Órgão de Corti

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Órgão de Corti

Uma secção transversal da cóclea ilustrando o órgão de Corti.

Seção através do órgão espiral de Corti. Magnified.
Identificadores
Latim organum spirale
Gray pág.1056
MeSH Organ+of+Corti
Órgão de Corti com células ciliadas externas, células ciliadas internas e células suporte sem alteração.

O órgão espiral (ou órgão de Corti) é o órgão sensorioneural da orelha interna, integrando cóclea. É um composto de células sensoriais (ou células ciliadas) e fibras nervosas que fazem sinapse entre si, além de estruturas anexas e de suporte.[1]

O órgão foi nomeado em homenagem ao anatomista italiano Marquês Alfonso Giacomo Gaspare Corti[2] (1822–1876), que conduziu a pesquisa microscópica do sistema auditivo dos mamíferos e o descobriu em 1850.[3]

Esse órgão é encontrado apenas em mamíferos.[4] Nos humanos, o órgão de Corti se desenvolve da 9ª semana à 30ª semana de gestação.[5] Ela evoluiu a partir da papila basilar encontrada em todos os tetrápodes, com exceção de algumas espécies derivadas que a perderam.[4]

Fisiologia da audição e o órgão espiral[editar | editar código-fonte]

O órgão espiral é a estrutura que transforma a energia mecânica, que chega da orelha média, em energia elétrica. Este tipo de energia é possível graças a troca de potencial dos líquidos presentes dentro da cóclea.[6] As vibrações mecânicas se tornam ondas de pressão hidráulica que se propagam pela endolinfa, gerando um potencial de ação que é transmitido pela via auditiva para que se processe o som nos centros auditivos do tronco encefálico e do córtex cerebral.

Sabe-se que a pressão sonora produzida pelo estribo, ossículo que faz contato direto com a cóclea, pode gerar sensações auditivas diferentes. Fisiologicamente, entende-se que áreas diferentes da cóclea são acionadas dependendo da frequência do som emitido. Quando a frequência é mais alta (aguda), a região basal da cóclea, ou mais perto do estribo é estimulada. Quando a frequência do som tem natureza mais baixa (grave), a área do ápice da cóclea sofre esse estímulo.[7]

Essa estrutura é formada por alguns tipos de células:

  • Células ciliadas internas: são as principais receptoras auditivas. Tem função de transformar a energia mecânica em energia elétrica, se comunicando com o nervo coclear;
  • Células ciliadas externas: são células amplificadoras. Influenciam padrões de vibração da membrana basilar através de se encurtamento e alongamento;
  • Células de sustentação;
  • Aferências neuronais;
  • Membrana tectória: recobre o órgão e é responsável pela deflexão e hiperflexão das células ciliadas durante a vibração da membrana basilar (é sobre a membrana basilar que se situa o órgão de Corti).[8]
  • As células ciliadas internas, células ciliadas externas e as células de sustentação estão fixadas na membrana basilar, sendo que as células ciliadas externas mais longas se fixam a membrana téctoria, enquanto as mais curtas não fazem contato direto. Com determinado estímulos, algumas das células mais curtas se alongam e tocam a membrana tectória fazendo links e abrindo canais para a troca de íons. Essas conexões quando rompidas podem levar ao rompimento de fluxo sanguíneo e como consequência à apoptose ou morte celular programada[9].[10]

A perda de audição[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Surdez

O tipo mais comum de deficiência auditiva é a perda auditiva sensorioneural. Esta inclui como uma das principais causas da redução da função no órgão de Corti. Especificamente, a função de amplificação ativa das células ciliadas externas é muito sensível a danos causados ​​por exposição ao trauma de sons excessivamente altos ou a certas drogas ototóxicas, sendo os antibióticos aminoglicosídeos[11] os mais estudados.[12] Também, é importante ressaltar que o envelhecimento é uma causa natural da perda auditiva sensorioneural.[13]

