Camilo Mortágua
Camilo Mortágua | |||||||
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Autor(es) | Josué Guimarães | ||||||
Idioma | Português | ||||||
País | Brasil | ||||||
Editora | L&PM | ||||||
Lançamento | 1980 | ||||||
Cronologia | |||||||
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Camilo Mortágua é um romance do escritor brasileiro Josué Guimarães, publicado em 1980.
No romance [1], o narrador recupera, pela via do recurso memorialista, os ideais míticos do gaúcho pampeano representados por Quirino, o patriarca da família Mortágua, e, a seguir, apresenta Camilo, um sujeito distanciado de si mesmo, sem vínculos familiares ou profissionais, perdido no espaço urbano, que se conforma como o exemplo paradigmático do processo de desmitificação, portanto, inverso ao modelo consolidado pela literatura romântica, seguindo a linha de romances como Xarqueada, de Pedro Wayne, e Memórias do coronel Falcão de Aureliano de Figueiredo Pinto.
Trata-se de um registro literário de um dos mais conhecidos dramas históricos do século XX, a lenta e gradual decadência das oligarquias rurais, representada, entre outros romances, em Fogo Morto, de José Lins do Rego. Considerado o mais importante romance de Josué Guimarães, a obra foi escrita em apenas 30 dias. [2] [3]
A narrativa de Camilo Mortágua guarda também uma singularidade, uma vez que o tempo presente das ações situa-se entre os dias primeiro e cinco de abril de 1964, retratando a cidade de Porto Alegre que se acomodava à nova situação econômica, social e política que se delineava. [4]
Enredo
[editar | editar código-fonte]Camilo Mortágua narra a trajetória de uma família gaúcha desde o início do século XX até a derrocada final nos dias posteriores ao Golpe de Estado no Brasil em 1964 [5]. O livro usa como recurso o fato de o protagonista ver sua vida em flashbacks em uma tela de cinema. O Camilo Mortágua, já velho, morador de uma pensão no bairro Azenha, em Porto Alegre, vivendo os primeiros dias da ditadura militar no Brasil, relembra os fatos de sua infância, juventude e adultez, como a morte de alguns irmãos, o namoro com Mocinha, a falência nos negócios familiares - paulatinamente, a família perde a posse sobre a grande extensão de terras que possuía em Alegrete, para o capataz que se apossara de uma parte e para o descuido, a falta de pagamento de impostos etc. Aparece também a sua ascensão como diretor de uma firma de material de construção, o casamento com Leonor, o nascimento dos filhos, a traição conjugal e a decadência.
Regina Zilberman [6], referindo-se sobre a obra, afirma que se representa a derrocada de uma classe social - o estancieiro, através da biografia de Camilo. "Por intermédio dele, Josué Guimarães apresenta a lenta desagregação econômica, mas também ética e intelectual, de uma família, outrora rica proprietária de terras e gado na região da Campanha, depois incapaz de gerenciar seus negócios devido à modernização da sociedade segundo moldes capitalistas avançados."
O romance apresenta também inúmeros fatos marcantes do século XX, como guerras europeias, revoluções brasileiras, a Gripe Espanhola, o suicídio de Getúlio Vargas, entre outros.
Cumpre referir que o romance teve dois desfechos escritos [7], mas o autor, ao final, acabou selecionando um deles, em detrimento do outro. No texto que foi descartado, Camilo reencontraria o seu amor de juventude e eles teriam um final de feliz.
Referências
- ↑ SANTOS, Elaine dos. "O processo de construção de uma identidade nacional: o caso sul-riograndense". Textura. 2007. Canoas/RS. Universidade Luterana do Brasil, v. 1, nº 28, p. 44-57. 2007. Disponível em http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/download/727/548 02 de fevereiro de 2019.
- ↑ PALAGEN, Elisângela de Britto. "Os Mortágua. gênese, história e História." 5º Seminário Nacional de Língua e Literatura: Teoria e Ensino - Leitura, produção discursiva e multimodalidade. Programa de Pós-graduação em Letras. Universidade de Passo Fundo, 2015. (impresso)
- ↑ Alves, Márcio Miranda; Arendt, João Cláudio (29 de maio de 2018). «"Minha linguagem não é gaúcha": Josué Guimarães e suas relações de regionalidade». Nau Literária. 13 (02). ISSN 1981-4526. doi:10.22456/1981-4526.79115
- ↑ PACHECO, Regina Carvalho. "Onde que você estava fazendo no dia 1º de abril de 1964?". Revista Travessias, n. 2, 1981. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/issue/view/1614/showToc 02 de fevereiro de 2019.
- ↑ MUZART, Zahydé Lupinacci. "'Camilo Mortágua' - um romance da burguesia gaúcha". Revista Travessia. Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/travessia/article/view/18117/17030 02 de fevereiro de 2019.
- ↑ ZILBERMAN, Regina. "Literatura gaúcha: temas e figuras da ficção e poesia do Rio Grande do Sul". Porto Alegre : L&PM, 1985, p.49.
- ↑ RENTTEMAIER, Miguel, et. al. "Do dossiê à home page". III CILLIJ. Anais. PUCRS. Disponível em <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IIICILLIJ/Trabalhos/Trabalhos/S7/miguelrettenmaier.pdf> Acesso em 24 de janeiro de 2019.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- MOURA, Vanessa dos Santos. "Josué Guimarães: uma análise da sua trajetória político-intelectual e de sua produção literária ficcional". 2011. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.
- RENTTEMAUER, Miguel; REMÉDIOS, Maria Luiza. "Josué Guimarães, um revisor da história". Desenredo. 2006. Disponível em <http://seer.upf.br/index.php/rd/article/view/499> 24 de janeiro de 2019.