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Adão Neves Bendinha

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Adão Neves Bendinha (Ícolo e Bengo, 24 de novembro de 1937 — Luanda, 15 de maio de 1961) foi um desenhista industrial, sindicalista e guerrilheiro angolano, principal comandante operacional dos ataques à Luanda em fevereiro de 1961, a ação que deu início à Guerra de Independência de Angola.

Adão Neves Bendinha nasceu em 24 de novembro de 1937, na localidade de Gunza, em Ícolo e Bengo. Seus pais eram Adão Mateus Bendinha e Luzia João Marques Neves.[1] Vinha de uma família de metodistas.[2]

Fez seus estudos primários, entre 1947 e 1950, na Escola da Missão Evangélica de Calomboloca,[3] concluindo a 4ª classe em Luanda em 1952.[3] Em 1953 e 1954 iniciou os estudos secundários no Colégio da Casa das Beiras, mas sua família não conseguiu reunir recursos para lhe permitir continuar os estudos.[3]

Em 1955 passou a trabalhar como empregado da firma de construção civil[4] do engenheiro Eduardo Travassos em Luanda,[3] trabalhando no setor administrativo[1] e como desenhista industrial[3] dos canteiros de obras dado sua capacidade de organização e seu letramento razoável.[5]

Em 1957 afilia-se à Igreja Evangélica do Redentor,[3] sendo nomeado Presidente da Juventude da igreja e enviado como delegado distrital para o Congresso da Juventude das Igrejas Evangélicas realizado naquele ano em Quêssua.[3] Mostrou ser bastante organizado e dinâmico, articulando ações religiosas com a juventude de Ícolo e Bengo.[3]

Influenciado pelas ideias nacionalistas de figuras e grupos que agiam na periferia de Luanda, particularmente do militante Aristides Cadete "Kima Kienda",[3] do Movimento de Libertação Nacional de Angola (MNLA) e do Movimento para a Independência de Angola (MIA),[6] passou a organizar reuniões de cunho sindical com os trabalhadores da construção civil.[6] Porém, acabou por se filiar à União das Populações de Angola (UPA), em 1957, por influência Zacarias António Amaro, um alfaiate proveniente de Nezeto.[1] Sua filiação à UPA foi confirmada pelo dirigente Luís Inglês, no mesmo ano.[1] A UPA enxergava em Neves Bendinha uma potencial liderança anticolonial.[1]

A agitação anticolonial em Ícolo e Bengo era muito grande em relação ao restante da região de Luanda. Entre 1959 e 1960 a região tornou-se uma das zonas de forte influência do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), principalmente após a marcha em protesto pela libertação de Agostinho Neto em 1960, um dos primeiros atos de rebeldia explícita em Angola no pós-segunda guerra mundial.[7] As autoridades coloniais responderam violentamente com munição — trinta pessoas foram assassinadas e duzentas feridas no "Massacre de Ícolo e Bengo".[7] O impacto da repressão foi decisivo para a formação política de Neves Bendinha.[8]

No final de 1960 o monsenhor Manuel das Neves passa a organizar aquele que viria a ser o primeiro ataque da Guerra de Independência de Angola.[8] Além de recrutar para os organismos do MPLA os militantes inativos da UPA em Luanda,[9] estabeleceu uma cadeia de comando centrada em Neves Bendinha,[10] com chefes de unidades dados a várias moradores ou naturais de Ícolo e Bengo, como Raul Deão, Francisco Imperial Santana, Virgílio Sotto-Mayor, Manuel Cadete Nascimento, Domingos Manuel Mateus,[11] João Beto e Domingos da Silva Paiva.[8] Com o monsenhor Manuel, Bendinha colaborou na definição criteriosa dos locais estratégicos de Luanda que deveriam ser os alvos dos ataques.[11]

Naquele momento, coube principalmente a Bendinha o recrutamento de trabalhadores da construção civil que tinha contatos sindicais,[5] bem como sapateiros,[5] pescadores[5] e alfaiates,[5] que viriam formar o grupo de ataque guerrilheiro.[5] Por mais que estivesse recrutado para os organismos do MPLA por monsenhor Manuel e Kima Kienda, Bendinha ainda acreditava que Luís Inglês e Holden Roberto fossem prover meios para o ataque, mas em janeiro de 1961 ficou patente que a UPA não se interessava pela ação, pois não proveu recurso material algum.[8][1][11] Para dar prosseguimento ao plano Bendinha afiliou-se mais fortemente aos grupos e células vinculados ao MPLA, nomeadamente o grupo Bota-Fogo, o grupo sindical dos enfermeiros, a célula Espalha Brasas e as células comunistas do MINA/MPLA.[12]

