Benny Paret

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Benny "Kid" Paret
Benny Paret
Benny posa antes da luta fatal.
Informações pessoais
Nome de nasc. Bernardo Paret
Apelido Kid
Categoria peso meio-médio
Nacionalidade Cubacubana
Data de nasc. 14 de março de 1937
Local de nasc. Santa Clara (Cuba)
Falecimento 3 de abril de 1962 (25 anos)
Local Nova York
Estilo Ortodoxo
Cartel
Lutas 50
Vitórias 35
Nocautes 10
Derrotas 12
Empates 3

Benny "Kid" Paret (Santa Clara, 14 de março de 1937 - Nova York, 3 de abril de 1962) foi um lutador de boxe cubano, campeão na categoria dos meio-médio, que morreu após uma luta contra Emile Griffith.

Ele tinha um cartel em sua carreira de 35 vitórias (sendo 10 nocautes), 12 derrotas e 3 empates.

Sua morte em razão dos ferimentos sofridos durante a defesa do título contra Emile Griffith, que foi televisionada para todo os Estados Unidos, causou uma grande controvérsia no país.[1] Após nove dias em coma, a repercussão negativa do combate fatal ameaçou a própria existência do boxe.[2]

Biografia antes da fama[editar | editar código-fonte]

Era filho de camponeses, Alberto e Maxima Crespo, seu nome de nascimento era Bernardo Paret y Valdes; desde muito cedo e durante boa parte de sua vida trabalhou com as mãos na Cuba natal, na cultura da cana-de-açúcar, de forma que jamais aprendera a ler.[2]

Em 1958 foi descoberto por um dono de restaurante em Nova York, Manuel Alfaro, cubano emigrado, que voltava ao seu país em busca de jovens talentos; Alfaro depois viria a contar que ele fora descoberto ainda em Cuba, aos 13 anos de idade, havendo aprendido a brigar nas ruas.[2]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Parret surgiu no cenário do boxe dos Estados Unidos em 1959, como um azarão, derrotando o também meio-médio Charley Scott - uma luta no famoso Madison Square Garden que fora exibida pela TV para todo o país e surpreendera a todos; conta-se que o lutador havia, antes, recebido um telegrama do então presidente cubano Fidel Castro, que dizia: "Eu venci a minha revolução. Agora cabe a você vencer sua batalha".[2]

A partir desta luta memorável, passaram a compará-lo ao lendário pugilista Kid Gavilán, de onde incorporou o apelido "Kid (garoto)", e seguindo uma tradição de grandes lutadores cubanos que tinham este apelido.[2]

Ele fez uma carreira ascendente de 46 lutas em que ficou por dez meses detentor do título de campeão dos meio-médios, até o dia 1º de abril de 1961 quando enfrentou, no Centro de Convenções de Miami Beach, o desafiante Emile Griffith; ele dominara todos os assaltos iniciais, mas acabou tendo seu primeiro nocaute da carreira, caindo no 13ª assalto. O primeiro encontro de Paret e Griffith ocorreu no dia 1º de abril de 1961, no Centro de Convenções de Miami Beach, perante um “decepcionante público de 4.618 e bilheteria de $20.314”.16 Paret dominou Griffith nos primeiros assaltos da luta pelo título, mas caiu no 13º assalto, marcando o primeiro nocaute nas 46 lutas de sua carreira e dando fim ao seu reinado de 10 meses como campeão meio-médio.[2]

A derrota o fez perder um contrato de lutas de exibição pela Europa e a revanche foi marcada para o dia 30 de setembro do mesmo, com transmissão ao vivo pela TV, no mesmo Madison Square em que iniciara; desta feita não era mais o favorito - as apostas contra ele eram de 4 a 1 - mas ele venceu, numa contagem de pontos que gerou bastante controvérsias; o público presente de quatro mil pessoas dividiu-se entre aplausos e vaias com o resultado.[2]

Griffith sentiu-se injustiçado e clamou por uma nova revanche, alimentando as falas que davam por um resultado marcado; Alfaro, o empresário de Paret, negava-se terminantemente a concordar com um novo encontro dos dois boxeadores - mas acabou cedendo e o confronto foi marcado para 24 de março de 1962.[2]

A última luta[editar | editar código-fonte]

Um público de oito mil espectadores - o dobro da anterior - lotou o ginásio; Griffith, desafiante, novamente dominava as apostas. Uma vez no ringue, o desafiante mostrou que era melhor até o sexto assalto quando um golpe de Paret o jogou na lona, fazendo o juiz abrir a contagem - que foi até oito.[2]

Paret pareceu dominar até o 11º assalto, mas no 12º as crônicas registram que Griffith retornou como um "louco"; finalmente começou uma sequência de dez uppercuts de direita no queixo em que Paret não reagia, aos 2 min e 9 seg o juiz Ruby Goldstein entrou na frente, selando o fim do combate e passou a conter a alegria do vencedor, enquanto os médicos subiam para atender ao adversário caído.[2]

Terminava ali a breve carreira do jovem cubano, derrotado no boxe e em breve derrotado também na luta pela vida.

