A Nação (Porto Alegre)

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 Nota: Para outros significados, veja A Nação.

O jornal A Nação, de Porto Alegre, foi atuante no século XX, nas décadas de 40 e 50, sendo o continuador da Gazeta Popular (de curta duração) e do semanário católico em idioma alemão Deutsches Volksblatt (publicado inicialmente em São Leopoldo, a partir de 1871, por jesuítas). Em suas diferentes apresentações, chegou a ser o mais antigo do gênero na América do Sul.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Em 1891 o semanário jesuíta Deutsches Volksblatt (gazeta popular alemã) foi transferido da cidade de São Leopoldo para a capital do Estado, Porto Alegre.[1] A Tipografia do Centro seria sua responsável até sua extinção. Junto com o aumento de leitores, passou a estar mais exposto aos rancores de seus opositores. Em 1895, italianos e outros descontentes arrombaram e depredaram as oficinas da Tipografia do Centro, enraivecidos com a postura do jornal. Em campanha contra a maçonaria, o seu diretor Hugo Metzler havia escrito um duro artigo sobre Giuseppe Garibaldi, que era maçom.[2] Após esse fato, o jornal precisou fazer um grande esforço de reerguimento, que efetivamente acabou trazendo resultados, e que mais tarde incluiria ações defensivas, incluindo a sua transformação em A Nação.

Além do Deutsches Volksblatt, em alemão, no início do século a Tipografia do Centro editava outros dois jornais católicos, A Epocha, em português, e o Corriere Cattólico, em italiano, e tinha entre seus sócios a Cúria Metropolitana de Porto Alegre e a família Metzler.[3] Além disso, seria a editora da maior parte dos livros adotados em escolas católicas no Estado do Rio Grande do Sul. O Deutsches Volksblatt chegava a uma tiragem de 6 mil exemplares, tornando-se um diário. Com a proximidade da Primeira Grande Guerra, ele foi proibido de circular em alemão. Em 1917, passaria a se chamar Gazeta Popular, redigido em português e sob responsabilidade de Joseph Koenig, primeiro com quatro páginas, mais tarde oito.[4] Permaneceria sofrendo muita desconfiança e censura policial, além de nova depredação e ameaça de incêndio. Terminada a Primeira Guerra, a Gazeta Popular voltaria a se chamar Deutsches Volksblatt e a ser escrita em alemão, até o fim de sua autonomia, em 1941.

Em 1929 Hugo Metzler faleceu, sendo substituído pelo seu filho Franz Metzler, que iniciaria uma campanha de repúdio ao nacional-socialismo alemão. Como em outras empresas “alemãs”, a saúde financeira estava seriamente comprometida por causa do momento histórico. No final da década de 30, com a emergência da Segunda Grande Guerra, o jornal passaria a se chamar A Nação. Em 1939, Nestor Pereira, como diretor, e o irmão de Franz, Wolfram Metzler, como gerente, assumiriam a Tipografia do Centro e o jornal. Sua tiragem chegaria aos 7.200 exemplares.[2]

As posições de A Nação eram às vezes estranhas (um artigo de novembro de 1940, por exemplo, sugeria a possibilidade de uma reaproximação entre Berlim e o Vaticano, caso as hostilidades nazistas à Igreja Católica acabassem).[5] De fato o jornal propagava uma “boa imprensa”, o que unia integralismo e Igreja no combate ao liberalismo, à maçonaria e ao comunismo.[3] Sua divisa era “Jornal A Nação. O diário que se orienta pelo lema brasilidade – catolicidade.” Apesar disso, em 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra, a empresa foi novamente depredada. Wolfram Metzler foi acusado e preso como integralista (e mais tarde inocentado). Pereira foi considerado inocente e prosseguiu o trabalho. Em março de 1956, outro incêndio, de causas desconhecidas, destruiria as instalações da Tipografia do Centro na rua Dr. Flores. No total do período, que inclui seus três nomes e apresentações, o jornal alcançava os 85 anos. Voltou à circulação dois meses depois, novamente com a ajuda financeira de leitores e anunciantes. A Nação sempre continuou na mesma contagem de tempo de seus predecessores. Assim, por exemplo, as edições de 1957 registravam estar em seu ano 87.