Conseguidos os recursos e os materiais com os grupos e células do MPLA, inclusive de propaganda,[6] ocorreram os ataques de 4 e 9 de fevereiro daquele ano à Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª Esquadra da polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola.[13] Com a falha absoluta dos ataques aos alvos, houve um plano de retirada para a periferia de Luanda e para o Congo-Quinxassa, destino este que pretendia seguir Bendinha.[12] Nos dias 10, 17 e 19 de fevereiro os grupos remanescentes tentaram realizar novos ataques, mas não obtiveram sucesso.[8][5]

Cercado em Luanda,[3] Bendinha ficou abrigado nos musseques da periferia da capital entre fevereiro e abril de 1961.[12][3] Foi oferecida uma recompensa de 22 mil escudos por informações de sua localização.[3] A pressão psicológica[12] diante das constantes ameaças à integridade física de sua família proferidas pelos portugueses[12] fizeram-no desistir de se esconder a partir de uma garantia de que seus familiares não seriam perseguidos.[12]

Entregou-se à guarnição da Cadeia de São Paulo, em Luanda, em 9 de abril de 1961.[3] Torturado por muitos dias pelos portugueses, não resistiu aos maus-tratos e morreu na prisão[12] em 15 de maio de 1961.[14] Seu corpo foi vilipendiado pelos portugueses[12] e dado de comida aos cães.[12]

Seu nome é dado ao bairro Neves Bendinha, no município de Quilamba Quiaxi, e ao Hospital Geral Especializado Neves Bendinha (ou Hospital dos Queimados), localizado no mesmo bairro.[14]

Referências

  1. a b c d e f Agostinho Alexandre Joaquim da Silva (2014). Angola: Dinâmicas Internas e Externas na Luta de Libertação (1961—1975). Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Ciência Política, Lusofonia e Relações Internacionais. p. 147-150 
  2. «Historiador alerta que nenhum partido angolano pode reivindicar o 4 de Fevereiro». VOA Português. 4 de fevereiro de 2011 
  3. a b c d e f g h i j k l m «Comandante Neves Bendinha» (PDF). O Angolense. Consultado em 18 de novembro de 2023 
  4. Bogdan Szajkowski, ed. (1981). Marxist Governments: A World Survey: Albania-Congo. 1. Londres: Palgrave Macmillan. p. 66 
  5. a b c d e f g João Manuel Rocha (4 de fevereiro de 2011). «4 de Fevereiro de 1961 - O princípio do fim da ordem estabelecida». Público 
  6. a b c «Adão Neves Bendinha foi militante do MPLA». Jornal de Angola. 2 de setembro de 2019 
  7. a b Birmingham, David (29 de setembro de 2021). Agostinho Neto. [S.l.]: Oxford Research Encyclopedias. doi:10.1093/acrefore/9780190277734.013.671. Cópia arquivada em 24 de dezembro de 2021 
  8. a b c d e Domingos Cazuza (4 de fevereiro de 2014). «Roupa e catanas foram financiadas por Ernesto Lara Filho». Novo Jornal 
  9. Liga Africana (2004). Monsenhor Manuel Joaquim Mendes das Neves. Ínclito Nacionalista Angolano. Luanda: Liga Africana 
  10. «Adão Neves Bendinha foi militante do MPLA». Jornal de Angola. 2 de setembro de 2019 
  11. a b c Carlos Pacheco (3 de maio de 2006). «A rebelião de um sacerdote». Público 
  12. a b c d e f g h i «Neves Bendinha foi morto e atirado aos cães». Jornal de Angola. 4 de fevereiro de 2019 
  13. «Um reconhecimento com sabor a pouco…». Jornal de Angola. 26 de janeiro de 2018 
  14. a b «Familiares do nacionalista Neves Bendinha testemunham reinauguração da unidade hospitalar». Gabinete de Comunicação Social do Governo Provincial de Luanda. 2 de outubro de 2023