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Audagoste

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Audagoste
Aoudaghost
Localização atual
Audagoste está localizado em: Mauritânia
Audagoste
Localização de Audagoste na Mauritânia
Coordenadas 17° 25′ 20″ N, 10° 25′ 40″ O
País  Mauritânia
Área 120 000 m²
Dados históricos
Fundação século VII
Abandono século XV
Império do Gana
Notas
Escavações 1960-1976
Acesso público Sim

Audagoste[1][2] (Aoudaghost), também conhecida como Auadaguste (Awadaghust), Audugaste (Awdughast) e Auduguxte (Awdaghusht), foi um importante cidade-oásis da extremidade sul da rota caravaneira transaariana mencionado em alguns manuscritos árabes antigos. As ruínas descobertas em Tegdauste, no sul da Mauritânia, são cogitadas como o sítio desta cidade medieval.

Fontes árabes

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Rotas transaarianas do Saara Ocidental c. 1000-1500

A menção mais antiga a Audagoste está na obra de Iacubi Kitab al-Buldan (concluída em 889-890) na qual descreve-se a cidade como estando sob controle da tribo sanhaja e situada a 50 estados ao sul de Sijilmassa através do deserto do Saara.[a] "É a residência do rei deles que tem nenhuma religião ou lei. Ele invade o país do Sudão que tem muitos reinos."[3] De ibne Haucal, escrevendo em torno de 977, se sabe que a distância de Audagoste e Gana (presumivelmente a capital do Império do Gana) foi 10 dias de jornada para uma caravana pouco carregada.[4][b]

Ibne Haucal escreveu que o "rei de Audagoste mantêm relações com o governante de Gana" o que sugere que naquele tempo Audagoste não fazia parte do Império do Gana. Ele também menciona o comércio em ouro e escreve que o rei de Gana é muito rico devido a seus estoques de ouro, mas que os reis de Gana e Cuga "ficam na necessidade premente da [boa vontade do] rei de Audagoste devido ao sal que vem a eles das terras do Islã."[5]

A única descrição detalhada que se tem da cidade é fornecida por Albacri em seu Livro das Rotas e Reinos que foi concluído em 1068. Albacri faz uso de fontes anteriores e é provável que sua descrição de Audagoste veio dos escritos de Maomé ibne Iúçufe Aluarraque (904–973), cujo relato não sobreviveu:[6]

Audagoste que é uma grande cidade, populosa e construída em solo arenoso, omitida por uma grande montanha, completamente estéril e desprovida de vegetação. [...] há uma mesquita catedral e muitas menores [...] em torno da cidade estão jardins com tamareiras. Trigo é cultivado lá por escavações com enxada, e é irrigado com baldes [...] excelentes pepinos crescem lá, e há algumas figueiras e vinhas, bem como plantações de hena que produz grande safra. [...] [há] poços com água doce. Gado e ovelhas são numerosas [...] Mel [...] é abundante, trazido da terra do Sudão. O povo de Audagoste goza de extensos benefícios e grande riqueza. O mercado lá está cheio de pessoas a todo momento [...] Suas transações são em ouro, e eles não tem prata. Muitos dos habitantes [...] são nativos da Ifríquia [Tunísia] [...] mas há também algumas pessoas de outros países [...] [Eles detém] tão numerosa [quantidade de] escravos que uma pessoa dentre eles pode possuir 1 000 servos ou mais.[7]

Albacri também descreve a captura da cidade pelo Império Almorávida que teria ocorrido alguns anos antes dele escrever seu relato:

No ano 1054-1055, Abedalá ibne Iacine invadiu a cidade de Audagoste, uma localidade florescente, e grande cidade contendo mercados, numerosas palmeiras e árvores de hena. [...] Este cidade costumava ser a residência do rei do Sudão que foi chamado Gana antes dos árabes entrada [na cidade de] Gana [...] Esta cidade foi habitada por zenetas junto com árabes [e] eles sempre estiveram em conflito uns com os outros. [...] Os almorávidas violaram suas mulheres e declararam que tudo que tomaram lá seria butim da comunidade. [...] Os almorávidas perseguiram o povo de Audagoste apenas porque eles reconheciam a autoridade do governante de Gana.[8]

É incerto a partir deste texto precisar por quanto tempo antes da chegada dos almorávidas a cidade fez parte do Império do Gana.[9][10] Dreses escrevendo na Sicília em 1154 sugeriu que cerca de meados do século XII a cidade de Audagoste estava em declínio: "Essa é uma pequena cidade no deserto, com pouca água. [...] Sua população não é numerosa e não há grande comércio. Os habitantes detém camelos dos quais deriva seu sustento."[11] Por volta do início do século XIII, a cidade-oásis de Ualata, situada da 360 quilômetros a leste, substituiu Audagoste como o terminal sul da principal rota caravaneira transaariana.[12]

O sítio arqueológico de Tegdauste forma um monte artificial ou tel que se estende por 12 hectares. Está ao sul da depressão de Hode (Hodh) e a 34 quilômetros a nordeste da pequena cidade de Tanchaquete.[13] Escavações foram realizadas entre 1960 e 1976 por um time de arqueólogos franceses. As camadas mais antigas datam dos séculos VII-IX com as primeiras estruturas de tijolo de barro datando do final do século IX ao início do X. Algumas estruturas de pedra foram construídas no século XI. A cidade parece ter sido parcialmente abandonada ao final do século XII e foi completamente abandonada em torno do século XV, embora houve algum reassentamento dois séculos mais tarde.[9]


[a] ^ Tegdauste está a 1660 quilômetros ao sul de Sijilmassa, assim cada estádio corresponderia a 33 quilômetros.


[b] ^ Como Tegdauste está 318 quilômetros ao norte de Cumbi-Salé, o provável sítio da capital ganesa, cada estado corresponderia a 32 quilômetros.

Referências

  1. Silva 2014a, p. 299.
  2. Silva 2014b, p. 39.
  3. Levtzion 2000, p. 22.
  4. Levtzion 2000, p. 46.
  5. Levtzion 2000, p. 49.
  6. Levtzion 2000, p. 62; 384, nota 14.
  7. Levtzion 2000, p. 68.
  8. Levtzion 2000, p. 73–74.
  9. a b McDougall 1985.
  10. Levtzion 2000, p. 385, notas 25 & 26.
  11. Levtzion 2000, p. 118.
  12. Levtzion 1973, p. 147.
  13. Robert 1970.
  • Levtzion, Nehemia (1973). Ancient Ghana and Mali. Londres: Methuen. ISBN 0-8419-0431-6 
  • Levtzion, Nehemia; Hopkins, John F. P. (2000). Corpus of Early Arabic Sources for West Africa. Nova Iorque: Marcus Weiner Press. ISBN 1-55876-241-8 
  • McDougall, E. Ann (1985). «The view from Awdaghust: war, trade and social change in the southwestern Sahara, from the eighth to the fifteenth century». Journal of African History (Cambridge University Press). 26 (1): 1–31. doi:10.1017/S0021853700023069 
  • Robert, Denise S. (1970). «Les Fouilles de Tegdaoust». Journal of African History (Cambridge University Press). 11 (4): 471–493. doi:10.1017/S0021853700010410 
  • Silva, Alberto da Costa (2014a). A Enxada e a Lança - A África Antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira Participações S.A. ISBN 978-85-209-3947-5 
  • Silva, Alberto da Costa (2014b). A Manilha e o Libambo - A África e a Escravidão, de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira Participações S.A. ISBN 978-85-209-3949-9