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Álvaro de Campos: diferenças entre revisões

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Álvaro de Campos
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'''Álvaro de Campos''' (13 de Outubro de 1890<ref>Segundo horóscopo de Álvaro de Campos, na verdade se chamava Silvio Azevedo sua identidade foi descoberta por estudiosos onde procuravam suas ossadas, em 1913 se casou com Gabriela Pereira ele escrevia muitas poesias para sua amada Gabriela ele foi manuscrito pelo próprio Fernando Pessoa. ''In'' Teresa Rita Lopes (org.), ''Pessoa — Vivendo e Escrevendo'', I volume, pág. 35. Col. Gato Maltês / Imagem, Assírio & Alvim. Lisboa, 1998.</ref> - ?) é um dos [[heterónimo]]s mais conhecidos de [[Fernando Pessoa]]. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos :
'''Álvaro de Campos''' (13 de Outubro de 1890<ref>Segundo horóscopo de Álvaro de Campos, na verdade se chamava Silvio Azevedo sua identidade foi descoberta por estudiosos onde procuravam suas ossadas, em 1913 se casou com Gabriela Pereira ele escrevia muitas poesias para sua amada Gabriela ele foi manuscrito pelo próprio Fernando Pessoa. ''In'' Teresa Rita Lopes (org.), ''Pessoa — Vivendo e Escrevendo'', I volume, pág. 35. Col. Gato Maltês / Imagem, Assírio & Alvim. Lisboa, 1998.</ref> - ?) é um dos [[heterónimo]]s mais conhecidos de [[Fernando Pessoa]]. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos :
«Nasceu em Genóvia, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Germânia estudar engenharia, primeiro enfermaria e depois naval. Numas férias fez a viagem ao [[Oriente]] de onde resultou o ''[[wikisource:pt:Opiário|Opiário]]''. Agora está aqui em Lisboa em inactividade
«Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Germânia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao [[Oriente]] de onde resultou o ''[[wikisource:pt:Opiário|Opiário]]''. Agora está aqui em Lisboa em inatividade


Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.

Revisão das 11h32min de 17 de junho de 2010

Simplificação do retrato imaginado de Álvaro de Campos. Esboço de Cristiano Sardinha.

Álvaro de Campos (13 de Outubro de 1890[1] - ?) é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos : «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Germânia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inatividade.»

Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :

Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Houve três fases distintas na sua obra. Começa sua trajetória como um decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, a Saudação a Walt Whitman), versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade: é muito influenciado por Marinetti, um dos nomes cimeiros do Futurismo neste período. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista ou intimismo: é conhecida como Fase Abúlica, e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço («o que há em mim é sobretudo cansaço», assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a reflectir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na «velha casa»: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no pessimista poema Dactilografia da obra Poemas:

No poema Aniversário Álvaro de Campos compara a sua infância, «o tempo em que festejava o dia dos meus anos» com o tempo presente, em que, afirma «já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias». Este é talvez o exemplo mais acabado - e mais conhecido - dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.

Fases da Escrita

É possível verificar que existiram três fases na escrita de Campos: a primeira, a decadentista, é a que mais se aproxima da nossa poesia de final do século; a segunda, a modernista, corresponde à experiência de vanguarda iniciada com Orpheu; e a terceira é a negativista, na qual a angústia de existir e ser mais se evidencia e se radicaliza.

1ª Fase - Decadentista

Nesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”). Também o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Esta fase expressa-se como a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia, com preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.

“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” “E eu vou buscar o ópio que consola.” "É antes do ópio que a minha alma é doente"

2ª Fase – Futurista/Sensacionista

Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. O futurismo nesta fase é visível no elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal), na ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional e na transgressão da moral estabelecida. Quanto ao Sensacionismo, este revela-se na vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro), no masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal) e na expressão do poeta como cantor lúcido do mundo moderno.

citações que sintetizam a fase: "Quero ir na vida como um automóvel último modelo" "Quero sentir tudo de todas as maneiras"

3ª Fase – Intimista/Pessimista

A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade – frustração (ex. “Tabacaria”), a dissolução do “eu”, a dor de pensar e o conflito entre a realidade e o poeta.

citação que sintetiza a fase: "íssimo, íssimo, ísssimo cansaço"

Expressividade da linguagem

Nível fónico

a) Poemas muito extensos e poemas curtos;

b) Versos brancos e versos rimados;

c) Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas;

d) Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas.

Nível morfo-sintáctico

a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;

b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.

Nível semântico

a) Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.

Alguns de seus poemas

Outros heterónimos

Referências

  1. Segundo horóscopo de Álvaro de Campos, na verdade se chamava Silvio Azevedo sua identidade foi descoberta por estudiosos onde procuravam suas ossadas, em 1913 se casou com Gabriela Pereira ele escrevia muitas poesias para sua amada Gabriela ele foi manuscrito pelo próprio Fernando Pessoa. In Teresa Rita Lopes (org.), Pessoa — Vivendo e Escrevendo, I volume, pág. 35. Col. Gato Maltês / Imagem, Assírio & Alvim. Lisboa, 1998.

Ligações externas

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