Eleições gerais no Peru em 1990

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Eleição presidencial no Peru em 1990
8 de abril (1.º turno)
10 de junho (2.º turno)
Demografia eleitoral
Votantes 1.ª volta/1.º turno: 7 866 858
  
78.56%  13.2%
Votantes em 2.ª volta/2.º turno: 7 999 978
  
79.93%  1.7%
Alberto FujimoriCambio 90
Votos 1.ª volta/1.º turno: 1 937 186  
Em 2.ª volta/2.º turno 4 522 563  133.5%
  
29.09%
  
62.32%
Mario Vargas LlosaFrente Democrático
Votos 1.ª volta/1.º turno: 2 171 957  
Em 2.ª volta/2.º turno 2 713 442  24.9%
  
32.61%
  
37.68%
Luis Alva CastroAPRA
Votos 1.ª volta/1.º turno: 1 507 905  
  
22.64%
Henry PeaseIU
Votos 1.ª volta/1.º turno: 548 386  
  
8.23%
Alfonso BarrantesIS
Votos 1.ª volta/1.º turno: 320 108  
  
4.80%
Roger Cáceres VelásquezFRENATRACA
Votos 1.ª volta/1.º turno: 77 284  
  
1.16%
Resultados eleitorais após o 2.º turno
Eleições gerais no Peru em 1990


Presidente do Peru

Eleições gerais foram realizadas no Peru em 8 de abril de 1990, com um segundo turno das eleições presidenciais em 10 de junho. [1]O segundo turno foi entre o romancista favorito Mario Vargas Llosa liderando uma coalizão de partidos economicamente liberais coletivamente conhecidos como Frente Democrática e o desfavorecido político Alberto Fujimori do populista e mais moderado Mudança 90.

Vargas Llosa venceu o primeiro turno com uma pequena pluralidade, mas alienou grande parte do eleitorado com uma agenda abrangente de privatizações, reforçando o supostamente inelegível Fujimori, que havia ficado em segundo lugar à frente de Luis Alva Castro, do partido governista APRA, para entrar no segundo turno contra Vargas Llosa. Fujimori finalmente conquistou uma vitória esmagadora e permaneceria presidente por dez anos até ser deposto em novembro de 2000.

Biografias[editar | editar código-fonte]

Mario Vargas Llosa[editar | editar código-fonte]

Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, cidade localizada no sul do Peru, em um vale dos Andes, famoso por seu espírito clerical e rebelde. Enrique Krause se dedicou enfaticamente a comentar a biografia do escritor Mario Vargas Llosa, comparando e relacionando a crítica de Llosa ao autoritarismo com a relação que teve desde criança com seu pai. O pai do menino Llosa se mostrou o primeiro ditador na relação dele com a mãe de Llosa: “sometida a un régimen carcelario, prohibida de frecuentar amigos y, sobre todo, parientes, obligada a permanecer siempre en la casa”. Por influência de seu tio, Vargas Llosa tomou consciência do sofrimento e da miséria que vivia seu povo e acabou aderindo ao socialismo, à esquerda e à revolução. Foi nesse momento que ingressou na faculdade de Direito e Letras da Universidade de San Marcos, onde teve contato com a militância socialista. Em 1958, Vargas Llosa escreveu um manifesto de apoio à revolução cubana, ele acreditava que o país poderia servir de modelo a ser seguido pelos demais países da região. Porém, após algumas visitas ao local, acabou chegando à conclusão de que a prática não era condizente com o discurso.[2]

A decepção e frustração com a revolução cubana e com a esquerda foi se intensificando na história de Llosa. Ele decidiu renunciar ao comitê da revista Casa de las Américas, o mais importante órgão cultural cubano, através do qual cooptaram centenas de intelectuais latino-americanos. Com isso, Vargas Llosa que já era um residente na Europa e estava cada vez mais perto dos ideais liberais. Por volta das décadas de 1970 e 1980, pelo contato com o seminário internacional organizado por Hernando de Soto e pelas ideias de escritores, economistas e socialistas libertários, Vargas Llosa se converte ao liberalismo. Em 1990, disputou as eleições do Peru pela Frente Democrática. Após a derrota, Llosa não tentou uma segunda candidatura e passou a focar nos escritos literários. Porém, ele não abandonou a política por completo, já que constantemente publica artigos em revistas comentando diversos temas sobre a política do Peru e da América Latina. Atitude diferente do seu adversário político da eleição de 90, que se manteve e se mantém ativo na política peruana.[2]

Alberto Fujimori[editar | editar código-fonte]

