Cóclea

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Cóclea

Corte transversal da cóclea
Identificadores
Latim Cochlea
Gray pág.1050
MeSH Cochlea
Dorlands/Elsevier Cochlea

A cóclea (do grego kokhlia, que significa caracol) localiza-se no ouvido interno e é responsável pela função auditiva. É uma cavidade no labirinto ósseo em forma de espiral, e o seu componente central é o Órgão de Corti, considerado o órgão sensorial da audição.

Anatomia[editar | editar código-fonte]

A cóclea é uma estrutura helicoidal com aproximadamente dois giros completos e mais 2/3 de um giro. Mede cerca de 3,5mm de altura e 7,5mm de diâmetro na sua base. É dividido, longitudinalmente, em três compartimentos (escalas vestibular, média e timpânica), preenchidos por líquido (endolinfa e perilinfa), por meio de membranas (reissner e basilar). O compartimento central (membrana basilar) é onde se encontra o Órgão de Corti, estando ao longo do ducto coclear, sobre a lâmina basilar, sendo formado pela membrana tectória, pelas células de sustentação e células ciliadas, que são responsáveis pela sensação da audição, através dos movimentos do líquido circundante, destinadas à transformação das ondas sonoras em impulsos nervosos. A membrana tectória é uma cúpula gelatinosa situada acima das células ciliadas e fixada à lâmina espiral óssea, entrando em contato com os cílios das células ciliadas externas durante as vibrações da lâmina basilar.[1][2]

As células ciliadas, dependendo da sua localização na cóclea, são determinadas com diferentes frequências de som, devido ao grau de rigidez da membrana basilar.[3] Esta rigidez depende da espessura e largura da membrana basilar, sendo mais rígida quando próxima da janela oval. Logo, as fibras curtas e rígidas (base) tendem a vibrar em frequências altas, enquanto as fibras longas e flexíveis (cúpula) tendem a vibrar em frequências baixas.

Funcionamento[editar | editar código-fonte]

A cóclea é composta por, aproximadamente, 15.000 células ciliadas que vibram de acordo ao som, desde som agudo até som grave. É o lugar onde a energia mecânica do som é convertida em sinal elétrico que é transmitido ao cérebro. Além disso, é capaz de emitir sons ou ecos espontaneamente em cerca de 30% da população com audição normal.[4]

As células nervosas da cóclea estão organizadas numa sequência que vai da frequência mais grave para a mais aguda. As células localizadas na região basal enviam informações sonoras de frequência aguda para o cérebro enquanto as células da região apical enviam as de frequência grave. Nos seres humanos, a cóclea permite ouvir sons de 20 Hz a 20.000 Hz, aproximadamente, 10 oitavas, com um poder de discriminação de 3 Hz a 1000 Hz.

As zonas mortas da cóclea são regiões onde as células ciliadas internas e/ou neurônios adjacentes não se encontram funcionais. Nessas regiões a informação gerada pela vibração da membrana basilar não é transmitida ao sistema nervoso central.[5]

O exame fisiológico que avalia a orelha interna é chamado de Emissões Otoacústicas (EOA), mas não tem como objetivo quantificar a perda auditiva, e sim verificar a integridade das células ciliadas externas - as que, na maior parte do tempo, são as mais afetadas quando se tem uma perda auditiva.[4]

Alterações[editar | editar código-fonte]

  • A ossificação da cóclea é uma sequela que pode ser causada por: trauma de osso temporal, otosclerose, otites médias crônicas e meningite. O processo de ossificação, geralmente, inicia-se próximo à janela redonda e ascende para o ápice, sendo a rampa timpânica do giro basal a parte mais afetada.[6]
  • Indivíduos com perda auditiva sensorioneural podem apresentar diferentes tipos de falhas cocleares, decorrentes de lesão nas células ciliadas externas (CCE) e/ou nas células ciliadas internas (CCI), sendo que o tipo de lesão tem influência nas respostas do indivíduo frente aos estímulos sonoros.[7] As células ciliadas são sensíveis a diferentes formas de dano patológico, incluíndo trauma acústico, medicamentos ototóxicos, anomalias congênitas e o envelhecimento (presbiacusia)[8].
  • Limiares auditivos maiores que 75-80 dB nas frequências graves e que 90 dB nas frequências agudas indicam provável presença de zonas mortas da cóclea.[7]