O Deutsches Volksblatt, que após a Segunda Guerra voltou a ser encartado como um suplemento em alemão (até 1956), chegou a ensaiar uma vida autônoma como Neues Deutsches Volksblatt, mas desapareceria junto com o enfraquecimento de A Nação, por volta de 1959.[6] Com as elevações dos custos gráficos dos anos 60, o jornal sofreu muito. Sem dinamismo comercial e sem atratividade publicitária, A Nação foi definitivamente suspensa antes de completar seu centenário, embora em seu último ano garantisse tiragens de até 5000 exemplares.[2]

Muito profissionais passaram pela redação e oficinas de A Nação (ou, antes disso, do Deutsches Volksblatt e da Gazeta Popular). Além dos nomes citados, devem ser lembrados outros profissionais, como Jacob Dillenburg (primeiro redator do Deutsches Volksblatt), Mathias Müsch, Clemens Peter Wallau, Joseph Köning, Rudolf Elmar Metzler (com o pseudônimo Tico-Tico), Hugo Hammes, Herbert Caro, Alberto André, Aldo Obino, Petrônio Corrêa, Oswaldo Goidanich, Oscar Pereira, Josué Guimarães, Ernesto Cruz Valdez, João de Souza Ribeiro, Antonio Onofre da Silveira, Frederico Renato Mota[7] e outros. Muitos ainda estavam em início de carreira, e alguns foram também responsáveis pela edição dos livros[8] da Tipografia do Centro e da Editora A Nação. No centro de Porto Alegre, o edifício de 22 andares e galeria A Nação, projetado pela diretoria da Tipografia do Centro, guarda o seu nome. Infelizmente os diversos incêndios e depredações fizeram desaparecer coleções inteiras dos exemplares publicados.

Referências

  1. MIRANDA, Marcia Eckert; LEITE, Carlos Roberto Saraiva da Costa. Jornais raros do Musecom: 1808-1924. Porto Alegre: Comunicação Impressa, 2008. p.37.
  2. a b c DILLENBURG, Sérgio Roberto. Quatro publicações marcantes no jornalismo rio-grandense. Nova Petrópolis: Amstad; Projeto Cultural Stihl, s.d. [1998?] p. 19-41. As publicações mencionadas no título são A Federação, Deutsches Volksblatt, Diário de Notícias e O Século.
  3. a b TONINI, Veridiana Maria. Uma relação de amor e ódio: o caso Wolfran Metzler (Integralismo, PRP e Igreja Católica, 1932-1957). Dissertação de mestrado em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Passo Fundo, 2003, p. 43. Disponível em <http://www.doutrina.linear.nom.br/arquivos/teses_artigos/inclusao2/Uma%20rela%C3%A7%C3%A3o%20de%20amor%20e%20%C3%B3dio.pdf[ligação inativa]>, consultado em 02/03/2010.
  4. SILVA, Jandira M.M. da; CLEMENTE, Ir. Elvo; BARBOSA, Eni. Breve histórico da imprensa sul-rio-grandense. Porto Alegre: Corag, 1986. p. 276
  5. ISAIA, Artur Cesar. Catolicismo e autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. p.199.
  6. RÜDIGER, Francisco R. Imprensa e esfera pública. In: GERTZ, René E.; FISCHER, Luís Augusto. Nós, os teuto-gaúchos. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1998. p.131.
  7. HOHLFELDT, Antonio; VALLES, Rafael Rosinato. Dois pioneiros da comunicação no Rio Grande do Sul: Oswaldo Goidanich e Roberto Eduardo Xavier. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. p.41. Disponível em <http://www.pucrs.br/edipucrs/doispioneiros.pdf>, consultado em 03/03/2010.
  8. RODRIGUES, André Iribure. As origens da MPM Propaganda. Em Questão, Porto Alegre, v.10, n.2, jul.-dez. 2007, p. 309. Disponível em <http://www6.ufrgs.br/emquestao/pdf_2004_v10_n2/EmQuestaoV10_N2_2004_est01.pdf>, acessado em 03/03/2010.