Fujimori nasceu em 1938, o seu local de nascimento é um tanto controverso. Ele é descendente de japoneses e durante a eleição se declarou nascido em Lima no Peru. Na época, essa afirmação foi bastante criticada, pois Fujimori nasceu em Lima, mas foi registrado no consulado japonês mantendo, portanto, uma dupla nacionalidade. O candidato estudou agronomia na Universidade Nacional Agrária. Depois de formado, Fujimori realizou pós-graduação na França e nos Estados Unidos. Retornou à Universidade Agrária como professor e depois tornou-se reitor. No final da década de 1990, apresentou um programa televisivo chamado “Concertando”, que informava notícias agrícolas e políticas direcionadas a agricultores. Pouco conhecido no mundo político, se candidatou pelo partido recém-criado, Cambio 90, e se destacou como uma revelação das eleições de 1990. Tomou posse como presidente em 28 de julho de 1990, derrotando o hoje Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Fujimori foi a segunda pessoa de ascendência asiática a se tornar chefe de Estado de uma nação da América. O primeiro foi Arthur Chung, ex-presidente da Guiana. Após dois anos eleito, em 1992, Fujimori realizou um autogolpe e fechou o congresso Peruano, permanecendo até o ano 2000, quando renunciou ao cargo e se exilou no Japão, acusado de corrupção e compra de votos. [2]

Fujimori foi condenado por crimes de corrupção e violação dos direitos humanos. Pelo fato da dupla nacionalidade, e aproveitando viagem à Ásia, Fujimori desembarcou no Japão, onde renunciaria ao cargo de presidente e pediria asilo político. O Congresso não aceitou a sua renúncia e o destituiu do cargo. O presidente do Congresso, Valentín Paniagua, assumiu um governo de transição até 2001.

Diferente de Llosa, Fujimori iniciou suas atividades políticas em 1990 e permaneceu no ramo. Mesmo com o exílio, prisão e acusações de corrupção e violação dos direitos humanos, sua herança política permaneceu forte e ficou conhecida como fujimorismo. Em 2006, o Jurado Nacional de Eleições (JNE) anulou a tentativa de candidatura de Fujimori, que se encontrava no Japão. As eleições de 2016 foram disputadas entre Pedro Pablo Kuczynski e Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori. Keiko obteve 49,88% dos votos, sendo derrotada por Pedro Pablo Kuczynski por 50,12%, em uma eleição muito acirrada. Apesar da derrota de Keiko, a percentagem dos votos é um indicador de que o fujimorismo, apesar das polêmicas, ainda é muito presente na política peruana.[2]

Resultados eleitorais[editar | editar código-fonte]

Eleição presidencial[editar | editar código-fonte]

Candidato Partido Primeiro turno Segundo turno
Votos % Votos %
Mario Vargas Llosa Frente Democrática 2,163,323 32.57 2,708,291 37.62
Alberto Fujimori Mudança 90 1,932,208 29.09 4,489,897 62.38
Luis Alva Castro Aliança Revolucionária Popular Americana 1,494,231 22.50
Henry Pease Esquerda Unida 544,889 8.20
Alfonso Barrantes Esquerda Socialista 315,038 4.74
Roger Cáceres Velásquez Frente Nacional dos Trabalhadores e Camponeses 86,418 1.30
Ezequiel Ataucusi Gamonal Frente Popular Agrícola do Peru 73,974 1.11
Dora Larrea del Castillo União Nacional Odriista 21,962 0.33
Nicolás de Pierola Balta União Democrática 9,541 0.14
Total 6,641,584 100.00 7,198,188 100.00
Votos válidos 6,641,584 84.75 7,198,188 90.45
Votos inválidos/em branco 1,195,532 15.25 760,044 9.55
Total de votos 7,837,116 100.00 7,958,232 100.00
Eleitores registrados/comparecimento 10,013,225 78.27 10,007,614 79.52
Fonte: Nohlen

Eleições parlamentares[editar | editar código-fonte]

Câmara dos Deputados[editar | editar código-fonte]