Biônica[editar | editar código-fonte]

Em 2009, engenheiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts criaram um chip eletrônico que pode analisar rapidamente uma gama muito grande de frequências de rádio enquanto usa apenas uma fração da energia necessária para as tecnologias existentes; seu design imita especificamente a cóclea.[9][10]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. MOREIRA, MEL., LOPES, JMA and CARALHO, M., orgs. O recém-nascido de alto risco: teoria e prática do cuidar [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. 564 p. ISBN 85-7541-054-7. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
  2. Capovilla, Fernando César; Raphael, Walkiria Duarte (2001). Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da língua de sinais brasileira: Sinais de M a Z. [S.l.]: EdUSP. p. 1522. ISBN 8531406692 
  3. Guenter, Ehret (1978). «Stiffness gradient along the basilar membrane as a way for spatial frequency analysis within the cochlea» (PDF). J Acoust Soc Am (em inglês). 64 (6): 1723-6. PMID 739099. Consultado em 14 de dezembro de 2013 
  4. a b ZAEYEN, E. A audição do bebê. In: MOREIRA, MEL., BRAGA, NA., and MORSCH, DS., orgs. Quando a vida começa diferente: o bebê sua família na UTI neonatal [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. Criança, Mulher e Saúde collection, pp. 131-140. ISBN 978-85-7541-357-9. Disponível em SciELO Books <http://books.scielo.org>
  5. PADILHA, Cristiane; GARCIA, Michele Vargas; COSTA, Maristela Julio. O diagnóstico das zonas mortas na cóclea e sua importância no processo de reabilitação auditiva. Rev. Bras. Otorrinolaringol.,  São Paulo, v. 73, n. 4, p. 556-561, Agosto de 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72992007000400016&lng=en&nrm=iso>. acessado em 26  Nov. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992007000400016
  6. BOGAR, Mariana; BENTO, Ricardo Ferreira; TSUJI, Robinson Koji. Estudo anatômico da cóclea para confecção de instrumental para a cirurgia de implante coclear com 2 feixes de eletrodos em cócleas ossificadas. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 74, n. 2, p. 194-199, Abril de 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72992008000200007&lng=en&nrm=iso>. acessado em 26 Nov. 2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992008000200007.
  7. a b PADILHA, Cristiane; GARCIA, Michele Vargas; COSTA, Maristela Julio. O diagnóstico das zonas mortas na cóclea e sua importância no processo de reabilitação auditiva. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo, v. 73, n. 4, p. 556-561, Agosto de 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-72992007000400016&lng=en&nrm=iso>. acessado em 26 Nov. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992007000400016
  8. Arriaga, Moisés A. (fevereiro de 2015). «Cochlear Implants—Third Edition, Waltman SB and Roland JT, New York». Otology & Neurotology (2): e35. ISSN 1531-7129. doi:10.1097/mao.0000000000000600. Consultado em 15 de agosto de 2023 
  9. Trafton, Anne (3 de junho de 2009). «Drawing inspiration from nature to build a better radio: New radio chip mimics human ear, could enable universal radio» (em inglês). MIT newsoffice. Consultado em 14 de dezembro de 2013 
  10. Soumyajit Mandal, Serhii M. Zhak, and Rahul Sarpeshkar (2009). «A Bio-Inspired Active Radio-Frequency Silicon Cochlea». IEEE Journal of Solid-State Circuits (em inglês). 44 (6): 1814–1828. doi:10.1109/JSSC.2009.2020465 
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