Morte[editar | editar código-fonte]

Levado ao Roosevelt Hospital, foi submetido a uma neurocirurgia emergencial para a retirada de um coágulo que se formara em seu cérebro; a imprensa passou a procurar culpados - e logo todos viram na ganância de Alfaro (que poucos meses antes fizera seu pupilo enfrentar em Las Vegas um adversário pelo peso-médio, fazendo-o engordar para atingir a marca limite - em vez de deixá-lo numa rotina de preparação); Alfaro, por seu lado, culpava o juiz Goldstein, que não parara a luta antes de o pior acontecer, que ele gritara neste sentido - mas foi desmentido por vários observadores.[2]

O próprio juiz Goldstein teve que se justificar, e alegou que relutara em acabar por culpa do próprio estilo de luta de Paret - que muitas vezes apanhava desde o começo e então se recuperava; as especulações iam até os comentários de antes da luta, quando Paret duvidara da masculinidade de Griffith, fazendo-o lutar com ódio; antigas críticas sobre a grande quantidade de ouro que Paret usava voltaram a ser lembradas - todos tentavam encontrar um culpado, enquanto o boxeador jazia no hospital, sem qualquer chance de recuperação.[2]

Apesar da ruptura de relações entre Cuba e os EUA desde abril de 1961, a mãe e o irmão de Benny Kid receberam autorização para visitarem o filho no hospital; chegaram a Miami, sem dinheiro, onde Maxima recebeu dez dólares, passagem para Nova York e um bilhete que dizia em inglês - língua que não falavam - "Levem-me ao Hospital Roosevelt onde meu filho se encontra. Ele é o Kid Paret"; ela não tencionava abandonar a ilha natal, ao contrário dos milhares de emigrantes que de lá tentavam fugir, e declarou que iria ficar até a recuperação do filho; mas ele morreu, quatro dias após a chegada da mãe.[2]

Esse falecimento gerou grande discussão na sociedade acerca da violência do boxe - era a primeira que ocorria desde 24 de junho de 1947, quando Jimmy Doyle morreu em razão dos golpes que recebera de Sugar Ray Robinson - e as polêmicas também acabaram revelando as diferenças entre a comunidade cubana emigrada e suas tensões políticas.[2]

No plano interno, ocasionou a abertura de investigações sobre o esporte, tanto federais quanto locais; as redes de televisão e patrocinadores se dissociaram do esporte, dada a sua imagem negativa, e o boxe sofreu um sério risco de ser banido no país.[2]

Dentre os que reagiram em defesa do esporte estava Muhammad Ali, que declarou à época: “Então uma pessoa morreu. Isso é triste. Acontece uma vez a cada dez anos no boxe. E quanto aqueles três aviões que caíram semana passada? Eles mataram uma centena de pessoas em cada ocasião. Eu choro como o diabo entrando no avião. Não tenho medo do ringue.[2]

Disputa política e familiar pelo enterro[editar | editar código-fonte]

A morte não selou o fim das disputas em torno de Benny: sua mãe queria levar o corpo do filho de volta a Cuba, onde Fidel promoveria um funeral digno de um herói; já a viúva, Lucy, declarou que o marido queria ser enterrado em Miami, onde tinham casa.[2]

Prevaleceu a vontade da viúva, passando a imagem do "bom cubano" - aquele que rejeitava a terra natal em favor dos Estados Unidos; no dia 4 de abril milhares de pessoas compareceram à casa funerária, no Bronx, para se despedir do ídolo; no dia 6 o corpo foi levado a Miami, onde outra multidão estimada entre 15 e 20 mil pessoas foram ao velório público e, finalmente, no dia 7 de abril ele foi sepultado no Cemitério Our Lady of Mercy, de Miami.[2]

Referências

  1. Institucional (15 de março de 2011). «Benny (Kid) Paret vs. Emile Griffith (3rd meeting)». BoxRec. Consultado em 15 de março de 2011 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r Christina D. Abreu. «A história de Benny "Kid" Paret: boxeadores cubanos, a revolução cubana e a mídia dos EUA,1959-1962». Recorde, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 1- 26. Consultado em 13 de fevereiro de 2016