Partido Votos % Assentos +/–
Frente Democrática 1,561,291 30.03 62 +40
Aliança Revolucionária Popular Americana 1,288,461 24.78 53 –54
Cambio 90 879,949 16.93 32 Novo
Esquerda Unida 510,557 9.82 16 –32
Frente Moralizadora Independente 309,263 5.95 7 Novo
Esquerda Socialista 272,591 5.24 4 Novo
Frente Nacional dos Trabalhadores e Camponeses 126,067 2.42 3 +2
Frente Popular Agrícola do Peru 63,450 1.22 0 Novo
União Cívica Independente 33,819 0.65 0 Novo
Movimento Regionalista Loreto 24,854 0.48 1 +1
Frente Tacneñista 17,642 0.34 1 Novo
Lista independente do acordo popular 14,547 0.28 1 Novo
Em Ação Movimento Independente 12,614 0.24 0 Novo
União Nacional Odriista 10,413 0.20 0 Novo
União Democrática 7,738 0.15 0 Novo
Frente Independente Nacionalista 6,106 0.12 0 Novo
Movimento das Bases Hayist 5,607 0.11 0 Novo
Movimento Nacional de Reconstrução 5,588 0.11 0 Novo
Frente Democrática Independente 4,780 0.09 0 Novo
Movimento Social Independente 4,348 0.08 0 Novo
Frente de Defesa de Lima – Províncias 3,739 0.07 0 Novo
Frente Independente de Aposentados 3,477 0.07 0 Novo
Chavin Region 3,416 0.07 0 Novo
Aliança Democrática 3,204 0.06 0 Novo
Frente Agrária Democrática "Atusparia" 3,016 0.06 0 Novo
Movimento Velasquista 2,228 0.04 0 Novo
Cooperação Nacional 2,136 0.04 0 Novo
Lista Independente de Trabalhadores Socialistas 1,942 0.04 0 Novo
Movimento Independente Amazonense 1,459 0.03 0 Novo
União de Renovação do Peru 1,312 0.03 0 Novo
Huascaran 1,221 0.02 0 Novo
Unidade Democrática Nacional 1,025 0.02 0 Novo
Unido 1,020 0.02 0 Novo
Vitoriosos de Ayacucho 985 0.02 0 Novo
Movimento Regional de Chalaco 925 0.02 0 Novo
Movimento Independente de Solidariedade 913 0.02 0 Novo
Movimento de Integração para o Desenvolvimento do Huanuco 817 0.02 0 Novo
Movimento de Renovação Popular 772 0.01 0 Novo
Movimento de Renovação de Porteño 735 0.01 0 Novo
Movimento Democrático Independente 675 0.01 0 Novo
Movimento Independente Lambayecano 671 0.01 0 Novo
Acordo Independente para o Desenvolvimento Nacional 597 0.01 0 Novo
Movimento Agrário do Nordeste 578 0.01 0 Novo
Esquerda Nacionalista Andina 502 0.01 0 Novo
Movimento Regional Independente de Impetu 398 0.01 0 Novo
Aliança Independente Popular Peruana 375 0.01 0 Novo
Partido PASOP 357 0.01 0 Novo
Organização Democrática Independente 342 0.01 0 Novo
Integração Democrática Avançada 332 0.01 0 Novo
Força e Liberdade da Frente Cívica Independente 157 0.00 0 Novo
Partido Socialista Democrático Independente 92 0.00 0 Novo
Total 5,199,103 100.00 180 0
Fonte:CLEA

Senado[editar | editar código-fonte]

Partido Votos % Assentos +/–
Frente Democrática 1,772,953 32.06 20 +7
Aliança Revolucionária Popular Americana 1,387,931 25.09 16 –14
Mudança 90 1,200,459 21.70 14 Novo
Esquerda Unida 540,620 9.77 6 –9
Esquerda Socialista 302,110 5.46 3 Novo
Frente Nacional dos Trabalhadores e Camponeses 112,142 2.03 1 0
Frente Popular Agrícola do Peru 63,694 1.15 0 Novo
Somos Libres 50,430 0.91 0 Novo
União Cívica Independente 45,046 0.81 0 Novo
União Nacional Odriista 16,349 0.30 0 –1
Movimento das Bases Hayist 13,531 0.24 0 Novo
Frente Independente de Aposentados 8,994 0.16 0 Novo
União Democrática 7,805 0.14 0 Novo
Cooperação Nacional 3,969 0.07 0 Novo
Movimento Independente solidário 3,088 0.06 0 Novo
Confederação Honorária da Luta Organizada Independente 1,779 0.03 0 Novo
Ex-presidentes 2 +1
Total 5,530,900 100.00 62 +1
Votos válidos 5,530,900 80.53
Votos inválidos/em branco 1,336,963 19.47
Total de votos 6,867,863 100.00
Eleitores registrados/comparecimento 10,013,225 68.59
Fonte:JNE

Referências

  1. Elections in the Americas. Elections in the Americas: A data handbook, Volume II. [S.l.]: Dieter Nohlen 
  2. a b c d Soares, Álisson Fontenele (11 de maio de 2022). «Eleição presidencial peruana de 1990 a partir dos periódicos Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa». Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
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