Uma vez que as células ciliadas externas estão danificadas elas não regeneram, e o resultado é uma perda auditiva de crescimento anormal de intensidade (conhecido como o recrutamento) na parte do espectro que as células danificadas são responsáveis.[14] As causas para a lesão do órgão de Corti são diversas, porém destacam-se ruído abrupto e intenso e exposição ao ruído (PAIR[15]). Essas lesões têm como consequência zumbidos e até tonturas, dado o fato da proximidade da cóclea e do órgão vestibular (responsável pelo equilíbrio). O principal público acometido por esse tipo de lesão auditiva são os trabalhadores industriais expostos a ruídos fortes e a ruídos constantes o dia inteiro. O diagnóstico nesses casos requer uma equipe multidisciplinar composta por um médico otorrinolaringologista e um fonoaudiólogo, porém esses casos tornam-se complexos devido a negligência ao ruído ambiental. Muitos pacientes ficam expostos a este tipo de lesão sem ao menos realizar uma audiometria.[16]

Notas

  1. Pujol, Rémy; Lenoir, Marc (10 de Maio de 2016). «Cóclea: Órgão espiral». Cochlea. Consultado em 8 de Abril de 2020 
  2. «Alfonso Giacomo Gaspare Corti». Wikipedia (em inglês). 29 de janeiro de 2023. Consultado em 20 de março de 2023 
  3. Mangabeira Albernaz, Pedro Luiz (2008). Quem Ouve Bem Vive Melhor 1ª ed. [S.l.]: Grupo Editorial Summus. p. 41. ISBN 8572550577. Consultado em 14 de dezembro de 2013 
  4. a b Fuchs, Paul (2010). Oxford Handbook of Auditory Science: The Ear (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. p. 355. ISBN 019923339X 
  5. Pujol, Rémy; Lavigne-Rebillard, Mireille (21 de Dezembro de 2016). «Desenvolvimento e plasticidade: Cóclea». Cochlea 
  6. Coelho, Miriam de Souza Basílio; Ferraz, Joice Regina da Silva; Almeida, Elizabeth de Oliveira Crepaldi; Almeida Filho, Nelson de (19 de novembro de 2010). «As emissões otoacústicas no diagnóstico diferencial das perdas auditivas induzidas por ruído». Revista CEFAC (6): 1050–1058. ISSN 1982-0216. doi:10.1590/S1516-18462010005000108. Consultado em 3 de abril de 2023 
  7. «Viaje ao mundo da audição». www.cochlea.eu. Consultado em 8 de abril de 2023 
  8. Paulucci, Bruno Peres (2005). «Seminário: Fisiologia da Audição». Fundação Otorrinolaringologia. Consultado em 8 de Abril de 2020 
  9. «Apoptose». Wikipédia, a enciclopédia livre. 20 de abril de 2022. Consultado em 3 de abril de 2023 
  10. Coelho, Miriam de Souza Basílio; Ferraz, Joice Regina da Silva; Almeida, Elizabeth de Oliveira Crepaldi; Almeida Filho, Nelson de (19 de novembro de 2010). «As emissões otoacústicas no diagnóstico diferencial das perdas auditivas induzidas por ruído». Revista CEFAC (6): 1050–1058. ISSN 1982-0216. doi:10.1590/S1516-18462010005000108. Consultado em 3 de abril de 2023 
  11. «Aminoglicosídeo». Wikipédia, a enciclopédia livre. 20 de setembro de 2020. Consultado em 28 de março de 2023 
  12. Oliveira, José Antonio A. de; Canedo, Daniel Mendes; Rossato, Maria (maio de 2002). «Otoproteção das células ciliadas auditivas contra a ototoxicidade da amicacina». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia: 7–13. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992002000100002. Consultado em 28 de março de 2023 
  13. Silva, Isabella (2020). «Tipos de Perda Auditiva» (PDF). UnaSUS. Consultado em 27 de março de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de março de 2023 
  14. Dobie, Robert A. (2001). Medical-Legal Evaluation of Hearing Loss (em inglês). [S.l.]: Thomson Delmar Learning. ISBN 0-7693-0052-9 
  15. «Perda auditiva induzida por ruído». Wikipédia, a enciclopédia livre. 1 de março de 2023. Consultado em 20 de março de 2023 
  16. Silva, A. A.; Costa, E. A. da (março de 1998). «Avaliação da surdez ocupacional». Revista da Associação Médica Brasileira: 65–68. ISSN 0104-4230. doi:10.1590/S0104-42301998000100013. Consultado em 20 de março de 2023 

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Corti A (1851) "Recherches sur l'organe de Corti de l'ouïe des mammifères". Z wiss Zool 3: 1-106.
  • Pritchard U. "On the organ of Corti in mammals". 2 March 1876, Proceedings of the Royal Society of London, volume 24, pp. 346–52 OCLC 1778190
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