. Mas não foi suficiente, um movimento liderado por militares tirou o Getúlio do poder em 1945. Fora do poder, Vargas volta a São Borja e continua sua vida política. Porém, como havia prometido ele voltou, e “pelos braços do povo”, em 1951. Foi eleito diretamente pelo povo, mais o contexto era outro. Existia a UDN, que defendia os interesses do capital externo. Além disso, o jornalista Carlos Lacerda fazia uma propaganda anti-getulísta. Em meio a tantos conflitos e num meio onde ninguém é inocente Getúlio tem uma atitude drástica, trocou sua vida por um espaço na História. E ainda saiu como vítima de todos os conflitos que estavam acontecendo ao seu redor. Caiu nas graças do povo, morto mais caiu! Não podemos esquecer que todos estes fatos e atos foram selecionados por historiadores, seres humanos com suas ideologias. Cabe à nos interpretar estes dados sabendo disso. Enfim, se ele foi herói ou vilão não nos cabe julgar. Afinal, existia um ser humano por trás do mito construído por historiadores e pela opinião pública, e um ser humano tem suas ambições, mas também tem suas fraquezas. Querendo ou não, ele saiu da vida para entrar na História, tal como haveria desejado em sua carta testamento.